04/07/2011

Portugueses na Marvel

Em tempos recentes – leia-se nos últimos 2, 3 anos – o facto de alguns desenhadores portugueses estarem a trabalhar – (embora) de forma (ir)regular – para a Marvel tem sido (de forma relativa) recorrentemente mediatizado entre nós (e eu me penalizo, se for caso disso, pela minha contribuição, consciente, para esse facto), podendo empolar ou dar dessa realidade uma dimensão que na verdade ela (ainda?) não tem.Mas, para início de conversa, por assim escrever, vamos esclarecer de que se fala quando falamos de Portugueses na Marvel. Ou melhor, vamos um pouco mais atrás, à pré-História dessa relação.
Até há pouco tempo, era necessário recorrer ao luso-americano Joe Madureira – filho de pais portugueses – para conseguir uma assinatura lusa (ou perto disso…) na Marvel, apesar dos sobrenomes familiares de alguns dos autores, que geralmente se descobria serem brasileiros, espanhóis, latinos ou mesmo filipinos…
Madureira, responsável pelo título Uncanny X-Men entre 1994 e 1997, dedicou-se depois a Battle Chasers (Wildstorm), uma criação pessoal que se arrastou no tempo e ficou incompleta. Trocando a BD pelos jogos, Madureira teve algumas passagens pontuais pelos quadradinhos já no final da década de 2000, tendo recentemente anunciado o regresso à editora norte-americana, num projecto para já mantido em segredo.
Depois dele, surgiu Miguel Montenegro que, entre vários trabalhos para outras editoras norte-americanas, em 2004 se tornou o primeiro português a desenhar uma capa para a Marvel, mais concretamente para a edição 51 da revista Espantosos X-Men, da Devir nacional.
Seguiu-se nova travessia do deserto (dos super-heróis com problemas) até que, em 2007, Ricardo Tércio desenhava o primeiro número de Spider-Man Fairy Tales, participando igualmente na mini-série Marvel Fairy Tales, no ano seguinte. Ambos os projectos revisitavam fábulas infantis, agora protagonizadas pelos super-heróis da Marvel, sendo que, nesta última, três dos quatro números eram assinados por autores nacionais: o já citado Ricardo Tércio e ainda João Lemos e Nuno Plati Alves.
Curiosamente, esta oportunidade surgiu – quase por acaso, daqueles que se pensa que só existem nos quadradinhos - durante uma passagem de Lemos por Angoulême, onde encontrou casualmente Joe Quesada a quem entregou o seu portefólio, o que lhe valeu receber mais tarde o convite para o projecto.
Depois disso, estes três nomes, a que se juntou, em 2010, Filipe Andrade (no seguimento de uma análise de portefólios por C.B. Cebulski), têm surgido com alguma regularidade nas fichas técnicas de diversos títulos Marvel, como pode ser verificado na relação abaixo apresentada.
Dirão alguns que foi uma questão de sorte, por estarem no lugar certo, no momento exacto – o que é inegável – mas, a esse factor aleatório, juntaram, posteriormente, a capacidade de trabalho – e o talento - que lhes permitiu responder à primeira solicitação e responder a novos desafios.
E se é verdade que os primeiros projectos eram muito específicos e até marginais na produção normal da Marvel, a verdade é que aos poucos Ricardo Tércio, João Lemos, Nuno Plati e Filipe Andrade, foram subindo e trabalhando com alguns dos principais super-heróis: Capitão América, Wolverine, Spider-M.an, Iron Man… Tem sido um percurso progressivo, em crescendo, iniciado com histórias curtas – algumas estreadas em formato digital – passando depois a projectos de outro fôlego como as one-shots X-23, Marvel Girl e a que Plati desenha actualmente com Spider-Man ou a mini-série Onslaught Unleashed, de Andrade e Tércio, ainda em curso. A par disso, há que acrescentar ainda um argumento escrito por João Lemos para Wolverine e a capa que Plati desenhou para Amazing Spider-Man Family.
Projectos ainda discretos, é verdade, mas cada vez menos.
E se a sua entrada no universo Marvel de alguma forma implica (pelo menos) uma cedência do factor artístico (durante muitos anos defendido pelos autores portugueses que tentaram publicar fora de portas) à vertente mais comercial dos heróis Marvel, a verdade é que Lemos, Plati, Tércio e Andrade não abdicaram de um traço pessoal e personalizado que, se é cedo para afirmar como uma mais-valia, é, no entanto, já, um factor distintivo.
Se o seu trabalho para a Marvel não faz ou não progredir os quadradinhos nacionais, poderá ser outra questão. No actual contexto lateral e secundária. Mas a verdade é que a sua participação na Marvel serviu para mediatizar a BD nacional. Levando-a – mais exactamente levando os seus autores – a suportes (jornais, TV, rádio…) que geralmente não lhes prestam atenção. Caberá a eles, às editoras, aos festivais – no presente (acredito que Beja vai beneficiar com esta mostra) e no futuro – tirar partido deste facto. Promovendo-os com base neles, promovendo-se à custa deles. Haja capacidade, haja visão.
Agora, o que está em destaque é este quarteto, com percursos, opções e ambições diferentes, que chegaram onde os autores nacionais nunca tinham chegado. E o sucesso (mesmo que relativo, possivelmente à medida da nossa realidade) de cada um, pelo menos para eles é positivo. Principalmente porque – cumprindo, talvez, sonhos de infância ou adolescência – já viram o seu talento e trabalho dar frutos.

