
Edições ASA (Portugal, Maio de 2010)
235 x 305 mm, 198 p., cor, cartonado
“Prefiro acreditar que uma coisa estranha e bela que ainda não conheço, conseguirá vencer a lógica sem piedade que tive de engolir e da qual ainda não consegui libertar-me…” (Corto Maltese, p.135)
Entre as muitas personagens emblemáticas que a banda desenhada nos deu ao longo de pouco mais de um século de existência (oficiosa), Corto Maltese ocupará sempre um lugar de destaque. Pela sua personalidade e pela forma como isso o fez saltar para lá dos limites dos quadradinhos, enfeitiçando e seduzindo (mesmo) aqueles que nutrem pouca (ou nenhuma) consideração pela 9ª arte.

Criado pelo veneziano Hugo Pratt (1927-1995) em 1967, na sublime – e para muitos inultrapassável – “A Balada do Mar Salgado”, este marinheiro romântico e errante – seguindo os passos do seu criador de quem é perfeito alter-ego –, com sede de liberdade e o horizonte como único limite, defensor de causas perdidas e de ideais utópicos – não são assim todos os ideais? -, personalizou de forma intensa e invulgar, os sonhos, paixões e ambições de gerações de leitores que, com ele, viveram realidades (oníricas?) de outra forma impossíveis de concretizar.
O presente álbum, marcou o regresso das suas aventuras às livrarias nacionais, numa nova edição, colorida – para mim um senão, porque prefiro de longe o preto e branco contrastado de Pratt -

Se a escolha de “Mü, a cidade perdida” para este regresso é perfeitamente justificável, por ser a única aventura de Corto que não teve distribuição comercial nas livrarias portuguesas (foi apenas integrada na colecção vendida com o Público) – ela é também, no entanto, de certa forma, o seu canto do cisne, não só por ter sido a última história escrita e desenhada por Pratt, mas também por ser uma das mais estranhas (e irreais) aventuras que o marinheiro viveu. E onde se adivinha um certo tom de celebração da série, pela reunião de algumas das personagens com quem Corto se foi cruzando ao longo do seu percurso: Rasputine, Boca Dourada, Steiner, Tristan… a par de outras que agora vai conhecer.

“- Já não distingo o sonho da realidade.
- São duas vias paralelas. Porquê limitarmo-nos a uma só?” (p.166)
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