Os demónios da noite
Boselli (argumento)
Ticci (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Junho de 2011)
135 x 176 mm, 114 p., cor, brochada, revista mensal
R$ 11,90; 6,00 €
Só quem coleccionou revistas de banda desenhada conhece o sabor, o encanto e a expectativa que provocavam os números especiais. Que podiam ter formato diferente, mais páginas, novos heróis ou páginas a cores (no caso de revistas a preto e branco). Como acontece neste Tex #500.
E que surgiam em datas especiais – aniversário da revista, Natal… - ou em numerações redondas. Como acontece neste Tex #500.
Para quem comprava, lia e coleccionava as revistas, era sempre especial o aproximar da data de publicação do novo número, de que aos poucos se iam conhecendo pormenores quanto ao seu conteúdo, até finalmente o encontrar nas bancas. Mais gordo, maior, como recheio diferente. Geralmente mais caro. Como acontece neste Tex #500. (Aliás, a única excepção a esta regra de que me lembro foi o Falcão #1000, que duplicou as páginas sem alterar o preço, numa verdadeira prenda aos seus leitores…)
Mas deixemos as memórias e passemos adiante, porque o tema desta crónica, afinal, é o Tex #500. Número redondo, sempre assinalável, mais ainda se pensarmos que a revista, ao longo dos anos – foram necessários mais de 41 anos para o atingir! – passou pelo catálogo de várias editoras, que foram dando sempre continuidade à numeração.
Resistindo a tempos, épocas, modas, crises, revoluções, eleições e outras mudanças. Mantendo uma legião de fãs – estável mas renovada – que assegurou – sempre – as vendas necessárias para que o título continuasse mensalmente nas bancas. No Brasil, onde é editada a revista, e em Portugal, onde chega mensalmente.
Como é habitual – em Itália, nas centenas mais recentes também no Brasil – este número prima por ter as páginas coloridas. E com uma vantagem (enorme) em relação à colecção Tex Edição em Cores: tendo sido pensada de origem para a cor, não existem manchas de negro com cor “sobreposta”. Embora, há que escrevê-lo, a cor Bonelli fique uns bons furos abaixo daquilo a que estão habituados os leitores de BD franco-belga ou de comics americanos pelo que, para mim, Tex deve ser fruído a preto e branco, no belo preto e branco com que tantos grandes nomes dos fumetti no-lo têm presenteado…
Para além disso, traz como oferta aos leitores (e coleccionadores) um caderno extra que reproduz, em pequeno formato, ao ritmo de 9 capas por página, todas as capas brasileiras da revista, bem como um editorial do editor brasileiro Dorival Vitor Lopes, e dois artigos de Júlio Schneider, um sobre as capas raras do ranger e outro sobre a sua génese.
Quanto à história – que, na efeméride em causa, quase é secundária – originalmente publicada no Tex #600 italiano, narra uma ida de Tex ao Canadá, mais uma vez em auxílio do seu amigo Jim Brandon, para investigar (e enfrentar) um estranho bando – composto por seres-humanos, animais, a mistura de ambos ou seres sobrenaturais? – que tem como imagem de marca atacar na lua cheia e devorar as suas vítimas humanas… Desenvolvida de forma competente por Boselli, que mantém a dúvida no leitor durante boa parte da narrativa, conta com o traço dinâmico de Ticci, um dos autores veteranos de Tex.
A reter
- 500 números de Tex. É obra.
Curiosidade
- Para fazer a capa desta revista (invulgar no seu conceito, no conjunto do historial da publicação…), Claudio Villa inspirou-se na pose de John Wayne no poster do filme “The Searchers” (que em Portugal recebeu o título de “A Desaparecida”).
