25/11/2011

Leituras Novas

Novembro de 2011

Qual Albatroz
O Menino Triste - Punk Redox
João Mascarenhas
Três anos depois da apolínea Essência, O Menino Triste regressa dionisíaco, como nunca antes visto. Fora com as roupas de betinho e o “cabelo à fosga-se” e venham as Doc Martens, as pulseiras de picos, a crista, a guitarra eléctrica e muita, muita atitude!
É assim que a Editora Qual Albatroz introduz “Punk Redux”, o novo álbum d’O Menino Triste. De igual forma, alguns amigos também deixam o seu testemunho. Coloco aqui hoje as palavras de três deles: Filipe Melo e Vitor Rua, músicos que não precisam de apresentações, e Ryan Cooper, autor do blog punkmusic.about.com, associado do New York Times. Outros se seguirão.

pedranocharco
BDJornal #28
Esta edição apresenta a entrevista que se impunha, com o Vereador da Cultura da Câmara da Amadora, dr. António Moreira, sobre questões prementes do Festival de BD da Amadora, na companhia do arqº Nelson Dona, director deste Festival, que permite uma visão previlegiada dos meandros do agora intitulado Amadora BD. O Vereador, não se eximindo a nenhuma resposta, foi incisivo e esclarecedor sobre questões até agora mantidas no “segredo dos deuses”, como os custos do Festival, mas não só.
Julio Shimamoto, um autor brasileiro descendente de uma nobre família samurai do Japão, e (também por isso) popularizado no Brasil como o samurai dos quadrinhos, chega-nos por intermédio de Wagner Macedo, que conseguiu o longo e interessantíssimo monólogo biográfico que publicamos. Shimamoto, hoje com 72 anos, percorreu um naco da história do Brasil e conta-nos todo esse percurso e como ele influenciou a sua trajectória no mundo da banda desenhada brasileira. Iniciando a carreira com uma espécie de tirocínio com o português emigrado Jayme Cortez, passou pela nacionalização dos quadrinhos e os movimentos de autores a ela associados, pela publicidade e ilustração, até a uma pacificação de espírito de que diz gozar hoje em dia, que o leva, sobretudo, a querer aprender. Dele publicamos as dez página iniciais de Musashi, história de um garoto japonês que se tornou samurai...
Destaque ainda para o texto de João Miguel Lameiras sobre Vitor Péon, considerado o mais produtivo autor português da sua época e que parece meio esquecido actualmente.
Leonardo De Sá pesquisou e reconstituiu a verdadeira biografia de António Cerveira Pinto, um artista meteórico do início do século XX, falecido aos 16 anos, mas com uma actividade artística precoce e muito activa, participando numa série de revistas que viriam a ser o berço do então emergente movimento modernista em Portugal. É o resultado dessa pesquisa que se publica nesta edição do BDj.
De refeir ainda a publicação integral de O Mensageiro no Deserto, banda desenhada de Diniz Conefrey de 1989.

Edições Polvo
Há Piores
Geral e Derradé
Uma compilação de histórias curtas, umas inéditas, outras não, que nos convida a desfrutar de breves momentos doces, plenos de imaginação, humor e poesia.






Edições ASA
Os Solteirões
Nelson Martins e Valéry Der- Sarkissian
Secretária num tribunal administrativo, Débora está só. Desesperadamente só. Assim como a Marisa, o Alex, o Filipe e muitos outros à sua volta.
Mas encontrar a alma gémea no século XXI é uma tarefa hercúlea. O grande amor tem de se merecer, sobretudo quando não damos por ele.
Tudo sobre os Solteirões é um álbum delicioso que vai ensinar a todos os celibatários, tenham a idade que tiverem, a pôr, com um sorriso, a corda à volta do pescoço.

Tintin – Voo 714 para Sidney
Hergé
Tintin, Milu, capitão Haddock e professor Girassol estão a caminho de Sydney, onde são convidados de honra do Congresso Internacional de Astronáutica. Na escala em Jacarta, conhecem o milionário Carreidas, que os convida para seguir viagem no seu avião particular. A viagem para os três amigos irá transformar-se num terrível pesadelo: vão ser envolvidos numa armadilha por detrás da qual está um velho e perigoso conhecido.

