Há 60 anos,
os leitores do nº 720 da revista belga Spirou, descobriam pela primeira vez um
dos mais exóticos, inteligentes e simpáticos animais que a banda desenhada já
conheceu: o Marsupilami.
A sua
estreia deu-se na prancha 49 de “Spirou e os Herdeiros”, primeiro como silhueta
furtiva na segunda tira, depois exibindo já algumas das suas características
únicas.
Em jeito de
parêntesis, diga-se que o Marsupilami é um mamífero ovíparo, natural da selva
de Palômbia, uma conturbada república da América latina. O seu pêlo é
geralmente amarelo com manchas pretas – tal como o do jaguar que o teme – mas
conhecem-se casos de animais desta espécie completamente negros.
Dotado de
grande inteligência, curiosidade e sentido de humor, revela também uma enorme
força. A sua agilidade evoca a dos chimpanzés, a cuja estatura se assemelha,
mas tem como característica distintiva uma longa cauda, que pode ultrapassar os
20 metros, e que utiliza para se deslocar, pescar, defender e atacar.
Alimenta-se
de pulgas, nozes e piranhas, utiliza ferramentas e constrói enormes ninhos
suspensos, onde se reveza com a companheira na guarda e alimentação das crias.
Pode nadar,
correr ou deslocar-se nas árvores, consegue imitar a fala humana mas o seu som
característico é um sonoro “houba”.
Fora da
banda desenhada, poucos são aqueles que se orgulham de ter visto um, mas, em
1988, o IV Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto orgulhou-se de exibir
um espécimen com cerca de 4 metros de altura e uma longa cauda… todo em
peluche!
Fechado o
tal parentesis, convém dizer que a sua criação se deve ao genial André Franquin
(1924-1997, igualmente “pai” do trapalhão Gaston Lagaffe), e a sua descoberta a
Spirou e Fantásio. Encontrá-lo era a última de três provas que este último tinha
de superar para, numa disputa com o seu primo Zantáfio, receber uma herança que
se haveria de revelar… inexistente!
Depois de o
descobrirem e capturarem na selva palombiana, Spirou e Fantásio entregaram-no a
um jardim zoológico de onde, na aventura seguinte, acabariam por o libertar
para o devolver ao seu habitat natural. Só que então, o exótico animal decidiu
segui-los de volta à civilização, grato pela sua amizade… ou porque Franquin
decidiu mantê-lo nas suas histórias devido ao sucesso que o Marsupilami granjeou
junto dos leitores.
Por isso,
marcou presença na capa de álbuns como “Spirou e os herdeiros”, “Os ladrões do
Marsupilami” ou “O ninho dos Marsupilami”, e protagonizou, a solo, relatos
curtos, a partir de 1955.
O simpático
animal, temível quando zangado, acompanharia o groom e o seu amigo repórter até
1968, quando Franquin abandonou a série, levando-o consigo e reservando os seus
direitos, tendo nos anos seguintes tido apenas aparições esporádicas em histórias
de poucas páginas, que viriam a ser compiladas em “Capturem um Marsupilami”,
uma edição que assinalou os seus 50 anos.
Em 1987
(re)apareceu numa editora apropriadamente chamada Marsu Productions, como
protagonista de uma nova série com o seu nome, sob a égide de Franquin que fez
apenas alguns esboços, sendo o desenho confiado ao estreante Batem, tendo-se
sucedido nos argumentos Greg, Yann ou Fauche.
Poucos anos
depois, a Walt Disney France estreou-o em curtas-metragens animadas, de
qualidade bem inferior à série mais popular, que a Marathon e o Canal J desenvolveram
a partir do ano 2000.
Em
Portugal, se Spirou e Fantásio – que chegaram a ser Serafim (ou Clarim) e
Flausino – já eram conhecidos desde 1959, quando se estrearam na revista Camarada,
a banda desenhada que apresentou o Marsupilami ao mundo apenas foi publicada em
1975, directamente em álbum, pela Arcádia, embora o animalzinho já tivesse
aparecido por cá anteriormente.
Os álbuns
com as suas aventuras a solo seriam lançados a partir de 2004, pela Meribérica,
tendo a ASA, actualmente, uma vintena deles no seu catálogo.
(Versão
revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 31 de Janeiro de 2012)