Nota pessoal
- Comecei a coleccionar o Mundo de Aventuras no nº 47, exactamente uma semana depois da publicação de um número especial, comemorativo do 25º aniversário da revista (embora a sua capa anunciasse o 26º aniversário!). Tendo descoberto o facto alguns anos depois, durante algum tempo – pelas razões que referi no início deste texto - cheguei a procurá-lo, mas em vão…
30/08/2011
Tex #500
Leituras relacionadas
GiovanniTicci,
Mauro Boselli,
Mythos,
opinião,
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29/08/2011
Tintin à L’Ecran
Dominique Maricq La Poste + éditions Moulinsart + Centre Belge de la Bande Dessinée (Bélgica, Agosto de 2011)
64 p, cor, cartonado
77 €
Em complemento da emissão filatélica lançada hoje, atempadamente aqui anunciada, os correios belgas editam também este livro que, em seis capítulos, aborda a trajectória de Tintin no cinema desde "Le crabe aux pinces d’or", estreado a 21 de Dezembro de 1947, até "Le Secret de la Licorne", de Spielberg e Jackson, que estreia em Outubro próximo.
A tiragem está limitada a 5000 exemplares (em francês) + 1400 exemplares (em holandês), todos numerados e incluindo a emisão filatélica alusiva, com um carimbo especial.
64 p, cor, cartonado
77 €
Em complemento da emissão filatélica lançada hoje, atempadamente aqui anunciada, os correios belgas editam também este livro que, em seis capítulos, aborda a trajectória de Tintin no cinema desde "Le crabe aux pinces d’or", estreado a 21 de Dezembro de 1947, até "Le Secret de la Licorne", de Spielberg e Jackson, que estreia em Outubro próximo.
A tiragem está limitada a 5000 exemplares (em francês) + 1400 exemplares (em holandês), todos numerados e incluindo a emisão filatélica alusiva, com um carimbo especial.
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Tintin
28/08/2011
Selos & Quadradinhos (61)
Stamps & Comics / Timbres & BD (61)
Tema/subject/sujet: Hulk thourh the ages
País/country/pays: Madagascar
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1999
Leituras relacionadas
1999,
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Selos e Quadradinhos
27/08/2011
As Figuras do Pedro (VI)
Calvin & Hobbes
Figuras: Calvin & Hobbes
Fabricante/Distribuidor : ? (Brasil)
Ano : ?
Altura : 4 e 7 cm
Material: Chumbo
Preço original: ?
Figuras: Calvin & Hobbes
Fabricante/Distribuidor : ? (Brasil)
Ano : ?
Altura : 4 e 7 cm
Material: Chumbo
Preço original: ?
26/08/2011
Chevalier Ardent #20
Les Murs qui saignentFrançois Craenhals (argumento e desenho)
Casterman (França, Setembro de 2001)
48 p., cor, cartonado
8,54 €
Durante muitos anos foram uma instituição dentro da banda desenhada francófona e era impensável fazer uma história sem eles. Falo dos heróis clássicos, os invencíveis, defensores do bem, inimigos do mal, capazes de saírem incólumes das situações mais complicadas, de vencerem os vilões mais retorcidamente maquiavélicos.
Em Portugal, pelo menos duas gerações deram os seus primeiros passos nos quadradinhos na revista Tintin (1968-1982). Nomes como Ric Hochet, Bernard Prince, Tounga, Luc Orient, Bruno Brazil ou Comanche, evocam boas memórias, sustos enormes, alívios imensos, recordações da infância, incontornáveis, inesquecíveis.
Um desses heróis, o Cavaleiro Ardente, atinge agora os 20 álbuns, com "Les Murs qui saignent", no qual François Craenhals, da forma que já conhecemos, desenvolve na Idade Média uma narrativa que combina acção e mistério, na qual conduz Ardent e Gwendoline na descoberta do segredo que envolve a morte da rainha Marmande.
Mas se os heróis e as técnicas narrativas são as mesmas, hoje olhamo-los com outros olhos. Mais críticos, mais realistas, menos capazes de se maravilharem, de se deslumbrarem. Por isso, às vezes os reencontros são penosos. Porque reparámos em personagens desproporcionados, em incongruências temporais, em respostas que ficam por dar, em soluções que deixam a desejar.
