“Sempre me perguntei
por que, um dia, aquele escritor decidiu criar vilões para esta história.
Acho que descobri.
Os vilões fazem com
que o herói fique mais forte!”
In Louco: Fuga
Uma obra, várias leituras, muita loucura…
Uma das formas de analisar as Graphic MSP é antecipar, a maior ou menor previsibilidade da
abordagem – sem diminuir em nada o mérito do trabalho do(s) autor(es) ou a sua
capacidade de, mesmo assim, nos surpreenderem, divertirem, encantarem…
A ternura em Turma
da Mônica: Laços, a amizade em Turma
da Mônica: Lições, a auto-introspecção em Astronauta:
Magnetar, as questões existenciais em Penadinho: Vida, são casos (aparentemente?) evidentes. [principalmente depois das obras lidas,
dirão alguns com um sorrisinho irónico…]
Para o Louco, obviamente teria que ser uma abordagem algo
anárquica, (quase) sem limites, aberta e (saudavelmente) descontrolada. Como se
confirma, mas, mais uma vez, de forma inspirada e inspiradora.
Graficamente, é assumida alguma desproporcionalidade do
protagonista, o que contribui para evidenciar o seu carácter livre,
descontrolado e a liberdade que o protagonista goza – quer gozar – e as
próprias páginas parecem muitas vezes desprovidas de limites físicos com as vinhetas,
tiras, pranchas a atropelarem-se, sobrepondo-se, empurrando-se, sem forma
definida e com o Louco a passar, correr, saltar entre elas.
Em paralelo, os diálogos e textos de apoio, de forma
coerente e concreta, acentuam o tema e parodiam (a falta) de lógica do todo.
Há, também, um contínuo rodopiar entre histórias – entre fragmentos delas - que
parecendo várias, diferentes, no conjunto, vão formar uma única, saudavelmente louca
e coerente ao mesmo tempo.
Outra forma de ler estas Graphic
MSP é ver o que elas incorporam/reinventam em relação aos originais.
Olhando para este Louco:
Fuga, nas primeiras páginas destacam-se de imediato dois exemplos: a origem
– uma possível origem – para Sansão, o coelhinho da Mônica e o primeiro encontro
do Louco com o Cebolinha e os seus amigos.
Para além destes elementos, digamos ‘fundadores’, Rogério
Coelho consegue ainda introduzir ao longo do relato outros, provenientes já das
próprias Graphic MSP anteriores,
ajudando – loucamente? – a dar sentido, unidade, complementaridade a um
(impossível?) ‘novo universo Maurício de Sousa’, à luz destas recentes
abordagens.
E para, especificamente este livro, arrisco ainda uma
terceira leitura. Abusiva?
Vejo-o como uma metáfora da existência dos heróis de
Maurício de Sousa.
Do seu nascimento e afirmação, a um certo ocaso – ‘abafados’
por outras criações (estrangeiras), ‘esquecidos’ porque demasiado familiares e sempre
disponíveis, ‘desprezados’ pela proximidade cultural.
Mas também o seu renascimento, tal qual eram, com
regularidade, mas igualmente em formas díspares e renovados (nas versões ‘jovem’,
nas Graphic MSP, claro…) num processo
‘redentor’ que acordou memórias e recordações, despertou (justos) sentimentos
de gratidão e de reconhecimento e trouxe os ‘velhos heróis’ de novo até aos
seus leitores.
Louco?
Louco: Fuga
Colecção Graphic MSP
Rogério Coelho
Panini
Brasil, Novembro de 2015
200 x 280 mm, 82 p., cor
R$ 31,90 (capa dura)
R$ 21,90 (capa mole)
(clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão; clicar no texto em cor diferente para saber mais sobre o que está destacado)
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