#1. Aborrecidos
Tsugumi Ohba
(argumento)
Takeshi Obata
(desenho)
Devir (Portugal,
Janeiro de 2012)
130 x 190 mm, 200
p., pb, brochado
9,99 €
Resumo
Shinigami, um dos
lendários deuses da morte, deixa cair na Terra um Death Note – Caderno da Morte
- que é encontrado por Light Yagami, um excelente estudante.
Qualquer nome
escrito num Death Note leva essa pessoa à morte, de ataque cardíaco ou da forma
que for descrita no caderno.
Yagami decide
utilizar o Death Note para livrar o nosso planeta do mal, começando a matar
assassinos e outros criminosos violentos, o que acaba por chamar a atenção das
autoridades a nível mundial, que encarregam da sua investigação L, um
investigador prestigiado cuja verdadeira identidade ninguém conhece.
Desenvolvimento
Por tudo o que já
li sobre Death Note, confesso que este era um dos mangas que estava no topo da
minha lista de preferências. A sua edição em português foi, por isso, uma
excelente (surpresa e) novidade. E poderá ser mesmo um dos lançamentos do ano,
assim a Devir lhe dê continuidade, editando em português, com regularidade os 11
volumes restantes.
Conhecendo apenas
este primeiro tomo, confesso-me desde já rendido à obra de Ohba e Obata, mesmo
se duas questões sensíveis ficam para já (quase) por aflorar: o direito de
provocar a morte a outrem – a recorrente questão da justificação da pena de
morte; a razoabilidade de combater o aborrecimento matando outros.
Porque, os dois
protagonistas, Shinigami e Light, encontram-se extremamente aborrecidos (daí o
título deste tomo), funcionando o Death Note como uma (estimulante) distracção
para ambos. Distracção perigosa, sublinhe-se porque Light, apesar da aparente
bondade das suas acções – erradicar o mal da Terra – no fundo quer tornar-se
senhor absoluto do mundo e não hesita em eliminar mesmo os inocentes que se
atravessem no seu caminho.
Apesar disso, o
transformar do enredo essencialmente num relato policial – apesar do tom
fantástico e de terror inerente – acaba por não desiludir de forma alguma, pois
o argumento está extraordinariamente bem escrito e desenvolvido, não só pela
forma como vai sendo exposto e aprofundado o funcionamento do Death Note, mas
também pelas sucessivas surpresas e volte-faces que o argumento vai tendo, pela
forma como Light explora as “instruções de uso” do Death Note.
Na verdade, o duelo
de génios que se estabelece entre Light e L, assente sobretudo num enorme
suspense, embora com alguma acção e um fundo de terror psicológico, tem tudo
para prender e apaixonar mesmo aqueles que geralmente desdenham da banda
desenhada vinda do oriente.
O desenho de Obata,
que acompanha bem a trama, tem para mim um senão: o aspecto do deus da morte,
demasiado caricatural, a fazer lembrar o Joker de Batman, nas suas versões mais
espalhafatosas. O que contrasta com alguns apontamentos hiper-realistas que
Obata vai introduzindo em momentos específicos para acentuar aspectos cruciais
da história.
Mas pondo isto de
lado, é de toda a justiça realçar a grande legibilidade do desenho, um bom
tratamento ao nível do ser humano, uma planificação ponderada e diversificada,
com grande variedade de planos e o bom uso de trama em páginas bem preenchidas
que – contrariando o que tantas vezes acontece no manga – obrigam o leitor a
demorar-se, assimilando (também) assim os pormenores – que são muitos - do
argumento.
A reter
- A edição de Death
Note em Português. Mais um contributo para a construção (?) de um nicho de
mercado que a ASA iniciou com Dragon Ball e Yu-Gi-Oh?
- A excelência do
argumento, sólido, consistente, bem estruturado e que recorrentemente
surpreende o leitor.
- O clima de
suspense e terror psicológico que perpassa pelas páginas de Death Note.
Menos conseguido
- O ar “apalhaçado”
de Shinigami.
- A repetição das
páginas 137 a 144.
Nota
- Apesar de este livro estar em português, a utilização de
imagens em inglês para ilustrar este texto deve-se à impossibilidade de obter
boas imagens no scanner sem destruir completamente o livro…