Mas quando ultrapassamos isso, quando pomos de lado o olhar crítico da maturidade, da responsabilidade (de alguma idade?) são como velhos amigos que revemos ao fim de anos de separação. Sabemos que não vão trazer nada de novo, que estão exactamente na mesma, que (quase) não mudaram, (quase) não envelheceram, que mantêm os mesmos ideais.
Olhamos para eles com nostalgia, perdoamos (todas?) as fraquezas, as coisas que só podem acontecer numa banda desenhada (e elas também existem para isso), só pela alegria do reencontro. E, por isso, continuam a alimentar os nossos sonhos. Nem que sejam os sonhos mais antigos, do tempo em que eles ainda eram mais fortes do que a realidade que nos envolvia.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 23 de Outubro de 2001)
Casterman (França, Setembro de 2001)
48 p., cor, cartonado
8,54 €
Durante muitos anos foram uma instituição dentro da banda desenhada francófona e era impensável fazer uma história sem eles. Falo dos heróis clássicos, os invencíveis, defensores do bem, inimigos do mal, capazes de saírem incólumes das situações mais complicadas, de vencerem os vilões mais retorcidamente maquiavélicos.
Em Portugal, pelo menos duas gerações deram os seus primeiros passos nos quadradinhos na revista Tintin (1968-1982). Nomes como Ric Hochet, Bernard Prince, Tounga, Luc Orient, Bruno Brazil ou Comanche, evocam boas memórias, sustos enormes, alívios imensos, recordações da infância, incontornáveis, inesquecíveis.
Um desses heróis, o Cavaleiro Ardente, atinge agora os 20 álbuns, com "Les Murs qui saignent", no qual François Craenhals, da forma que já conhecemos, desenvolve na Idade Média uma narrativa que combina acção e mistério, na qual conduz Ardent e Gwendoline na descoberta do segredo que envolve a morte da rainha Marmande.
Mas se os heróis e as técnicas narrativas são as mesmas, hoje olhamo-los com outros olhos. Mais críticos, mais realistas, menos capazes de se maravilharem, de se deslumbrarem. Por isso, às vezes os reencontros são penosos. Porque reparámos em personagens desproporcionados, em incongruências temporais, em respostas que ficam por dar, em soluções que deixam a desejar.
Mas quando ultrapassamos isso, quando pomos de lado o olhar crítico da maturidade, da responsabilidade (de alguma idade?) são como velhos amigos que revemos ao fim de anos de separação. Sabemos que não vão trazer nada de novo, que estão exactamente na mesma, que (quase) não mudaram, (quase) não envelheceram, que mantêm os mesmos ideais.
Olhamos para eles com nostalgia, perdoamos (todas?) as fraquezas, as coisas que só podem acontecer numa banda desenhada (e elas também existem para isso), só pela alegria do reencontro. E, por isso, continuam a alimentar os nossos sonhos. Nem que sejam os sonhos mais antigos, do tempo em que eles ainda eram mais fortes do que a realidade que nos envolvia.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 23 de Outubro de 2001)
Leituras relacionadas
Casterman,
Cavaleiro Ardente,
Craenhals
25/08/2011
Conan, o bárbaro
Entre a queda da Atlântida e o dealbar da nossa civilização houve uma era de grande violência e de reinos esplendorosos na qual um homem se destacou: Conan, o bárbaro!Natural da Ciméria, forte, musculado, cabelos negros, olhos ferozes, frio, impiedoso, ladrão, pirata, saqueador, assassino, espalhou o medo e o terror com a sua espada, por vezes ao serviço de causas justas, sempre no seu próprio interesse. Juiz e carrasco de monarcas e príncipes, amante de belas mulheres, inimigo de poderosos feiticeiros, chegou mesmo a ser rei.
Tornado famoso pelos quadradinhos nos anos 70, mediatizado pelo cinema uma década depois, quando foi protagonizado por Arnold Schwarzenegger em dois filmes, Conan nasceu muito antes, da inspiração de Robert E. Howard escritor que, com ele, criou o género de “espada e fantasia”, caracterizado por combates violentos e intervenções sobrenaturais.
