Panini Brasil (Março de 2010)
170 x 260 mm, 10 4p., cor
mensal, comic-book
O grande salto pra dentro da escuridão
(Nightwing # 151)
Peter J. Tomasi (argumento)
Dough Manke e Shawn Moll (desenho)
Christian Alamy e Rodney Ramos (arte-final)
Hi-Fi (cor)
Inimigo especial
(Nightwing # 152)
Peter J. Tomasi (argumento)
Don Kramer (desenhos)
Jay Leisten (arte-final)
Hi-Fi (cores)
Ameaça final
(Catwoman # 80)
Will Pfeifer (argumento)
David López (desenho)
Álvaro López (arte-final)
Jeremy Cox (cor)
O que aconteceu com o Cavaleiro das Trevas?
(Batman # 686)
Neil Gaiman (argumento)
Andy Kubert (desenho)
Scott Willians (arte-final)
Alex Sinclair (cor)
1. Em revistas com várias histórias, haverá sempre melhores e piores e, para muitos, isso justificará sempre a não compra.
2. Na actualidade, com a certeza de que as melhores histórias acabarão por ser publicadas em formato integral, este é mais um argumento para não as comprar.
3. A facilidade de acesso ao material original, conjugado com o atraso (cerca de um ano) com que ele é publicado no Brasil, havendo a acrescentar-lhe ainda os 6 meses que demora a chegar a Portugal, serve de argumento final para alguns renitentes.
4. Posto isto, cabe perguntar: há então razões para comprar comics em brasileiro no nosso país? Pessoalmente, acredito que sim e, mesmo não sendo este o meu género de eleição (ou talvez por isso, dirão alguns…) confesso que sou cliente mensal de algumas revistas da Panini.
5. No caso concreto, a chamada de atenção deve-se a uma das quatro histórias publicadas neste Batman #88, actualmente nas nossas bancas.
6. Das restantes histórias, a título de parêntesis, chamo a atenção para o final da longa saga da Mulher-Gato contra os vilões Múltiplo e Gatuno, uma história de vingança bem escrita, com suspense e acção e servida pelo belo traço de David e Álvaro Lopez. As outras duas, protagonizadas pelo Asa Noturna, não ultrapassam a mediania, servindo de epílogo à narrativa que conduziu à morte do Batman.
7. E aqui, dentro deste parêntesis, cabe outro: a morte nos universos DC ou Mavel, vale o que vale. Quase nada (narrativamente falando) ou muito (se olhado de um ponto de vista comercial e mediático). Esta, embora de pouca duração, como já se sabe, não foi excepção, havendo – de certeza – outros candidatos a defuntos já a caminho.
8. Mesmo assim, o falecimento do Cavaleiro das Trevas serviu – pelo menos…! – para que o genial Neil Gaiman escrevesse uma bela e nostálgica banda desenhada (que logo no título evoca em simultâneo uma histórica mítica escrita para Alan Moore para o Super-Homem e (na versão brasileira...) a designação que Miller trouxe para o Homem-Morcego na celebrada mini-série “Batman, O Cavaleiro das Trevas”), em que o seu funeral é pretexto para reunir uma série de amigos, conhecidos, admiradores e adversários, todos unidos no lamento pelo sucedido. Uns, pela perda que sentem, outros por não terem sido eles a causá-la.
9. E é durante esse “evento social” que vários se levantam para contarem como o Batman realmente morreu… por sua causa.
10. A primeira, é Selina Kyle, a Mulher- Gato, com uma história de paixão recíproca mas não correspondida na sua dimensão total.
11. Depois, menos credível mas bem mais conseguida e surpreen-dente, o mordomo Alfred Penny-worth, revelando que toda (?) a existência do alter-ego de Bruce Wayne não passou de um enorme embuste.
12. Em ambos os casos, em histórias breves mas consistentes integradas num todo mais longo, Gaiman mostra a sua mestria na construção de uma narrativa invulgar – e, de forma fria, até pouco credível – que passo a passo surpreende e prende o leitor deixando-o suspenso da sua conclusão – no próximo mês, em Batman #89, para quem compra em Portugal.
13. Especialmente, porque o Batman que vai sendo mostrado sucessivamente, tem muito mais de humano e muito menos de mito e do ser (quase) demoníaco que aterrorizou criminosos ao longo de décadas.
14. O que também serve de contraponto a uma certa ambiência mística que perpassa pela história, pois ao longo das suas páginas, o que vai sucedendo é comentado em off pelo próprio Batman – surpreendido por aquilo a que assiste – e por uma mulher misteriosa cuja identidade não foi para já revelada.
15. O tom adoptado, se bem que perfeitamente ajustado a uma narrativa de super-heróis, está entre a homenagem e a nostalgia, com alguns apontamentos de humor que aliviam a tensão neste passeio por alguns dos momentos mais marcantes dos 75 anos que o universo DC já conta.
16. Ao lado de Gaiman, está outro “monstro” dos comics, Andy Kubert, mais uma vez com um trabalho notável, ajustando o traço a cada momento narrativo, que corresponde a momentos específicos e marcantes das várias Eras do Universo DC, quer na multiplicidade de trajes utilizados pelos intervenientes, quer nos estilos gráficos adoptados, quer na forma como vai retratando Gotham City, sem que o resultado final perca coerência ou homogeneidade.
17. Tudo isto obriga a várias releituras para se poder desfrutar das diversas referências (a momentos e a heróis, mas também a criadores e artistas) espalhadas por Gaiman e Kubert ao longo de um relato que – mesmo sem conhecer a sua conclusão – recomendo vivamente.
18. Referências finais para a bem conseguida ilustração da contracapa e para a inclusão de alguns esboços preparatórios de Kubert publicados no final da revista, algo raro a este nível.
17/11/2010
16/11/2010
Falling Skies
Paul Tobin (argumento)
Juan Ferreyra (desenho)
Dark Horse Comics
“Falling Skies” é o título da série televisiva de ficção-científica produzida por Steven Spielberg que deverá estrear nos Estados Unidos em Julho de 2011.
Na base da história, escrita por Robert Rodat (“O Resgate do Soldado Ryan”), está uma invasão de extraterrestres que dizimou a maior parte da população mundial, centrando-se o enredo na luta pela sobrevivência dos sobreviventes, à cabeça dos quais está Tom Mason (interpretado por Noah Wyle, o dr. Carter de Serviço de Urgência) ao lado da terapeuta Anne Glass (Moon Bloodgood).
Entretanto, antecipando a estreia, o canal TNT e a editora de banda desenhada Dark Horse Comics estrearam a semana passada um webcomic baseado na série televisiva, estando já disponíveis as quatro primeiras pranchas que culminam com o protagonista face a face com um extraterrestre. Esta é a primeira vez que o aspecto dos invasores alienígenas é desvendado, uma vez que até agora eles apenas eram mostrados de relance no vídeo com o making of da série. Com argumento de Paul Tobin e desenhada em estilo realista por Juan Ferreyra, o webcomic será actualizado quinzenalmente. No mesmo site é possível conhecer melhor todo o projecto e assistir a uma entrevista com os autores sobre o desenvolvimento da versão em BD da futura série televisiva.
(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 14 de Novembro de 2010)
Juan Ferreyra (desenho)
Dark Horse Comics
“Falling Skies” é o título da série televisiva de ficção-científica produzida por Steven Spielberg que deverá estrear nos Estados Unidos em Julho de 2011.
Na base da história, escrita por Robert Rodat (“O Resgate do Soldado Ryan”), está uma invasão de extraterrestres que dizimou a maior parte da população mundial, centrando-se o enredo na luta pela sobrevivência dos sobreviventes, à cabeça dos quais está Tom Mason (interpretado por Noah Wyle, o dr. Carter de Serviço de Urgência) ao lado da terapeuta Anne Glass (Moon Bloodgood).
