26/03/2021

Tintin Super-Jeunes

Eram os fanzines (3/3)


Pelo terceiro dia, abro com a mesma introdução: 'Quando comecei a dedicar-me à banda desenhada - para além da minha posição de leitor - as publicações, grosso modo podiam dividir-se em três tipos: álbuns (segmento em crescimento), revistas (em declínio) e fanzines.
Estes últimos, tinham na época a seguinte definição (mais ou menos) consensual: 'publicação independente, sem fins lucrativos, destinada a divulgar o trabalho de novos autores'.
Hoje, tudo mudou. Os álbuns predominam, as revistas acabaram e os fanzines encontraram novas formas.'
Longe de ser um fanzine, nesta edição, a Super Tintin, de forma surpreendente, cumpre o pressuposto final daquela definição.

Herdeira da Tintin Sélections - de onde eram provenientes as muitas histórias curtas com heróis da revista Tintin que alimentaram algumas publicações portuguesas, a Super Tintin distinguia-se pelo carácter temático das suas edições - das quais 3, Western, Comandos e Retro tiveram edição nacional.

Mas, como se integra uma edição destas na temática fanzines? O tema dela - Super-Jeunes - abre a porta à resposta.


Na verdade é muito curiosa a base desta edição: combinar as primeiras pranchas de grandes autores, com os primeiros passos de aspirantes a tal.

O primeiro grupo, o atractivo da publicação, abre com Derib  com um western ingénuo [imagem ao lado] de traço duro, realista e preso de movimentos. Depois, segue-se a primeira história a solo de Hermann, Soleil Rouge, protagonizada por Barney Jordan, tanto quanto sei, a única desta revista editada em Portugal.

O desfile de vedetas prossegue com Rosinski, com um episódio histórico da Polónia, publicado ainda no seu país natal, cujo tema - os vickings - parecia antecipar um certo Thorgal... Tibet apresenta-se com Pitou, um Ric Hochet pré-adolescente, em estilo caricatural, como caricatural (!) é a aventura de Monfreyd Tulbury (com argumento de André-Paul Duchateau) desenhada por Cosey! Para cada um destes autores, há um texto de introdução que traça o seu percurso até ao momento da publicação: Julho de 1985...


Quanto aos do outro grupo, o dos aspirantes a autores - todos eles aqui (apenas ou tão só) ao nível da publicação em fanzines, sem grande brilho gráfico, temático ou ao nível da cor - o tempo se encarregou de apagar o seu rasto ou de confirmar o seu potencial. Mas confesso que com uma única excepção (óbvia) - Jean Dufaux - era incapaz de citar de memória obras deles, embora conhecesse um ou outro de nome.

Vamos então identificá-los: Jean-Yves Delitte especializou-se em temáticas históricas bélicas; Marc Henniquiau, surge parcamente como desenhador, associado a uns poucos álbuns das séries Alix e Les Voyages d'Alix; de Nathalie Barriac e Jean-Michel Coulier, apenas encontrei referências às suas participações em duas edições da Tintin Super; quanto a Erwin Drèze, tem na sua biografia uns poucos álbuns de Les Voyages d'Alix, Lefranc ou Arséne Lupin, mas o seu argumentista nesta edição, é nada menos que um certo Jean Dufaux, que conhecemos hoje de Jessica Blandy, Murena, Djinn, Rapaces, Blake e Mortimer e um muito largo etc.

Jeanine Rahir escreveu e/ou desenhou uma meia dúzia de obras obscuras antes da mudança de século; já Georges Van Linthout tem uma extensa bibliografia, onde sobressaem (pouco) Lou Smog ou La nuit du lièvre. A lista - que já vai longa - encerra com Thierry Cayman, também associado como desenhador a algumas das séries 'made in' Jacques Martin, como Jhen ou Lefranc, aqui em parceria com uma certa Muriel Beullens, que nunca foi além das páginas da Super Tintin, tal como, aliás, Harry Hanneuse.

A diferença entre os sonhos sonhados e os concretizados...


Super Tintin #30: Super-Jeunes
Derib, Jean-Yves Delitte, Marc Henniquiau, Hermann, Nathalie Barriac, Jean Dufaux, Grzegorz Rosinski, Jeanine Rahir, Georges Van Linthout, Tibet, Muriel Beullens, Harry Hanneuse e André-Paul Duchateau (argumento)
Derib, Jean-Yves Delitte, Marc Henniquiau, Hermann, Jean-Michel Coulier, Erwin Drèze, Grzegorz Rosinski, Jeanine Rahir, Georges Van Linthout, Tibet, Thierry Cayman, Harry Hanneuse e Cosey (desenho)
Lombard
França, Julho de 1985
210 x 297, 80 p., cor, capa cartão

(imagens recolhidas no site Bedètheque; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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