Natural do Texas, onde nasceu a 22 de Janeiro de 1906, Howard começou a escrever aos 9 anos, profissionalizou-se na escrita aos 15, mas só aos 24 viu o seu primeiro conto publicado, na revista “Weird Tales” - que acolheria a maior parte das suas criações – onde Conan nasceu dois anos depois.
Até se suicidar, em Junho de 1936, a par das aventuras do rei Kull, do aventureiro Salomão Kane ou da guerreira Sonya, escreveu mais de duas dezenas de contos e romances protagonizados pelo bárbaro e passados na Era Hiboriana, num passado pré-cataclísmico, entre o desaparecimento da Atlântida, engolida pelas águas, e a civilização actual que dela não guarda recordações nem vestígios.
Com uma escrita directa e forte, condimentada com violência e sexo, de pura distracção, Howard legou um universo, apesar de tudo credível e bem estruturado no qual a Marvel foi beber nos anos 70, dando uma nova vida e uma nova dimensão a Conan, através de artistas talentosos como Roy Thomas, Gil Kane, Barry Windsor-Smith, John Buscema ou Alfred Alcala que, adaptando as novelas originais ou criando novos relatos, mantiveram altos os níveis de erotismo e violência, o que forçou a sua publicação a preto e branco para contornar o rígido código de censura que regia os quadradinhos americanos.
Em 2004 os direitos de Conan seriam adquiridos pela Dark Horse que continua a publicar as suas aventuras em BD, assinadas por Kurt Busiek e Cary Nord, entre outros.
Conan, aos quadradinhos, estreou-se em Portugal no Mundo de Aventuras, em 1975, tendo algumas das histórias sido depois recuperadas em álbum pela Editorial Futura, tendo passado também pelo catálogo da Devir.
Às bancas nacionais chegaram igualmente diversas revistas brasileiras, a mais recente das quais “Conan, o bárbaro”, da Mythos Editora.
O filme, que hoje estreia, dirigido por Marcus Nispel e protagonizado por Jason Momoa, rachel Nichols, Stephen Lang e Rose McGowan, a julgar pelo que os trailers já mostraram, promete contribuir para cimentar a fama do bárbaro!
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 25 de Agosto de 2011)
Tornado famoso pelos quadradinhos nos anos 70, mediatizado pelo cinema uma década depois, quando foi protagonizado por Arnold Schwarzenegger em dois filmes, Conan nasceu muito antes, da inspiração de Robert E. Howard escritor que, com ele, criou o género de “espada e fantasia”, caracterizado por combates violentos e intervenções sobrenaturais.
Natural do Texas, onde nasceu a 22 de Janeiro de 1906, Howard começou a escrever aos 9 anos, profissionalizou-se na escrita aos 15, mas só aos 24 viu o seu primeiro conto publicado, na revista “Weird Tales” - que acolheria a maior parte das suas criações – onde Conan nasceu dois anos depois.
Até se suicidar, em Junho de 1936, a par das aventuras do rei Kull, do aventureiro Salomão Kane ou da guerreira Sonya, escreveu mais de duas dezenas de contos e romances protagonizados pelo bárbaro e passados na Era Hiboriana, num passado pré-cataclísmico, entre o desaparecimento da Atlântida, engolida pelas águas, e a civilização actual que dela não guarda recordações nem vestígios.
Com uma escrita directa e forte, condimentada com violência e sexo, de pura distracção, Howard legou um universo, apesar de tudo credível e bem estruturado no qual a Marvel foi beber nos anos 70, dando uma nova vida e uma nova dimensão a Conan, através de artistas talentosos como Roy Thomas, Gil Kane, Barry Windsor-Smith, John Buscema ou Alfred Alcala que, adaptando as novelas originais ou criando novos relatos, mantiveram altos os níveis de erotismo e violência, o que forçou a sua publicação a preto e branco para contornar o rígido código de censura que regia os quadradinhos americanos.
Em 2004 os direitos de Conan seriam adquiridos pela Dark Horse que continua a publicar as suas aventuras em BD, assinadas por Kurt Busiek e Cary Nord, entre outros.
