As Aventuras de Blake e Mortimer segundo as personagens de Edgar P. Jacobs
Yves
Sente (argumento)
Andre
Juillard (desenho)
ASA
(Portugal, 16 de Novembro de 2012)
240 x
310 mm, 64 p., cor, cartonado
14,95 €
Resumo
A morte de dois amigos e uns roubos com tanto de
estranho quanto de misterioso no Ashmolean Museum, vão obrigar Blake – com a
ajuda de Mortimer – a remexer em histórias do passado que preferia esquecer.
Desenvolvimento
Se cada novo álbum de Blake e Mortimer ainda é
um acontecimento mediático assinalável e um best-seller garantido,
possivelmente é-o cada vez menos.
Não só porque aquela sensação de reencontro com
amigos que há muito não se viam, se esbateu pela regularidade com que têm sido
lançados novos álbuns mas também porque estes – mesmo que soe paradoxalmente –
apesar de terem uma contribuição inegável para a solidificação do mito
(nomeadamente dotando os protagonistas de juventude, de passado, mesmo de
sentimentos) contribuem pouco para o seu enriquecimento, notando-se a falta do
toque de génio que fazia a diferença em Jacobs.
Este O Juramento dos Cinco Lords não foge à
regra, apesar de a primeira impressão ser de desilusão. Na verdade, Juillard,
um fabuloso desenhador, dotado de uma linha clara frágil e delicada, tem aqui
uma das suas prestações menos interessantes desde que o conheço (e sigo-o com
bastante regularidade). Em muitas das páginas, o desenho carece de
profundidade, os rostos são planos e inexpressivos, a coloração pouco interessante
e a planificação falha de forma incómoda para o leitor (como exemplo, veja-se a
dificuldade de leitura da prancha da página 17, embaixo).
A sensação que fica é que este foi apenas um
trabalho financeiramente (muito…) compensador mas que Juillard, refém da clonagem
(aqui falhada), do traço de Jacobs, raramente se aplicou no seu melhor.
Felizmente, como contraponto surge o argumento
de Sente que, embora não deslumbre nem esteja à altura das melhores criações de
Jacobs, se lê bem e apresenta alguns méritos.
Desde logo, o dotar o capitão Blake de um (pouco
mais de) passado – como já havia sido feito de forma mais evidente com Mortimer
– ao explorar acontecimentos da sua juventude e do seu início de carreira.
Depois, pela forma como torna mais credível a história – a própria série – com
a ancoragem à realidade feita através da introdução de Lawrence da Arábia no
relato.
Este, assumidamente, adopta um tom mais
policial, pondo de parte a ficção-científica que Jacobs equiparava à acção e à
aventura, e dispensando Olrik (outro ponto a favor do realismo), numa história
que se tem algumas pontas mal unidas e faz uma colagem excessiva à referência
incontornável que é A Marca Amarela, tem os ingredientes suficientes para
prender o leitor e o levar até ao desfecho final que consegue surpreender em parte,
graças às pistas falsas que foram sendo deixadas.
A reter
- … mais uma vez transformada num apelo para os
coleccionadores (e não só nacionais) por ter duas capas diferentes, a
generalista (em cima) e a exclusiva das lojas FNAC (ao lado).
- O ganho
de credibilidade proporcionado pela colagem à realidade (que seria impensável
para Jacobs, cujas histórias decorriam na sua contemporaneidade) através da
presença tutelar de Lawrence da Arábia, …
- pela explicação crível apresentada para a sua
morte envolta em mistério…
- e pelo aprofundar do passado dos heróis.
Menos
conseguido
- O traço de Juillard, sem dúvida o pior do
álbum em demasiadas páginas.
- Alguns problemas de legibilidade, como a
citada prancha da página 17.
- A troca de legendas (na rotulação?) evidente
na prancha da página 33.
- Não sendo (tanto quanto pude averiguar) mais
uma aberração do malfadado acordo ortográfico, não percebo a opção por “lords”
e “lord” quando em português existe lordes e lorde…
O acordo ortográfico é inocente, deveria mesmo ser "lordes"! "Lord", no singular, poderia até ser utilizado para os títulos de personagens nomeados (afinal, não chamamos Sir Lancelot de Dom Lancelot ou Senhor Lancelot...), mas não no plural dessa forma.
ResponderEliminarNão achei o desenho mau, mas o álbum tem pouquíssima ação (e nenhum elemento de ficção científica), o que torna a arte, quando vista fora do contexto (e eu vi na exposição da Galerie Champaka em Bruxelas), bastante tediosa. Achei até desperdício de um talento como Juillard.
Mais surpresa foi a troca de legandas. Não sei se ela vem do original, mas um editor atento veria isso claramente. Foi gritante! Não é hábito da Asa cometer uma gafe como essa.
Olá Pedro,
EliminarObviamente a referência ao acordo era uma piada e não tenho dúvida que "lord" e "lords" é um erro - nada habitual na ASA como aliás acontece com as legendas trocadas, como tu referes.
Considero o desenho fraco quando considerado o nível já atingido pelo Juillard.
A opção por uma história policial (como Jacobs - por razões conhecidas - fez em O caso do Colar) pode ser discutível, mas pessoalmente achei interessante, embora concorde contigo que não tem muita acção...
Boas leituras!
Gostei do post.
ResponderEliminarEmbora seja só um amador nisto, posso dizer que fiquei chocado de imediato com o desenho de p. 7, última fila, quadrícula do meio. Os protagonistas estão francamente mal desenhados! Mortimer, então, está horrível.
Gostei da história. No entanto não tenho ideia de Blake não beber uísque (p. 49).
Caro Zé Dias da Silva,
EliminarSem dúvida neste álbum há demasiadas vinhetas mal desenhadas e mesmo pranchas pouco felizes!
Quanto aos gostos de bebidas de Blake, confesso que não lhe sei dizer...!
Boas leituras... com ou sem uísque!