06/08/2020

Operação Overlord #2 e #3

 
Públicos
Depois de um início não muito sedutor - a colecção em França até nasceu como álbum único… - a Operação Overlord parece agora entrar em ritmo de cruzeiro.
Consistente na sua base histórica, mais solta em termos narrativos, com as personagens humanas - para contrastar com as ‘hisóricas’ - mais desenvolvidas e exploradas.
Continua a ser, fundamentalmente, uma série para um tipo de público específico, ou, mais exactamente, para diversos tipos de públicos específicos: os apreciadores do período da Segunda Guerra Mundial, os que gostam de histórias de guerra, os que preferem relatos realistas, aqueles para quem a base histórica é importante. E também para os leitores de franco-belga…
Um espectro alargado, afinal, transversal a uma série de géneros, possível no actual panorama editorial português em que as obras têm de encontrar os seus leitores. Passo a explicar: já não existe um núcleo duro que compra tudo; há leitores - pontualmente comuns - para diferentes tipos de propostas editoriais…
Relembro a base destes três primeiros tomos: três missões específicas, componentes particulares da grande ofensiva do Dia D. Essa especificidade - a sua simultaneidade, afinal - impede a utilização dos mesmos protagonistas de álbum para álbum. Por isso, em cada um, temos um punhado de homens e mulheres em quem se centra a narrativa, sem que nunca nos deixem esquecer que em seu redor estão a decorrer acontecimentos (que se revelaram) capitais para o desfecho da Segunda Grande Guerra - e para a nossa vida tal como a conhecemos hoje…?
A opção por uma maior aproximação aos protagonistas - os homens e mulheres que no terreno, anonimamente, concretizaram, sabe-se lá como, em que condições e a que custo, o que tinha sido gizado nos gabinetes das altas patentes - humaniza o relato e faz com que ele se torne mais sedutor. Para além disso, apesar de alguns sinais (saudavelmente) contraditórios espalhados aqui e ali, esses militares, sendo protagonistas, não são heróis - revelam todas as fraquezas que nós também temos e o relato acaba por o espelhar, o que o valoriza - e parece justificar o facto de Bruno Falba ter assumido o argumento a partir do segundo tomo.
Do primeiro para o segundo volume, houve igualmente troca de desenhador - Fabbri desenhou os volumes 1 e 3, Dalla Vecchia o segundo - e se é evidente que houve a preocupação de manter o mais possível a uniformidade gráfica do relato e por isso foram escolhidos dois desenhadores com um estilo semi-realista semelhante e Fabbri assume toda a planificação, isso também foi conseguido à custa das limitações que ambos apresentam, em especial no tratamento da figura humana: as poses deixam por vezes a desejar, os rostos são muitas vezes rígidos e com falta de expressividade.
Já em termos de realismo histórico, por assim escrever, parece evidente um outro à-vontade na representação de uniformes, armas e veículos, o que de alguma forma equilibra o atrás escrito e aporta à série o cunho realista indispensável no registo escolhido que, sem deslumbrar, garante uma leitura descontraída graças à sua base competente e dentro dos parâmetros expectáveis.

Operação Overlord
#2 Omaha Beach
#3 A bateria de Merville
Bruno Falba (argumento)
Davide Fabbri e C. Dalla Vecchia (desenho)
ASA
235 x 312 mm, 48 p., cor, capa dura
Distribuição à quinta-feira com o jornal Público
9,90 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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