Conan, aos quadradinhos, estreou-se em Portugal no Mundo de Aventuras, em 1975, tendo algumas das histórias sido depois recuperadas em álbum pela Editorial Futura, tendo passado também pelo catálogo da Devir.
Às bancas nacionais chegaram igualmente diversas revistas brasileiras, a mais recente das quais “Conan, o bárbaro”, da Mythos Editora.
O filme, que hoje estreia, dirigido por Marcus Nispel e protagonizado por Jason Momoa, rachel Nichols, Stephen Lang e Rose McGowan, a julgar pelo que os trailers já mostraram, promete contribuir para cimentar a fama do bárbaro!
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 25 de Agosto de 2011)
24/08/2011
Vincent et Van Gogh
Gradimir Smudja (argumento e desenho)Delcourt (França, Maio de 2002)
72 p., cor, cartonado
14,95 €
A vitalidade da banda desenhada (da literatura, do cinema, ...) vê-se – também - pelo aparecimento (a)periódico de obras que inovam e/ou surpreendem, ultrapassando todas as expectativas. Mais a mais quando, por detrás delas, está um desconhecido, como é o caso do autor do álbum que destaco hoje, Gradimir Smudja, nascido na antiga Jugoslávia, em 1954, e actualmente a viver em Itália, onde trabalha como professor.
E não admira que Smudja seja um desconhecido das lides da banda desenhada, porque “Vincent et Van Gogh” é o seu álbum de estreia, o que aumenta a surpresa do leitor. Surpresa que se torna maior, porque, aparentemente, o álbum é apenas uma biografia de Van Gogh. Exactamente “o” Van Gogh, o célebre pintor, que nos é apresentado nas primeiras pranchas como um dos grandes especialistas de quadros sobre Paris, mas com a secreta ambição de se tornar também ele artista. Só que, sempre que chega a um local para dar largas à sua veia criadora, alguém já chegou antes dele: Monet, num jardim, Degas, na Ópera, ... E, ao mesmo tempo, os outros pintores (Gauguin, Toulouse-Lautrec,...) consideram-no uma nulidade. Por isso, Van Gogh, desiludido, deixa a sua cidade e parte para a Provence.
E é aqui que surge a grande surpresa, quando Smudja nos revela um dos mais bem guardados segredos da história da arte: os quadros atribuídos a Van Gogh não foram pintados por ele, mas sim por Vincent... um gato que o pretenso pintor salva de uma aflição! Na continuação do álbum vamos acompanhar a cumplicidade dos dois (Vincent e Van Gogh), e como o segundo se reduz rapidamente a pouco mais do que uma sombra do primeiro, a quem inveja o talento, a ousadia, as atenções do belo sexo... e com quem acabará por se desavir, o que lhe custará a célebre perda da orelha...
Esta é a história que nos conta de forma leve, descontraída e bem-humorada, mas com muito talento, num estilo gráfico próximo da técnica do pastel, Smudja, que transformou este álbum numa bela homenagem aos génios da pintura citados, cujas obras vamos encontrando, ao virar de cada página, como fundo de uma vinheta, ou parte da acção, num belo passeio pela História da Arte do século XIX.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 25 de Fevereiro de 2003)
NOTA: Este álbum foi editado em português pela Witloof.
72 p., cor, cartonado
14,95 €
A vitalidade da banda desenhada (da literatura, do cinema, ...) vê-se – também - pelo aparecimento (a)periódico de obras que inovam e/ou surpreendem, ultrapassando todas as expectativas. Mais a mais quando, por detrás delas, está um desconhecido, como é o caso do autor do álbum que destaco hoje, Gradimir Smudja, nascido na antiga Jugoslávia, em 1954, e actualmente a viver em Itália, onde trabalha como professor.
