“O passado, dá
saudades, o presente, dissabores, e o futuro, receios.”
In Cemitério dos Sonhos
As memórias são aquilo que nós fomos. O que fazemos com
elas, dita o que somos e seremos.
Cemitério dos Sonhos
é um projecto de Miguel Peres – que se intui pessoal – partilhado
(graficamente) com quatro ilustradores brasileiros, que apesar da tentativa de
aproximação dos traços a um modelo comum, não deram ao relato a unidade gráfica
que o tornaria mais encorpado e consistente.
O seu protagonista é Dre Amos, responsável por testar
máquinas de roupa, função absurda mas útil, tanto quanto inútil é a vida que
ele condicionou para si. Ou para a qual foi condicionado…
Um dia, é transportado para o seu inconsciente, onde tem de
lutar com as memórias que (o) reprime(m) – a superprotecção, a desaprovação e a
frieza da mãe, o desaparecimento prematuro do pai e as culpas próprias que a
ele associa…
Acompanhado por Coral, guia no mundo estranho em que (se)
imerge, Dre vai ter que enfrentar os seus medos e ansiedades, reprimir o que o
limita e dar curso ao que imagina e aquilo a que aspira, para se reencontrar e
à vida com que um dia sonhou, com a certeza de que nada acontece de um dia para
o outro e que cada nova escolha, vai (re)condicionar cada momento a viver.
Metáfora (ilustrada) da realidade, que remexe em memórias
esparsas para construir uma narrativa de perda e solidão, em que nem tudo
aconteceu e foi como Dre memorizou, Cemitério
de Sonhos – que poderia ter dispensado algumas páginas para ganhar em
legibilidade e ritmo – é uma reflexão sustentada – mais consistente do que a
aparente simplicidade do(s) desenho(s) pode fazer pensar – sobre o que fomos,
somos ou viremos a ser e sobre a felicidade – ou falta dela – que escolhemos
viver.
Cemitério dos Sonhos
Miguel Peres (argumento)
Rodrigo Martins dos Santos, Marília Feldhues, Rômulo de Oliveira e
Cinthia Fujii (desenho)
Bicho Carpinteiro
Portugal, Outubro de 2016
170 x 246 mm, 96 p., cor, capa mole com badanas
12,99 €
(texto e imagens disponibilizados pelo argumentista; clicar
nelas para as apreciar em toda a sua extensão)
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