Nos últimos tempos - aqui no blog, também pelo Facebook… -
têm-se multiplicado as críticas - e os críticos? - contra esta ou aquela
edição, contra este ou aquele género de BD.
Como se houvesse algo de negativo ou prejudicial na sua publicação.
Acredito que o actual bom momento da edição de BD em
Portugal não agrade a todos - nunca agrada - mas não consigo entender porquê
criticar o que é feito. Não seria mais útil pedir aquilo de que se sente falta?
É evidente que, sem grande dificuldade, em qualquer edição
se encontram argumentos contra e a favor. Ficam (os primeiros?) três exemplos.
O Rei Macaco
Silverio Piisu
(argumento)
Milo Manara (desenho)
Contra
É uma obra já com alguns anos e datada, reflexo de uma forma
de narrar então em voga na Europa que - de certa forma iniciada por Moebius e
pela mítica Métal Hurlant - apregoava
que a construção de uma casa não tinha de começar pelas fundações, podia
iniciar-se com as janelas ou o telhado… o mesmo acontecendo com uma BD. A
publicação em revista disfarçava então algumas incoerências e saltos na
narrativa que a compilação em álbum põe a nu.
A favor
É uma obra inédita em português de Manara, um autor
reconhecido e com bom número de seguidores fiéis no nosso país, como comprovam
os muitos títulos cá editados. Permite conhecer uma fase inicial de um dos
maiores desenhadores europeus, onde já se reconhecem muitas das características
que o tornaram famoso e admirado, numa edição cuidada, que contextualiza a obra
e inclui bastantes extras e parece uma aposta relativamente sólida para uma editora que
está a construir um catálogo de forma coerente e metódica.
Arte de Autor
Portugal, Abril de 2017
210 x 285 mm, 88 p., pb, capa dura
ISBN: 978-989-99674-4-1
19,95 €
Naruto #25
Masashi Kishimoto
Contra
“Oh não! Mais aventuras parvas e intermináveis de um
adolescente parvo…” - ouço já muitos a exclamar… - “Não bastava na TV?”
A favor
Parvos, na nossa adolescência, cada um à sua maneira, de
acordo com os tempos e as modas, fomos todos nós. Naruto, de alguma forma, apenas
espelha formas de estar e tendências naturais dessa idade. A combinação com
lendas, iniciação, combates, provas, superação, conflitos e amizade explica
facilmente o seu sucesso junto desses mesmo adolescentes - potenciado pelo
conhecimento prévio já existente da série televisiva - e 25 volumes já editados,
mais a mais num espaço de tempo relativamente curto, é a melhor prova da adesão
dos leitores e é bom que a editora tenha encontrado o público para uma série
interminável…
Devir
Portugal, Junho de 2017
126x190 mm, 192 p, pb, capa mole
ISBN: 978-989-559-355-2
9,99 €
Jim Del Monaco: Ladrões do tempo
António José Simões (argumento)
Luís Louro (desenho)
Contra
O esquema narrativo repete-se álbum após álbum, as relações
dúbias entre Jim e Gina não avançam, a inspiração dos leitores - ou a nossa
predisposição para o que dela resulta? - é variável.
A favor
Jim Del Monaco foi um marco para uma geração de leitores,
pois provou - para o bem e para o mal - que era possível criar BD comercial e
popular no nosso país, para mais com um herói fixo. Como série, tinha
personagens definidos, estereótipos ou não, um contexto (alargado) em que eles
evoluíam e um bom poder de sátira sobre aquilo que os seus leitores conheciam
bem, nomeadamente outras séries de BD e romances clássicos de aventura. Tudo
num estilo linha clara na altura muito popular.
O regresso, há dois anos, para marcar os 30 anos do herói, à
custa da nostalgia que muitos sentiram ou pelos méritos intrínsecos do álbum,
justificou esta nova incursão.
As temáticas - agora (inteligentemente) bebidas mais na TV, no
cinema e nos videojogos - continuam facilmente reconhecíveis e Jim, Gina e Tião
continuam iguais a eles mesmos. Exactamente como Louro e Simões.
ASA
Portugal, Setembro de 2015
297 x 225 mm, 48 p., cor, cartonado
ISBN: 978-989-23-3866-8
14,95 €
Nota final
Os duzentos e tal livros que vão sair este ano - ou a cerca
de duas centenas que saíram o ano passado - seriam as minhas escolhas
editoriais? Possivelmente em grande parte não. Mas, graças a muitos deles,
descobri excelentes propostas e desfrutei de horas de leitura agradável e/ou
estimulante.