E não admira que Smudja seja um desconhecido das lides da banda desenhada, porque “Vincent et Van Gogh” é o seu álbum de estreia, o que aumenta a surpresa do leitor. Surpresa que se torna maior, porque, aparentemente, o álbum é apenas uma biografia de Van Gogh. Exactamente “o” Van Gogh, o célebre pintor, que nos é apresentado nas primeiras pranchas como um dos grandes especialistas de quadros sobre Paris, mas com a secreta ambição de se tornar também ele artista. Só que, sempre que chega a um local para dar largas à sua veia criadora, alguém já chegou antes dele: Monet, num jardim, Degas, na Ópera, ... E, ao mesmo tempo, os outros pintores (Gauguin, Toulouse-Lautrec,...) consideram-no uma nulidade. Por isso, Van Gogh, desiludido, deixa a sua cidade e parte para a Provence.
E é aqui que surge a grande surpresa, quando Smudja nos revela um dos mais bem guardados segredos da história da arte: os quadros atribuídos a Van Gogh não foram pintados por ele, mas sim por Vincent... um gato que o pretenso pintor salva de uma aflição! Na continuação do álbum vamos acompanhar a cumplicidade dos dois (Vincent e Van Gogh), e como o segundo se reduz rapidamente a pouco mais do que uma sombra do primeiro, a quem inveja o talento, a ousadia, as atenções do belo sexo... e com quem acabará por se desavir, o que lhe custará a célebre perda da orelha...
Esta é a história que nos conta de forma leve, descontraída e bem-humorada, mas com muito talento, num estilo gráfico próximo da técnica do pastel, Smudja, que transformou este álbum numa bela homenagem aos génios da pintura citados, cujas obras vamos encontrando, ao virar de cada página, como fundo de uma vinheta, ou parte da acção, num belo passeio pela História da Arte do século XIX.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 25 de Fevereiro de 2003)
NOTA: Este álbum foi editado em português pela Witloof.
Leituras relacionadas
Delcourt,
Gradimir Smudja,
opinião,
Witloof
23/08/2011
Popotka le petit sioux
#1. La Leçon d'Iktomi
David Chauvel (argumento)
Fred Simon (desenho e cor)
Delcourt (França, Setembro de 2001)
32 p., cor, cartonado
8,95 €
Na banda desenhada, durante muitos anos, como no cinema, aliás, "os índios bons eram os índios mortos". Pontualmente, aparecia uma honrosa excepção, mas apenas para servir de auxiliar ao herói principal, branco, atlético e mais inteligente, como não podia deixar de ser.
Excepções mais consistentes, tiveram de esperar muitos anos, como são exemplos "Sargento Kirk", de Hugo Pratt, "Comanche", de Hermann e Greg ou "Blueberry", de Giraud e Charlier, onde os índios eram, por vezes, apresentados sobre um outro prisma mais humano, embora os estereótipos citados continuassem presente.
Anos mais tarde, Derib, em "Buddy Longway", atreveu-se a ir mais longe, casando o seu herói com uma índia e desenvolvendo, a partir desta base, uma interessante saga pautada mais pelos problemas de relacionamento entre raças e do homem com a natureza (aspecto em que os índios podiam ter dado grandes lições aos brancos...) do que pelas histórias típicas dos westerns. O autor levou ainda mais longe esta experiência mergulhando nos riquíssimos imaginário e mitologia índios em "Celui qui est né deux fois", série que continuaria em "Red Road", passada em época mais recente, com os índios confinados a reservas, humilhados pelos brancos e a braços com problemas como o álcool, o racismo ou a violência gratuita...
