Passagem por Portugal
Criação de William Vance e Yves Duval, Howard Flynn é uma série que decorre no final do século XIX e tem como protagonista um oficial da marinha britânica - que lhe dá o título. Oficial esse que, ao longo de meia dúzia de aventuras, teve uma - dupla! - passagem relevante por Portugal.
Publicado pela primeira vez a 28 de Janeiro de 1964, na Tintin belga, terminaria a sua viagem em Junho de 1973, na Tintin Sélection #20, sob a forma de um conto ilustrado. E se aparentemente uma década podia fazer antever uma produção digna de registo, na verdade, as seis histórias que a dupla criou totalizaram apenas 102 pranchas. Foram igualmente escritos e ilustrados um folhetim, L'Or du Constellation, e o tal conto final, Cap sur Nazare.
Banda desenhada tradicional de aventuras, assenta em personagens sem grande espessura, em que os bons são bons e os maus são maus, para explorar algumas situações típicas e estereotipadas (traições atrozes, salvamentos in extremis, grandes amizades...), desenvolvidas de uma forma que hoje classificaríamos de ingénua, pelo que a série revela alguns efeitos da passagem do tempo.
O próprio traço de Vance ainda estava distante do que viria a ser mais tarde, embora fossem já visíveis algumas das suas principais qualidades: o rigor da reconstrução histórica e o realismo expressivo. Um dos seus principais problemas nesta obra, parece-me, é a utilização de quatro tiras por página, uma séria limitação em termos de planificação e dinâmica, aqui e ali contornado através de vinhetas de maior dimensão.
Como referido na abertura, na segunda narrativa - À abordagem - Howard Flynn recebe como missão vir a Portugal, buscar a filha do embaixador britânico no Brasil, para a levar a um lugar chamado Mirante. Essa passagem do herói pelo nosso país fica registada numa sequência de 4 páginas, onde se vêem a Torre de Belém, o Bairro de Alfama e o Estuário do Tejo, para além da inevitável referência ao fado.
Originalmente Howard Flynn foi publicado em três álbuns pelas Éditions du Lombard, na segunda metade da década de 1960, reunidos numa edição integral pela Magic Strip, em 1981, que também incluía as histórias curtas que aqueles tinham deixado de fora. Em 2002 a Le Lombard reintegrou-o no seu catálogo, dedicando-lhe o sexto tomo da colecção Tout Vance.
No entanto, para quem desejar uma edição realmente integral, que inclua as pranchas de BD e também as duas obras literárias, terá de optar pela edição integral castelhana da Ponent Mon (2019).
A mesma temática - até com grande proximidade narrativa na fase inicial - seria retomada, já com outro visual gráfico, por Vance, em 1976, a solo, em Bruce J. Hawker - André-Paul Duchateau surgiria como argumentista uma década depois - mas neste caso Portugal ficaria de fora das rotas do protagonista.
(imagens recolhidas nos sites BDPortugal e Bedetheque e das editoras Le Lombard e Ponent Mon; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Sem comentários:
Enviar um comentário