
ASA (Portugal, Setembro de 2010)
225 x 300 mm, 96 p., cor, cartonado
Adèle Blanc-sec é um dos casos estranhos em que a edição de banda desenhada é fértil em Portugal.
Lançada originalmente pela Bertrand, no final da década de 70 do século passado, era uma série que destoava num catálogo em que imperava a BD juvenil de aventuras, o que não impediu a edição dos quatro primeiros tomos (correspondentes aos dois primeiros arcos das aventuras de Adèle Blanc-sec) em apenas dois anos, volumes que durante muitos anos se encontravam com facilidade em livrarias e alfarrabistas.

Anos depois, em 2003, a Witloof acabada de surgir, surpreendia por voltar a apostar numa obra já editada, de um autor que não era propriamente um nome de referência no nosso país e cuja bibliografia nacional praticamente não tivera continuidade (com excepção de “A Sacanice”, surpreendentemente lançada pela Terramar em 2000, e de “Varlot Soldado”, da Polvo, em 2001). Com uma edição ligeiramente maior, com nova tradução e capas pouco diferentes, apenas com a imagem original ampliada, a Witloof ficou-se pela (re)edição dos três primeiros volumes.
Agora, é a ASA que volta a esta obra emblemática de Tardi, à boleia de um filme que - ao que parece infelizmente - não se sabe se e quando vai estrear em Portugal. A tradução e a capa (uma montagem) são novas mais uma vez, surgindo também como novidade a compilação das duas primeiras histórias (Adèle e o Monstro e O Demónio da Torre Eiffel, correspondentes ao primeiro arco) num único volume. E a certeza (tanto quanto é possível assegurá-lo neste momento) de que mais dois volumes, com os tomos 3/4 e 5/6 (estes até hoje inéditos em português) serão editados durante 2011. A faltar, para encerrar o primeiro ciclo de Adèle, ficará o álbum “Tous les Monstres”, bem como duas derivações à série: “Adieu Brindavoine” e “La fleur et le fusil”.

Mesmo assim, no conjunto da sua obra, Adèle Blanc-sec destaca-se pelo tom fantástico e irónico que perpassa as suas páginas.
Fantástico, porque na origem destas rocambolescas histórias está um pterodáctilo ressuscitado por pseudo-cientistas e uma seita de adoradores de um demónio assírio, em pleno coração da França. E uma trama longa e retorcida (e pontualmente difícil de acompanhar, tantas são as personagens envolvidas e as peripécias apresentadas), repleta de referências, em que abundam conspirações, perseguições e tiros.

Irónico, porque a par daquela trama densa, Tardi diverte-se – nitidamente – a criticar de forma mordaz polícias e políticos, a guerra e a ciência, autores (como ele próprio) e (os seus) heróis, de forma bem conseguida e irresistível. Ao mesmo tempo que brinca com a (sua) história e as situações, numa narrativa que adopta o estilo dos folhetins do início do século XX, o que a torna a um tempo estranha mas também apetecível e, por isso, bastante recomendável, sendo sem dúvida uma bela homenagem à literatura popular!
Como (triste) nota final, fica a confirmação que a edição de “integrais” em Portugal (que, ao contrário da maior parte das edições similares de clássicos francófonos ou americanos, continuam a ter custos relativos a tradução e balonagem e a pagar direitos de autor) é financeiramente pouco vantajosa para o leitor, apesar do preço do actual tomo com dois álbuns (21,70 €) ficar abaixo do que custariam dois livros isolados.
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