"Popotka, le petit sioux - 1. La leçon d'Iktomi" propõe uma abordagem completamente diferente ao género, inspirando-se em verdadeiras lendas índias (sim, a BD pode ter uma componente etnográfica), permitindo aos mais jovens - a quem se dirige especialmente - descobrir os costumes e as crenças de um povo esquecido. E mais uma vez, nesta interessante colecção "Jeunesse", da Delcourt, descobrimos dois autores que, tendo até agora trabalhado para público adulto, em séries de antecipação, como "Rails" ou em policiais, como "Le poisson Clown", são também capazes de criar para os mais pequenos, público que importa cativar para a 9ª arte para assegurar o seu futuro. David Chauvel é o autor do relato simples e divertido, com humor, ternura e fantasia quanto baste, que Fred Simon complementa de forma exemplar com uma linha clara, límpida ,expressiva e desprovida de pormenores desnecessários, a que aplica cores vivas que tornam o livro - enquanto objecto - bem apetecível.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 4 de Junho de 2002)
David Chauvel (argumento)
Fred Simon (desenho e cor)
Delcourt (França, Setembro de 2001)
32 p., cor, cartonado
8,95 €
Na banda desenhada, durante muitos anos, como no cinema, aliás, "os índios bons eram os índios mortos". Pontualmente, aparecia uma honrosa excepção, mas apenas para servir de auxiliar ao herói principal, branco, atlético e mais inteligente, como não podia deixar de ser.
Excepções mais consistentes, tiveram de esperar muitos anos, como são exemplos "Sargento Kirk", de Hugo Pratt, "Comanche", de Hermann e Greg ou "Blueberry", de Giraud e Charlier, onde os índios eram, por vezes, apresentados sobre um outro prisma mais humano, embora os estereótipos citados continuassem presente.
Anos mais tarde, Derib, em "Buddy Longway", atreveu-se a ir mais longe, casando o seu herói com uma índia e desenvolvendo, a partir desta base, uma interessante saga pautada mais pelos problemas de relacionamento entre raças e do homem com a natureza (aspecto em que os índios podiam ter dado grandes lições aos brancos...) do que pelas histórias típicas dos westerns. O autor levou ainda mais longe esta experiência mergulhando nos riquíssimos imaginário e mitologia índios em "Celui qui est né deux fois", série que continuaria em "Red Road", passada em época mais recente, com os índios confinados a reservas, humilhados pelos brancos e a braços com problemas como o álcool, o racismo ou a violência gratuita...
"Popotka, le petit sioux - 1. La leçon d'Iktomi" propõe uma abordagem completamente diferente ao género, inspirando-se em verdadeiras lendas índias (sim, a BD pode ter uma componente etnográfica), permitindo aos mais jovens - a quem se dirige especialmente - descobrir os costumes e as crenças de um povo esquecido. E mais uma vez, nesta interessante colecção "Jeunesse", da Delcourt, descobrimos dois autores que, tendo até agora trabalhado para público adulto, em séries de antecipação, como "Rails" ou em policiais, como "Le poisson Clown", são também capazes de criar para os mais pequenos, público que importa cativar para a 9ª arte para assegurar o seu futuro. David Chauvel é o autor do relato simples e divertido, com humor, ternura e fantasia quanto baste, que Fred Simon complementa de forma exemplar com uma linha clara, límpida ,expressiva e desprovida de pormenores desnecessários, a que aplica cores vivas que tornam o livro - enquanto objecto - bem apetecível.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 4 de Junho de 2002)
22/08/2011
Carnet de Bord
1-10 décembre 2001
Lewis Trondheim (argumento e desenho)
L’Association (França, Março de 2002)
140 x 190 mm, 46 p., pb, brochado com badanas
Nascida para distrair e divertir (daí a origem do nome "comics" usado pelos norte-americanos), a banda desenhada ao longo do século e pouco que conta de vida foi-se diversificando, passando, primeiro, à aventura realista, depois enveredando pela ficção-científica, a narrativa histórica, os super-heróis, a crítica social, e, em anos mais recentes, pelo romance desenhado ou as histórias de cariz autobiográfico. E outros caminhos se têm aberto. Há pouco mais de um ano, Étienne Davodeau, com "Rural!" (edição Delcourt), assinava a primeira "grande reportagem" aos quadradinhos; agora, é Lewis Trondheim que propõe a banda desenhada como veículo dos tradicionais textos sobre destinos turísticos.
E fá-lo neste pequeno livro que relata a sua estadia na Ilha de Reunião, onde se deslocou como convidado de um Salão de BD, acontecimento referido apenas de forma pontual no relato.