Entretanto, antecipando a estreia, o canal TNT e a editora de banda desenhada Dark Horse Comics estrearam a semana passada um webcomic baseado na série televisiva, estando já disponíveis as quatro primeiras pranchas que culminam com o protagonista face a face com um extraterrestre. Esta é a primeira vez que o aspecto dos invasores alienígenas é desvendado, uma vez que até agora eles apenas eram mostrados de relance no vídeo com o making of da série. Com argumento de Paul Tobin e desenhada em estilo realista por Juan Ferreyra, o webcomic será actualizado quinzenalmente. No mesmo site é possível conhecer melhor todo o projecto e assistir a uma entrevista com os autores sobre o desenvolvimento da versão em BD da futura série televisiva.
(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 14 de Novembro de 2010)
Leituras relacionadas
Dark Horse Comics,
Falling Skies,
Ferreyra,
Spielberg,
Tobin
15/11/2010
Batman & The Spirit #1
Jeph Loeb (argumento)
Darwyn Cooke (desenho)
J. Bone (arte-final)
Dave Stewrat (cores)
Panini Brasil (Brasil, Fevereiro de 2008)
170 x 260 mm, 48 p., cor, comic-book
Resumo
Enquanto os comissários Gordon e Dolan vão a uma convenção para polícias, Batman e The Spirit têm que unir esforços para derrotar um plano urdido pelos mais notórios adversários dos dois combatentes do crime.
Desenvolvimento
(Também) por culpa da minha formação aos quadradinhos, feita especialmente no “Mundo de Aventuras” (no início, e depois continuada de forma diversificada por títulos como “(À Suivre)” ou “Cimoc”, entre vários outros), geralmente vejo os heróis como pertença dos seus criadores, ficando reticente quando outros autores os assumem. Sei que há (boas) excepções a esta regra, mas normalmente as “sequelas” deste tipo ficam aquém das expectativas. Digo eu. (Também) por isso, possivelmente, o género de super-heróis nunca esteve nas minhas preferências, embora confesse um fraquinho (controlado!) pelo Demolidor, Homem-Aranha ou Batman (possivelmente por serem dos super-heróis menos “super-heróicos”).
Ainda no âmbito daquele primeiro pressuposto, para mim, alguns heróis são praticamente intocáveis. O genial The Spirit, do genial Will Eisner, é um deles.
Confesso, por tudo o que atrás fica escrito, que a notícia (de há alguns anos) de um crossover entre ele e Batman me deixou mais recesoso que curioso, embora o bichinho lá estivesse.
E agora, anos passados sobre a edição, que mereceu tantas críticas positivas quanto negativas, muito insultuosas e do mais elogioso, reconheço que Jeph Loeb e Darwyn Cooke se saíram bem da empreitada.
Graficamente próximo do estilo de Spirit – o de Batman é indefinido, em função de cada autor que o assume –, uma espécie de linha clara estilizada, nostálgica q.b., de traço largo e com bom uso de sombras, a obra é chamativa – cabendo uma boa quota-parte ao excelente trabalho de cor de Dave Stewart -, merecendo destaque a forma como Cooke uniformizou o estilo dos dois protagonistas, conseguindo inserir credivelmente Batman no “universo gráfico” do Spirit. A par disto, a planificação clássica mas diversificada marca o ritmo da narrativa, proporcionando uma leitura dinâmica e fluida e revelando mesmo alguns momentos memoráveis como a (falsa) splash page que “apresenta” o Spirit (preparada ao longo de duas pranchas) ou as belas e sensuais heroínas e, principalmente, vilãs.
Em termos de argumento, no entanto, a história também brilha, seguindo de perto o clima misto de mistério e ironia tradicional em Eisner. E é aqui que a maior parte das opiniões divergem, com muitos a defender que, mais do que a bela homenagem - que é -, esta foi uma oportunidade perdida para de alguma forma (re)definir as personagens em função de um espaço comum. Pessoalmente, acho que este foi o caminho correcto, pois outra via corria o risco de os descaracterizar, em especial ao Spirit.
A história começa com um encontro entre os comissários de Gotham e Central City, Gordon e Dolan, que recordam e se dispõem a contar um (desconhecido porque omitido) encontro entre os dois heróis mascarados. Com um belo achado: Spirit achar que Batman não passa de uma lenda urbana, duvidando a té final (e depois dele) da sua verdadeira identidade! Os diálogos que suportam a história, são bem escritos e contidos e servem de suporte ao bom humor que perpassa pelo relato.
O segredo mantido pelos dois comissários revelar-se-á fruto também das culpas no cartório dos dois veteranos, pois então ambos foram vítimas dos encantos de duas sedutoras, belas mas pouco recomendáveis, as estonteantes P’Gell e Cat Woman (que também farão das suas junto de Batman e Spirit).
Aliados a elas, envolvidos num plano maior que pretende eliminar os dois combatentes do crime, surgirão outros vilões como Cossaco, Mister Carrion e o seu inseparável abutre Julia, Pinguim, Enigma, Joker ou Arlequina, que assim ampliam e dão mais sentido ao tom de homenagem inerente a esta banda desenhada.
A partida dos dois polícias para o Havai, local da convenção, obriga Batman e Spirit a seguir no seu encalço – perdendo aqui a narrativa pela retirada dos heróis do seu habitat natural, os mais negros e sombrios becos urbanos -, pois descobrem que ela afinal não passa de uma artimanha dos vilões para os atrair. Multiplicam-se então as surpresas, os encontros, os recontros e as cenas de acção, até ao esperado mas surpreendente desenlace final, bem conseguido e à altura do restante relato, que conta com uma breve aparição do Superman e do qual os “bons” sairão vencedores - mas também ninguém esperava o contrário…
Chegado aqui, resta uma pergunta, em jeito de colagem a um popular anúncio: conseguíamos passar sem esta história? Sim, sem dúvida, mas não era a mesma coisa: tínhamos perdido uma bela homenagem e uma BD divertida e bem feita!
Darwyn Cooke (desenho)
J. Bone (arte-final)
Dave Stewrat (cores)
Panini Brasil (Brasil, Fevereiro de 2008)
170 x 260 mm, 48 p., cor, comic-book
Resumo
Enquanto os comissários Gordon e Dolan vão a uma convenção para polícias, Batman e The Spirit têm que unir esforços para derrotar um plano urdido pelos mais notórios adversários dos dois combatentes do crime.
Desenvolvimento
(Também) por culpa da minha formação aos quadradinhos, feita especialmente no “Mundo de Aventuras” (no início, e depois continuada de forma diversificada por títulos como “(À Suivre)” ou “Cimoc”, entre vários outros), geralmente vejo os heróis como pertença dos seus criadores, ficando reticente quando outros autores os assumem. Sei que há (boas) excepções a esta regra, mas normalmente as “sequelas” deste tipo ficam aquém das expectativas. Digo eu. (Também) por isso, possivelmente, o género de super-heróis nunca esteve nas minhas preferências, embora confesse um fraquinho (controlado!) pelo Demolidor, Homem-Aranha ou Batman (possivelmente por serem dos super-heróis menos “super-heróicos”).
Ainda no âmbito daquele primeiro pressuposto, para mim, alguns heróis são praticamente intocáveis. O genial The Spirit, do genial Will Eisner, é um deles.
Confesso, por tudo o que atrás fica escrito, que a notícia (de há alguns anos) de um crossover entre ele e Batman me deixou mais recesoso que curioso, embora o bichinho lá estivesse.
E agora, anos passados sobre a edição, que mereceu tantas críticas positivas quanto negativas, muito insultuosas e do mais elogioso, reconheço que Jeph Loeb e Darwyn Cooke se saíram bem da empreitada.
Graficamente próximo do estilo de Spirit – o de Batman é indefinido, em função de cada autor que o assume –, uma espécie de linha clara estilizada, nostálgica q.b., de traço largo e com bom uso de sombras, a obra é chamativa – cabendo uma boa quota-parte ao excelente trabalho de cor de Dave Stewart -, merecendo destaque a forma como Cooke uniformizou o estilo dos dois protagonistas, conseguindo inserir credivelmente Batman no “universo gráfico” do Spirit. A par disto, a planificação clássica mas diversificada marca o ritmo da narrativa, proporcionando uma leitura dinâmica e fluida e revelando mesmo alguns momentos memoráveis como a (falsa) splash page que “apresenta” o Spirit (preparada ao longo de duas pranchas) ou as belas e sensuais heroínas e, principalmente, vilãs.