Nuno Plati Alves
• Avengers Fairy Tales #2 – Created equal, 2008, desenho, arte-final e cor; argumento de C. B. Cebulski
• Amazing Spider-Man Family #8, 2009, capa
• Women of Marvel #2 – Shanna the She Devil, 2010, desenho, arte-final e cor; argumento de Mary HK Choi
• Iron Man Titanium #1 – Killer Commute, 2010, desenho, arte-final e cor; argumento de Mark Haven Britt
• X-23, 2010, desenho, arte-final e cor; argumento de Marjorie Liu
• Marvel Girl #1, 2011, desenho, arte-final e cor; argumento de Josh Fialkov
• Amazing Spider-Man #657 – Torch Song, 2011, desenho, arte-final e cor; argumento de Dan Slott

Filipe Andrade
• I am an Avenger #5 - Ant-Man: Growing, 2010, desenho e arte-final; argumento de B. Clay Moore
• Iron Man Titanium #1 - Hack, 2010, desenho e arte-final; argumento de Tim Fish
• X-23, 2010, desenho e arte-final; argumento de Marjorie Liu
• Captain America #608 a #614 - Nomad, 2010, arte-final; argumento de Ed Brubaker, desenho de Butch Guice
• Onslaught Unleashed #1 a #4, 2011, desenho e arte-final; argumento de Sean McKeever
• Avengers (American Troops), desenho e arte-final;
• Iron Man (Tony Stark), desenho e arte-final;

João Lemos
• Avengers Fairy Tales #1 – Once upon a Time…, 2008, desenho e arte-final; argumento de C. B. Cebulski
• Wolverine #1 - The Dust From Above, 2010, argumento; desenho de Francesca Ciregia
• Wolvernie #1000 – The Adamantium Diaries, 2011, desenho e arte-final; argumento de Sarah Cross

Ricardo Tércio
• Spider-Man Fairy Tales #1 – Off the beaten path, 2007, desenho, arte-final e cor; argumento de C. B. Cebulski
• Avengers Fairy Tales #4, 2008, desenho, arte-final e cor; argumento de C. B. Cebulski
• Onslaught Unleashed #1 a #4, 2011, cor; argumento de Sean McKeever
• Marvel Adventures Super Heroes #11, 2011, capa

(Texto inicialmente publicado no Splaft – Caderno da Bedeteca de Beja #08, que serviu de catálogo ao VII Festival Internacional de BD de Beja)

03/07/2011

Selos & Quadradinhos (53)

