07/09/2012

As Figuras do Pedro (XXIV)

Betty Boop
 
Colecção: Betty Boop Show Collection
Figura: Betty Boop Cantora de Cabaré
Fabricante/Distribuidor: Salvat (Portugal e Brasil)
Número de figuras: 60
Material da figura: Resina pintada à mão
Altura: cerca de 13,5 cm
Preço: 1,99 € (1ª entrega), 4,99 € (2ª entrega); 8,99 (as restantes entregas). Cada entrega inclui uma figura diferente e um fascículo a cores de 16 páginas com informação sobre Betty Boop, uma página aos quadradinhos e um pouco da história dos EUA nos anos 30 (no fascículo #1 a construção do Empire State Building e o nascimento do famoso Cotton Club)
Nota final: edição conjunta para Portugal e Brasil, o que se por um lado é de saudar, faz com que neste número inaugural (pelo menos) tenha alguns textos em português e outros em brasileira o que, no mínimo, causa alguma estranheza ao leitor. De todo evitável era que a prancha de BD incluída no fascículo fosse reproduzida com o texto dos balões em inglês, com a tradução em português por baixo da página…

 

Um pouco de história

Frágil, elegante, olhos grandes, boquinha pequena, a formar beicinho, pernas bem torneadas, medidas exactas, ombros e pernas nuas, liga na perna esquerda, voz suave em que pronunciou vezes sem conta o famoso "boop-oop-a-doop".

Esta é a imagem de marca de Betty Boop que, se hoje pouco mais provoca do que um sorriso, quando chegou à BD, a 23 de Julho de 1934, em tiras diárias da autoria de Bud Couniham, possivelmente fez sonhar mais do que um leitor.
Esse foi, no entanto, o segundo nascimento da sensual pin-up dos anos 30, inspirada no visual da cantora Helen Kane, já que a sua estreia acontecera a 9 de Agosto de 1930, em versão animada, num filme intitulado "Dizzy Dishes", da autoria de Grim Natwick e Max Fleisher.
O que poucos sabem é que então era uma cadela (literalmente!), fazendo parceria com o cãozinho Bimbo, numa tentativa de emular o sucesso crescente e imparável do par Mickey e Minnie Mouse. Como a ideia não teve sucesso, a evolução para figura humana surgiu como alternativa, em filmes ambientados no meio cinematográfico, bem explícitos quanto ao tema sexo, com a cantora e actriz a usar vestidos bem curtos e, por vezes, até transparentes.
Depois de uma parceria com Popeye, em 1933, a entrada em vigor do Hays Act, uma lei censória que veio regulamentar e "limpar" o cinema e os quadradinhos, obrigou a despojar Betty Boop do carácter provocador e provocante que a distinguia, tornando-lhe a vida breve nos quadradinhos, marcados por um humor ingénuo. A tira diária terminou logo em Março de 1935 e as pranchas dominicais, iniciadas em Dezembro de 1934, resistiram apenas até Novembro de 1937.
Nos anos 80, ensaiou novo regresso à BD, em parceria com o (em tempos também) popular Felix the Cat, mas a experiência terminaria ao fim de quatro anos.
Hoje, quando muitos ignoram as suas origens animadas e desenhadas, esta septuagenária não é mais do que uma popular referência retro, usada e abusada em merchandising.

(Versão actualizada do texto publicado no Jornal de Notícias de 23 de Julho de 2009)

 

 

06/09/2012

El Eternauta

 
 
 
 
 
Edicion Especial 50º Aniversario
H. G. Oesterheld (argumento)
F. Solano Lopez (desenho)
Norma Editorial (Espanha, Dezembro de 2010)
280 x 220 mm, 368 p., pb, cartonado
22.00 €
 
 
 
