Há 40 anos, os leitores de revistas Disney descobriam o
Morcego Vermelho, um novo super-herói que parodiava Batman e era tão trapalhão
como o seu alter-ego, Peninha.
Criação do brasileiro Ivan Saidenberg, a partir de um
desenho do italiano Giovan Battista Carpi, O Morcego Vermelho estreou-se em Maio
de 1973 no Brasil, na história “Quem é o Morcego Vermelho?”, desenhada por Carlos Edgard Herrero que, depois, haveria aplicar a sua arte em muitas mais bandas desenhadas deste super-herói.
Para combater os bandidos, usa uma série de utensílios
inventados pelo professor Pardal, como o pula-pula morcego, o bate-morcego, a
moto-morcego ou a corda-morcego, e mora no Beco do Morcego, numa lata do lixo
de onde salta – por vezes com resultados desastrosos – para partir em missão. Ao
seu lado, surge por vezes a Borboleta Púrpura, ou seja a Glória, namorada do
Peninha.
O Morcego Vermelho não foi, no entanto, o primeiro
super-herói a surgir no universo Disney. Essa honra coube ao Superpateta, criado
em 1965 pelos norte-americanos Del Curry e Paul Murry, na história “The thief
of Zanzibar”. O seu alter-ego é o Pateta que se transforma em super-herói ao
comer uns amendoins que crescem no seu quintal. Após a ingestão, dá-se a
transformação, de efeito temporário, surgindo vestido com um pijama vermelho de
flanela e uma capa azul presa com um alfinete bebé, com força, resistência, inteligência
e audição redobradas e visão de raio X, tal como o Super-Homem que lhe serviu
de inspiração. Por vezes é auxiliado pelo SuperGil (aliás Gilberto, sobrinho do
Pateta) no combate a vilões megalómanos como o Dr. Estigma, o Dr. Tic-Tac ou o
Doutor X.
Depois dele, em 1969, surgiu o Superpato (Paperinik no
original italiano, numa referência a Diabolik, um popular herói de BD italiano),
imaginado por Guido Martina e Giovan Battista Carpi e talvez o mais consistente
de todos os super-heróis Disney.
Após descobrir o diário e o uniforme de Fantomius, um
assaltante justiceiro do século XIX, Donald decide criar o Superpato, artilhado
com uma série de equipamentos inventados pelo professor Pardal – botas com
molas, carro voador, um raio que corta a corrente eléctrica, foguetes no cinto
para voos curtos… - primeiro para atormentar os causadores dos seus maiores
desaires, Tio Patinhas e Gastão, mas rapidamente perde as características de
vilão para se tornar um verdadeiro combatente do crime.
Em meados dos anos 90, a personagem foi remodelada, surgindo
graficamente mais próxima do universo Marvel e tematicamente mais sombria e com
uma forte dose de ficção científica, mas acabaria por regressar ao conceito
original, sendo presença regular nas publicações Disney.
Em 1975, o alter-ego do Peninha seria imitado pelo Morcego
Verde - também criação de Saidenberg – numa homenagem de um dos seus maiores admiradores,
o Zé Carioca que, não tendo superpoderes nem artefactos especiais, é
acompanhado pelo Nestor com uma ventoinha para fazer esvoaçar a sua capa, anda
de autocarro-morcego – um autocarro normal cujo bilhete acha que não deve pagar
por ser super-herói – ou de bicicleta-morcego – levada emprestada de algum
vizinho - e utiliza a sua conversa da treta para derrotar os malfeitores.
Geralmente mais trapalhões do que heróicos, todos estes
super-heróis Disney acabam por conseguir os seus intentos com alguma ajuda da
sorte ou do acaso, sendo bastante populares entre os leitores.
Tal como os Vingadores, da Marvel, ou a Liga da Justiça, da
DC Comics, os super-heróis Disney por vezes também actuam juntos para
combaterem ameaças maiores.
Depois de se reunirem nos anos 80, em edições brasileiras
denominadas Clube dos Heróis, em 2008 surgiram os Ultra-Heróis, um supergrupo
que congregava, para além de Mickey e Esquálidus, Superpato, Superpata
(Margarida), Superpateta, SuperGil, Morcego Vermelho, Borboleta Púrpura,
Morcego Verde, Quatro Folhas (Gastão), Ganso de Aço (Gansolino) e Cartola
Mascarado (Tio Patinhas) enfrentando os Bad-7 um grupo de vilões que integrava o
professor Gavião, o Mancha Negra, os Metralhas, João Bafo-de-Onça ou
Patacôncio.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de
15 de Maio de 2013)