Wild West #3 - Escalpes em série

Queremos mais...

Faltam páginas, que é como quem escreve que sabem a pouco as 40 e tal pranchas que nos servem Lamontagne e Gloris, no terceiro tomo de Wild West, Escalpes em série.

Não quero, não vou repetir o que escrevi nos primeiros volumes desta série, Calamity Jane e Wild Bill, mas o registo mantém-se. No reencontro dos dois, surge como o terceiro vértice de um triângulo atípico Charlie Utter actor auto-nomeado protector e anjo guardião da jovem, atormentada pelo vício da bebida, pelos excessos da vida que levou e pelo desejo de vingança contra Wild Bill, a quem acusa de ter matado a sua paixão.

A narrativa decorre a dois tempos: por um lado, no acampamento dos trabalhadores da linha férrea assoberbados pelo pouco dinheiro que acumulam e os constantes roubos entre eles. E os roubos - legalizados... - que a companhia lhes faz, proporcionando diversões - bares, bordéis... - onde possam gastar o parco pecúlio, e manter-se numa semi-escravidão quase voluntária.

Por outro, as tensões raciais acumulam-se, o desejo de invadir as terras entregues - não roubadas...? - aos índios, criando um clima tenso e crispado que a qualquer momento ameaça explodir - e explode mesmo às vezes.

É neste contexto que Wild Bill chama para seu braço direito um  certo Bass Reeves, o marshal negro que fez história na época, numa tentativa de atenuar e esbater os preconceitos e confrontos raciais que redobram nos estaleiros.

Em paralelo, multiplicam-se as vítimas de um assassino em série que tem por escabroso hábito deixar as suas vítimas escalpadas e com os genitais cortados e enfiados na boca.

É a violência do Velho Oeste em toda a sua rudeza e crueldade, num país que tentava modernizar-se sem conseguir deixar para trás os velhos violentos hábitos que tanto fizeram pela sua origem e liberdade.

No final, comecei por aí, faltam(-nos) mais páginas para continuarmos a seguir Jane, Bill, Bass e os outros, num relato que mergulha na essência do western - os grandes espaços, os tiroteios, as cavalgadas, a deusificação das lendas, o desejo de liberdade, a emancipação dos oprimidos - mas que o reinventa num retrato bem mais ambicioso, consistente e exigente.

Wild West #3 - Escalpes em série
Thierry Gloris (argumento)
Jacques Lamontagne (desenho e cor)
Ala dos Livros
Portugal, Junho de 2025
235 x 310 mm, 48 p., cor, capa dura
17,50 €

(imagens disponibilizadas pela Ala dos Livros; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)