Tintin e os Pícaros
Hergé
O Capitão Haddock, o professor Girassol e o Tintin recebem uma informação inacreditável: a célebre cantora Bianca Castafiore, em digressão pela América do Sul, foi presa em San Teodoro, acusada de participar num complô contra o regime do general Tapioca! Maior é a surpresa dos nossos amigos ao saberem que também eles são acusados de participar na trama. O capitão e o professor Girassol decidem ir a San Teodoro esclarecer o assunto. Mas Tintin, pressentindo uma armadilha do tenebroso Tapioca, recusa-se a viajar com eles. Será que Tintin vai deixar os dois amigos enfrentarem o general sem a sua ajuda?

Tintin e a Alph-Art
Hergé
Tintin e a Alph-Art é o último trabalho do criador de Tintin. Trata-se de um álbum com uma «quase» aventura, uma série de pranchas onde se vê o desenho e o texto do que, com tempo, haveria de ser mais um álbum para os fãs de Tintin. Aqui encontram-se muitos personagens já conhecidos de outras histórias, implicados desta feita numa intriga que envolve o mundo da arte moderna. Apesar de incompleta, não faltam a esta aventura os ingredientes habituais de humor, os trocadilhos, as críticas inteligentes, as alusões a factos verdadeiros e os mal-entendidos, que geram sempre, por parte do leitor, reacções de surpresa e de gargalhada.

As águias de Roma – Livro 3
Marini
Marco e Armínio cresceram juntos.
Juntos experimentaram a autoridade e a disciplina de ferro de uma educação romana. Fizeram-se homens e soldados, tornaram-se irmãos. Mas o amor quebrou as suas juras e os seus caminhos divergiram. Agora, corre um rumor: Armínio, regressado à Germânia, às terras do seu povo, estaria a preparar uma rebelião contra Roma. Enviado como espião pelo imperador, saberá Marco ler no coração do seu amigo?

Kid Lucky – O aprendiz de cowboy
Achdé
Com uma camisa amarela, um lenço encarnado ao pescoço, uma mecha rebelde de cabelo e uma palha na boca, é Kid Lucky, ou seja, o nome Lucky Luke quando era pequeno. Na escola de Nothing Gulch, é mais rápido a fugir aos trabalhos do que a sua própria sombra! Este aprendiz de cowboy de palmo e meio está sempre pronto a descobrir as tradições do Oeste, os ensinamentos dos pioneiros, mas acima de tudo a divertir-se com os seus amiguinhos! É o nascimento da lenda do maior cowboy do Oeste (ainda em miniatura)!

Dragon Ball #14 – Uma nova aventura
Akira Toriyama
Goku é a única esperança do mundo, o único ser na Terra capaz de enfrentar Piccolo, o Grande Rei Demónio! Mas o combate termina com Piccolo a dar origem a uma nova e mais jovem versão de si mesmo, que irá regressar dentro de três anos para acabar a destruição causada pelo seu pai! À procura de uma nova forma de derrotar o novo Piccolo, Goku vira-se para os céus - para o reino dos céus de Kami-sama, criador das Bolas de Dragão, Deus do mundo de Dragon Ball. Mas Piccolo e Kami-sama partilham um terrível segredo...

Dragon Ball #15 – Rivais poderosos
Akira Toriyama
Os maiores peritos mundiais em artes marciais, reuniram-se para o 23º Tenka’Ichi Budokai... e desta vez, está em jogo muito mais do que orgulho! Piccolo, o Rei Demónio renascido, quer conquistar o mundo.
Tao pai pai quer vingar-se de Tenshinhan. Uma misteriosa participante “incógnita” tem contas a ajustar com Son Goku… E o golpe secreto de Shen pode ser a chave para que este vença o torneio!
Mas qual será o desfecho de mais um Torneio de Artes Marciais?

Astérix – Tudo sobre Tullius Venenus
Astérix é um traidor, pois vendeu o segredo da poção mágica aos Romanos! Matasétix compromete-se com o inimigo para ser nomeado senador! A “Aldeia dos Loucos” sucumbe ao vírus do boato e os seus habitantes viram-se uns contra os outros. O que é que se passa? A origem destas quezílias internas está num homem baixinho e franzino, cuja vocação é semear a discórdia. Com ele, nem sequer vale a pena mentir, o que é preciso é trair! Nasce assim Tullius Venenus, um dos personagens maléficos mais perturbadores da história da banda desenhada, revelando uma nova faceta do pequeno mundo de Astérix, para grande divertimento dos seus leitores!

