16/06/2017

Mulher Maravilha: Homens e Deuses

Histórico, mas...





Mais uma vez, termino uma leitura - esta - dividido.
Se, por um lado, com Homens e Deuses apre(e)ndi e compreendi muito do que é a essência da personagem Mulher Maravilha, por outro, este relato - para o bem e o mal - traz as marcas do tempo que por ele passou.
Em jeito de intróito, convém não esquecer que este tipo de obras, que marcam e (re)definem os seus protagonistas, têm impactos (bem) diferentes se foram lidos na altura da sua publicação, quando eram a última e mais recente abordagem, neste caso à Mulher Maravilha, ou hoje (como foi o meu caso), algumas décadas (!) depois, quando tantas abordagens posteriores se basearam nela e outras tantas vieram questionar/mudar o que ela tinha estabelecido.
Também por isso, apesar de historicamente muito importante, Homens e Deuses surge aos nossos olhos algo datada, no colorido, no tipo de grafismo, na planificação (por vezes com um exagerado número de vinhetas por página), mas principalmente pelo estilo de linguagem, muito verborreica por um lado, pomposa por outro - mesmo para um relato (co-) protagonizado por deuses - aspectos que refreiam o ritmo de leitura.
Isto não invalida, no entanto, que este seja um relato bem construído, com sucessivos picos de tensão, em especial no final de cada capítulo – correspondentes aos comics books originais - que mantêm sempre em alta o interesse do leitor e a sua vontade de conhecer o momento seguinte de um confronto entre deuses fundamental para o destino dos seres humanos, que traz Diana ao nosso mundo pela primeira vez. Factor que, no entanto, se torna penalizador no final pelo que este deixa em aberto para um novo arco…
Para além disso, foi em Homens e Deuses, no entanto, que Perez (re)estabeleceu as origens, a essência e a galeria de personagens próximas de uma das mais importantes personagens da DC Comics - na prática a sua mitologia… - e os reflexos disso continuam até hoje. Veja-se, por exemplo, os diversos pontos de contacto entre este relato e a revisão inconsequente levada a cabo por Grant Morrison em Terra Um.
Um aspecto interessante, comum a outras obras da mesma época, é o relacionamento do relato fictício com a actualidade de então: a presidência de Reagan ou a situação instável no relacionamento EUA/URSS são exemplos - maiores mas não únicos - que contribuem para credibilizar a intriga e aproximá-la do leitor através desta colagem à (sua) realidade.
Outro dos pontos fortes da narrativa - bebendo nas bases da mitologia grega - é a identificação plena, ao nível de sentimentos e emoções - dos deuses com os seres humanos, que estará mesmo - posso escrevê-lo sem penalizar a leitura - na origem da resolução da ameaça de Ares, deus da guerra, que paira sobre a Terra e a ilha das Amazonas.

Para terminar, se enquanto colecionador (que também sou) e conhecedor (sempre menos do que queria) de BD, se acho este volume fundamental numa colecção dedicada à Mulher Maravilha, enquanto leitor e apreciador (que sou antes de tudo mais) valorizo muito mais uma obra como A Hiketeia - mesmo que só tenha metade das páginas de Homens e Deuses… - que explora a Mulher maravilha mais ao nível das emoções e sentimentos.

Mulher Maravilha: Homens e Deuses
Greg Potter, George Pérez, Len Wein (argumento)
George Pérez (desenho)
Bruce D. Patterson (arte-final)
Levoir/Público
Portugal, 16 de Junho de 2017
170 x 260 mm, 184 p., cor, cartonado
11,90 €


(imagens disponibilizadas pelo editor; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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