Acima de tudo, penso que o paradigma hoje é diferente e se
durante anos se editava banda desenhada para um núcleo restrito de leitores que
‘compravam tudo’, hoje existem propostas variadas, direccionadas para segmentos
diferentes e poucos serão os que conseguem comprar/ler tudo. Mas há mais por
onde procurar e mais possibilidades de nos deixarmos surpreender. Basta querermos.
(imagens disponibilizadas pelas editoras; clicar nelas para
as aproveitar em toda a sua extensão)
Tal e qual. Olhar para a publicação também como uma possibilidade de descoberta, para além do que gostamos, só revela algo muito positivo. Felizmente temos tido essa possibilidade, para além de termos também disponível algumas das nossas preferências "velhas". Eu, pelo menos, já descobri tantas outras preferências "novas". Bem hajam todos aqueles que com trabalho e risco nos têm proporcionado tantos momentos de boas leituras e boas "olhaduras". Claro que podemos e devemos criticar o que achamos, mas a mim mete-me certa confusão de algumas opiniões que acham que são os únicos leitores e que só eles é que entendem do assunto e o que gostam é bom e o que não gostam é mau. Deveríamos dar-nos por felizes por ter tanta e tão boa e diversificada Bd. Pena é mesmo financeiramente não ser capaz de acompanhar mais coisas que gostaria.
ResponderEliminarLetrée
É essa a ideia, caro Letrée!
EliminarBoas leituras... e mais dinheiro!
Eu fruto da minha juventude a ler BD franco/belga, no saudoso Tintin e Spirou, confesso que me custa ainda ler outro tipo de "quadradinhos".
ResponderEliminarGostava por isso mais qua as editoras apostassem mais neste tipo de banda desenhada.
Compro todos os meses a revista francesa de divulgação Casemate e vejo as desenas de publicações que infelizmente nos passam ao lado.
A Asa e o público têm estado no entanto de parabéns pelo esforço de não se esquecerem dos que gostam deste tipo de BD. Um bem hajam por isso.
Já agora Pedro, tens informações sobre a próxima publicação da parceria Asa/Público?
Ab
José Eduardo,
EliminarEu também queria mais franco-belga, mas a ausência dela tem-me feito descobrir outras coisas muito boas.
Quanto à resposta à pergunta que colocou, alguém se antecipou mais abaixo...!
Boas leituras!
correção "Dezenas"
ResponderEliminarO rei macaco? Acho ultrapassado. Não comprei mas fico satisfeito pela edição. Naruto? Não tenho paciencia para telenovelas (e os SH Marvel e DC que ultimamente foram e estão a ser editados por cá, começam-me a 'mexer com os nervos'), Jim del Monaco? Possivelmente repetitivo, mas provou e continua a provar ser possível fazer BD em Portugal para as massas e editado por 'editora grande'. Reeditar pela quinquagésima primeira vez o Corto e o Mar Salgado? Arriscado. Mas ainda bem que há quem arrisque. Nimona? Nova editora a lançar-se em BD? Excelente e espero que tenha sucesso. Filipe Melo e Juan Cavia a insistirem em fazer BD e em editar por uma editora cuja catálogo de BD se limita a eles? Fantástico. Se compro tudo? Não consigo. Se leio tudo o que compro? Tento, mas a coisa é difícil. Se fico satisfeito por haver edições fora do FrancoBelga? Muito satisfeito? Se estou satisfeito com o pouco de FrancoBelga que se vai editando cá? Muito insatisfeito, mas é o que há e mando vir em francês (comecei a ler os Cahiers d'Ester).
ResponderEliminarDepois de anta coisa escrita, resumo: Tal como o Pedro há mais para procurar e nos deixar surpreender. Para o bem e para o mal.
Obrigado à Arte de Autor, Tinta da China, SdE, GFloy, Levoir e já agora, um ainda obrigado à ASA e à Polvo e à Kingpin e às outras editoras que agora não me lembro.....
Consta que será o valerian.
ResponderEliminarDizem que sim...
EliminarBoas leituras!
É esse o espírito, pco69.
ResponderEliminarAté porque há 10, 15, 20 anos, as tiragens eram de 3 ou 5 mil exemplares o que obrigava a haver mais compradores para cada livro. Hoje em dia, com valores que raramente passam os 1000 exemplares, é mais fácil esta compartimentação do mercado.
Boas leituras!
Dessa lista só tenho interesse histórico no Rei Macaco o resto passo ao lado.
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