Em termos de argumento, no entanto, a história também brilha, seguindo de perto o clima misto de mistério e ironia tradicional em Eisner. E é aqui que a maior parte das opiniões divergem, com muitos a defender que, mais do que a bela homenagem - que é -, esta foi uma oportunidade perdida para de alguma forma (re)definir as personagens em função de um espaço comum. Pessoalmente, acho que este foi o caminho correcto, pois outra via corria o risco de os descaracterizar, em especial ao Spirit.
A história começa com um encontro entre os comissários de Gotham e Central City, Gordon e Dolan, que recordam e se dispõem a contar um (desconhecido porque omitido) encontro entre os dois heróis mascarados. Com um belo achado: Spirit achar que Batman não passa de uma lenda urbana, duvidando a té final (e depois dele) da sua verdadeira identidade! Os diálogos que suportam a história, são bem escritos e contidos e servem de suporte ao bom humor que perpassa pelo relato.
O segredo mantido pelos dois comissários revelar-se-á fruto também das culpas no cartório dos dois veteranos, pois então ambos foram vítimas dos encantos de duas sedutoras, belas mas pouco recomendáveis, as estonteantes P’Gell e Cat Woman (que também farão das suas junto de Batman e Spirit).
Aliados a elas, envolvidos num plano maior que pretende eliminar os dois combatentes do crime, surgirão outros vilões como Cossaco, Mister Carrion e o seu inseparável abutre Julia, Pinguim, Enigma, Joker ou Arlequina, que assim ampliam e dão mais sentido ao tom de homenagem inerente a esta banda desenhada.
A partida dos dois polícias para o Havai, local da convenção, obriga Batman e Spirit a seguir no seu encalço – perdendo aqui a narrativa pela retirada dos heróis do seu habitat natural, os mais negros e sombrios becos urbanos -, pois descobrem que ela afinal não passa de uma artimanha dos vilões para os atrair. Multiplicam-se então as surpresas, os encontros, os recontros e as cenas de acção, até ao esperado mas surpreendente desenlace final, bem conseguido e à altura do restante relato, que conta com uma breve aparição do Superman e do qual os “bons” sairão vencedores - mas também ninguém esperava o contrário…
Chegado aqui, resta uma pergunta, em jeito de colagem a um popular anúncio: conseguíamos passar sem esta história? Sim, sem dúvida, mas não era a mesma coisa: tínhamos perdido uma bela homenagem e uma BD divertida e bem feita!
14/11/2010
Stuart – A Rua e o Riso
João Paulo Cotrim
Assírio & Alvim e El Corte Inglés (Portugal, Junho de 2006)
232 x 295 mm, 272 p., pb/cor, cartonado
Há artistas – deixem-me chamá-los assim para poder abarcar todas as artes – que são intemporais.
Sobre os quais, por mais que se escreva, fale, exponha, fica sempre muito por escrever, falar, expor. Artistas, cuja(s) obra(s) falam por si, que dias, anos, séculos passados continuam actais e estimulantes.
Stuart Carvalhais é um deles. Quer seja encarado (admirado) como autor de banda desenhada, caricaturista, retratista, pintor, cartoonista, ilustrador…
Neste livro, João Paulo Cotrim apresenta-o, de forma breve, espalhando pistas, deixando sugestões, entreabrindo para a sua obra janelas diversas que cabe a nós explorar, seguir, escancarar, espreitando, saltando através delas para os desenhos, capas, páginas, pranchas que o artista nos deixou. Em livros, jornais e revistas. A preto e branco (muitas vezes) ou a cores. A pincel, caneta, carvão ou palito de fósforo(!). De Quim e Manecas às belas e sensuais mulheres, dos miseráveis da vida à vida dos miseráveis, dele próprio e doutras personalidades de então à Morte, ceifeira que todos ceifou.
Acreditem que vale a pena. Hoje como quando as produziu. Amanhã como em qualquer outra data no futuro.
Para ler e reler. Para ver e rever.
Assírio & Alvim e El Corte Inglés (Portugal, Junho de 2006)
232 x 295 mm, 272 p., pb/cor, cartonado
Há artistas – deixem-me chamá-los assim para poder abarcar todas as artes – que são intemporais.
Sobre os quais, por mais que se escreva, fale, exponha, fica sempre muito por escrever, falar, expor. Artistas, cuja(s) obra(s) falam por si, que dias, anos, séculos passados continuam actais e estimulantes.
Stuart Carvalhais é um deles. Quer seja encarado (admirado) como autor de banda desenhada, caricaturista, retratista, pintor, cartoonista, ilustrador…
Neste livro, João Paulo Cotrim apresenta-o, de forma breve, espalhando pistas, deixando sugestões, entreabrindo para a sua obra janelas diversas que cabe a nós explorar, seguir, escancarar, espreitando, saltando através delas para os desenhos, capas, páginas, pranchas que o artista nos deixou. Em livros, jornais e revistas. A preto e branco (muitas vezes) ou a cores. A pincel, caneta, carvão ou palito de fósforo(!). De Quim e Manecas às belas e sensuais mulheres, dos miseráveis da vida à vida dos miseráveis, dele próprio e doutras personalidades de então à Morte, ceifeira que todos ceifou.
Acreditem que vale a pena. Hoje como quando as produziu. Amanhã como em qualquer outra data no futuro.
Para ler e reler. Para ver e rever.
Leituras relacionadas
Assírio e Alvim,
Cotrim,
El Corte Inglés,
Stuart Carvalhais
13/11/2010
O Sonho do João: A Visita de D. Manuel I a Castro Verde - Lançamento
Miguel Rego e Joaquim Rosa (argumento)
Joaquim Rosa, Sara Paulino e Rafael Afonso (desenho e cor)
Câmara Municipal de Castro Verde (Portugal, Outubro de 2010)
230 x 315 mm, 28 p., cor, agrafado
Notícia
O livro de banda desenhada “O Sonho do João, editado pela Câmara Municipal de Castro Verde, no âmbito das Comemorações dos 500 anos da Doação dos Forais a Castro Verde e Casével pelo rei D. Manuel I, vai ser apresentado hoje no Centro de Convívio de S. Marcos da Ataboeira. No mesmo local está patente uma exposição relacionada com esta obra.
Este é um projecto elaborado em colaboração com a Escola Secundária local, tendo argumento de Miguel Rego e ilustrações de Joaquim Rosa, Sara Paulino e Rafael Afonso, respectivamente docente e alunos daquele estabelecimento de ensino.
Resumo
A história, ficcionada, conta as aventuras do João e dos seus amigos Salomão e Ahmed, aquando dos preparativos da festa de entrega dos forais de Castro Verde e Casével, documentos que são roubados por um grupo de malfeitores que eles têm que descobrir para os recuperar.
Desenvolvimento
Mais um projecto apoiado por uma autarquia, este O Sonho do João, apesar de algumas limitações devidas ao “amadorismo” dos autores – e não interpretem mal o termo, que apenas indica falta de prática na prática (!) da banda desenhada – consegue surpreender.
Por um lado, porque está bem escrito, sem o habitual (noutros casos similares) recurso excessivo a textos de apoio, com a narrativa, embora simples e linear, a desenvolver-se de forma cadenciada e sem quebras.
Graficamente, é verdade que o traço utilizado, embora sendo equilibrado quanto à representação da figura humana e com algum dinamismo, revela várias insuficiências e alguma inconstância qualitativa – perfeitamente aceitáveis e compreensíveis face à tal falta de experiência. Mas que de certa forma é compensada por um agradável trabalho de colorização e de aplicação de sombras e pela planificação diversificada, o que também é devido à utilização de pontos de vista diversificados, alguns dos quais bem conseguidos, como é o caso do picado aqui reproduzido.