Stamps & Comics / Timbres & BD (53)
Tema/subject/sujet: Memín Pinguín
País/country/pays: México / Mexico / Mexique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2005

02/07/2011

Voyager #1

Lançamento na Lobo Mau
Hoje, sábado, às 16 horas, é lançado no Porto o álbum “Voyager”, um projecto de banda desenhada português da responsabilidade do colectivo R’Lyeh Dreams, formado por Diogo Campos (argumentista), Diogo Carvalho (argumentista e desenhador), Luís Belerique (argumentista e artista, capa), Luís Maiorgas (artista), Nelson Nunes AKA Cocas (artista), Phermad (artista), Ricardo Reis (argumentista), Rui Ramos (argumentista, artista, editor, ideia original, capa, design do livro) e Salvador Pombo (artista). O lançamento terá lugar na loja especializada em BD e merchandising “O Lobo Mau”, situada nas Galerias D. Henrique, na Rua do Bonjardim, 618 C, estando presentes alguns dos seus autores para uma sessão de autógrafos.
“Voyager” narra as aventuras e experiências alucinantes de um turista espacial por locais conhecidos e mundos estranhos e fantásticos nunca antes explorados pelo homem, cujos pontos de contacto são mais do que se possa pensar, e os encontros com os seus bizarros habitantes. Conjunto de narrativas fantásticas a que o humor e o suspense não são alheios, este projecto, escrito e desenhado a várias mãos, fez as suas primeiras viagens online há 3 anos, tendo também uma versão em “tempo real” via Twitter e uma página no Facebook com “fotos” das viagens efectuadas.
O álbum colorido agora editado, recolhe os 13 episódios já publicados online bem como uma história inédita com 36 pranchas. As suas 68 páginas completam-se com uma série de extras que explicam o processo criativo, desde as fontes de inspiração aos esboços, até à arte final.
Este é o segundo álbum deste colectivo, que se estreou em 2008 com o álbum “Murmúrios das Profundezas”, um conjunto de relatos fantásticos e de terror inspirados nos universos macabros desenvolvidos por H. P. Lovecraft.
A equipa R’Lyeh Dreams fará nova sessão de lançamento hoje, às 22 horas, no Mercado Negro, na Rua João Mendonça, em Aveiro.




(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 2 de Julho de 2011)

01/07/2011

A morte do Homem-Aranha

Depois da morte do Tocha Humana, no início do ano, o Universo Marvel acaba de perder mais um dos seus grandes heróis, desta vez o Homem-Aranha. Ou melhor, acalmem-se os fãs, o Homem-Aranha do universo Ultimate, a linha editorial criada pela Marvel no ano 2000 com o propósito de narrar na actualidade a origem dos seus principais super-heróis, na sequência do êxito das primeiras adaptações cinematográficas então estreadas, de que o Jornal de Notícias, juntamente com a Devir, publicou os primeiros episódios em fascículos coleccionáveis há alguns anos.No número 160 da revista, posto à venda ontem, 22 de Junho, na conclusão da saga “Death of Spider-Man”, o Homem-Aranha defronta o Duende Verde para salvar a sua tia May e Gwen Stacy, mas acaba por falecer nos braços da sua namorada, Mary Jane Watson. Brian Michael Bendis, o argumentista, admitiu “ter chorado como um bebé” enquanto escrevia a história, mas justificou ter optado pela morte do herói, porque assim ele pode ser um exemplo “para o novo Homem-Aranha”, tal como o tio Ben foi para ele “e dessa maneira “a história continuaria como uma verdadeira história da personagem”. Porque, já em Setembro o herói aracnídeo estará de regresso numa nova revista, embora não seja Peter Parker a vestir o uniforme de Homem-Aranha, que surgirá com novo design.
Se neste caso concreto foi o Duende Verde o carrasco do super-herói, a verdade é que por detrás dele está a poderosa máquina de marketing da editora, que foi divulgando aos poucos informações sobre o evento que culminaram com um artigo sobre o assunto no New York Post do dia 21 e com a venda da revista, dentro de um saco preto selado, com o duplo propósito de manter secreto o desfecho e transformá-la em mais uma edição de coleccionador que poderá vir a valer alguns milhares de dólares num futuro mais ou menos próximo.
Os últimos tempos não têm sido pacíficos para Peter Parker, que viu a sua identidade secreta revelada durante a saga Guerra Civil que opôs os super-heróis, e o seu casamento desaparecer da cronologia da Marvel graças a um acordo secreto com Mefisto, já na altura para salvar a tia baleada por engano…



