A par de Cosey, a ‘honra’ de
inaugurar a colecção Mickey vu par… coube igualmente ao duo Lewis Trondheim/Keramidas
e o resultado, inevitavelmente, é diferente. Muito mais louco e com um ritmo
alucinante.
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20/04/2016
Mickey’s Craziest Adventures
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15/04/2016
Le Triangle Secret
E se Jesus Cristo tivesse um
irmão gémeo que tivesse morrido crucificado na cruz em seu lugar,
possibilitando assim a sua ‘ressurreição que esteve na origem do cristianismo?
Esta ideia – absurda? - é o
ponto de partida de Le Triangle Secret, mas o argumentista Didier Convard conseguiu
torná-la convincente e credível pela forma como desenvolveu este thriller de
tom conspirativo-religioso, hoje em dia tão na moda.
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08/04/2016
Une Mystérieuse Mélodie
ou comment Mickey
rencontra Minnie
Embora siga o espírito vigente nos últimos anos, esta não
deixará de ser, sem dúvida, uma das mais surpreendentes propostas editoriais de
2016.
Imaginez Mickey vu
par… é uma colecção de BD recente da Glénat que tem a particularidade de
reunir grandes autores franco-belgas e as mais conhecidas personagens Disney. À
imagem, do que aconteceu em tempos recentes com Ric Hochet, Chlorophylle,
LuckyLuke. Ou com os heróis de Maurício de Sousa na colecção Graphic MSP. Ou, em breve, nos EUA, com os heróis Hanna-Barbera…
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07/03/2016
Golem
Golem é um relato
de antecipação, que aborda o fim da economia mundial tal como a concebemos hoje
e a predominância de uma sociedade híper-consumista em que todos podem
(realmente) ter tudo.
05/02/2016
Polar – Venu do Froid
Um relato quase mudo, puramente gráfico, do espanhol Victor Santos.
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13/11/2015
Meurtre au Mont-Saint-Michel + Mont Tombe
Que a BD é um género narrativo com enormes potencialidades é
uma evidência que tenho tentado mostrar repetidamente neste espaço. Que essa
evidência é mais fácil de comprovar no mercado franco-belga, dada a sua
dimensão e variedade, não será grande surpresa.
As duas obras que hoje me ocupam, provam-no mais uma vez. E
mais, demonstram que esses propósitos tanto podem ser cumpridos no formato
franco-belga (mais) tradicional, quanto por um manga (mesmo que de origem
ocidental).
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09/10/2015
Titeuf: Bienvenue en adolescence!
Até para os heróis de BD o tempo passa. Que o diga Titeuf,
quase, quase a entrar na adolescência… ou talvez não!
07/07/2015
La Druzina 1914-1918
Lançada originalmente em 1987, La Druzina é o título de um romance do jornalista e escritor Jacques
Mazeau (1949-). A presente adaptação em banda desenhada é também da sua
responsabilidade.
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12/05/2015
Mettez des mots sur votre colère
Owen Brady é um fotógrafo norte-americano apostado em
denunciar as condições de trabalho de milhares de crianças nos Estados Unidos,
no início do século XX.
Mas, mais do que mostrar a verdadeira chaga social que o
trabalho infantil então constituía, o que o move é a tentativa de apagar alguns
fantasmas do seu próprio passado.
24/04/2015
Soucoupes
E, finalmente, um dia, os extraterrestres chegaram ao nosso
planeta. Uma imensa esquadrilha de discos voadores com seres diferentes, ávidos
de partilhar conhecimentos.
13/04/2015
Le Confesseur Sauvage
Acidentes nucleares, meteoritos radioactivos ou outro género
de acidentes (felizmente) nem sempre dão origem a super-heróis, embora possam
ter efeitos secundários (no mínimo) surpreendentes.