Joaquim Rosa, Sara Paulino e Rafael Afonso (desenho e cor)
Câmara Municipal de Castro Verde (Portugal, Outubro de 2010)
230 x 315 mm, 28 p., cor, agrafado
Notícia
O livro de banda desenhada “O Sonho do João, editado pela Câmara Municipal de Castro Verde, no âmbito das Comemorações dos 500 anos da Doação dos Forais a Castro Verde e Casével pelo rei D. Manuel I, vai ser apresentado hoje no Centro de Convívio de S. Marcos da Ataboeira. No mesmo local está patente uma exposição relacionada com esta obra.
Este é um projecto elaborado em colaboração com a Escola Secundária local, tendo argumento de Miguel Rego e ilustrações de Joaquim Rosa, Sara Paulino e Rafael Afonso, respectivamente docente e alunos daquele estabelecimento de ensino.
Resumo
A história, ficcionada, conta as aventuras do João e dos seus amigos Salomão e Ahmed, aquando dos preparativos da festa de entrega dos forais de Castro Verde e Casével, documentos que são roubados por um grupo de malfeitores que eles têm que descobrir para os recuperar.
Desenvolvimento
Mais um projecto apoiado por uma autarquia, este O Sonho do João, apesar de algumas limitações devidas ao “amadorismo” dos autores – e não interpretem mal o termo, que apenas indica falta de prática na prática (!) da banda desenhada – consegue surpreender.
Por um lado, porque está bem escrito, sem o habitual (noutros casos similares) recurso excessivo a textos de apoio, com a narrativa, embora simples e linear, a desenvolver-se de forma cadenciada e sem quebras.
Graficamente, é verdade que o traço utilizado, embora sendo equilibrado quanto à representação da figura humana e com algum dinamismo, revela várias insuficiências e alguma inconstância qualitativa – perfeitamente aceitáveis e compreensíveis face à tal falta de experiência. Mas que de certa forma é compensada por um agradável trabalho de colorização e de aplicação de sombras e pela planificação diversificada, o que também é devido à utilização de pontos de vista diversificados, alguns dos quais bem conseguidos, como é o caso do picado aqui reproduzido.
Leituras relacionadas
Castro Verde,
Fora das Livrarias,
Joaquim Rosa,
Miguel Rego,
Rafael Afonso,
Sara Paulino
12/11/2010
Eternus 9 – A Cidade dos Espelhos – Lançamento e venda de originais
Amanhã, sábado, a partir das 15 horas, tem lugar na livraria Artes & Letras, no Largo Trindade Coelho, 3, ao Chiado, em Lisboa, o lançamento do álbum Eternus 9 – A Cidade dos Espelhos (Gradiva), com a presença do autor Victor Mesquita.
Na ocasião, para além da apresentação da obra e de uma sessão de autógrafos, haverá também oportunidade para adquirir os originais do álbum, que têm “preços acessíveis a todas as bolsas e oferecem um leque que vai desde os 40 aos 400 Euros, com algumas excepções de valor mais elevado. É imensa a variedade, uma vez que as páginas na sua maioria foram executadas em desenhos separados. Como muitos deles estão parcialmente finalizados, dado que lhes falta o trabalho de computador, não deixa de ser curioso para o leitor/comprador compará-los à finalização patente no álbum impresso”, explicou o autor.
No final de 2008, Victor Mesquita anunciava que em “A Cidade dos Espelhos, um portal caleidoscópico atravessará um mundo cujo coração nuclear será Lisboa, sempre Lisboa, no caso de Eternus Olissipólis. Uma Lisboa ainda reconhecível depois da Guerra Nuclear que avassaladoramente transfigurou a face do planeta. A placa tectónica deslocada por efeito de subdecução ao longo do rio Tejo, fragmentaria a Lisboa de hoje até quase não se poder reconhecê-la. Mas estão lá as referências que a distinguem, o espírito de lugar que a possui”. E acrescen-tava: “Esta era uma conti-nuação do Eternus prevista desde que ele nasceu. Sempre vi o primeiro álbum como o ovo a partir do qual nasceria uma sequela de nove títulos, os quais se encontram já traçados em termos de título e contexto. Não previa era que este segundo evoluísse como evoluiu, a história, que me surpreende a cada passo. Ela já está concebida mas está sempre a mexer. Tornou-se um organismo com vida própria. Eu diria que seria a matéria do contexto, as premissas implícitas no ovo, que me conduziram ao longo dos anos para o trabalho actual. Chego a pensar que, de certo modo, esta espera tinha de ser como foi, longa e dolorosa, com dificuldades e súbitas ausências. Até a esperança ter desaparecido. Temos de acreditar que o Destino no fundo somos nós que o fazemos, para o bem e para o mal, e para isso é necessário insistir, resistir, escalar. Deixar de ter esperança, como dizia Alberto Camus. Não podemos estar dependentes de agentes exteriores que nos ofereçam as coisas de bandeja”.
E agora, dois anos passados, Victor Mesquita afirma não estar ainda “suficientemente distanciado para poder falar sobre o álbum” finalizado. Além disso, também não quer “influenciar os leitores, prefiro antes, nesta fase de renascimento e regresso ao mercado, que sejam eles a dizer o que pensam. Dentro em breve poderão manifestar-se através do correio electrónico mencionado na contra-capa do álbum (super9galaxia@gmail.com) e também consultar o site referido (www.victormesquita.com).
De qualquer forma, avança que “ao longo da construção de A cidade (a sua parteno-génese, prefiro antes dizer), se foi impondo a resultante que aí temos. Previa-se que o álbum não ultrapassasse o número de páginas acordado em contrato, 58, e como vemos atingiu as 97 por imposição do seu próprio renascimento. Com o acordo da editora, claro está. Penso que de algum modo a coisa responde por si”.
Sobre “Eternus 9 – Cidadela 6”, anunciado na contracapa deste volume, o desenhador adianta que “enquanto os dois primeiros volumes respiram de uma certa serenidade contextual, dado tratarem ainda aspectos seminais, na Cidadela 6 encontramos, pelo que me segredou Vick Meskal, um universo de grande violência e denúncia dos aspectos mais crus que se vivem nas sociedades de hoje. A Cidadela 6 ajuda a definir o que leva o homem a tomar posições extremas entre si, as monstruosidades que secretamente o poder esconde, o que produz tanto ódio e afasta o ser da unidade original. A Cidadela 6 fecha o primeiro ciclo de Eternus 9 de uma forma surpreendente. Onde se constata que até os santos são humanos e como tal muitas vezes saem dos limites da santidade. Será um álbum muito agitado e do cariz filosófico do primeiro. Com uma nova linguagem em termos estéticos. Uma bomba, disse-me Vick Meskal ao ouvido. Talvez o fim da própria série. A sua ren9vação dependerá dos leitores. Eternus é seu, pai, mãe, irmão, amigo, parteira. Sem o leitor Eternus não existia. Se o seu amor não for correspondido pela família de leitores, afastar-se-á definitivamente para longe. Talvez dessa vez se perca para sempre no vazio do Universo”.
E quando o poderemos ler? “Depende da editora. Até agora ainda não assinámos contrato. Não quero criar falsas expectativas nos leitores. Habituei-me a saber esperar. Trinta anos dão algum calo, não é? Se lerem Lao Tsé compreenderão por que o digo. Mas penso que tudo irá correr bem. Não vejo razões para contrariar a ideia de que a “A Cidadela 6” não esteja presente pelo menos na Feira do Livro de 2012, dado que começa a ser tarde para acreditar no seu lançamento pelo Natal de 2011”.
Na ocasião, para além da apresentação da obra e de uma sessão de autógrafos, haverá também oportunidade para adquirir os originais do álbum, que têm “preços acessíveis a todas as bolsas e oferecem um leque que vai desde os 40 aos 400 Euros, com algumas excepções de valor mais elevado. É imensa a variedade, uma vez que as páginas na sua maioria foram executadas em desenhos separados. Como muitos deles estão parcialmente finalizados, dado que lhes falta o trabalho de computador, não deixa de ser curioso para o leitor/comprador compará-los à finalização patente no álbum impresso”, explicou o autor.
