Jeff Parker (argumento)Steve Kelley (desenho)
Bizâncio (Portugal, Setembro de 2011)
210 x 220 mm, 130 p., pb, brochado com badanas
11,35 €
Resumo
Este álbum mostra o quotidiano despreocupado e preguiçoso de um universitário desempregado, que voltou para a casa que compartilha com os pais e a irmã mais nova.
Desenvolvimento
Num mercado – o das colectâneas de tiras de imprensa – que está actualmente longe da pujança de outros tempos – em que os títulos lançados anualmente eram bem mais numerosos – o aparecimento de uma nova série não deixa de ser um sinal positivo. Mesmo que seja só sinónimo de que alguém acredita que vale a pena apostar nele, que ele irá encontrar os seus leitores.
Tendo como base um dos estereótipos mais comuns no género – a família (ainda) tradicional, constituída por pai, mãe e dois filhos pós-adolescentes, um rapaz e uma rapariga - Dustin, o Com-abrigo apresenta no entanto uma alteração àquela estrutura, reflexo dos tempos que correm, a saída cada vez mais tardia dos jovens de casa dos mais e a entrada, igualmente cada vez mais tardia, no mundo do emprego.
Porque Dustin, o rapaz, protagonista da tira, é um jovem recém-formado que, após ter deixado a casa dos pais para ir para a faculdade, regressou a ela com o canudo mas sem emprego… nem nenhuma vontade de o arranjar, passando o seu dia – para parafrasear alguém – “uma vezes deitado, outras estendido” no sofá, em frente à televisão! Pelo meio, há algumas visitas ao instituto de emprego local e episódicas e (muito) breves experiências laborais.
Como série nova que é, as primeiras tiras – cerca de metade do livro, talvez – servem para nos introduzirem no universo a que os autores querem dar vida, aprendendo a conhecer Dustin e cada um dos co-protagonistas: o pai, advogado, mais activo e sarcástico do que é habitual no género; a mãe, viciada em compras, que trabalha como locutora de um programa radiofónico de sucesso, cuja personalidade aos poucos se vai afirmando à medida que o seu emprego tem cada vez mais lugar na sua definição; a irmã mais nova, estudante de sucesso; a responsável do centro de emprego, mais empenhada em manter o seu tacho do que em ajudar realmente Dustin nas suas (patéticas) tentativas de encontrar – e manter – uma ocupação remunerada.
Sem deslumbrar – pelo menos por agora - no seu primeiro ano compilado neste volume, Dustin possui já um bom número de tiras cujo sentido de humor está acima da média, o que permite acreditar que Kelley e Parker ainda nos vão proporcionar (muitas e) boas gargalhadas.
A reter
- A publicação em português de uma nova série aos quadradinhos.
- A forma como as mudanças na vida real – novas estruturas familiares, dificuldade de emprego para os jovens… - marcam lugar (também) numa tira diária de imprensa.
- A crescente familiaridade e interacção que o leitor vai sentindo com Dustin e a sua família ao longo do volume.
Menos conseguido
- Confesso que quando vi o título deste livro me surpreendi, cheguei até a sonhar alto e a imaginar uma tira diária sobre o quotidiano de um sem-abrigo. A sua leitura, fez-me ver o erro de julgamento que tinha cometido, embora a temática do livro seja também bastante actual
-Claro está, Dustin poderia tornar-se mais interessante se tivesse uma posição mais crítica e acutilante mas, nestes tempos insossos, em que predomina o enjoativo politicamente correcto, isso seria, com toda a certeza, pedir demais…