1.       Na semana em que se completam 55 anos sobre a data original de publicação da sua primeira página, escrevo finalmente sobre uma leitura há muito prometida na caixa na coluna aqui ao lado (e há muito feita).
2.      Refiro-me a “El Eternauta”, um relato de ficção-científica, que a Argentina descobriu a partir de 4 de Setembro de 1957, nas páginas da revista “Hora Cero Semanal” (onde a pôde acompanhar ao ritmo de 7 pranchas semanais durante quase 2 anos) e também um dos grandes clássicos da BD mundial, cuja imagem de marca é um homem de olhar duro, vestido com um escafandro artesanal.
3.      Nesse início, Salvo, um escritor de BD (o próprio Oesterheld?) via materializar-se do nada, à sua frente, um homem que se anunciava como o Eternauta, um viajante do tempo, e que se propunha contar-lhe a sua história.
4.      É esse relato que nós, leitores, vamos ler a partir daí
5.      Um relato que nos leva a Buenos Aires, na Argentina – então num futuro muito próximo – numa noite fria na cidade onde raramente neva, em que uma estranha neve fosforescente cobriu toda a cidade. E se revelou mortal para qualquer ser vivo, aniquilando em pouco tempo a maioria da população da cidade.
6.      Os raros sobreviventes, foram a pouco e pouco tentando organizar-se, acabando por descobrir que o estranho fenómeno tinha ocorrido em todas as grandes metrópoles, tinha origem extraterrestre e antecipava uma invasão em massa ao nosso planeta.
7.      É verdade que lido hoje em dia, 55 anos depois da sua criação, El Eternauta não tem a mesma força e o mesmo impacto de então, essencialmente devido a dois factores fundamentais.
8.     O primeiro, o facto de muitos leitores da “Hora Cero” serem de Buenos Aires, centro de toda a acção, podendo identificar – e identificar-se com – a cidade, as suas artérias, as suas casas (os seus concidadãos ameaçados?) numa proximidade marcante e até incómoda, num tempo em que o mundo era bem mais pequeno (e mais distante), num tempo em que o mundo de cada um era o seu bairro, a sua cidade ou pouco mais,
9.      A segunda, advém do facto de o tempo ter deixado algumas marcas em El Eternauta, por isso, alguns dos conceitos utilizados, especialmente no que aos invasores e às suas armas diz respeito, são hoje, no mínimo ingénuos.
10.  Isso não invalida a força que o relato mantém, a capacidade de prender e de atemorizar o leitor que revela a escrita elegante e cativante de Oesterheld, apesar de algum classicismo, desde logo pela forma difusa e pouco clara como os invasores são mostrados ao longo das primeiras dezenas de pranchas, o que aumenta o medo e o terror que inspiram, redobrado pelo livre curso que é dado à imaginação do leitor para os valorizar.
11.   Depois, pela constante alternância entre os momentos de euforia ou de desilusão vividos pelos protagonistas, que tão depressa passam da quase certeza da vitória para a sensação da inevitabilidade da derrota.
12.  Igualmente pela tensão constante que perpassa todo o livro, resultante da situação desesperada e da ignorância quase total em que vivem os sobreviventes, entre os quais os choques, as discordâncias e os confrontos se multiplicam.
13.  Ainda pela mensagem política que Oesterheld transmite, umas vezes claramente, outras com mais subtileza.
14.  E, finalmente pelo final, soberbo, em aberto, que reequaciona toda a narrativa e mergulha o leitor numa dupla dúvida…
 
Nota final: Se a minha leitura foi feita a partir da edição espanhola da Norma Editorial, no Brasil a Martins Fontes disponibiliza “OEternauta” desde o início do ano, numa edição que me parece similar a esta, apenas com a troca do prefácio de Carlos Trillo pelo de Paulo Ramos, do Blog dos Quadrinhos.
 

05/09/2012

Turma da Mônica Jovem #44

 
 
 
 
 
 
 
 
Tesouro Verde (2ª parte)
Petra Leão (argumento)
Estúdios Maurício de Sousa (desenho)
Panini Comics (Brasil, Fevereiro e Março de 2012)
160 x 210 mm, 128 p., preto e branco, brochada, mensal
R$ 7,50 / 3,00 €
 
Resumo
Actualmente nas bancasportuguesas, esta revista conclui o arco iniciado na “Turma da Mônica Jovem” #43, na qual as versões adolescentes de Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e Franjinha, vivem uma aventura em conjunto com Kimba, o leão branco, AstroBoy, Safiri (de A Princesa e o Cavaleiro) e outros heróis criados pelo japonês Osamu Tezuka.
A aventura, que concretiza um projecto esboçado pelos dois autores nos anos 1980, leva as personagens dos dois até à Amazônia, para defrontarem traficantes de madeira.
 
