11/10/2010

As aventuras de Spirou e Fantásio #51 – A invasão dos Zorcons

Vehlmann (argumento)
Yoann (desenho)
Hubert (cor)
ASA (Portugal, Setembro de 2010)
218 x 300 mm, 56 p., cor, cartonado


Resumo

De regresso de um festival onde foram representar a revista que publica as suas aventuras (!), Spirou e Fantásio recebem uma chamada urgente do Conde de Champignac, informando que a sua propriedade está cheia de monstros. Dirigem-se de imediato para lá, descobrindo que a pacata localidade foi considerada zona de guerra e está transformada numa floresta com fauna e flora muito estranhas, como se a natureza tivesse de repente endoidecido.

Desenvolvimento
Novos “detentores” da série Spirou, Vehlmann e Yoann tinham uma difícil missão: recuperar os amantes das versões de Franquin e de Tome e Janry e agradar também aos novos leitores, geralmente mais vocaccionados para o manga. Ou seja, ter êxito onde Morvan e Munuera falharam (comercialmente), apesar do sucesso obtido junto de alguma crítica.
Para agradar aos primeiros, foram buscar diversos elementos que fazem parte da “memória Spirou”: o Conde de Champignac e as suas extraordinárias invenções, um ou outro habitante da pacata localidade, o (nem sempre) pérfido Zorglub com o zorglumóvel, a zorgonda e a fixação pela Lua…
Aos outros, os novos, é oferecida uma história com diálogos divertidos e ritmo acelerado, que se adivinha bebido na dinâmica típica do manga, com um traço menos “abonecado”, mais próximo do semi-realista, muito expressivo mas também mais duro e agreste (também devido aos rons mais sombrios que predominam), mas com muitas vinhetas demasiado preenchidas e, por isso, menos legíveis.
Leitor fiel de banda desenhada franco-belga há muitos anos, sempre considerei Spirou um caso à parte num campo em que impera a BD de autor. Porque o eterno paquete de hotel desde tempos (quase) imemoriais (!) foi passando de mão em mão, em minha opinião perdendo qualidades desde o período de Franquin, pese embora um ou outro álbum esporádico bem conseguido. Por isso, e sabendo daqueles pressupostos iniciais, abordei o álbum com algum receio, mas também embalado por algumas críticas positivas que entretanto lera. E confesso que cheguei ao fim da leitura dividido. Entre uma interessante aventura de acção e humor e um Spirou demasiado atípico (se ainda é possível escrever isto).
Por um lado, desiludido por uma intriga demasiado linear, e algumas opções – o uso de uma armadura por Zorglub, o esquema final que resolve o problema do bombardeamento – pouco credíveis, simplistas ou pura e simplesmente irrelevantes. Por outro, tendo gostado bastante do espírito da história e do cenário pré-histórico/pós-apocalíptico em que a maior parte da acção decorre, extrordinariamente bem delineado num número reduzido de pranchas, bem como do ritmo de leitura imposto.
Suficiente para o recomendar a outros? Sim, pela curiosidade de que o álbum se reveste. E porque penso que cada leitor de Spirou é “um” leitor, caberá a cada um formar a sua própria opinião.

A reter
- O piscar de olhos gráfico às soberbas “Ideias Negras”, de Franquin.
- A ironia da utilização por Fantásio e Spirou de um ridículo boneco insuflável gigante com a imagem deste último.
- Os cenários, conforme já descrito atrás.
- Os diálogos bem conseguidos.

Menos conseguido
- A história, demasiado despida de contornos e pormenores que a enriqueçam.
- As duas suecas (!) que acompanham o conde. A sua presença e o seu papel na história são completamente irrelevantes e desnecessários.
- Se as edições com capa especial da FNAC têm sido uma mais valia (têm pelo menos todo o potencial para o serem), Yoann revelou muito pouco inspiração (ou vontade de trabalhar), criando uma capa alternativa que pouca diferença faz da original.

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