No final de 2008, Victor Mesquita anunciava que em “A Cidade dos Espelhos, um portal caleidoscópico atravessará um mundo cujo coração nuclear será Lisboa, sempre Lisboa, no caso de Eternus Olissipólis. Uma Lisboa ainda reconhecível depois da Guerra Nuclear que avassaladoramente transfigurou a face do planeta. A placa tectónica deslocada por efeito de subdecução ao longo do rio Tejo, fragmentaria a Lisboa de hoje até quase não se poder reconhecê-la. Mas estão lá as referências que a distinguem, o espírito de lugar que a possui”. E acrescen-tava: “Esta era uma conti-nuação do Eternus prevista desde que ele nasceu. Sempre vi o primeiro álbum como o ovo a partir do qual nasceria uma sequela de nove títulos, os quais se encontram já traçados em termos de título e contexto. Não previa era que este segundo evoluísse como evoluiu, a história, que me surpreende a cada passo. Ela já está concebida mas está sempre a mexer. Tornou-se um organismo com vida própria. Eu diria que seria a matéria do contexto, as premissas implícitas no ovo, que me conduziram ao longo dos anos para o trabalho actual. Chego a pensar que, de certo modo, esta espera tinha de ser como foi, longa e dolorosa, com dificuldades e súbitas ausências. Até a esperança ter desaparecido. Temos de acreditar que o Destino no fundo somos nós que o fazemos, para o bem e para o mal, e para isso é necessário insistir, resistir, escalar. Deixar de ter esperança, como dizia Alberto Camus. Não podemos estar dependentes de agentes exteriores que nos ofereçam as coisas de bandeja”.
E agora, dois anos passados, Victor Mesquita afirma não estar ainda “suficientemente distanciado para poder falar sobre o álbum” finalizado. Além disso, também não quer “influenciar os leitores, prefiro antes, nesta fase de renascimento e regresso ao mercado, que sejam eles a dizer o que pensam. Dentro em breve poderão manifestar-se através do correio electrónico mencionado na contra-capa do álbum (super9galaxia@gmail.com) e também consultar o site referido (www.victormesquita.com).
De qualquer forma, avança que “ao longo da construção de A cidade (a sua parteno-génese, prefiro antes dizer), se foi impondo a resultante que aí temos. Previa-se que o álbum não ultrapassasse o número de páginas acordado em contrato, 58, e como vemos atingiu as 97 por imposição do seu próprio renascimento. Com o acordo da editora, claro está. Penso que de algum modo a coisa responde por si”.
Sobre “Eternus 9 – Cidadela 6”, anunciado na contracapa deste volume, o desenhador adianta que “enquanto os dois primeiros volumes respiram de uma certa serenidade contextual, dado tratarem ainda aspectos seminais, na Cidadela 6 encontramos, pelo que me segredou Vick Meskal, um universo de grande violência e denúncia dos aspectos mais crus que se vivem nas sociedades de hoje. A Cidadela 6 ajuda a definir o que leva o homem a tomar posições extremas entre si, as monstruosidades que secretamente o poder esconde, o que produz tanto ódio e afasta o ser da unidade original. A Cidadela 6 fecha o primeiro ciclo de Eternus 9 de uma forma surpreendente. Onde se constata que até os santos são humanos e como tal muitas vezes saem dos limites da santidade. Será um álbum muito agitado e do cariz filosófico do primeiro. Com uma nova linguagem em termos estéticos. Uma bomba, disse-me Vick Meskal ao ouvido. Talvez o fim da própria série. A sua ren9vação dependerá dos leitores. Eternus é seu, pai, mãe, irmão, amigo, parteira. Sem o leitor Eternus não existia. Se o seu amor não for correspondido pela família de leitores, afastar-se-á definitivamente para longe. Talvez dessa vez se perca para sempre no vazio do Universo”.
E quando o poderemos ler? “Depende da editora. Até agora ainda não assinámos contrato. Não quero criar falsas expectativas nos leitores. Habituei-me a saber esperar. Trinta anos dão algum calo, não é? Se lerem Lao Tsé compreenderão por que o digo. Mas penso que tudo irá correr bem. Não vejo razões para contrariar a ideia de que a “A Cidadela 6” não esteja presente pelo menos na Feira do Livro de 2012, dado que começa a ser tarde para acreditar no seu lançamento pelo Natal de 2011”.
(Nota: obrigado ao Bongop pelo empréstimo involuntário da fotografia de Victor Mesquita, "pirateada" no seu blog, Leituras de BD)
Leituras relacionadas
Eternus 9,
Gradiva,
Lançamento,
Victor Mesquita
11/11/2010
Tintin #4 – Os Charutos do Faraó
Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 142 p., cor, cartonado
4 (ou talvez mais...) +1 Razões para ler este álbum
1. A longa sequência inicial (até à página 32!), plena de movimento, acção, perseguições, mistério, suspense e humor! A mestria de Hergé no seu melhor no que à legibilidade e sequência narrativa diz respeito.
2. Duas sequências notáveis que fazem parte do melhor que Hergé fez em Tintin:
2a. O percurso no túmulo do faraó Kih-Oskh (pp.7-9), no qual Tintin descobre o seu próprio sarcófago e tem uma horrível alucinação provocada pela droga que o fazem inalar. Uma (curta e inesperada) mas autêntica sequência de terror!
2b. A bem construída cena da reunião da sociedade secreta (pp. 53-56) pelo elevado suspense criado e pela forma simples mas brilhante como é resolvida.
3. Pelas três cenas invulgares e de todo inesperadas no Tintin (sóbrio e mais adulto) que (mais tarde) nos habituámos a (re)conhecer (e a admirar):
3a. Tintin a “falar” com os elefantes (pp. 34-37);
3b. O artificio utilizado pelo herói para saltar o muro do hospício (p. 46);
3c. A forma como o repórter domina o tigre que ataca o marajá de Rawhajpoutalah (p. 51).
4. Porque, apesar de algumas derivações, esta é a primeira aventura de Tintin que segue uma linha condutora sólida e bem desenvolvida, desde o início até ao final.
+1. Já o escrevi aqui: qualquer razão é válida e boa para ler um álbum de Tintin.
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 142 p., cor, cartonado
4 (ou talvez mais...) +1 Razões para ler este álbum
1. A longa sequência inicial (até à página 32!), plena de movimento, acção, perseguições, mistério, suspense e humor! A mestria de Hergé no seu melhor no que à legibilidade e sequência narrativa diz respeito.
2. Duas sequências notáveis que fazem parte do melhor que Hergé fez em Tintin:
2a. O percurso no túmulo do faraó Kih-Oskh (pp.7-9), no qual Tintin descobre o seu próprio sarcófago e tem uma horrível alucinação provocada pela droga que o fazem inalar. Uma (curta e inesperada) mas autêntica sequência de terror!
2b. A bem construída cena da reunião da sociedade secreta (pp. 53-56) pelo elevado suspense criado e pela forma simples mas brilhante como é resolvida.
3. Pelas três cenas invulgares e de todo inesperadas no Tintin (sóbrio e mais adulto) que (mais tarde) nos habituámos a (re)conhecer (e a admirar):
3a. Tintin a “falar” com os elefantes (pp. 34-37);
3b. O artificio utilizado pelo herói para saltar o muro do hospício (p. 46);
3c. A forma como o repórter domina o tigre que ataca o marajá de Rawhajpoutalah (p. 51).
4. Porque, apesar de algumas derivações, esta é a primeira aventura de Tintin que segue uma linha condutora sólida e bem desenvolvida, desde o início até ao final.
+1. Já o escrevi aqui: qualquer razão é válida e boa para ler um álbum de Tintin.
10/11/2010
Off Road
Sean Murphy (argumento e desenho)
Kingpin Books (Portugal, Outubro de 2010)
155 x 225 mm, 124 p., pb, brochado com badanas
Resumo
Greg, Trent e Brad, três amigos de sempre, decidem ir experimentar o jipe novinho em folha do primeiro, num percurso todo-o-terreno.
Contrastando com a boa disposição de Greg, cujo pai acabou de lhe oferecer o veículo, Trent está mais uma vez em baixo devido a questões amorosas (como é habitual), pois acabou de saber que (mais uma vez) era traído pela sua namorada, e Brad não está melhor, pois continua a braços com uma (muito) complicada relação com o pai.