Desenvolvimento
Qualquer crossover – como o actual – para funcionar tem que obedecer a um pressuposto simples: as personagens envolvidas têm que manter as suas identidades próprias e fazer sentido na relação umas com as outras e no enredo que as une.
E isso, sem qualquer dúvida é conseguido em “Tesouro Verde”, onde todos agem como o leitor esperaria, embora, naturalmente, o registo – na construção, no tipo de humor - esteja mais próximo do habitual em Maurício de Sousa – falta a crueldade e realismo habituais nos argumentos de Tezuka – o que não surpreende pois esta é uma produção original dos seus estúdios.
Por isso, também, se todos interagem naturalmente – de alguma forma foram agrupadas de acordo com as suas ambições e desejos – grande parte da narrativa baseia-se nos choques e/ou ligações que conseguem estabelecer. E se isto é positivo pois ajuda o leitor a integrar-se num modelo que, sem dúvida, foge ao habitual, acaba por limitar – e nalguns casos secundarizar – aquela que deveria ser a base narrativa.
Porque convém não esquecer, no âmago deste projecto está uma mensagem ecológica – actual e premente – centrada na Amazónia mas extensível a outros locais do planeta – ou mesmo a todo o planeta – que salienta a necessidade de uma utilização sustentada dos recursos naturais.
Apesar desse propósito óbvio, a história, de ritmo sustentado para que todos os elementos possam ser considerados e absorvidos, desenvolve-se em cenas paralelas que convergem para o inevitável confronto final, mas não sem algumas surpresas e inflexões no argumento.
Mesmo com os aspectos menos conseguidos apontados, no geral o conjunto funciona bem e poderá ter sido, quem sabe, o abrir de uma porta que no futuro proporcione outros cruzamentos entre a Turma da Mônica Jovem e heróis de outros universos…
 

03/09/2012

X Troféus Central Comics


Melhor Publicação Nacional (TCCN)
 

Melhor Publicação Estrangeira (TCCE)
Blankets (Devir Edições)

 
Melhor Publicação Clássica (TCCC)

 
Melhor Publicação Humor (TCCH)
Há Piores! (Polvo)
 

Melhor Publicação Técnica (TCCT)
BDjornal #28 (Pedranocharco)
 

Melhor Publicação Independente (TCCI)
Venham +5 vol.8 (Bedeteca de Beja)


Melhor Obra Curta (TCCO)
 

Melhor Argumento (TCCArg)
 

Melhor Arte (TCCArt)

02/09/2012

Melhores Leituras

Agosto 2012


Hän Solo (Polvo)
Rui Lacas

 
Heróis Marvel #2 - X-Men: Filhos do Átomo (Levoir/Público)
Joe Casey, Stan Lee, Steve Rude, Esad Ribic e Jack Kirby
 

Giancarlo Berardi, Maurizio Mantero e Laura Zuccheri

 
La peau de l'ours (Dargaud)
Oriol e Zidrou
 

Daredevil - La sonrisa del diablo (Panini Comics Espanha)
Mark Waid, Paolo Rivera, Marcos Martín, Joe Rivera, Muntsa Vicente e Jaime Rodríguez

 
Lance #4 (de 4) (Libri Impressi)
Warren Tufts
 

Murena #6/#7 – O Sangue das Feras/Vida dos Fogos (ASA)
Dufaux e Delaby
 

Claudio Nizzi e Claudio Villa
 

Thor - Dioses Errantes (Panini Comics Espanha)
J. Michael Straczynski , Olivier Coipel, Mark Morales e Laura Martin
 