(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 29 de Junho de 2011)

30/06/2011

Melhores Leituras

Junho de 2011
Batman - O Longo Dia das Bruxas – Edição Definitiva (Panini), de Jeph Loeb (argumento) e Tim Sale (desenho)

Dragon Ball #9 e #10 (ASA), de Akira Toriyama

E tudo Fernando Bento sonhou (CNBDI), de João Paulo Paiva Boléo

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #72 (Mythos Editora), de Berardi e Mantero (argumento) e Boraley (desenho)

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #74 (Mythos Editora), de Berardi, Calza e Ghè (argumento) e Piccioni (desenho)

Le Photographe #1, #2 e #3 (Dupuis), de Emmanuel Guibert (argumento e desenho, Didier Lefèvre (fotografias) e Frédéric Lemercier (montagem e cor)

Mágico Vento #102, #103 e #104 (Mythos Editora), de Manfredi (argumento) e Barbati, Di Vincenzo, Volante e Perovic (desenho)

Met le paquet! (CBBD+La Poste), de Merho

Mocifão - Dia a dia, com azia! (El Pep), de Nuno Duarte

Tintin #16 – Rumo à Lua e #17 – Explorando a Lua (ASA), de Hergé

29/06/2011

Le Photographe – Tome 3












Collection Aire Libre
Emmanuel Guibert (argumento e desenho)

Didier Lefèvre (fotografias)
Frédéric Lemercier (montagem e cor)
Dupuis (Bélgica, Fevereiro de 2006)
240 x 320 mm, 102 p., cor, cartonado
19 €

28/06/2011

Mágico Vento

#102 – O retorno de Aiwass
Manfredi (argumento)
Barbati (desenho)
Di Vicenzo (arte-final)

#103 – Encontro em Providence
Manfredi (argumento)
Barbati (desenho)
Volante (arte-final)

#104 – Fugindo do Inferno
Manfredi (argumento)
Perovic (desenho)



Mythos Editora (Brasil, Dezembro de 2010, Janeiro e Fevereiro de 2011)
135x175 mm, 132 p., pb, brochado
4,00 €

Resumo
O roubo de um antigo artefacto – uma garra dourada - do Museu Smithsoniano de Washington, descoberto durante escavações arqueológicas Serpent Mound, desperta o interesse dos serviços secretos ao descobrirem que por detrás dele está a Cúpula Negra.
Poe é convidado a participar na investigação ao mesmo tempo que uma perturbadora visão põe Mágico Vento também no seu encalço, pois trata-se da chave que abre a porta do Inferno.