Desenvolvimento
O passeio no jipe amarelo (que falta faz a cor neste particular, para acentuar o contraste do berrante veículo com as trapalhadas em que os seus ocupantes se vão meter) surge assim como uma espécie de catarse para os três amigos (que apesar disso têm algumas questões por resolver entre si) , apesar das reticências iniciais de Greg.
A história – autobiográfica… - apresenta-se assim como o relato de um episódio de adolescência (tardia…) ou de início de idade adulta (retardada…), funcionando, dessa forma, como um retrato algo exagerado mas bastante realista de uma realidade incontornável dos nossos dias. A da falta de valores, princípios, objectivos, saídas para os que estão na fase da vida atrás citada.
O relato é divertido e dinâmico, com as peripécias e as confusões a avolumarem-se e a situação a piorar quase página a página. Porque, o passeio todo-o-terreno pela mata local para espairecer, acaba com o jipe atolado enquanto grassa um incêndio, depois de aparentemente os três amigos terem esgotado todas as hipóteses disponíveis para se safarem daquela alhada, desde os “profissionais” até aqueles que menos pareciam vocacionados para isso, como o pai de Brad ou a paixão-de-infância/adolescência/idade-adulta-de-Greg-que-nunca-passou-do-platonismo-e-mesmo-assim-está-o-mais-mal-resolvida-que-se-possa-imaginar!
Por isso, também, durante o relato as tensões entre os três amigos vão subindo, levando-os a dizer e a fazer coisas que normalmente controlariam em situações quotidianas.
Ou seja, se por um lado este é um relato leve e divertido – e politicamente incorrecto por nos rirmos da desgraça (e da inépcia) dos outros – é também, de forma contrastante, uma bela narrativa sobre relações humanas e amizade. Que, tem a vantagem acrescida de estar bem escrito e planificado, o que lhe confere um bom ritmo de leitura, dinâmico mesmo nas situações de aparente impasse. Graficamente, se o traço, algo duro e agreste, não é propriamente atraente, revela-se bem expressivo e eficaz e assenta numa planificação diversificada e numa ampla gama de movimentos de câmara no retratar das cenas.
A reter
- O bom humor da história.
- O bom ritmo a que ela decorre.
- A eficácia do traço de Murphy.
Kingpin Books (Portugal, Outubro de 2010)
155 x 225 mm, 124 p., pb, brochado com badanas
Resumo
Greg, Trent e Brad, três amigos de sempre, decidem ir experimentar o jipe novinho em folha do primeiro, num percurso todo-o-terreno.
Contrastando com a boa disposição de Greg, cujo pai acabou de lhe oferecer o veículo, Trent está mais uma vez em baixo devido a questões amorosas (como é habitual), pois acabou de saber que (mais uma vez) era traído pela sua namorada, e Brad não está melhor, pois continua a braços com uma (muito) complicada relação com o pai.
Desenvolvimento
O passeio no jipe amarelo (que falta faz a cor neste particular, para acentuar o contraste do berrante veículo com as trapalhadas em que os seus ocupantes se vão meter) surge assim como uma espécie de catarse para os três amigos (que apesar disso têm algumas questões por resolver entre si) , apesar das reticências iniciais de Greg.
A história – autobiográfica… - apresenta-se assim como o relato de um episódio de adolescência (tardia…) ou de início de idade adulta (retardada…), funcionando, dessa forma, como um retrato algo exagerado mas bastante realista de uma realidade incontornável dos nossos dias. A da falta de valores, princípios, objectivos, saídas para os que estão na fase da vida atrás citada.
O relato é divertido e dinâmico, com as peripécias e as confusões a avolumarem-se e a situação a piorar quase página a página. Porque, o passeio todo-o-terreno pela mata local para espairecer, acaba com o jipe atolado enquanto grassa um incêndio, depois de aparentemente os três amigos terem esgotado todas as hipóteses disponíveis para se safarem daquela alhada, desde os “profissionais” até aqueles que menos pareciam vocacionados para isso, como o pai de Brad ou a paixão-de-infância/adolescência/idade-adulta-de-Greg-que-nunca-passou-do-platonismo-e-mesmo-assim-está-o-mais-mal-resolvida-que-se-possa-imaginar!
Por isso, também, durante o relato as tensões entre os três amigos vão subindo, levando-os a dizer e a fazer coisas que normalmente controlariam em situações quotidianas.
Ou seja, se por um lado este é um relato leve e divertido – e politicamente incorrecto por nos rirmos da desgraça (e da inépcia) dos outros – é também, de forma contrastante, uma bela narrativa sobre relações humanas e amizade. Que, tem a vantagem acrescida de estar bem escrito e planificado, o que lhe confere um bom ritmo de leitura, dinâmico mesmo nas situações de aparente impasse. Graficamente, se o traço, algo duro e agreste, não é propriamente atraente, revela-se bem expressivo e eficaz e assenta numa planificação diversificada e numa ampla gama de movimentos de câmara no retratar das cenas.
A reter
- O bom humor da história.
- O bom ritmo a que ela decorre.
- A eficácia do traço de Murphy.
- A estratégia - nem sequer vou escrever inteligente, tão normal devia ser - da Kingpin de convidar os autores que edita para estarem presentes no Amadora BD, potenciando assim a venda das obras. Porque é que as outras editoras não o fazem?
Menos conseguido
- A tiragem, de apenas 200 exemplares. Corram, para garantirem um
- O preço (17,99 €) alto, em consequência da tal tiragem baixa… Não pode ser inferior, porque a tiragem é baixa; a tiragem não é maior porque não vende mais; não vende mais porque é caro… A tradicional pescadinha de rabo na boca. Mesmo assim custa a acreditar que só 200 portugueses possam estar interessados nesta obra… Ela justifica plenamente a leitura. E, já agora, o investimento.
- Alguns lapsos na versão portuguesa, nomeadamente no uso recorrente de uma construção frásica errada: “deves te sentar” (página 22, 2ª vinheta) em vez de “deves sentar-te”; “quero te mostrar” (p.27, v.5) em vez de “quero mostrar-te”; “queria te ver” (p.34, v.5), em vez de “queria ver-te”.
- A tiragem, de apenas 200 exemplares. Corram, para garantirem um
- O preço (17,99 €) alto, em consequência da tal tiragem baixa… Não pode ser inferior, porque a tiragem é baixa; a tiragem não é maior porque não vende mais; não vende mais porque é caro… A tradicional pescadinha de rabo na boca. Mesmo assim custa a acreditar que só 200 portugueses possam estar interessados nesta obra… Ela justifica plenamente a leitura. E, já agora, o investimento.
- Alguns lapsos na versão portuguesa, nomeadamente no uso recorrente de uma construção frásica errada: “deves te sentar” (página 22, 2ª vinheta) em vez de “deves sentar-te”; “quero te mostrar” (p.27, v.5) em vez de “quero mostrar-te”; “queria te ver” (p.34, v.5), em vez de “queria ver-te”.
09/11/2010
Iron Man – Titanium #1
Marvel Comics (EUA, Outubro de 2010)
170 x 259 mm, 64 p., cor, comic-book
Railguns, power and Titanium Men
Adam Warren (argumento)
Salva Espin (desenho)
Rachelle Rosenberg (cor)
Killer Commute
Mark Haven Britt (argumento)
Nuno Plati (desenho e cor)
Heavy Rain
Matteo Casali (argumento)
Steve Kurth (desenho)
Allen Martinez (arte-final)
Sunny Gho (cor)
Hack
Tim Fish (argumento)
Filipe Andrade (desenho)
Rick Ketcham (arte-final)
Andres Mossa (cor)
Resumo
Este é um formato pouco usual no mercado norte-americano, uma colectânea de histórias curtas, no caso protagonizadas – directa ou indirectamente – por Tony Stark e/ou o Homem de Ferro
Com a curiosidade, para nós portugueses, de duas delas terem assinatura nacional no que ao desenho diz respeito: Nuno Plati e Filipe Andrade
Desenvolvimento
Não é por acaso que os comics raramente têm marcado presença neste espaço – estão longe de ser o meu género de BD preferido – e também não foi esta edição que me converteu, longe disso. As quatro histórias são pouco interessantes, com as suas temáticas em torno de conspirações e atentados, e quase todas demasiado palavrosas para relatos em que a acção prevalece.
