Não sou especialista em Conan, longe disso, creio até que tenho um conhecimento (bastante) limitado - às suas primeiras histórias, com múltiplas releituras (!) em diferentes épocas, em diferentes edições - do seu percurso nos quadradinhos mas, apesar disso, houve algumas delas que ficaram profundamente marcadas na minha memória e fazem parte - importante - da minha formação de leitor de BD.
Comprovei-o - novamente - nesta primeira compilação (espanhola) das bandas desenhadas do cimério publicadas na revista Savage Tales.
Em relação a outra compilação recente -
Conan, el Bárbaro - a actual apresenta duas
diferenças, fundamentais e marcantes.
A primeira, a publicação das histórias no
preto e branco original, tal como tinham sido imaginadas e não com o
(fraco) colorido em que a maior parte delas viu a luz pela primeira
vez. A par da boa impressão (da maior parte)
das pranchas, isso permite uma melhor apreciação da arte dos vários
desenhadores aqui representados: Barry Windsor-Smith, Gil Kane, Neal
Adams, Jim Starlin, Al Milgrom… Um autêntico catálogo de luxo!
As razões para este regresso a obras já
publicadas, são explicada nos vários textos - também provenientes
de Savage Tales
- em
que Roy Thomas vai narrando as vicissitudes que este título sofreu
até se impor e ganhar o seu lugar nas bancas e quiosques
norte-americanos na década de 1970. Esses textos - a tal história
das histórias que evoco no sub-título
acima - são um dos pontos de interesse desta compilação, pois
permitem uma larga espreitadela
aos meandros da edição de comics nos Estados Unidos naquela época
- e aos da Marvel em particular.
O segundo motivo de interesse, é poder
apreciar as obras tal como foram criadas, sem os “retoques” do
lápis azul censório, viesse ele dos responsáveis da Comics Code
Authority ou dos próprios editores da Marvel.
Nudez, violência explícita - e tanta, bem
mais forte, de uma e outra, bem implícitas - surgem aqui aos olhos
dos leitores actuais - sem o peso que teriam há cinquenta anos,
sei-o bem - mas contribuem, mesmo assim, para dar uma outra dimensão
e força narrativa ao
bárbaro cimério.
…e o meu Conan
Já o devo ter escrito por aqui, foi no Mundo
de Aventuras, no final da minha
adolescência, que descobri a versão aos quadradinhos de Conan,
baseado ou livremente inspirado na personagem dos romances dos anos
1930 de Robert E. Howard, e pela diferença que marcava em
relação às outras séries da revista
- de uma forma geral mais clássicas e contemporâneas - pela
predisposição que a minha idade oferecia ou - apenas e tão só -
pela sua qualidade intrínseca, a verdade é que houve umas quantas
histórias que me marcaram profundamente.
Este volume, comporta três delas e
reencontrá-las foi não só uma viagem a um passado feliz, mas
também um regresso a um mundo de fantasia povoado de monstros,
heróis, vilões e belas mulheres - é curioso como,
mesmo nos povos mais bárbaros e animalescos, as mulheres são sempre
belas, sensuais,
femininas… - que mantém toda a sua capacidade de sedução.
A primeira delas, que abre o livro, é The
Frost-Giants Daughter, onde se
destaca a sensualidade
da protagonista e a dualidade sonho/realidade que não surge muitas
vezes em Conan.
A segunda, é Night
of Dark God, novamente assente numa
intriga
dupla, a busca desesperada de Conan pela sua paixão de adolescência,
raptada por antepassados dos vickings (...?)
a par da religiosidade que perpassa por todo o relato e tem por
objecto o estranho deus negro que tantos
desejam e buscam.
Finalmente, a terceira história é The
Secret of Skull River - e desculpem
todos os que considerarem heréticas as palavras que vão ler a
seguir, mas é este
o meu Conan. É esta sua imagem, criada por Jim Starlin e Al Milgrom,
que me vem à mente quando se fala dos Conan dos quadradinhos. Um
bárbaro que sem dúvida o parece, absurdamente musculado, imponente
na sua força, cultor da violência, mas também com uma (deslocada?)
sensibilidade, respeitador dos inimigos valorosos e amante de belas
mulheres. Um bárbaro em
que contrasta a fúria incontida e
mesmo um lado profundamente selvagem com
arremedos sólidos de civilização e compreensão, com uma espada
para alugar -
por causas que considera válidas - e
como sempre focado apenas no seu objectivo final.
Ao reler esta história, violenta, com
uma
passagem extremamente
sensual, com resquícios ecológicos e denúncias de poluição,
houve imagens de uma força imensa que surgiram de novo perante os
meus olhos: o mendigo cego, o primeiro
ataque do gigante, a
caveira no fundo dos olhos dos habitantes da localidade perdida na
foz do rio, a meia dúzia - literal - de vinhetas que expressam todo
a sedução e criação de desejo pela filha do chefe... podia
continuar, o que é significativo numa história com apenas 20
pranchas... E, claro, o inesperado final!
E ainda porque,
mesmo numa versão espanhola, nesta nova
leitura, as palavras de
uma força espantosa, que me vieram uma
e outra vez à mente eram em português - numa versão que acredito
dever-se a Jorge Magalhães...
La Espada Salvaje de Conan #1
Clavos rojos y otros relatos
Inclui conteúdos de Savage Tales #1-#5
(EUA)
Roy Thomas (argumento)
Barry Windsor-Smith, Gil Kane, Neal
Adams, Jim Starlin, Al Milgrom (desenho)
Panini
Cómics
Espanha,
Julho de 2020
205
x 275 mm, 240 pp., pb, capa dura
ISBN:
9788413345314
20,00
€
(capa
disponibilizada pela Panini; pranchas da edição norte-americana; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Bom dia, caro Pedro.
ResponderEliminarComo é um dos meus Heróis preferidos, principalmente desenhados por Gil Kane, Barry Smith e o meu preferido John Buscema.
Onde se pode comprar aqui no Norte, e aqui na Galiza, esta Revista?
Boas leitura e Férias
Auros Faber
Bom dia, caro Pedro.
ResponderEliminarComo é um dos meus Heróis preferidos, principalmente desenhados por Gil Kane, Barry Smith e o meu preferido John Buscema.
Onde se pode comprar aqui no Norte, e aqui na Galiza, esta Revista?
Boas leitura e Férias
Auros Faber
É um livro - um belo livro! - e não uma revista.
EliminarQualquer livraria especializada espanhola o tem. Na Galiza, em Vigo, aconselho a livraria Banda Deseñada.
Boas leituras