Foi o que aconteceu em Tchernobourg…
08/09/2014
Vercingétorix
Se todos os leitores de Astérix conhecem o nome de
Vercingétorix como o último chefe gaulês a cair perante César – e a célebre
cena em que ele lança (literalmente) a sua espada aos pés daquele – poucos saberão
muito mais acerca dele.
Este álbum pode ser o ponto de partida para suprir essa
lacuna.
Desenvolvimento já a seguir.
08/01/2014
Robert Moses - Le Maître caché de New York
A primeira surpresa deste livro, é encontrar nele o nome de
Pierre Christin – inventor dos mundos maravilhosos de Valérian em parceria com
Mezières ou de algumas das intrigas políticas em que Bilal se revelou.
O porquê destas palavras surge já a seguir.
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30/10/2013
Deadline
Bolée (argumento)
Rossi (desenho)
Glénat
França, Setembro de 2013
240 x 320 mm, 82 p. + 10 p. de esboços, cor, cartonado
18,50 €
Por motivos que não consigo definir, o western sempre
exerceu – ainda exerce – um fascínio especial sobre mim. Por isso, quando me
passou sob os olhos este Deadline –
para mais numa edição cuidada de ‘grande formato’ e com um caderno de esboços
no final - de imediato me chamou a
atenção e não consegui resistir(-lhe).
Western de tonalidades (bem) diferentes – e belas, pelo
trabalho notável de Rossi (já lá irei) – tem a Guerra da Secessão como pano de
fundo e uma história íntima e tortuosa como centro.
Muito bem construído, começando pelo final, e avançando
depois em saltos sucessivos feitos em flashbacks criteriosamente situados em
diversos momentos temporais, troca a acção que é habitual no género – e que as
primeiras pranchas parecem cumprir – por um relato intimista, centrado em
Louis, um deserdado da fortuna, que perdeu pais e quem o acolheu, às mãos da(s
vítimas da) guerra civil que pintou de ódio, violência e sangue o (futuro)
território norte-americano, obrigando-o a alistar-se contra vontade nos
exércitos sulistas defensores da escravidão.
História de uma relação que nunca o foi mas que marcou o
jovem Louis para uma vida de (apenas) sobrevivência, incapaz de se relacionar e
de estabelecer relações, Deadline – e
que título certeiro é este, referência à linha traçada no pó que separava os
soldados sulistas dos seus prisioneiros negros – fala-nos das fronteiras que
não se podem – não se devem? não nos deixam? – transpor.
As fronteiras da raça, da cor, das crenças, do sexo, da
religião… Todas aquelas que, apesar de apenas imaginárias ou imposições
sociais, nos impedem de dar os passos que o coração, mais do que a razão, pede,
fazendo de tantos – como de Louis - inadaptados sociais, incapazes de
(re)encontrarem o seu lugar, perante si e/ou os outros.
A toda a angústia
inerente ao até aqui descrito, une-se a ambiguidade e a incerteza sobre se a
relação sonhada por Louis – que lhe moldou (ou destruiu?) a vida - tinha –
alguma vez teria – condições para se concretizar, dadas as circunstâncias
sociais e, quem sabe, mesmo a vontade do outro …
O tom contido e sensível de Boilée é reforçado pelo
magnífico trabalho gráfico de Rossi – muitos furos acima do que lhe conhecia –
conseguindo realçar, em especial através da aplicação de luz e sombras,
personalidades, sentimentos e emoções dos intervenientes, sem deixar que sejam
abafados pelos conturbados cenários de fundo em que tudo decorre.
10/10/2013
Mexicana #1
Mars e Matz (argumento)
Mezzomo (desenho)
Glénat
França, 18 de Setembro de 2013
240 x 320 mm, 48 p., cor,
cartonado
13,90 €
Resumo
Polícia na fronteira entre os Estados Unidos e o México,
Emmet Gardner descobre que o seu filho, Kyle, está metido em sarilhos por se
ter envolvido com um cartel de droga que o mandou assassinar um dealer rival
para provar a sua lealdade.