A mais curiosa acaba por ser “Killer Commute”, a que foi desenhada por Nuno Plati, dada a quase total ausência do habitual protagonista, substituído pela bela Pepper Pots, num relato que, não sendo original, não deixa de ter um certo humor.
E na verdade, sem que haja aqui qualquer sombra de patriotismo exacerbado ou doentio, os principais motivos de interesse acabam por ser, graficamente, as narrativas desenhadas por Plati e Andrade, já que as outras duas, também neste aspecto, não ultrapassam a mediania.
A de Nuno Plati destaca-se pelo traço fino – e invulgarmente sensual para o meio – utilizado pelo desenhador para retratar uma esbelta e interessante Pepper Pots, cujas peripécias obrigarão a deixar o ar frágil para se “transformar” numa heroína dura e decidida, sem perder a sua sensualidade. Mudança também acentuada pelo contraste entre as cores quentes das primeiras e última prancha e o tom mais sombrio das páginas de acção, que são outro trunfo utilizado por Plati, aqui num estilo diverso do que utilizara em “X-23” ou “Marvel Fairy Tales”, outros trabalhos que executou para a Marvel.
Quanto à história desenhada por Filipe Andrade, surpreende pelo traço personalizado do desenhador, aqui e ali a lembrar o que utilizou em “BRK”, muito dinâmico e mais “europeu” do que “super-heróico” (e isto é um elogio!), parecendo-me que teria resultado ainda melhor se Andrade tivesse feito também a arte-final.
Entrevista
Este “Iron Man – Hack” foi a primeira banda desenhada executada por ele para a Casa das Ideias. “Tudo aconteceu”, conta o desenhador, “há cerca de um ano, depois do C. B. Cebulski”, um caça-talentos da Marvel, “ter estado em Portugal e ter visto o meu portfólio. Duas semanas depois recebia um e-mail de um outro editor, Michael Horwitz, propondo-me este primeiro trabalho na Marvel”.
Como desde sempre seguiu as histórias de super-heróis “mais pelos autores que as desenhavam do que pelos heróis em si”, Andrade não sentiu “nada de especial” por desenhar uma personagem da dimensão do Homem de Ferro, mas sim uma “enorme responsabilidade pois o primeiro trabalho é sempre importante para chamar a atenção”.
E tão bem funcionou esta estreia que, depois dela, Filipe Andrade já desenhou “uma nova BD do Homem de Ferro, outra com os Vingadores, um one-shot da X-23”, já editado, e “uma mini-história do Homem-Formiga que sairá agora em Novembro”.
Para além disso, está “a finalizar um conjunto de 7 historias curtas de Nomad”, em publicação na revista “Captain America” (do #608 ao #614), que possivelmente serão depois compiladas em livro”.
Por tudo isto, tem “tido pouco tempo para trabalhos mais pessoais”, como é o caso de “BRK” (ASA), cujo primeiro tomo lhe valeu este ano no Amadora BD o Prémio Nacional de BD para Melhor Desenho de Autor Português. O restante deste tríptico “já está escrito e todas as páginas do segundo livro estão planificadas, estando 10 páginas desenhadas…”
Curiosidade
Mas a grande novidade, que a Marvel acaba de revelar, é que durante a New York Comic Con que teve lugar no início de Outubro, Filipe Andrade assinou contrato para desenhar os 5 números da mini-série “Onslaught Unleashed”, que começará a sair em Fevereiro de 2011. Escrita por Sean McKeever, que já trabalhou com super-heróis da Marvel e da DC Comics, reunirá o Capitão América e alguns dos X-Men , marcará a volta do vilão Massacre e terá capas de dois nomes grandes dos comics de super-heróis: Humberto Ramos e Rob Liefeld.
(Versão muito expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 1 de Novembro de 2010)
170 x 259 mm, 64 p., cor, comic-book
Railguns, power and Titanium Men
Adam Warren (argumento)
Salva Espin (desenho)
Rachelle Rosenberg (cor)
Killer Commute
Mark Haven Britt (argumento)
Nuno Plati (desenho e cor)
Heavy Rain
Matteo Casali (argumento)
Steve Kurth (desenho)
Allen Martinez (arte-final)
Sunny Gho (cor)
Hack
Tim Fish (argumento)
Filipe Andrade (desenho)
Rick Ketcham (arte-final)
Andres Mossa (cor)
Resumo
Este é um formato pouco usual no mercado norte-americano, uma colectânea de histórias curtas, no caso protagonizadas – directa ou indirectamente – por Tony Stark e/ou o Homem de Ferro
Com a curiosidade, para nós portugueses, de duas delas terem assinatura nacional no que ao desenho diz respeito: Nuno Plati e Filipe Andrade
Desenvolvimento
Não é por acaso que os comics raramente têm marcado presença neste espaço – estão longe de ser o meu género de BD preferido – e também não foi esta edição que me converteu, longe disso. As quatro histórias são pouco interessantes, com as suas temáticas em torno de conspirações e atentados, e quase todas demasiado palavrosas para relatos em que a acção prevalece.
A mais curiosa acaba por ser “Killer Commute”, a que foi desenhada por Nuno Plati, dada a quase total ausência do habitual protagonista, substituído pela bela Pepper Pots, num relato que, não sendo original, não deixa de ter um certo humor.
E na verdade, sem que haja aqui qualquer sombra de patriotismo exacerbado ou doentio, os principais motivos de interesse acabam por ser, graficamente, as narrativas desenhadas por Plati e Andrade, já que as outras duas, também neste aspecto, não ultrapassam a mediania.
A de Nuno Plati destaca-se pelo traço fino – e invulgarmente sensual para o meio – utilizado pelo desenhador para retratar uma esbelta e interessante Pepper Pots, cujas peripécias obrigarão a deixar o ar frágil para se “transformar” numa heroína dura e decidida, sem perder a sua sensualidade. Mudança também acentuada pelo contraste entre as cores quentes das primeiras e última prancha e o tom mais sombrio das páginas de acção, que são outro trunfo utilizado por Plati, aqui num estilo diverso do que utilizara em “X-23” ou “Marvel Fairy Tales”, outros trabalhos que executou para a Marvel.
Quanto à história desenhada por Filipe Andrade, surpreende pelo traço personalizado do desenhador, aqui e ali a lembrar o que utilizou em “BRK”, muito dinâmico e mais “europeu” do que “super-heróico” (e isto é um elogio!), parecendo-me que teria resultado ainda melhor se Andrade tivesse feito também a arte-final.
Entrevista
Este “Iron Man – Hack” foi a primeira banda desenhada executada por ele para a Casa das Ideias. “Tudo aconteceu”, conta o desenhador, “há cerca de um ano, depois do C. B. Cebulski”, um caça-talentos da Marvel, “ter estado em Portugal e ter visto o meu portfólio. Duas semanas depois recebia um e-mail de um outro editor, Michael Horwitz, propondo-me este primeiro trabalho na Marvel”.
Como desde sempre seguiu as histórias de super-heróis “mais pelos autores que as desenhavam do que pelos heróis em si”, Andrade não sentiu “nada de especial” por desenhar uma personagem da dimensão do Homem de Ferro, mas sim uma “enorme responsabilidade pois o primeiro trabalho é sempre importante para chamar a atenção”.
E tão bem funcionou esta estreia que, depois dela, Filipe Andrade já desenhou “uma nova BD do Homem de Ferro, outra com os Vingadores, um one-shot da X-23”, já editado, e “uma mini-história do Homem-Formiga que sairá agora em Novembro”.
Para além disso, está “a finalizar um conjunto de 7 historias curtas de Nomad”, em publicação na revista “Captain America” (do #608 ao #614), que possivelmente serão depois compiladas em livro”.