Booksmile
Scott Pilgrim #5 - Contra o Universo
Brian Lee O'Malley
«Mas porque é que ele tinha de fazer 24 anos? Porque é que há robôs que insistem em tentar matá-lo? Porque é que a banda está a separar-se? Porque é que a Ramona anda tão estranha? Porque é que aqueles gémeos japoneses brilhantes mas letais não o deixam em paz?
Acompanha o Scott enquanto ele descobre a resposta a estes mistérios… ou vais morrer sem saber!»

Scott Pilgrim #6 - No Seu Melhor
Brian Lee O'Malley
Com 6 dos 7 ex-namorados despachados, é altura de Scott Pilgrim enfrentar Gideon Graves, o mais temível dos ex-namorados de Ramona. Mas ela não se foi embora no final do vol. 5? Isso não safa o Scott? Queres saber mais? Tens de ler!

Nota – Na compra dos volumes #5 e #6, a FNAC oferece o poster ao lado.






Devir
Wolverine Inimigo do Estado Vol. 02 (de 02)
Mark Millar e John Romita Jr.
Finalmente é revelada a origem secreta do sombrio Górgon. Wolverine volta a estar sob a custódia da S.H.I.E.L.D., mas a que preço?
Enquanto os X-Men choram o seu colega num funeral digno de um herói, a Hidra celebra a coroação de um novo líder. O reino de terror continua, pois a Mão captura os metahumanos um por um. Será que Wolverine vai ser desprogramado a tempo de parar a carnificina?
Inclui a história de Mark Millar “Prisioneiro Número Zero”, dedicada ao mestre Will Eisner.

Níquel Náusea
Vol. 09 - Um tigre, dois tigres, três tigres
Vol. 10 - A vaca foi para o brejo atrás do carro na frente dos bois
Fernando Gonsales

Mais dois divertidíssimos volumes da série humorística de sucesso Níquel Náusea criada por Fernando Gonsales.



















Devir + G. Floy Studio
Fell - Cidade Selvagem
Warren Ellis e Ben Templesmith
Enviado para uma cidade em processo acelerado de colapso chamada SNOWTOWN, o Detective Richard Fell tem que recomeçar a sua vida do zero. Mas numa cidade em que nada parece fazer sentido, Fell sabe que se pode agarrar a uma certeza, a única que ele sempre soube ser verdade... Toda a gente esconde qualquer coisa. Até ele.
Nomeado para 2 Eisner Awards.

Hellboy Vol. 07 – A Bruxa Troll e Outros Contos
Mike Mignola, Richard Corben e P. Graig Russell
“...Uma personagem e uma série genuinamente originais. Histórias tremendas. Arte de primeiro nível. Acho que Hellboy é o meu herói preferido da banda desenhada contemporânea. Viva Mignola! Viva o puto que veio do Inferno!”
Michael Moorcock.




Gradiva
Zits - Dá-lhe gás!
Jerry Scott e Jim Borgman
Abana! Abana! Abana!
Desculpa aí,
Tudo bem...
... Depois de tirarmos a carta, leva algum tempo até o sorriso imbecil desaparecer.
Jeremy está de regresso, desta vez com a carta de condução! Liberdade ou pesadelo? Como sempre, depende do ponto de vista...

BDLP #01
O #1 do Fanzine BDLP conta com a participação de doze autores de três países da CPLP, ao longo de 72 páginas.
De Angola, Bocolo Daniel, Hermenegildo Pimentel, Júlio Pinto, Tiago Abrantes e Nelo Tumbula (autor da prancha ao lado), do Brasil, Marcelo D’Salete e de Portugal, Joana Afonso, Rita Vilela, Álvaro, J. Mascarenhas e GEvan. Portuguesa é ainda a participação de José Carlos Dias, representante do Instituto Camões em Varsóvia e Lublin, e que escreve uma interessante abordagem entre Banda Desenhada e Língua Portuguesa.