Jodorowsky e Boucq
 

Crematorium (KSTR/Casterman)
Borg e Gomont
 

01/09/2012

Portusaki

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Portusaki 02, um evento de entretenimento que      celebra a     animação, jogos, banda desenhada, música, cinema e TV, com      especial      interesse no universo da Fantasia, Terror e Ficção-Cientifica, está de regresso ao Porto este fim-de-semana, após a primeira edição que teve lugar em Fevereiro último.
Hoje e amanhã, entre as 11 horas e as 20 horas, o Hard Club, no Mercado Ferreira Borges, acolhe uma programação vasta e diversificada que inclui torneios de videojogos e de mikado, projecção de filmes, oficinas de origami, música ou karaoke.
Neste sábado o destaque vai para o Concurso de Cosplay, a partir das 18 horas, no qual os participantes se disfarçam e actuam como as suas personagens de BD ou de desenhos animados favoritos, e cujo vencedor ficará apurado para participar na final do concurso Eurocosplay, que contará com representantes de 23 países e terá lugar em Outubro, em Londres.
Amanhã, domingo, o ponto alto será a cerimónia de entrega dos X Troféus Central Comics, que distinguem os principais autores e publicações de BD editados em Portugal em 2011.
O Portusaki, que conta com uma zona de restauração que privilegia a cozinha japonesa e uma zona comercial com várias editoras e distribuidoras de BD e lojas de artigos orientais, tem anunciada a presença de diversos autores de quadradinhos como o brasileiro Sama e os portugueses Fernando Relvas, Pepedelrey, Derradé, Jorge Coelho, Filipe Melo, Fil, Carla Rodrigues e Pedro Oliveira.
Para informação mais detalhada consultar a página oficial do Portusaki.
 
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias)

31/08/2012

Bouncer #6/#7

A Viúva Negra/Coração Dividido
 
 
 
 
 
Jodorowsky (argumento)
Boucq (desenho)
ASA (Portugal, Julho de 2012)
240 x 320 mm, 118 p., cor, cartonado
23,20 €
 
 
 
 
1.       Sexo, religião, misticismo, violência, relacionamentos ambíguos, superação, são algumas características sempre presentes nas obras assinadas pelo chileno Alejandro Jodorowsky. Tenham elas fundo histórico ou sejam ficção pura, mergulhem no passado, decorram num presente mais ou menos próximo ou antecipem futuros tão maravilhosos quanto utópicos…
2.      E embora isso possa dar a sensação que o argumentista reconta sempre a mesma história – e é evidente que o faz muitas vezes - conforme a dose de cada um daqueles elementos, o cenário temático escolhido e a inspiração do momento, proporciona aos leitores obras (que pouco mais são do que) medianas ou títulos marcantes e incontornáveis.
3.      Bouncer, deve classificar-se nestas últimas, pois é um western exemplar sob vários aspectos: duro, violento, amoral, profundamente realista apesar do traço semi-caricatural que lhe confere a imagem, sem verdadeiros heróis, com repugnantes facínoras…
4.      E porque conjuga tudo isto com os temas habituais do género – pistoleiros, perseguições, tiroteios, militares corruptos, indígenas oprimidos, cidades sem lei, bares, cadeias, extensas pradarias, montanhas desoladoras e agrestes… - e o toque de originalidade que Jodorowsky lhe conferiu.
5.      A surpreendente associação com Boucq, então conotado com banda desenhada humorística e caricatural, se inicialmente surpreendeu, de tomo para tomo revela-se cada vez mais acertada, com o desenhador a afastar-se suficientemente do tom caricatural sem perder o seu registo próprio e a demonstrar o seu talento num retrato realista e credível dos locais onde a acção tem lugar, sejam eles largos espaços selvagens (pradarias e montanhas que imperam neste relato) ou confinados interiores de bares, prostíbulos, grutas ou tendas índias.
6.      Neste tomo duplo, auto-conclusivo - embora possa ajudar (a compreender) conhecer o passado do protagonista - Bouncer vê-se a braços (passe a expressão, porque aplicada a um maneta…) com um assassino louco (devido ao gume de machado que tem enterrado na cabeça) e a sua prole sanguinária, um destacamento militar composto por mercenários apostados em exterminar os índios da região, uma viúva rica que não olha a meios para possuir todos os terrenos em torno de Barrio City e a nova professora, acabada de chegar à cidade. Com a agravante de desejar as duas últimas e de todos eles se cruzarem a diversos níveis e em situações díspares.
7.      Se é verdade que no final tudo, de alguma forma, se resolve e Bouncer vê todos os seus problemas resolvidos, o caminho para lá chegar não será isento de perigos, confrontos e de um longo rasto de mortos, paredes meias com muitas surpresas, a principal das quais (que por razões óbvias não vou referir) contribui para conferir a este relato o tal toque de originalidade que o distingue de outros westerns similares mas banais.
 
