18/10/2016

Louco: Fuga





“Sempre me perguntei por que, um dia, aquele escritor decidiu criar vilões para esta história.
Acho que descobri.
Os vilões fazem com que o herói fique mais forte!”
In Louco: Fuga

Uma obra, várias leituras, muita loucura…

Uma das formas de analisar as Graphic MSP é antecipar, a maior ou menor previsibilidade da abordagem – sem diminuir em nada o mérito do trabalho do(s) autor(es) ou a sua capacidade de, mesmo assim, nos surpreenderem, divertirem, encantarem…
A ternura em Turma da Mônica: Laços, a amizade em Turma da Mônica: Lições, a auto-introspecção em Astronauta: Magnetar, as questões existenciais em Penadinho: Vida, são casos (aparentemente?) evidentes. [principalmente depois das obras lidas, dirão alguns com um sorrisinho irónico…]

Para o Louco, obviamente teria que ser uma abordagem algo anárquica, (quase) sem limites, aberta e (saudavelmente) descontrolada. Como se confirma, mas, mais uma vez, de forma inspirada e inspiradora.
Graficamente, é assumida alguma desproporcionalidade do protagonista, o que contribui para evidenciar o seu carácter livre, descontrolado e a liberdade que o protagonista goza – quer gozar – e as próprias páginas parecem muitas vezes desprovidas de limites físicos com as vinhetas, tiras, pranchas a atropelarem-se, sobrepondo-se, empurrando-se, sem forma definida e com o Louco a passar, correr, saltar entre elas.
Em paralelo, os diálogos e textos de apoio, de forma coerente e concreta, acentuam o tema e parodiam (a falta) de lógica do todo. Há, também, um contínuo rodopiar entre histórias – entre fragmentos delas - que parecendo várias, diferentes, no conjunto, vão formar uma única, saudavelmente louca e coerente ao mesmo tempo.

Outra forma de ler estas Graphic MSP é ver o que elas incorporam/reinventam em relação aos originais.
Olhando para este Louco: Fuga, nas primeiras páginas destacam-se de imediato dois exemplos: a origem – uma possível origem – para Sansão, o coelhinho da Mônica e o primeiro encontro do Louco com o Cebolinha e os seus amigos.
Para além destes elementos, digamos ‘fundadores’, Rogério Coelho consegue ainda introduzir ao longo do relato outros, provenientes já das próprias Graphic MSP anteriores, ajudando – loucamente? – a dar sentido, unidade, complementaridade a um (impossível?) ‘novo universo Maurício de Sousa’, à luz destas recentes abordagens.

E para, especificamente este livro, arrisco ainda uma terceira leitura. Abusiva?
Vejo-o como uma metáfora da existência dos heróis de Maurício de Sousa.
Do seu nascimento e afirmação, a um certo ocaso – ‘abafados’ por outras criações (estrangeiras), ‘esquecidos’ porque demasiado familiares e sempre disponíveis, ‘desprezados’ pela proximidade cultural.
Mas também o seu renascimento, tal qual eram, com regularidade, mas igualmente em formas díspares e renovados (nas versões ‘jovem’, nas Graphic MSP, claro…) num processo ‘redentor’ que acordou memórias e recordações, despertou (justos) sentimentos de gratidão e de reconhecimento e trouxe os ‘velhos heróis’ de novo até aos seus leitores.

Louco?

Louco: Fuga
Colecção Graphic MSP
Rogério Coelho
Panini
Brasil, Novembro de 2015
200 x 280 mm, 82 p., cor
R$ 31,90 (capa dura)
R$ 21,90 (capa mole)

(clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão; clicar no texto em cor diferente para saber mais sobre o que está destacado)

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