JuvebêDê #49

(Textos, quando existem, da responsabilidade das editoras)

24/11/2011

Greve geral

Vilão Electro em "O Povo no Poder - Parte Um",
in Homem-Aranha #111 (Amazing Spider-Man #612)

23/11/2011

Tintin e a Alph-Art

Hergé (argumento e desenho)Edições ASA (Portugal, Novembro de 2011)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado
8,90 €

Um pouco de história: a 3 de Março de 1983, Hergé, falecia na Bélgica, aos 75 anos, vítima de leucemia e deixava incompleta aquela que deveria ser a 24ª aventura de Tintin, o mais célebre repórter dos quadradinhos, mesmo se foram poucas as linhas por si escritas.
Eram apenas 42 páginas, só esboçadas, aqui e ali com o desenho um pouco mais avançado, ainda com indecisões de nomes, nalguns casos com sequências alternativas. Em termos de argumento e diálogos, a obra estava mais adiantada, mas terminava igualmente nas primeiras quatro vinhetas da página 42.
Nelas, Tintin encontra-se em situação desesperada, avançando devido à pressão de uma pistola nas suas costas, sendo o seu destino... a imortalidade. Não como o célebre herói de BD que é, mas transformado em estátua, quando o seu corpo for coberto com poliéster líquido, para ser trabalhado por um famoso escultor. Isto porque, em Tintim e a Alph-Art, o herói evolui no meio da pintura moderna, um dos temas que apaixonou Hergé no final da sua vida, enfrentando um bando de falsificadores e traficantes de arte, liderados por um místico que, a ter continuado a história, acabaria por se revelar um dos seus grandes inimigos, o pérfido Rastapopoulos.
Para acalmar os rumores de uma eventual conclusão da obra pelos seus colaboradores, três anos depois, em 1986, era editado um álbum com dois cadernos: um, reproduzia as 42 páginas esboçadas por Hergé; o outro, continha a transcrição dos diálogos. A partir dele, rapidamente surgiram no mercado, a preços exorbitantes e com pequenas tiragens, diversas versões pirata “finalizadas” da história, algumas das quais ainda hoje circulam na net ou mesmo em edições impressas.

No início de 2004, a 29 de Janeiro, aproveitando o pretexto dos 75 anos do nascimento de Tintin, e tentando revitalizar um catálogo onde há muito faz falta uma novidade, foi editado em França Tintin e a Alph-Art, no formato habitual e ao mesmo preço da restante colecção, tal como a Verbo fez meses depois e a ASA faz hoje, concluindo a reedição integral das aventuras de Tintin, com nova tradução e formato reduzido.
Esta edição, reproduz as tais 42 pranchas, transcreve os respectivos diálogos e foi enriquecido com alguns documentos entretanto descobertos, quase todos respeitantes a uma fase mais inicial da obra, na qual Hergé explorava ainda diversas possibilidades temáticas, nomeadamente o tráfico de droga.
E mesmo estando a história numa fase tão embrionária, uma justificação surge de imediato para a edição: descobrir a forma de trabalhar de Hergé. Como ele ia esboçando a narrativa, como aqui e ali uma ou outra imagem ganhava mais importância, levando-o a aperfeiçoá-la ainda no esboço, como as ideias iam surgindo, sendo postas de parte ou integradas no relato, obrigando, quantas vezes, a renumerar as páginas. E ver a sua forma de desenhar, repetindo o traço diversas vezes, de forma sobreposta, até encontrar a versão ideal que, mais tarde copiaria, por decalque, para o original.
E há também um princípio de história, quase dois terços de um álbum, escrito já de forma consistente, com diálogos que, em muitos casos, se adivinham (quase) definitivos, com um fio condutor consistente e capaz de prender o leitor que chega à fatídica página 42 e fica em suspenso – desta vez para sempre – sem saber qual a sorte do herói.
Mas confiando que ele se irá libertar, mais uma vez, de uma situação delicada e aparentemente irresolúvel. Como nas outras 23 apaixonantes aventuras, que Hergé escreveu e desenhou, muitas delas autênticas obras-primas, que fizeram de Tintin um dos ícones mais celebrados da banda desenhada e do século XX.



