Penguin Random House/Elsinore
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20/11/2022
Lançamento: O Mundo de Sofia #1
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Vincent Zabus
30/04/2012
20 Ans fermé
Un récit pour témoigner de l'indignité d'un système
Sylvain Ricard (argumento)
Nicoby (desenho)
Futuropolis (França, 8 de Março de 2012)
215 x 290 mm, 104 p., cor, cartonado
17,00 €
Resumo
“20 Ans fermé” acompanha Milan ao longo dos 20 anos de
prisão a que foi condenado em 1985, retratando as condições de vida dos
reclusos nas prisões francesas.
Desenvolvimento
Este é um relato comprometido com uma causa. Que, por isso,
não se pretende ser isento nem objectivo. O que não é sinónimo de parcialidade
ou de um olhar deformado.
Porque, apesar do comprometimento dos autores pela (sua)
causa – a denúncia das condições de vida dos presos nas penitenciárias
francesas - e do retrato incómodo – no mínimo – feito das várias prisões por
onde o protagonista vai passando, Milan – ao contrário de muitos detidos
cinematográficos e televisivos - não surge aos olhos dos leitores como um herói
ou sequer um “coitadinho”.
Ele é mostrado como alguém justamente detido, cujas acções e
reivindicações, nem sempre pacíficas – teriam (algum) sucesso se fossem de
outra forma? – lhe granjearam uma fama de anarquista e de desordeiro e muitos
anticorpos no sistema prisional, o que acaba por o tornar num alvo preferencial
para a repressão exercida sobre os presos.
Nada de novo, portanto, que não tenha sido visto e exposto,
inúmeras vezes, nomeadamente em filmes e séries de TV. Porque a falta de
condições de higiene, a falta de intimidade, a coacção física e psicológica
exercida sobre os detidos, o direito à diferença, a sobrelotação das prisões, a
prepotência dos guardas, um sistema prisional velho e de há muito direccionado
para a repressão, não são exclusivo de França. Por isso, também, se pode dizer
que esta é uma narrativa universal.
E que levanta, mais uma vez, questões – também elas
universais – que não são de resposta fácil nem única: onde encontrar o
equilíbrio entre a (justa) punição de quem transgrediu a lei e a propiciação de
condições de vida (sem liberdade) dignas? Até que ponto uma cadeia (que não é,
de forma alguma, uma estância de férias) pode – deve - ir na limitação dos
direitos e liberdades individuais de cada um? Como conseguir que o tempo
passado preso contribua para a reintegração do detido na sociedade e não para o
tornar ainda mais marginal e revoltado? Como fazer do tempo passado a cumprir
pena uma oportunidade de requalificação e a não a aprendizagem de novas formas
de defraudar a lei e a sociedade ou a iniciação em vícios?
Questões para as quais a sociedade ainda não encontrou – ou
raramente encontrou – respostas. Que também não existem neste álbum de Nicoby e
Ricard, de grande legibilidade, desenhado com traço duro e agreste o que torna
mais credível o ambiente prisional em que a acção decorre e protagonizado por
seres humanos de olhar triste e taciturno. E cujo mérito reside no facto de -
mais uma vez - abordar o tema, possivelmente de uma forma mais forte pelo seu
lado pictórico, propiciando – mais uma vez também – o reabrir – o continuar? –
de uma discussão indiscutivelmente necessária.
A reter
- O facto de Milan não ser apresentado como herói nem
vítima, apesar do incómodo inegável que muitos dos tratamentos a que é sujeito
provocam no leitor.
- A grande legibilidade do relato, apesar de alguns saltos
temporais – inevitáveis – a que este está obrigado.
Curiosidade
Esta banda desenhada baseia-se na experiência pessoal de
Milko Paris, fundador da associação Ban Public – que apoiou a edição deste
álbum e providenciou a sua distribuição nos centros penitenciários franceses –
que se dedica a denunciar as condições de vida nas prisões de França.
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