Fim de viagem
Por
vezes há casos assim, em que a viagem se revela mais interessante do
que o destino final.
Aconteceu-me
também com este sexto e último tomo de Peter Pan, que apesar de
abrir com inusitada violência, acaba por saber a pouco… possivelmente, porque é uma adaptação de um romance e Loisel não
quis fugir ao final de Barrie...
Isso não retira mérito a esta colecção, não questiona a sua qualidade ou a validade dasérie, nem põe em causa a repetida recomendação de As Leituras do Pedro para não deixarem passar aquela que será uma das melhores séries de BD lançadas em Portugal, este ano.
Mas, para quem (re)leu apaixonadamente a série, após a leitura destes seis volumes ficam perguntas por responder, situações por esclarecer, o todo parece um longo intróito para futuras aventuras - um pouco como Disney fez no pós-filme…
Com Sininho a assumir - embora nas sombras - boa parte do protagonismo, este álbum reforça as ideias centrais já apresentadas: a recusa de ser adulto e a imperiosa necessidade do esquecimento para se atingir a felicidade - aquela que cada um busca… - porque a memória pode ser um fardo insuportável (veja-se o Narigudo – e sofra-se com o desprendimento e desprezo com que é tratado pelos ‘amigos’...)
Destinos, surge, assim, na mesma linha do volume anterior, com Peter Pan mais uma vez entre os dois mundos - o verdadeiro e o dos seus sonhos - com a inocência - e a estupidez…? - da criança que ainda é a confundirem-se com a sua (boa) vontade de querer agradar e ajudar a todos. O que Loisel, com a crueldade que demonstrou ao longo de toda a obra, nos diz não ser possível, ao mesmo tempo que nos leva a questionar se a sonhada Terra do Nunca, não será afinal (também) um pesadelo...
Notas finais
- A edição quinzenal com o jornal Público de uma obra como esta, é a forma ideal de o leitor a conseguir. E a única forma de lhe chegar às mãos num prazo curto e a um preço agradável.
- Se de uma forma geral a edição da ASA apresenta boa qualidade de produção e impressão, acompanhando as versões francófonas mais recentes, ao nível da legendagem poderia ter merecido um pouco mais de cuidado, em especial na fonte utilizada quando algumas personagens gritam.
- Alguns - eu também - apontaram a ausência dos esboços de Loisel que a Booktree na época - 2002! - incluiu no (seu) volume 3. Entendo a diferença de situações, na altura era o relançamento de uma saga interrompida anos antes; agora estamos perante uma colecção cujo preço acessível passa pelo corte dos custos acessórios. E sei que os desvios aos volumes originais, sendo por vezes possíveis, outras tantas ou mais trazem grandes complicações. Se eu - como outros leitores - gostaríamos de os ter tido nesta nova edição, na prática seriam mais 12 páginas que, possivelmente, a muitos tantos leitores (?) diriam pouco.
- Apetecia-me revelar aqui - mas não posso! - (um)a (das) próxima(s) colecções que a ASA nos vai propor - em breve? - com o Público. Não o posso fazer ainda, mas garanto que é do mesmo nível – e com alguns pontos comuns - deste sublime Peter Pan, de Régis Loisel.
Peter
Pan #6: Destinos
Regis
Loisel
Segundo
o romance original de J. M. Barrie
ASA/Público
Portugal,
24
de Junho de 2021
240
x 320 mm,
56
p.,
cor,
capa dura
10,90
€
(imagens disponibilizadas pela ASA; clicar aqui para apreciar mais ou nelas para as apreciar em toda a sua extensão)
A viagem não é "por vezes" mais interessante do que o destino, é sempre, ou quase sempre!
ResponderEliminarHá viagens que só o destino justifica. Ou valoriza.
EliminarBoas leituras!
Duvido que a próxima colecção da Asa seja os 3 volumes do Peter Pank do Max!
ResponderEliminarDe qualquer forma saiu uma edição integral das Edições El Cupula sobre esta série, recomendo se o Pedro ainda não tiver.
Também duvido... ;)
EliminarTenho o Peter Pank do Max - lamentavelmente só dois volumes, como acabei de confirmar - há décadas, mas assinados/desenhados por ele quando foi convidado do Salão de BD do Porto (por mais de uma vez).
Sem dúvida que estará na altura de os reler... e talvez de completar a série com esse integral!
Boas leituras!
Reli recentemente estas histórias, continuam tão interessantes e irreverentes como na altura em que as li pela primeira vez nos anos 1980, por intermédio da revista Animal brasileira.
EliminarO Ranxerox do Liberatore então, ainda estimulante, nunca foi editado por cá, duvido muito que alguma vez o seja pois contém elementos muito pouco politicamente correctos para os dias de hoje, este também tem um integral.
Dou graças que ainda haja leitores para estes trabalhos, isto e a sua qualidade intrínseca é a única coisa que ainda os mantém vivos passadas mais de 3 décadas da sua publicação original.