Frank Miller
Devir (Portugal, Maio de 2012)
160 x 260, 320 p., pb e cor, brochado
com badanas
29,90 €
Resumo
Wallace, ex-combatente que
tenta ganhar a vida como desenhador, salva Esther após esta se ter tentado suicidar,
apaixonando-se de imediato por ela.
O seu rapto vai levá-lo a
mover céu e terra para a encontrar e a descobrir muitos dos podres da “cidade
do pecado”.
Desenvolvimento
O rapto de Esther é o
pretexto que Miller utiliza para nos arrastar em mais uma longa investigação,
com os excessos gráficos e narrativos que são também a imagem de marca de Sin
City e sem os quais a série não seria a mesma e não teria chegado onde chegou,
com o protagonista a ter que enfrentar polícias corruptos e organizações criminosas
poderosas, recorrendo aos seus antigos companheiros de armas, o que
transformará as ruas escuras de Sin City num autêntico campo de batalha, onde o
sangue jorra a rodos e não há quartel nem piedade pelos feridos. Apesar de, no
fundo, o relato (ser anunciado e) não passar de uma forte história de amor…!
Que Miller nos vai
desvendando aos poucos, apesar do ritmo elevado que lhe imprime, e na qual
vamos encontrar ou entrever muitas das personagens – e mesmo alguns momentos –
que marcaram as páginas de volumes anteriores, pelo que este tomo final (até
ver, há notícias do regresso de Miller a Sin City) serve também, de alguma
forma, de (auto)celebração e de consolidação de um (imenso) universo que,
apesar das suas bases tradicionais – o policial negro, puro e duro –
revolucionou este registo nas páginas aos quadradinhos e é uma série de
referência incontornável.
A reter
- Nove anos depois do
primeiro, a Devir completa a edição de Sin City. A prova de que em Portugal
também se completam colecções de BD.
- E fá-lo com um belo
livro-objecto, pesado e volumoso, com a BD complementada com as capas originais
e homenagens de outros autores, mas que merecia uma capa mais chamativa.
- Apesar de alguns desequilíbrios
no conjunto da narratuva, a forma como Miller encaixou neste tomo algumas
personagens e situações exploradas noutros contos da cidade do pecado.
- Algumas pranchas –
belíssimas – contidas neste grosso volume, com sublimes contrastes de branco e
negro, que justificam à saciedade o génio gráfico de Miller e um dos aspectos
em que assenta o sucesso de Sin City…
Menos conseguido
- … a par de algumas das
piores pranchas que Miller se atreveu a rabiscar, às quais nem o apertar dos
prazos ou a saturação do trabalho pode valer de desculpa…
- … e as pranchas 184 a 209,
a sequência da alucinação provocada pela droga, integralmente a cores (com
algumas curiosas homenagens a outras séries de BD), que mostra, a quem de tal
precisasse, porque tem Sin City que ser a preto e branco – ou quando muito com
a utilização pontual e cirúrgica de uma cor.