Disposto a tudo para ajudar o filho, Emmet prepara e executa
o golpe pretendido. Só que, tarde demais, descobre que o morto era um agente
infiltrado e que o filho desapareceu tal como a jovem mexicana que o introduziu
no cartel.
Desenvolvimento
São álbuns como este que me fazem lamentar a ‘ditadura’ –
cada vez menor, reconheço – do formato tradicional franco-belga, o álbum cartonado
de 48 páginas.
Continuando a ser o tamanho ideal para reproduzir belas
pranchas desenhadas – e também reconheço que há (outro tipo de) histórias para
os quais este tamanho não é o indicado – tem o problema de obrigar a uma
estrutura narrativa condensada que, na maior parte dos casos, não permite
desenvolver suficientemente a psicologia dos intervenientes ou justificar o
porquê dos seus problemas de relacionamento – como acontece entre Emmet e Kyle
no presente volume. Mais a mais, quando esta mini-série está pensada para ‘apenas’
três álbuns.
Sei também que a própria dimensão – aqui uns generosos 240 x
320 mm – obriga a trabalho mais aturado por parte dos desenhadores, o que
limita o ritmo de publicação – daí a habitual periodicidade anual para as obras
franco-belgas…
Dito tudo isto – e preferindo ter na mão um volume único com
perto de 150 pranchas para ler a história de um só fôlego, como o seu ritmo
narrativo pede – há que dizer que o relato é extremamente dinâmico, com as
situações a sucederem-se a um ritmo avassalador, sem dar tempo ao leitor de
parar para respirar, e que o tema escolhido – os tráficos humano e de droga na
fronteira entre os EUA e o México, com a vertigem do dinheiro (aparentemente) fácil que lhes está associada, a par da miséria moral e social que provocam– é suficientemente interessante e motivador
para forçar a continuar a leitura.
O trabalho gráfico de Mezzomo, embora peça um pouco mais de
à vontade nalguns pormenores, acompanha bem a velocidade a que as cenas se
desenrolam, sendo especialmente conseguido nos cenários desérticos e na
diversidade de tomadas de vista utilizadas.
Se ficaremos apenas por uma série de acção, capaz de
proporcionar uma leitura descontraída, ou se – uma vez introduzidos os
personagens, a trama base e os cenários em que ela decorre – Mars e Matz ainda
irão desenvolver e aprofundar o carácter e as relações entre os protagonistas, oferecendo
aos leitores um pouco (ou muito?) mais, é algo a que só os próximos (dois)
tomos poderão responder.
A reter
- A vertigem da acção.
- O tema cativante (e sempre actual) abordado.
- As paisagens desérticas em que Mezzomo se distingue
- … tal como a conseguida capa.
Menos conseguido
- A limitada exploração das personagens ao nível psicológico.
Leitura online
- As primeiras pranchas de Mexicana podem ser lidas aqui.
21/05/2013
A arte de... Pierre Wachs
Les mystères de la Troisième République
Tome 1. Les démons des annés 30
Philippe Richelle (argumento)
Pierre Wachs (desenho)
Glénat
França, 15 de Maio de 2013
240 x 320 mm, 56 p., cor, cartonado
13,90 €
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A arte de...,
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29/04/2013
Les Montefiore: #1 Top Model
Stéphane Berbeder e Christophe
Bec (argumento)
Pasquale del Vecchio (desenho)
Jean-Jacques Chagnaud (cor)
Glénat
França, Abril de 2013
240 x 320 mm, 56 p., cor,
cartonado
13,90 €
Se há aspecto que sempre admirei nas séries curtas
franco-belgas – e estou a referir-me aquelas que se completam normalmente em 2
a 4 álbuns – é a assinalável consistência do episódio inicial e a forma como
deixam tantas questões em aberto, ficando o leitor suspenso das respectivas
continuações - mesmo se estas depois nem sempre correspondem aos pressupostos
iniciais ou à expectativa criada…
“Les Montefiore”, é mais um exemplo, com o extra de ter como
pano de fundo o mundo da moda e das passerelles. É verdade que a trama que
serve de base poderia desenrolar-se com igual desenvoltura noutra área mas,
assim, eventualmente, permitirá chegar a uma faixa de público diferente,
maioritariamente feminina, ao mesmo tempo que explora um tema que a banda
desenhada raramente abordou.