Desenvolvimento
Já o escrevi de alguma forma, Mágico Vento é uma longa saga cuja base é o western – e alguns episódios são western puro – mas que deambula por vezes – ou, especificando melhor, também – por outros registos como o ficcional histórico, a exploração das lendas indígenas, o tom conspirativo e o fantástico.
O ciclo narrado nos números #102 (actualmente nas bancas portuguesas) a #104 é um bom exemplo do último género citado, levando Mágico Vento a outra realidade – o Inferno…? – para evitar que Aiwass consiga regressar dos mortos. Ao mesmo tempo, o seu amigo Poe, por um lado, e Henry e Boris, agentes do serviço secreto norte-americano, por outro, perseguem, mais uma vez, os membros da Cúpula Negra tentando evitar que concretizem aquele as suas intenções.
Se o resumo acima escrito pode soar estranho para quem não está familiarizado com Mágico Vento – o que é uma pena, deixem-me referi-lo, pela qualidade da escrita de Manfredi e pela forma como ele tem desenvolvido este extenso fresco sobre o oeste americano – a verdade é que o desconhecimento do que está para trás, podendo originar algumas dúvidas, não impede a fruição da obra, podendo até funcionar como alavanca para levar o (novo) leitor a descobrir mais sobre Ned Ellis e o seu passado.
Maioritariamente passado num mundo fantástico, povoado de demónios – uns mais do que outros – em busca de redenção ou do castigo final, levantando uma série de questões sobre o que nos espera depois da morte e podendo ser lido como relato de pura acção, este ciclo – de quase 400 páginas – beneficia ainda do facto de a narração se situar a vários tempos: a vivenciada pelo protagonista e as que têm como epicentro a acção de Poe e a de Henry e Boris, concorrendo todas – sem que eles saibam – para um final – não apoteótico mas quase catastrófico – comum.
E Manfredi, tirando bom partido do aumento de páginas de que a edição beneficiou recentemente, gere com mestria estes diversos momentos, deixando sucessivamente a acção em suspenso num momento crucial – e com ela o leitor – para retomar a narrativa noutro local, aumentando assim o suspense e o seu tom dramático, explorando sentimentos e emoções.
Ao registo ficcional, o argumentista alia ainda uma base (por vezes …) histórica ao citar diversos casos inexplicados e lendas da época em que se situa a acção de Mágico Vento, contando várias histórias ao longo da história (!), aproveitando igualmente para citar e homenagear um dos mestres da literatura fantástica, H. P. Lovecraft.
Graficamente, embora reúna quatro assinaturas – Barbati, Di Vincenzo, Volante e Perovic – o relato não sofre com esse facto, revelando-se homogéneo, perfeitamente dinâmico e legível, com as personagens bem definidas, servindo o uso abundante de manchas de negro para acentuar o tom sombrio e fantástico do relato.
O conjunto assim criado revela-se denso, apelativo e bastante interessante e pode funcionar como uma boa porta de entrada num universo que aconselho a descobrir.

A reter
- A forma como Manfredi explora e equilibra os diversos locais em que o relato decorre.
- A interligação entre o tom fantástico e a base histórica.

27/06/2011

Met le paquet!

Merho (argumento e desenho)
CBBD (Bélgica, Setembro de 2000)
154 x 217 mm, 64 p., cor, cartonado

1. Em tempos – diferentes, consoante os países considerados… - a banda desenhada, primeiro cómica, depois de aventuras, sempre como forma de distracção, foi iminentemente popular, devido à forma como era veiculada: em jornais ou em edições economicamente acessíveis.
2. Parente próximo da BD franco-belga – bastante divulgada entre nós - a BD (belga) flamenga nunca teve o mesmo destaque, possivelmente devido à dificuldade da língua. Não obstante, calcorreou em muitos casos – em especial no que ao humor diz respeito – caminhos paralelos, oferecendo leituras similares.
3. Também iminente-mente popular – muitas vezes pré-publicada em jornais diários, a um ritmo infernal, traduzido em 4, 5 álbuns por ano que obrigavam ao recurso a trabalho de estúdio - nela destacaram-se autores como Willy Vandersteen ou Marc Sleen, primeiro, e Jef Nijs, Hec Leemans ou Jean-Pol, e séries como Bob & Bobette (das menos desconhecidas entre nós), Néron, Briochon ou Kiekeboe.
4. Se confesso também o meu desconhecimento quase total sobre estes quadradinhos, serve este texto para lhes fazer uma primeira (e breve) introdução, derivada da leitura de “Met le paquet!”.
5. Comprado pela sua associação à emissão de um selo belga com a família Quivoila, protagonistas da serie Fanny & Cie (ou Kiekeboe em flamengo), selo esse reproduzido na capa e incluído neste álbum de pequeno formato, foi uma agradável surpresa, enquanto leitura de pura distracção.
6. Tendo por base aquela família, a história encaixa na comédia tradi-cional, que tem por base o multiplicar de situações equívocas que se vão acumulando num crescendo imparável até desembocarem num final inesperado e grandioso.
7. No caso presente, esta banda desenhada combina um assalto com tomada de reféns, um bolo com um anel de diamantes no seu interior perseguido por várias pessoas por diferentes motivos, a compra de última hora de prendas relacionadas com um aniversário de casamento, um pintor infeliz à desfilada sobre um andaime com rodas e mais uma série se situações estranhas, que aos poucos confluem para um mesmo local, e que se tornam irresistíveis e obrigam o leitor a sucessivas gargalhadas.
8. O traço é simples e eficaz, as cores lisas, claras e agradáveis, as personagens bem definidas e facilmente identificáveis e o ritmo narrativo alucinante.
9. O todo, como já ficou claro, cumpre muito bem a sua função (única) de divertir e dispor bem, o que está longe de ser de alguma forma um defeito, bem pelo contrário.

