Frank Miller e Denny O’Neil (argumento)
David Mazzucchelli (desenho)
Christi e Max Scheele (cor)
Levoir/Público
(Portugal, 6 de Dezembro de 2012)
170 x 260 mm, 200 p., cor, cartonado
8,90 €
Resumo
Descobrindo que Matt Murdock é a identidade secreta do
Demolidor, o Rei do Crime arquitecta uma imensa trama que fará com que ele
perca emprego, amigos, dinheiro e casa, numa espiral descendente que o levará
quase à loucura e à morte.
Em Nevoeiro, a história que encerra o volume, a morte de
Heather arrasta o super-herói cego para o estado depressivo que se acentuará na
saga principal deste volume, cronologicamente posterior.
Desenvolvimento
Há duas semanas, de forma implícita, destaquei aqui nas
minhas leituras “Wolverine: Velho Logan”, como a melhor BD desta colecção. Sabia que ainda viria este “Demolidor:
Renascido”, obra-prima da história dos comics de super-heróis que eu já
conhecia – é mesmo uma das raras edições que comprei em “formatinho” e ainda
conservo.
Não retirando uma vírgula ao que então escrevi, confesso que
entre a descoberta que constituiu “Wolverine: Velho Logan” e o prazer da
releitura de “Demolidor: Renascido”, numa edição que faz jus à sua arte, hesito
pouco em escolher esta última.
Onde “Velho Logan” era emoção, explosão de cor, violência
insana, corrida em direcção ao abismo, adrenalina pura, “Renascido” é uma obra cerebral
e complexa, de emoções, também, mas controladas, de traço contido e uma
violência diferente, talvez mais incómoda e chocante pelo tom extremamente
realista que assume.
Para todos os efeitos história de super-heróis, passa quase
ao lado destes para dar o protagonismo aos três narradores que a vão contando e
fazendo avançar: o Rei do Crime, o jornalista Ben Ulrich e o próprio Matt
Murdock.
Este, depois de a sua identidade secreta ter sido vendida
por uma dose de droga por uma antiga namorada transformada em actriz porno,
rapidamente despojado de tudo – amizades, profissão, posição social, dinheiro,
casa, dignidade… - enfrenta uma descida aos seus abismos mais profundos, de
onde, no entanto, renascerá mais forte e mais capaz, numa notável declaração de
humanidade e de confiança no melhor do ser humano.
Escrita de forma directa, assertiva e brilhante por Frank
Miller, que constrói uma narrativa com personagens marcantes, bem
caracterizadas e definidas, densa, de ritmo lento, em que as coisas vão
acontecendo a seu tempo – um tempo longo na leitura mesmo que nalguns casos
seja rápido na realidade da acção - foi superiormente desenhada por David
Mazzucchelli que conseguiu transmitir visualmente a escuridão e desespero em
que Murdock mergulha, através de um traço realista e contido, bem servido por
tons sombrios, pelo qual o tempo não passou.
A par da (imensa) violência psicológica da trama – a perda
total de tudo que preza e ama leva Murdock quase a passar os seus limites e à
loucura ou a por um fim a si próprio – Miller construiu, como destaca João
Miguel Lameiras numa introdução particularmente feliz, um paralelo entre a sua
narrativa e a morte e ressurreição cristãs, que confere uma outra dimensão a este
“Renascido” e o torna uma obra mais profunda e tocante sobre a dignidade e a capacidade
de resistência do ser humano.
A reter
- A possibilidade de (re)ler numa edição digna um dos
grandes clássicos da BD de super-heróis, que a passagem do tempo não afectou em
nada.
- O poder do argumento de Miller: directo, consistente,
violento, humano.
- O inigualável trabalho gráfico de Mazzucchelli,
perfeitamente ajustado ao relato e enriquecido com uma planificação
diversificada e muitas vezes simbólica. E talvez mais notável ainda na história
curta que finaliza o volume, na qual consegue tornar quase palpável o nevoeiro
que assola Nova Iorque e lhe dá título.
Menos conseguido
- A cedência (possivelmente inevitável?) ao género de
super-heróis (apenas) no capítulo final.
Caro Pedro,
ResponderEliminarMesmo a cedência de Miller na inclusão de super-heróis mais típicos no final de Born Again é realizada de forma atípica.
O Capitão América é apresentado como um soldado idealista, deslocado no tempo e fiel apenas ao sonho americano. Se esta caracterização hoje em dia é recorrente, em 1986 era algo inédita.
Este facto é acentuado pela inclusão de Nuke, um ex-combatente do Vietnam - que nunca “saiu” de lá – e símbolo do patriotismo cego que a presidência mais musculada de Reagan nos EUA advogava.
E as três(!) vinhetas onde o Thor e o Homem de Ferro aparecem só têm paralelo na caracterização da Justice League pelo Alan Moore alguns anos antes. Aqui Thor é mesmo uma força da natureza, um Deus altivo, distante e realmente poderoso, mas que ainda assim obedece à voz de comando do Capitão. O Homem de Ferro, mais máquina que homem, é aqui a figura que representa o governo, deixando implícito as diferenças ideológicas entre ele e Steve Rogers (mais tarde exploradas em Civil War).
São estes momentos que também acentuam a dimensão mais humana e “terra-a-terra” do Demolidor, ou melhor, de Matt Murdock.
Se Miller sentiu-se “obrigado” a relembrar os leitores de que esta história se passava no universo Marvel, fez-lo então de forma brilhante.
E é claro que concordo contigo Pedro, esta edição é a melhor de toda a colecção Heróis Marvel.
Abraço
Olá André,
EliminarConcordo contigo, sem dúvida que o "resvalar" para o relato de super-heróis "puro e duro" realça o tom humano do resto desta saga.
E obrigado pela forma como "complementaste" o meu texto"
Boas leituras!
muito boa
ResponderEliminarSem dúvida, caro Anónimo!
EliminarBoas leituras... muito boas!
Ora boas,
ResponderEliminarcomo leitor assíduo desta nova colecção, a qual me acompanha pela minha jornada diária rumo ao meu local de trabalho, deixo aqui uma dúvida relativa a este número do "Demolidor".
Será só do meu livro, ou em todos se repetem as páginas 29-60?
Se me puderem esclarecer...
Cumprimentos
Caro Kent,
EliminarNo meu livro não há páginas repetidas...
Boas leituras!