Tudo começa quando o patriarca Montefiore, dono de uma das
mais famosas marcas de roupa italianas é vítima de um acidente aéreo provocado,
deixando a sua herança pendente entre as mãos de Francesca, a sua segunda
esposa, e de Narciso, o filho, piloto de stock-cars e há muito ausente do mundo
da moda.
Apesar disso, este último decide assumir a direcção da firma,
cortando com a sua vida anterior para lutar contra as intrigas, as invejas, as
vinganças e as traições daqueles que, mais ou menos na sombra, tentam ocupar a
posição de destaque até então detida pela casa Montefiore.
O seu caminho irá cruzar-se – inevitavelmente? – com o de
Oksana Kovsky, uma beldade russa que quer vencer como top-model, e do chinês
Yong, encarregado de desenhar a nova colecção Montefiore.
Entre conspirações, atentados, imprensa comprada, relações
interesseiras e a vontade de vencer de Narciso, “Top Model” vai avançando a bom
ritmo, com as situações a sucederem-se em catadupa, mas desvendando muito pouco
ao leitor, que fica com vontade de conhecer o resto da história e o porquê de
muito daquilo que foi apreciando.
Quanto ao desenho – que trabalha um tema com tudo para
agradar ao leitor masculino e com um imenso potencial gráfico – temos a
surpresa de encontrarmos o competente Pasquale Del Vecchio - desenhador regular
de Tex - que se mostra à vontade em qualquer dos registos necessários para explanar a trama, que domina particularmente os grandes planos ao nível dos rostos e
cujas beldades brilham ao desfilar nas páginas do álbum…
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15/06/2012
Lorna - Heaven is here
Brüno
Glénat/[treizeétrange]
(França, 30 de Maio de 2012)
170 x 248 mm, 160 p., preto,branco e laranja, cartonado com sobrecapa
17,25 €
Resumo
Depois do imenso sucesso obtido com Priaps, embora
ensombrado por alguns efeitos secundários, o seu inventor é contratado pelo
governo para desenvolver Monstrula, um projecto bélico sem precedentes.
Ao mesmo tempo, Henri Luxe-Butol, filho do dono da
farmacêutica responsável pela comercialização de Priaps, tenta convencer Tamara
da sua paixão por ela.
Só que tudo se complica quando surge uma ameaça
extraterrestre consubstanciada por um robô gigante que…
Desenvolvimento
Como o resumo atrás deixa intuir, este livro é um a imensa
homenagem aos filmes série B de horror e ficção-científica que tiveram o seu
auge nos EUA nos anos 50 e 60. Por isso, não surpreende que Brüno preencha as
suas páginas com as mais variadas citações, homenagens e piscares de olho – uns
mais facilmente identificáveis do que outros – enquanto nos leva através de uma
certa América.
Faltou-me – propositadamente – incluir no resumo acima, que
Priaps é um extensor de pénis bem mais eficaz que o Viagra – apesar de alguns
preocupantes efeitos secundários que provocaram a completa exaurição dos seus
utilizadores - que a bela Tamara Teets é a maior estrela porno do seu tempo,
que até tem cotação em bolsa (!), e que o robô gigante, de 40 metros de altura,
tem a forma de uma deslumbrante loura… nua.
Ou seja, a par do tom folhetinesco, Brüno dota o seu relato
com uma (ligeira) componente (de) porno (chachada), assumindo “uma BD de mau
gosto reivindicado” como escreveu alguém, mas a que falta no entanto o toque de
génio – que, por exemplo, Tarantino manifestou em Pulp Fiction – para
transformar Lorna em algo mais que (simplesmente) uma leitura divertida.