26/06/2011

Selos & Quadradinhos (52)

Stamps & Comics / Timbres & BD (52)
Tema/subject/sujet: Philatelie de la Jeunesse – Kiekeboe
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2000

25/06/2011

Smurf Global Day

Hoje é o Smurf Global Day, algo como Dia Mundial dos Smurfs, que é como quem diz, mais correctamente, Schtroumpfs. A iniciativa é da Sony and Colombia Pictures e enquadra-se na promoção da primeira longa-metragem dos simpáticos seres azuis, cuja estreia está prevista para 29 de Julho nos Estados Unidos.
A escolha do dia 25 de Junho serve ao mesmo tempo para assinalar o aniversário do nascimento de Peyo, o seu criador, em Bruxelas, em 1928. De seu verdadeiro nome Pierre Culliford, deu os primeiros passos num estúdio de animação onde conheceu Franquin (criador de Gaston Lagaffe) e Morris (Lucky Luke), tendo naturalmente transitado para a banda desenhada.
Em 1950, criou a série “Johan et Pirlouit” (João e Pirulito em Portugal) onde apareceram os Schtroumpfs (agora chamados Smurfs por via das versões televisivas e cinematográfica norte-americanas; ao menos não foram buscar a designação espanhola de Pitufos…).
O sucesso dos pequenos seres azuis levou Peyo a desenvolvê-los em série autónoma, dando-lhes um inimigo, o Feiticeiro Gargamel e explorando a sua linguagem típica, repleta do termo “Schtroumpf”, e as diferenças devidas às suas características e personalidades, que lhes dão nome: o sábio, o zangado, o cozinheiro, o dorminhoco, o brincalhão, etc. E no facto de na sua aldeia haver apenas uma personagem do sexo feminino.
Para assinalar o dia de hoje, estão previstas diversas iniciativas, a mais visível das quais a tentativa de bater o recorde de pessoas vestidas como Schtroumpfs: corpo pintado de azul e boné, calções e sapatos brancos. Haverá concentrações em Bruxelas, Atenas, Haia, Dublin, Cidade do México, Cidade do Panamá, Varsóvia, Moscovo, Joanesburgo, Nova Iorque e Londres, sendo 2510 o número a ultrapassar. Em Espanha, a vila de Júzcar, em Málaga, conhecida pelas suas casas brancas características da Andaluzia acordará completamente pintada de azul, e o famoso The O2, em Londres, vai transformar-se no The O Blue. Nas principais praças de Paris, Reiquiavique, Bogotá, Zurique ou Copenhaga vão ser implantadas Casas Azuis, habitadas por pequenos Schtroumpfs em tamanho real (cerca de 20 centímetros).
O salto da banda desenhada para a televisão, nos anos 90, apesar de descaracterizar os Schtroumpfs fez a sua popularidade passar as fronteiras francófonas.
O actual filme, dirigido por Raja Gosnell, que congregou esforços de duas das maiores produtoras, a Columbia Pictures e a Sony Pictures, assinala a sua chegada ao mundo real, para onde foram enviados por Gargamel e onde vão interagir com Neil Harris e Jayma Mays. Nas vozes originais encontram-se Hank Azaria (dos Simpsons), Kate Perry ou Jonathan Winters. A estreia portuguesa está marcada para 11 de Agosto.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 25 de Junho de 2011)

