Orientações
Nascido
como história de gangsters
no tempo da Lei Seca, Moonshine
migrou definitivamente para relato fantástico em que magia negra,
vudu e possessão marcam os avanços e recuos do relato.É
verdade que, pessoalmente, preferia o registo original, mas também
não posso negar que estou rendido à opção plasmada por Azarello e
Risso.
A viagem da narrativa entre o tom mais negro e realista original e fantástico e igualmente violento actual, tem-nos permitido aprofundar o conhecimento dos protagonistas: Lou Pirlo, o gangster original; Delia, a sua amante; o enigmático Jean-Baptiste, que parece saído de um culto haitiano… E, de certa forma na sua sombra, mas igualmente importantes, as duas bruxas a quem Pirlo recorre para se libertar da maldição que o assoma, a bela Tempest apostada em vingar as mortes na sua família de traficantes de álcool locais, que iniciaram tudo…
A acção deste volume decorre maioritariamente em cenários tétricos e aterradores, devidamente caracterizados visualmente, sejam eles casas de bruxas poderosas, cemitérios ou florestas, onde o mal parece ser dono e senhor, embora sejam sempre os homens o eu expoente máximo. À procura de ajuda (sobrenatural) para se livrar da maldição que nas noites de lua cheia se apossa do seu corpo que então dá livre curso à sua sede de sangue e violência, Lou Pirlo vai descobrir que o preço para tal pode ser demasiadamente alto - e seguramente não reembolsável...
Azzarello, vai coordenando a acção - entre as mais palpáveis cenas de maior realismo e o registo sobrenatural que agora impera, reflectido nos seres macabros que pululam em Moonshine - a um ritmo moderado que permite ler e entranhar o que se passa, sempre com um clima de suspeição latente, pistas falsas e alguns desvios ou inovações, que mantêm os leitores de rédea curta, sedentos dos próximos capítulos.
Num registo muito contido em termos de diálogos, Risso exemplifica os princípios básicos da narração sequencial, com uma planificação variada em que as vinhetas muitas vezes não têm os limites negros circundantes - ou ostentam os seus limites de forma diferente da habitual - o que lhes parece conferir ainda mais ritmo e legibilidade. O seu traço fino e expressivo, que bebe muitas vezes no uso de fortes contrastes e na representação das personagens como silhuetas - aumentando o seu mistério ou os enigmas que ocultam - brilha na representação da figura humana - e de outros seres vivos (?) - fazendo esquecer os muitos fundos em branco, recorrentes ao longo das pranchas.
Tudo isto é sublinhado e sublimado pelo recurso a tons lisos, planos e geralmente agrupados em blocos com número variável de páginas, privilegiando sempre os mais frios e sombrios: verdes, azuis, violetas e alguns vermelhos esbatidos, que vincam o lado macabro, violento e misterioso do relatado.
E se depois deste, (só) ficam a faltar dois volumes para concluir a série, sendo que o derradeiro está anunciado para o próximo mês de Novembro nos EUA, a verdade é que este - tal como o primeiro, embora não tanto - de certa forma permite uma leitura autónoma - embora naturalmente incompleta...
Moonshine
#3
Querer
a Lua
Brian
Azzarello (argumento)
Eduardo
Risso (desenho)
Eduardo
Risso e Cristian Rossi (cor)
G.
Floy
Portugal,
21
de Julho
de 2021
180
x 275
mm, 120
p., cor, capa dura
15,00
€
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar neste link para ver mais ou nas aqui mostradas para as apreciar em toda a sua extensão)
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