8.     A terminar.
9.      A edição deste álbum duplo – como aconteceu recentemente com tomos de Murena e de O Gato do Rabino – parece querer mostrar que é possível editar álbuns “integrais” em Portugal.
10.  Se a iniciativa é louvável, pela qualidade da obra em si e da edição, por compilar uma história completa e por permitir fechar uma colecção até agora em curso, e se pouco há a apontar-lhe – a ausência da capa de um dos tomos é um desses aspectos (menores) – fica a dúvida se o preço final justifica a opção. Porque, apesar de inferior ao de dois tomos separados, continua a ser elevado para o nosso nível de vida, mais a mais no período de crise que se atravessa.
11.   Não me parecendo que esta seja uma forma de teste ao nosso reduzido mercado, terá a editora razões que eu desconheço? Espero que sim e que esta venha a ser uma aposta ganha.
 
 

30/08/2012

O Hobbit

 
 
 
 
 
 
 
  
Baseado na obra homónima de J. R. R. Tolkien
Charles Dixon e Sean Deming (argumento)
David Wenzel (desenho)
Devir (Portugal, Agosto de 2012)
195 x 285 mm, 140 p., cor, cartonado
24,99 €
 
 
A propósito da recente reedição por parte da Devir da adaptação em banda desenhada de “O Hobbit”, recordo o texto que escrevi no Jornal de Notícias, a propósito da primeira edição portuguesa desta obra, em 2002, intitulado “Adaptações(1)”. 
 
Uma adaptação, para ser conseguida, tem, a meu ver, que cumprir dois requisitos: ser fiel ao original e funcionar de forma autónoma, consistente e credível na nova forma narrativa à qual foi adaptada. Isto porque cada género narrativo – literatura, banda desenhada, cinema de animação, cinema – tem características e regras próprias que importa seguir.
Na maior parte dos casos, as adaptações originam obras inferiores às originais, podendo surgir excepções quando a adaptação, mais do que seguir ao detalhe o seu modelo, se mantém fiel ao seu espírito, mas recria-o totalmente de acordo com as características inerentes à nova forma narrativa adoptada. Foi isto que foi ignorado durante muitos anos, nas transposições da literatura para a banda desenhada (as mais comuns), resultando daí romances (mal) ilustrados, nalguns casos com a transposição integral do texto original sob as ilustrações, numa prática que demonstra claramente ignorância acerca da forma narrativa escolhida.
 
Toda esta introdução vem a propósito do recente lançamento de “Bilbo, o Hobbit” (Devir) que se baseia na obra homónima de J. R. R. Tolkien, que serve de prelúdio à trilogia “O senhor dos anéis”.
Contando mais de 60 anos, mantém uma frescura invejável, graças à coerência e à riqueza do mundo imaginado por Tolkien, e conta como o pequeno Bilbo é convencido pelo feiticeiro Gandalf a acompanhar um bando de anões na busca de um mítico tesouro, o que o levará a ter de enfrentar um terrível dragão. E mais do que um tesouro, o hobbit que protagoniza a história acaba por se descobrir a si mesmo, após uma busca iniciática em que descobre facetas e capacidades que ignorava possuir.
A adaptação, assinada por Charles Dixon, atinge bons momentos quando se consegue libertar do texto original e funcionar como uma verdadeira banda desenhada. Quando isso não acontece, se a trama ganha em densidade, perde em ritmo narrativo e afasta-se das características próprias de uma BD.
Os desenhos, num estilo realista que combina técnicas clássicas de desenho e aguarela, são de David Wenzel e devem ter servido de referência a Peter Jackson para a recente adaptação cinematográfica de “O senhor dos anéis”, dada a semelhança entre os personagens comuns às duas obras.
 
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 12 de Junho de 2002)
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