Abrir hostilidades
Bruno Le Floc'h (argumento e desenho)
vê as semanas passarem a meses e estes a anos, o que obriga o engenheiro a integrar-se na pequena vila onde está a residir. Para isso, deve primeiro ultrapassar a natural desconfiança inicial dos autóctones, rudes e solitários, mas também humanos e solidários, depois impor-se para finalmente conseguir que o aceitem, fazendo mesmo algumas amizades, graças à sua perseverança em levar a bom porto a missão que lhe foi confiada. Isto, apesar de algumas tragédias – umas humanas, outras causadas pela natureza que parece rir da impotência humana - que vão suceder e de um ou dois desentendimentos, que, se de alguma forma põem em causa o projecto, ajudam o engenheiro a descobrir-se e, também, a revelar-se.
É isto que conta Trois éclats blancs (Delcourt), uma narrativa serena, impressiva, pincelada de nostalgia, que discorre sobre as relações humanas, aflorando sentimentos, revelando paixões, realçando traços de carácter, dando a primazia à amizade. Nele, o autor, Bruno Le Floc'h, vai desenvolvendo com um traço sensível e relaxante, voluntariamente impreciso, para nos conduzir até a um final inesperado, que, não fugindo ao previsível "acabar bem", deriva dele, deixando-o em aberto.
Duas personagens que se amaram, mas entre as quais um homem passou - o tal engenheiro do primeiro álbum - duas personagens entre as quais um grande fosso se cavou. Um fosso, ou melhor, uma trincheira. As trincheiras (e as suas consequências) da tristemente célebre guerra das trincheiras, a Primeira Guerra Mundial, que passou pelos dois, mantendo-os fiéis no seu amor, esperando-se reciprocamente. Mas cujos efeitos psicológicos destroçaram Nonna, mantendo-o prisioneiro das experiências que viveu, tornando-o incapaz de se dar, de se relacionar, de se entregar a Perdrix.