24/06/2011

O Porto aos quadradinhos

Rui Ricardo
Se a poesia canta que do Porto “houve nome Portugal”, foi também lá que nasceu o primeiro grande salão nacional dos quadradinhos e, por via dele, muita banda desenhada, rica na sua diversidade, sedutora nas suas ofertas, que tem mostrado a cidade sob diversos prismas gráficos, históricos e ficcionais.
Com uma longa história, não surpreende, por isso, que as primeiras referências à Cidade Invicta nos quadradinhos sejam anacrónicas. Hermínio, herói de Borges e Moreiras, nas suas demandas passou por Portucale onde os valorosos habitantes gritavam “Portucale ainda será uma naçon!”, e Tito e André, com as liberdades que a ficção permite, levaram Tónius, o lusitano - uma espécie de émulo nacional de Astérix - num intervalo dos seus confrontos com os mouros, a provar um precioso néctar, “colheita de 680", retirado de barris encontrados num barco rabelo perto da foz do “rio Durius”, junto a uma (então) pequena povoação.
André
Mas deixando o humor de parte, pode-se afirmar que as visões do Porto aos quadradinhos, sempre com a cidade a servir de palco da narrativa, seguem geralmente dois rumos. O das abordagens históricas, assinadas por autores de traço clássico, e outras, mais modernas e recentes, de tom ficcional.
Um dos exemplos do primeiro aspecto considerado é a “História do Porto em BD”, de Luís Miguel Duarte e José Garcês, lançada quando a cidade foi Capital da Cultura, em 2001, para tornar acessível “a um público diversificado os episódios marcantes da rica história da antiga, mui nobre e sempre leal, invicta cidade do Porto".
José Ruy
Outras abordagens históricas, mais generalistas, incluem geralmente episódios ocorridos no Porto, como as lutas liberais ou as movimentações que levaram à implantação da República, como acontece na “História de Portugal em BD”, de Carmo Reis e José Garcês.
A presença do Porto é maior em “Almeida Garrett e a Cidade Invicta”, em que José Ruy, com a sua técnica personalizada, traça a biografia do grande escritor, realçando a sua ligação à cidade,que retrata com rigor bem como alguns dos seus contemporâneos. O mesmo autor, em “As viagens de Porto BomVento”, tem uma abordagem curiosa em que combina ficção e realidade histórica, para contar o quotidiano de um piloto do Douro, nascido em 1462 e que participou nalgumas das viagens dos Descobrimentos, ao mesmo tempo que retrata o Porto do século XV.
José Ruy
Mais recentemente, Carlos Morgado e Luís Correia colocam algumas das “História e Estórias do ACP” em zonas conhecidas da cidade, mostrando a sede do ACP, o palácio de Cristal ou a emblemática Torre dos Clérigos.
Paulo Jorge
Este mesmo monumento, embora de forma satírica, a cair de velho, surgia num dos folhetos do 1º Salão de BD e do Fanzine do Porto, em 1984, génese do primeiro grande evento regular do género dedicado aos quadradinhos.
Na sua esteira e graças ao impulso que o evento deu também à BD local, surgiram obras como “Jogos Humanos” e “Canção do Bandido”, ambas de Paulo Patrício e Rui Ricardo,com um tom próximo da crónica urbana, em que o Porto era o local de vivência e de experiências de uma juventude agitada e inquieta.
Vítor Almeida
Já “Stad”, resultou do desafio feito a 10 autores nortenhos “para contarem em BD uma das muitas histórias que lhes surgem do convívio diário com o Porto”, passando pelas suas páginas figuras como o cauteleiro, a peixeira, o moina e o engraxador e um prato típico como a francesinha.
Ainda no âmbito do SIBDP, não deixa de ser curiosa a visão traçada no seu diário gráfico por James Kochalka, um autor norte-americano que foi seu convidado, sensível às ruas estreitas, gradeamentos e… belas mulheres e que a Quadrado reproduziu.
Maior conteúdo ficcional encontra-se em “BRK”, de Filipe Pina e Filipe Andrade, que se inicia com um atentado terrorista na baixa do Porto, e, a outro nível, “Uma viagem fantástica”, resposta de Manuel António Pina e Rui Azul ao desafio de uma das empresas que concorreu à adjudicação do metro do Porto, para imaginarem como seria a futura rede de transportes rápidos.
Rui Azul
Com a íntima ligação à cidade por todos (re)conhecida, o F. C. do Porto também teve direito ao seu momento de fama… aos quadradinhos!
Artur Correia
Isso aconteceu na década de 1990, quando o jornalista Manuel Dias e o desenhador Artur Correia juntaram talentos para criar “Era uma vez um Dragão ou a história do Futebol Clube do Porto contada às crianças” (Edições ASA) (a par de “Era uma vez um Leão” e “Era uma vez uma Águia”, dedicadas respectivamente a Sporting e Benfica).
O livro, em tom divertido e com um traço caricatural, traça o percurso portista desde as suas origens no início do século XX, até à conquista da Taça dos Campeões Europeus, em Viena, em 1987, frente ao Bayern de Munique. E onde, como não podia deixar de ser, são reconhecíveis não só os grandes jogadores que passaram pelo clube como também treinadores como Pedroto, Morais e Artur Jorge e, claro, o seu presidente, Pinto da Costa.
Para concluir este passeio pelos quadradinhos que têm o Porto como palco, uma história de Pitanga, publicada no Quadrado, escrita por Arlindo Fagundes e Pedro Sousa Diasleva-nos até à Ponte Luiz I e à Ribeira, para assistir a uma reflexão amarga sobre racismo motivado por reminiscências da guerra colonial e da ditadura, cujo título evoca o hino “oficioso” da cidade: “Quem vem e atravessa o rio…”
Pedro Sousa Dias
Filipe Andrade

