A
sua proveniência
da
colecção Le
Storie,
o nome de Gianfranco Manfredi no argumento e a temática, a (dita)
Santa Inquisição, fizeram com que me aproximasse desta obra com
fundadas expectativas.
Saí
da leitura dividido - tal como está a narrativa.
El Inquisidor, quinto número de Le Storie Annuale, tem a acção ambientada na Galiza, no início do século XVII, e apresenta como protagonista Luis de Santiago, um inquisidor ao serviço da - então como hoje - todo-poderosa Igreja Católica.
El Inquisidor, quinto número de Le Storie Annuale, tem a acção ambientada na Galiza, no início do século XVII, e apresenta como protagonista Luis de Santiago, um inquisidor ao serviço da - então como hoje - todo-poderosa Igreja Católica.
Este
homem possui,
no entanto, uma particularidade que questiona as suas aptidões para
a tarefa: não acredita em bruxas e, mais ainda, está disposto a
lutar a partir de dentro para acabar com os autos-de-fé. Para
reforçar a sua posição, embora aqui e ali queime uma ou outra
acusada, não hesita, noutras ocasiões, em condenar à fogueira não
as supostas adoradoras
do diabo
mas sim os seus acusadores, ciente que na maior parte dos casos a
culpa delas vem apenas da recusa de certos avanços, da ameaça de
expor os abusos sofridos ou de terem querido ajudar quem a elas
recorreu.
Autor
de sucessivas missivas às altas instâncias clericais, acaba por
provocar uma investigação às suas acções por parte de um antigo
companheiro.
Narrativa
de cariz histórico, suficientemente ancorada numa realidade
comprovada, sem que isso limite a criatividade dos autores, El
Inquisidor,
a meio do seu percurso narrativo, perde este carácter claramente
realista, para dar lugar a um registo em que impera o sobrenatural -
que
Santiago aceita sem problemas… - de
uma
forma
que deixarei aos leitores (curiosos) descobrirem - mas
que Santiago aceita sem problema.
Esta
metamorfose radical de temática - igualmente válida e aceitável e
igualmente consistente e bem trabalhada, mas que nada até aí fazia
prever - e a divisão clara que provoca no relato e acaba por deixar
o leitor um pouco como ‘o tolo no meio da ponte’, sem compreender
o porquê da alteração
e dividido entre um e outro registo que, embora representem duas
faces possíveis - e até promovam abordagens interessantes - de uma
mesma moeda, se tornam difíceis de aceitar no contexto em que
surgem.
Por
isso -
ou também por isso, para ser mais justo - o
aspecto mais saliente de El
Inqusidor,
acaba por ser o belo trabalho gráfico de Antonio Lucci. Assente em
cor directa digital que
evoca a aquarela clássica, revela-se
à vontade, expressivo e dinâmico quer no realismo crítico inicial
e
na representação de época, ao nível arquitectónico e de
vestuário,
quer no (mais
livre) contexto
sobrenatural subsequente, conseguindo
transmitir a atmosfera adequada em ambos os casos.
Nota
final
Ao
contrário do que tem sido habitual nas edições de material Bonelli
pela Panini Comics, a edição não apresenta extras. O editor
habitua mal os leitores e estes depois queixam-se...
Le
Storie: El Inquisidor
Gianfranco
Manfredi (argumento)
Antonio
Luchi (desenho)
Panini
Comics
Espanha,
Abril
de
2019
195
x 259
mm, 128
p., cor, capa dura
16,00
€
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