Até porque – em parte devido às muitas referências – o ritmo
e a sequência narrativa nem sempre funcionam da melhor forma, embora geralmente
Brüno acabe por conseguir retomar o fio à meada e conduzir-nos através dos
meandros da sua história, onde ressaltam algumas bem conseguidas sequências
mudas e uma planificação bastante variada se bem que de matriz tradicional.
História que, apesar de tudo, como qualquer série B que se
preze, apresenta alguns bons momentos, um toque de humor negro, paixões não
correspondidas, cenas bem quentes, transformações surpreendentes, a busca do
transcendente, alguns tiroteios – e respectivas vítimas, teorias conspirativas,
combates épicos de robôs e lesmas monstruosas e um final que deixa tudo em
aberto – na cabeça do leitor ou na hipótese de um segundo tomo.
A reter
- A homenagem aos filmes série B.
- O traço de Brüno, simples, plano, depurado de pormenores,
dinâmico, legível e que ganha bastante com a aplicação da terceira cor
(laranja).
Menos conseguido
- A forma menos eficaz como Brüno geriu o excesso de
referências, ressentindo-se disso o ritmo narrativo.
08/06/2012
Les Tours de Bois-Maury #15 – Oeil de Ciel
Yves H. (argumento)
Hermann (desenho)
Glénat (França, 9 de Maio de 2012)
215 x 293 mm, 48 p., cor, cartonado
11,50 €
1660, província do Yucatan, México.
Um grupo de homens, exaustos, feridos, famintos, avança pela
floresta densa e luxuriante. São os poucos sobreviventes de uma expedição
espanhola, dizimada pelos sucessivos ataques dos índios. Para lá de uma dúzia
de solados, encontramos um padre e um francês, este último um descendente do
senhor de Bois-Maury.
Enquanto os primeiros querem a todo o custo encontrar o
caminho de regresso e o padre só pensa em impor a sua fé aos índios, Bois-Maury
anseia por encontrar uma suposta cidade perdida, feita de ouro e jóias.
Desenvolvimento
Quase a atingir a centena de álbuns – número ainda mais impressionante
se considerarmos a escola clássica de que é oriundo e a superior qualidade do
seu traço – Hermann consegue mesmo assim surpreender-nos e deslumbrar-nos obra
após obra.
Porque o seu traço – aos 74 anos! – se não está cada vez
melhor – fasquia que é difícil de estabelecer – pelo menos continua ao mais
alto nível, sendo notável a destreza com que alterna os ambientes em que se
movem as suas personagens, de cenários urbanos para mundos pós-apocalípticos,
do tempo medieval para a selva virgem em que se desenrola este Oeil de ciel.
Que Hermann retrata como (muito) poucos, num sublime jogo de
luz e sombras, com estas últimas omnipresentes, cobrindo tudo e todos, brilhe o
Sol no céu ou esteja a Lua no seu lugar, num mundo que a folhagem cerrada priva
de luz directa. Mas, mesmo nessa penumbra constante, Hermann, regressado à cor
directa, baseado numa gama limitada de tons verdes e cinzentos, consegue dar
uma imensa legibilidade em qualquer momento do dia.
(Para próximo do final, num momento de pura magia, quando
Bois-Maury chega às portas da cidade sonhada, quase nos cegar com o mesmo
brilho intenso com que o protagonista se depara, em duas pranchas em que
predominam os tons laranja).
Pela extensão do texto, pelos muitos elogios que já fiz,
facilmente se percebe que – mais uma vez – a estrela desta obra é Hermann. O
que não invalida que o seu filho, Yves H., tenha tido, pelo menos, a capacidade
de criar uma história à medida do talento do pai.
