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05/06/2009

Paris-New York New York-Paris

Paris-New York New York-Paris
Raphael Dormmelschlager (argumento e desenho)
Casterman (França, Abril de 2009)
225 x 304 mm, 108 páginas, cor, capa cartonada


Resumo

Gaspard de Saint Amand, um bem sucedido empresário francês, dono de uma grande empresa nos Estados Unidos, no dia do seu 40º aniversário recebe a notícia de que lhes restam no máximo 6 meses de vida. Decide então reatar o contacto com Anna, uma cantora de jazz, por quem esteve apaixonado e com quem viveu em França, mas de quem se afastou na sequência de um acidente de automóvel, 10 anos antes, em que o irmão dela morreu.
Vai fazê-lo à distância e por intermédio do seu irmão Mathieu, com quem sempre viveu em choque devido aos pontos de vista diametralmente opostos que sempre defenderam.
Mas, apesar da complexidade do plano que traça juntamente com Starkhan, o seu braço direito, tudo parece fugir das suas mãos, parecendo que não é ele o manipulador e sim o manipulado…

Desenvolvimento
Esta é uma história de amor, ódio e traição, contada três vezes, em três versões que se completam e complementam, que vão acrescentando factos e pormenores, que ajudam o leitor a construir um quadro global mais complexo, que só no epílogo final é totalmente desvendado. Porque, em cada um dos três capítulos do álbum, os acontecimentos são narrados segundo o ponto de vista de cada um dos protagonistas: Gaspard, Anna e Mathieu. E, se sempre a preto, branco e cinzento, cada um deles dota a sua narrativa, feita em voz off pelo protagonista, de uma cor (azul, laranja, verde, respectivamente – cuja interpretação deixo ao cuidado dos leitores). E em cada um deles, o final parece diferente.
Isto, torna a história, aparentemente algo banal, com algumas fraquezas até na sua construção, num exercício curioso que capta a atenção do leitor e o prende ao seu desenrolar. Porque Dormmelschlager, de uma forma inteligente e bem conseguida, vai manipulando o seu conto, da mesma forma que nele os sentimentos dos três são manipulados, trabalhando de forma dúbia as pistas (muitas vezes falsas) que vai espalhando, confundindo assim o leitor.
No seu âmago, esta é uma história de três, se não inadaptados, pelo menos mal adaptados à vida, separados por acontecimentos funestos mas, principalmente, pela leitura que fizeram deles. Aparentemente incompatibilizados uns com os outros, estão-no mais, afinal, com os seus sentimentos e com as memórias que guardam do passado.
Por isso, esta é também uma história que mostra como a leitura que cada um faz da realidade, da sua realidade, da realidade que interpreta à luz dos seus conhecimentos, da sua educação, dos seus princípios, a pode transformar/deformar em algo completamente diferente, tantas vezes com consequências funestas.

A reter
- A originalidade da narrativa, feita a três tempos, de três formas diferentes, a cada vez acrescentando novos detalhes, embora alguns dos textos sejam os mesmos, de acordo com a vivência de cada um dos protagonistas, apesar de alguma banalidade e mesmo de alguns pontos menos claros da história em si.
- A forma como o autor domina a planificação, ritmando a história pela forma como multiplica (ou não) o número de vinhetas por prancha e as constantes mudanças de ponto de vista e enquadramento.
- O bom uso selectivo de uma cor em cada um dos três capítulos do livro, usando-as tanto para marcar ambientes como para destacar pormenores ou marcar momentos de espírito e a evolução do relato, e realçando um traço agradável, estilo linha clara.

Menos conseguido
- A facilidade com que Gaspard, rico e culto, aceita a sua condenação a uma morte anunciada, sem qualquer referência à procura de uma segunda opinião.
- Algumas imprfeições ao nível do tratamento da figura humana.
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