(Versão revista e corrigida do texto publicado no Jornal de Notícias de 22 de Agosto de 2004)

22/11/2011

Mônica #500

Maurício de Sousa produções
Panini Comics (Brasil, Junho de 2011)
135 x 190 mm, 84 p., cor, capa brochada e metalizada
R$ 5,90; 2,45 €

Resumo
Esta é uma edição especial da revista Mônica, comemorativa dos 500 números publicados ininterruptamente no Brasil e assim distribuídos: Editoras Abril – 200 edições (1970-1986); Editora Globo – 246 edições (1987-2006); Panini Comics – 54 edições (2007-?).

Desenvolvimento
Se são poucas as revistas mensais que chegam ao nº 500 (são necessários mais de 40 anos para isso!), se pensarmos apenas nas de banda desenhada - cujo títulos, hoje em dia, são bem menos - esse número reduz-se substancialmente.
Curiosamente, num curto espaço de tempo, o Brasil teve dois casos: Tex, que também passou por várias editoras e sobre a qual já escrevi, e, agora – ou melhor há seis meses, data de publicação original naquele país – a revista da Mônica.
Aproveitando a efeméride – que o é, de facto – mas também a oportunidade de (mais uma vez) apostar no marketing (algo que Maurício de Sousa tem sabido fazer muito bem) foi lançado este número especial, que (re)visita, a dois tempos, o já longo historial desta revista que acompanhou e fez companhia a várias gerações de leitores.
Primeiro, numa história em que as personagens, atravessando o cenário de diferentes heróis – com o bairro do Limoeiro, como ponto de partida, mas também o mundo rural de Chico Bento, a pré-História de Horácio e Piteco, o mundo do além do Penadinho ou o espaço sideral do Astronautra - têm de reencontrar a memória das 499 revistas anteriores, perdida “pelos monstrinhos da vida adulta: compromissos, trabalho, preocupações…”
Para isso, com o habitual humor, terão que evocar no adulto stressado e trabalhador as suas mais ternas e divertidas recordações da infância para que o universo maravilhoso de Maurício de Sousa, (bem) desenvolvido e explanado nas suas revistas, possa (res)surgir.
Depois, na segunda narrativa – são apenas duas nesta revista – a linha temporal tradicional das revistas da turma foi quebrada, tendo o Xaveco assumido todo o protagonismo que (re)conhecemos à Mônica, partindo o Cebolinha numa perseguição através dos tempos – acentuada pela utilização do grafismo da turma em cada uma dessas épocas – e por algumas das histórias mais conhecidas da Mônica, para tentar repor a ordem tal qual nós a conhecemos – e ele habitualmente tenta inverter!
Belo exercício de memória assente no traço tradicional, no humor a que todos nos habituamos e na simplicidade dos meios utilizados, esta edição é sem dúvida um daqueles números de colecção que não só os fãs desejarão ter, mas que merece ser lida por todos aqueles que um dia já se maravilharam com as aventuras da Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e amigos.


Turma da Mônica – Colecção Histórica #23
Caixa com Mônica #23, Cebolinha #23, Cascão #23, Chico Bento #23 e Magali #23
Maurício de Sousa Produções
Panini Comics (Brasil, Maio de 2011)
135 x 190 mm, 244 p., cor, brochada
5,00 €
Ao mesmo tempo, cultivando essa memória – criando-a junto dos mais novos, evocando-o junto dos que nasceram há mais tempo – a Panini tem reeditado as primeiras revistas da Turma da Mônica na sua Colecção Histórica, sendo que este mês estão nas bancas portuguesas as revistas #23 da Mônica (de Março de 1972), Cebolinha (Novembro de 1974), Cascão, Chico Bento (ambas de Junho de 1983) e Magali (Maio de 1990), juntamente com uma caixa em cartolina para as guardar. A par do cultivo da memória – que pelas diferentes datas de lançamento originais pode chegar a diferentes gerações - esta reedição – com cada número enriquecido com um texto alusivo/explicativo da autoria de Paulo Back, permite também apreciar a turma em diferentes épocas e avaliar a sua evolução gráfica e temática.

