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17/05/2013

Para tudo se acabar na quarta-feira













Octavio Aragão (argumento)
Manoel Ricardo (desenho)
Editora Draco
Brasil, 2011
170 x 260 mm, 64 p., cor, brochado com badanas
R$ 24,90 (papel)/R$ 9,90 (e-book)


A ancoragem na sua própria realidade é um dos aspectos que admiro na actual BD moderna brasileira – e permitam-me agrupar genericamente assim uma série de projectos heterogéneos, diversificados e estimulantes que nos últimos anos têm sido editados no Brasil.
Uma ancoragem feita em termos geográficos, temáticos e culturais, que, a diferentes níveis, nos proporcionou obras como “O Cabra”, “daytripper”, "Aú, o capoeirista" ou “Morro da Favela”, para referir apenas algumas entradas relativamente recentes aqui em As Leituras do Pedro.
Este caminho é o mesmo que foi defendido há muitos anos atrás como única forma de a BD portuguesa conseguir concorrer com as traduções de histórias aos quadradinhos de outras proveniências, por alguns dos autores hoje “veteranos” da BD portuguesa, embora raramente em moldes capazes de conquistar leitores, devido ao classicismo das abordagens feitas, na temática histórica e na adaptação de obras literárias – algo que alguns brasileiros também têm vindo a fazer; e bem.
Porque, se uma aposta deste género potencia, à partida, a adesão dos leitores que mais facilmente se identificam com a obra através dos locais da acção ou das referências presentes no relato, só atingirá os objectivos necessários – garantir as vendas que sustentem a publicação – se a ele aliarem a qualidade gráfica e narrativa (minimamente) indispensável.

“Para tudo se acabar na quarta-feira” é mais um exemplo do que atrás ficou exposto – sem que isso implique qualquer comparação ou juízo de valor relativamente às outras obras citadas - apesar de ser uma história de ficção-científica, passada num universo alternativo, onde existe uma polícia que tenta controlar os muitos mundos que os autores de quadradinhos desenvolvem e evitar as interacções entre eles.
A história de Octavio Aragão, ambientada no Rio de Janeiro, com confrontos entre bandos como pedra basilar, em pleno Carnaval – com o desfile das escolas de samba a assumir um papel fulcral na história – para além de toda a originalidade explora – bem – uma temática que sempre foi sugestiva para mim: as viagens temporais e as consequências, no presente e no futuro, das alterações provocadas no passado.
Bem escrita, fluída, com personagens bem definidas, credíveis e bem estruturadas, depois de prender a atenção do leitor, consegue transportá-lo para o universo ficcional desenvolvido e levá-lo mesmo a torcer por um final que será completamente subvertido para grande surpresa de quem lê.
Graficamente, Manoel Ricardo, apesar de em alguns pormenores aqui e ali denotar alguma inexperiência, apresenta um traço legível e expressivo que sustenta bem a narrativa, demonstrando especial apetência pelas cenas de acção, a que imprime um ritmo e uma dinâmica assinaláveis.
Como nota final, fica a informação de que “Para tudo se acabar na quarta-feira” está disponível em papel e também em e-book.


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