Uma história simples e linear, é verdade, sem grandes
surpresas, construída de forma competente, embora com personagens tipificadas e
de comportamento espectável, mas que se lê com agrado. Uma história em que a
avidez dos conquistadores brancos choca com a simplicidade dos indígenas, em
que o absolutismo da fé católica, tantas vezes caindo no absurdo, encontra
dificuldade em se impor e em que a avidez se sobrepõe ao bom senso e aos
princípios.
A reter
- Hermann. Hermann e a sua arte. Bela, magnífica, sublime,
mesmo que, possivelmente, o papel e a impressão – a que nada há a apontar - não
lhe façam justiça completa…
Menos conseguido
- A tipificação e alguma previsibilidade do argumento, que
Hermann resgata com a sua arte.
- O país em que vivemos – com as editoras, leitores,
distribuidores, livrarias, divulgadores que temos… - que foi capaz de
desperdiçar a oportunidade – que gozou durante anos – de publicar em português,
em simultâneo com a edição original, cada nova obra do mestre Hermann.
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Bois-Maury,
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13/04/2012
Titanic (I) – La Malédiction du Titanic
Colecção 1000 Feuilles
Cedric Rassat (argumento)
Emre Orhun (desenho)
Glénat (França, 21 de Março de 2012)
250 x 358 mm, 48 p., pb, cartonado
25,50 €
Introdução
Este é o primeiro de uma série de textos que vou publicar em As Leituras do Pedro, ao longo dos próximos dias, sobre bandas desenhadas (e não só…) de alguma forma relacionadas com o Titanic, que naufragou há sensivelmente 100 anos, a 15 de Abril de 1912.
Resumo
E se um egiptólogo tivesse levado em segredo para bordo do Titanic uma criatura fantástica capaz de espalhar o terror a bordo e provocar a perda do inafundável paquete…?
Desenvolvimento
Este é um álbum que assume desde o início um tom trágico-cómico, assente não só no traço semi-caricatural adoptado, mas também na forma como utiliza os lugres comuns - as personagens, as situações, as frases… - vulgarmente associadas ao Titanic e algumas piadas – por vezes de gosto duvidoso mas – bem apropriadas ao que vai sendo descrito.
Desta forma, Rassat e Orhun, condimentam um relato de pretenso terror mas também divertido, que torna original o recontar – mais uma vez – da tragédia que há um século se abateu sobre o navio. Embora, desta vez, a explicação para o infausto acontecimento tenha uma base diferente, a tal maldição (egípcia) que o título refere.
Com uma galeria equilibrada de personagens e diálogos contidos mas suficientes para orientarem o leitor, a grande originalidade do livro surge ao nível gráfico, devido à técnica utilizada por Emre Orhun, um chinês de origem turca radicado em França (!).
Isto porque ele parte de páginas totalmente negras – o que acentua o tom sombrio da história que nos é contada por Cedric Rassat – das quais raspou (literal e cirurgicamente!) o preto para que surjam com grande esplendor os tons cinzentos e o branco em que assenta o seu traço forte, dinâmico, pormenorizado e muito expressivo, com que compõe pranchas de grande impacto e esteticamente muito conseguidas.
Isto porque ele parte de páginas totalmente negras – o que acentua o tom sombrio da história que nos é contada por Cedric Rassat – das quais raspou (literal e cirurgicamente!) o preto para que surjam com grande esplendor os tons cinzentos e o branco em que assenta o seu traço forte, dinâmico, pormenorizado e muito expressivo, com que compõe pranchas de grande impacto e esteticamente muito conseguidas.
A reter
- A originalidade da técnica de Orhun…
- … na origem das belíssimas pranchas que compõem o álbum.
- O (bom) aproveitamento do centenário do naufrágio do Titanic, reflexo da forma profissional como funciona a edição de BD em França.
Nota
Sobre o mesmo tema ler também:
Titanic (II) - Titônica
Titanic (III) - À procura de Sir Malcolm
Titanic (IV) - Selos & Quadradinhos (78)
Titanic (V) - Outras leituras
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