21/11/2011

Habibi

Colecção écritures
Craig Thompson (argumento e desenho)Casterman (França, 26 de Outubro de 2011)
172 x 240 mm, 672 p, pb, brochado com badanas
24,95 €

Habibi é a história de Dodola, vendida pelos pais ainda criança para desposar um escriba – com quem aprende a ler e a escrever e os contos sagrados que a acompanharão toda a vida -, raptada de casa do marido para ser feita escrava, fugitiva para se esconder no deserto durante anos, capturada e transformada em favorita do sultão.
Habibi é a história de Zam que Dodola resgatou do mercado de escravos, que com ela viveu no deserto, que por ela se tornou eunuco.
Habibi é a história de cada um, quando o destino – ou os homens? – os separou, como (sobre)viveram com a memória do outro.
Habibi é a história do seu reencontro, tão feliz quanto doloroso, tão esperado quanto receado, tão belo quanto pungente, porque Habibi é a história de um grande amor, uma história bela – como todas as histórias de amor – mas também uma história incómoda, profunda e dolorosa – como só as histórias de amor sofridas podem ser.
Mas Habibi é também uma história de busca e iniciação, uma história de uso (e abuso) mercantil do sexo, de sensualidade reprimida, de desejos abafados, de mal-entendidos sobre o que é – o que pode ser – a sexualidade. Uma história de abusos, violações e profanações.
Habibi é ainda uma história de sobrevivência, de resistência, de abdicação e de luta, um conto sobre a pequenez do indivíduo face ao mundo hostil que o rodeia, o traga, o engole, o expele em fezes.
Habibi é também um conto religioso – mais próximo de Deus ou de Alá – do que muitos contos “mesmo” religiosos, um conto sobre falsa religiosidade, assente numa sólida base teológica, proveniente da leitura atenta e exigente do Corão (complementando a da Bíblia que fez parte da educação de Thompson). O que possibilita, aos crentes (verdadeiros), aos conhecedores de um e/ou outro daqueles livros sagrados, desfrutar dos paralelos que o autor vai traçando entre ambos ao longo da sua obra e de um outro nível de leitura que Habibi tem.
Habibi é, igualmente, uma obra coerente e consistente, em que é notória a pesquisa que o autor fez a vários níveis – dentro de si próprio e a nível religioso, já o disse - mas também a nível da escrita (que tem um papel importante ao longo do relato), dos hábitos e das tradições orientais.
Habibi é uma fábula intemporal, universal, uma versão bem mais dura e terrível das 1001 Noites, igualmente situada num sultanato oriental imaginário, num tempo que parece anacrónico, mas que pormenores diversos revelam ser hoje, revelam ser agora, revelam ser aqui, ao nosso lado, em nossa casa…
Em Habibi, Craig Thompson, mais uma vez, como no espantoso Blankets – que era mais directo, mais acessível, menos cerebral – expõe-se, despoja-se, mostra-se, revela-se, evoca por pressupostas personagens as suas experiências traumáticas, os abusos que sofreu, as suas dificuldades de relacionamento, de forma total, sensível, tocante, embaraçosa, pungente.
Habibi é também uma fantástica narrativa em banda desenhada, arte que Thompson domina como poucos, transportando o leitor ao longo das páginas de uma longa história – complexa e profunda – que, apesar disso - por isso - se lê de um só fôlego.
Habibi é também, ainda, igualmente, um notável trabalho de artesão, que ocupou 7 anos da vida do autor, com pranchas de pura contemplação, outras de uma energia louca, algumas de pura emoção outras de acção a rodos, com muitas dezenas de pranchas feitas autênticas obras de arte oriental, numa colagem, numa moldagem do estilo ao ambiente e ao cenário da história.
Habibi é, por tudo isto, uma obra notável. Daquelas que é obrigatório ler, de um só fôlego, escrevi-o atrás, porque não conseguimos parar sem conhecer o fim, enredados sem forma de fugirmos na teia que Thompson vai tecendo, com mestria e competência – com génio, porque não dizê-lo - com conta e medida, avanços e recuos, descobertas e revelações. Daquelas que é obrigatório reler, uma duas, três, dez vezes para descobrir, desvendar, desfrutar de tudo o que Craig Thompson nela colocou para nós.
Habibi, finalmente, é daquelas obras únicas e incontornáveis, “extenuantes e estimulantes” escreveu alguém de forma particularmente feliz, que tornam medíocres tudo o que sobre elas se escreva – o que eu até aqui escrevi - porque ficará sempre muito aquém do que ela é e nos pode proporcionar.

A reter
- Habibi, no seu todo, uma obra notável.










Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...