Rui Ricardo

Artur Correia

Vítor Borges

José Garcês

Luís Correia

James Kochalka

Rui Ricardo

Rui Ricardo

Referências bibliográficas
Hermínio – Regresso a Portucale
Paulo Moreiras (argumento)
Victor Borges (desenho)
Pedranocharco, 1996

Tónius o lusitano – Uma aventura nas Astúrias
Tito (argumento)
André (desenho)
Editorial Pública, 1981




História do Porto em BD
Luís Miguel Duarte (argumento)
José Garcês (desenho)
Edições ASA, 2001

História de Portugal em BD
(4 álbuns compilados num volume)
Carmo Reis (argumento)
José Garcês (desenho)
Edições ASA, 2005

Almeida Garrett e a Cidade Invicta
José Ruy (argumento e desenho)
Âncora Editora, 1999

As Viagens de Porto Bomvento
(8 álbuns compilados em 2 tomos)
José Ruy
Edições ASA, 2005

História e Estórias do ACP
Carlos Morgado (argumento)
Luís Correia (desenho)
Edição da Revista ACP, 2009




Jogos Humanos
Paulo Patrício (argumento)
Rui Ricardo (desenho)
ASIBDP+Bedeteca de Lisboa, 1999




Canção do Bandido
Paulo Patrício (argumento)
Rui Ricardo (desenho)
Edições Polvo, 2001

STAD
Ágata Moreira, Isabel Carvalho, J.M. Saraiva, Manuel Cruz, Mário Moura,
Paulo Patrício, Pedro Nora, Rui Duarte, Rui Ricardo, Vítor Almeida
ASIBDP+Colectivo alíngua, 2001




BRK tomo 1
Filipe Pina (argumento)
Filipe Andrade (desenho)
Edições ASA, 2009




Uma viagem fantástica
Manuel António Pina (argumento)
Rui Azul (desenho)
Gec Alsthom, 1996

Era uma vez um Dragão ou a história do F. C. do Porto contada às crianças
Manuel Dias (argumento)
Artur Correia (desenho)
Edições ASA, 1992




(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 24 de Junho de 2011)
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