Este tipo de exercício - quando cumprido de forma honesta pelo autor - tem duas vantagens: permite conhecê-lo melhor e, quando como Trondheim - os desenhos são publicados em "bruto", sem "esquissos preparatórios, sem "tippex" e sem correcções ortográficas" (!) revela pormenores sempre interessantes sobre a sua forma de desenhar.
Claro que Trondheim, mais uma vez, revela o seu mau humor permanente, o seu pessimismo exacerbado e a sua completa (mas passiva) revolta com o mundo, e por isso este livro não tem nenhuma das características dos textos tradicionais sobre viagens.
Por isso, baseado nele, Trondheim nunca será convidado por uma agência de viagens para escrever roteiros turísticos, pois os ganhos em humor (negro q.b.) e subjectividade, seriam insuficientes para compensar a forma como arrasaria qualquer destino...
Tanto é assim que a ideia que nos transmite da Ilha de Reunião, é a de um local cruzado por caminhos agrestes e intransitáveis, banhados por um inclemente sol abrasador que queima todos os milímetros de pele desprotegidos.
Sem dúvida que para o turismo local, e como Trondheim temia no início da viagem, teria sido melhor que o avião explodisse a meio do caminho e "se encontrasse em África onde seria comido por um leão"...!
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 2 de Abril de 2002 )
Lewis Trondheim (argumento e desenho)
L’Association (França, Março de 2002)
140 x 190 mm, 46 p., pb, brochado com badanas
Nascida para distrair e divertir (daí a origem do nome "comics" usado pelos norte-americanos), a banda desenhada ao longo do século e pouco que conta de vida foi-se diversificando, passando, primeiro, à aventura realista, depois enveredando pela ficção-científica, a narrativa histórica, os super-heróis, a crítica social, e, em anos mais recentes, pelo romance desenhado ou as histórias de cariz autobiográfico. E outros caminhos se têm aberto. Há pouco mais de um ano, Étienne Davodeau, com "Rural!" (edição Delcourt), assinava a primeira "grande reportagem" aos quadradinhos; agora, é Lewis Trondheim que propõe a banda desenhada como veículo dos tradicionais textos sobre destinos turísticos.
E fá-lo neste pequeno livro que relata a sua estadia na Ilha de Reunião, onde se deslocou como convidado de um Salão de BD, acontecimento referido apenas de forma pontual no relato.
Este tipo de exercício - quando cumprido de forma honesta pelo autor - tem duas vantagens: permite conhecê-lo melhor e, quando como Trondheim - os desenhos são publicados em "bruto", sem "esquissos preparatórios, sem "tippex" e sem correcções ortográficas" (!) revela pormenores sempre interessantes sobre a sua forma de desenhar.
Claro que Trondheim, mais uma vez, revela o seu mau humor permanente, o seu pessimismo exacerbado e a sua completa (mas passiva) revolta com o mundo, e por isso este livro não tem nenhuma das características dos textos tradicionais sobre viagens.
Por isso, baseado nele, Trondheim nunca será convidado por uma agência de viagens para escrever roteiros turísticos, pois os ganhos em humor (negro q.b.) e subjectividade, seriam insuficientes para compensar a forma como arrasaria qualquer destino...
Tanto é assim que a ideia que nos transmite da Ilha de Reunião, é a de um local cruzado por caminhos agrestes e intransitáveis, banhados por um inclemente sol abrasador que queima todos os milímetros de pele desprotegidos.
Sem dúvida que para o turismo local, e como Trondheim temia no início da viagem, teria sido melhor que o avião explodisse a meio do caminho e "se encontrasse em África onde seria comido por um leão"...!
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 2 de Abril de 2002 )
Leituras relacionadas
L'Association,
Lewis Trondheim,
opinião
21/08/2011
Selos & Quadradinhos (60)
Stamps & Comics / Timbres & BD (60)
Tema/subject/sujet: Cartoon Network
País/country/pays: Holanda/Netherlands/Pays-Bas
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2001
Leituras relacionadas
2001,
Cartoon Network,
Holanda,
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