Por tudo isto, tem “tido pouco tempo para trabalhos mais pessoais”, como é o caso de “BRK” (ASA), cujo primeiro tomo lhe valeu este ano no Amadora BD o Prémio Nacional de BD para Melhor Desenho de Autor Português. O restante deste tríptico “já está escrito e todas as páginas do segundo livro estão planificadas, estando 10 páginas desenhadas…”
Curiosidade
Mas a grande novidade, que a Marvel acaba de revelar, é que durante a New York Comic Con que teve lugar no início de Outubro, Filipe Andrade assinou contrato para desenhar os 5 números da mini-série “Onslaught Unleashed”, que começará a sair em Fevereiro de 2011. Escrita por Sean McKeever, que já trabalhou com super-heróis da Marvel e da DC Comics, reunirá o Capitão América e alguns dos X-Men , marcará a volta do vilão Massacre e terá capas de dois nomes grandes dos comics de super-heróis: Humberto Ramos e Rob Liefeld.
(Versão muito expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 1 de Novembro de 2010)
Leituras relacionadas
Filipe Andrade,
Iron Man,
Marvel,
Nuno Plati Alves
08/11/2010
Dot & Dash
Cliff Sterrett
(argumento e desenho)
Libri Impressi
(Portugal, Outubro de 2010)
300 x 213 mm, 64 p., cor, brochado
Resumo
Dot & Dash (literalmente ponto e traço, a letra ‘a’ no Código Morse) foram publicados originalmente entre 1926 e 1928 para os jornais americanos, como topo da mais famosa criação de Sterrett, “Polly and Her Pals”, na qual fizeram algumas breves aparições. Primeiro como uma tira, depois como tira dupla com vinheta inicial de título.
Esta é uma edição integral da série, completamente restaurada com a habitual competência e paixão por Manuel Caldas, o que possibilita descobri-la no esplendor do seu deslumbrante colorido original.
A edição, trilingue (português, inglês e espanhol, no que diz respeito à introdução, já que a banda desenhada é muda) abre com uma completa apresentação da série por Domingos Isabelinho.
Desenvolvimento
Coisas simples.
Eis o que eu poderia ter escrito no resumo acima: coisas simples.
A isso (a essa coisa tão complicada...) se resume Dot & Dash: à observação, quase sempre simples, quase sempre surpresa, quase sempre descoberta, dos pequenos nadas do dia-a-dia, aqueles pelos quais todos passamos mas dos quais raramente nos apercebemos. Uma poça gelada, um pássaro a cantar, um esquilo a saltar, a sombra que nos acompanha, as pegadas que deixamos impressas no solo, os pingos de chuva, um gato, um cão, um coelho, uma rã ou um caracol.
Dot & Dash são peritos em vê-los, pasmam de surpresa, surpreendem-se com facilidade, assustam-se com mais facilidade ainda, fingem coragem quando o medo facilmente os domina, fogem quase sempre, aborrecem-se, adormecem mesmo, às vezes. Mais ricos, porque viram, tocaram, sentiram, cheiraram, olharam, desco-briram (mesmo que muitas vezes o que viram-tocaram-sentiram-cheiraram-olharam-descobriram não corresponda à realidade “real” mas apenas à que eles “realizaram”).
Se Sterrett se revela perito em mostrar-nos o que Dot & Dash vêem, salientando o pormenor, descobrindo-nos o banal, deslumbrando-nos com a cor, divertindo de forma ingénua e simpática, a par disso, aqui e ali, diverte-se também a alienar a tal realidade “real”, transformando sombras ou valetas em buracos ou poças de tinta, enganando o leitor e também as suas personagens, aumentando nesses casos o efeito cómico.
Personagens que são duas – o nome evidencia-o – dois cães – eram um cão e um gato nos primeiros meses da tira – pequenos e curiosos, irrequietos e que gostam de andar, conhecer, mexer e descobrir.
E que a nós, meros leitores, agarrados a cadeiras, mesas de trabalho, sofás televisivos, importa também descobrir, talvez para abrir a porta – nem que seja só uma fresta – a um outro eu, mais curioso, menos conformista, mais disposto a ver, tocar, sentir, cheirar, olhar, descobrir…
A reter
- A simpli-cidade aparente e desar-mante, mas (também por isso) genial da estrutura narrativa da série.
- A cor, deslumbrante.
- O ritmo, a um tempo contemplativo e dinâmico.
- A edição em si, claro está. Não podia ser de outra forma com Manuel Caldas como responsável…
- Se encomendar o livro directamente ao editor (Manuel Caldas), recebê-lo-á antes de ele chegar às livrarias e com ele receberá um poster de tiragem limitada reproduzindo uma enorme página de jornal de 1928 com “Dot & Dash” e “Polly and Her Pals”. Para além disso isso permitirá que o editor recupere mais depressa (e sem perder a margem que normalmente entrega à distribuidora) o dinheiro investido na edição, contribuindo para que novo livro (quem sabe se o também genial “Polly and Her Pals”) seja editado mais rapidamente!
Dot & Dash são peritos em vê-los, pasmam de surpresa, surpreendem-se com facilidade, assustam-se com mais facilidade ainda, fingem coragem quando o medo facilmente os domina, fogem quase sempre, aborrecem-se, adormecem mesmo, às vezes. Mais ricos, porque viram, tocaram, sentiram, cheiraram, olharam, desco-briram (mesmo que muitas vezes o que viram-tocaram-sentiram-cheiraram-olharam-descobriram não corresponda à realidade “real” mas apenas à que eles “realizaram”).
Se Sterrett se revela perito em mostrar-nos o que Dot & Dash vêem, salientando o pormenor, descobrindo-nos o banal, deslumbrando-nos com a cor, divertindo de forma ingénua e simpática, a par disso, aqui e ali, diverte-se também a alienar a tal realidade “real”, transformando sombras ou valetas em buracos ou poças de tinta, enganando o leitor e também as suas personagens, aumentando nesses casos o efeito cómico.
Personagens que são duas – o nome evidencia-o – dois cães – eram um cão e um gato nos primeiros meses da tira – pequenos e curiosos, irrequietos e que gostam de andar, conhecer, mexer e descobrir.
E que a nós, meros leitores, agarrados a cadeiras, mesas de trabalho, sofás televisivos, importa também descobrir, talvez para abrir a porta – nem que seja só uma fresta – a um outro eu, mais curioso, menos conformista, mais disposto a ver, tocar, sentir, cheirar, olhar, descobrir…
A reter
- A simpli-cidade aparente e desar-mante, mas (também por isso) genial da estrutura narrativa da série.
- A cor, deslumbrante.
- O ritmo, a um tempo contemplativo e dinâmico.
- A edição em si, claro está. Não podia ser de outra forma com Manuel Caldas como responsável…
- Se encomendar o livro directamente ao editor (Manuel Caldas), recebê-lo-á antes de ele chegar às livrarias e com ele receberá um poster de tiragem limitada reproduzindo uma enorme página de jornal de 1928 com “Dot & Dash” e “Polly and Her Pals”. Para além disso isso permitirá que o editor recupere mais depressa (e sem perder a margem que normalmente entrega à distribuidora) o dinheiro investido na edição, contribuindo para que novo livro (quem sabe se o também genial “Polly and Her Pals”) seja editado mais rapidamente!
Leituras relacionadas
Dot and Dash,
Libri Impressi,
Manuel Caldas,
Sterrett
07/11/2010
Amadora BD 2010 (IV) - Um balanço
Encerra hoje no Fórum Luís de Camões, na Brandoa, o 21º Amadora BD, que foi uma edição de contrastes. Por um lado, pela fraca afluência de público nos dois primeiros fins-de-semana, por outro, pela qualidade de algumas exposições que mereciam bem mais visitantes.
De qualquer forma a organização terá que tirar ilações de alguns erros cometidos. À cabeça, a divulgação tardia do evento – e a falta de informação sobre o mesmo durante o seu decurso – e a quase total ausência de nomes sonantes, os tais que são capazes de chamar visitantes - Schuiten e Peeters foram as excepções. A par disto, a menor aposta na cenografia das exposições e a ausência de surpresas nas mesmas (como acontecera em 2009, por exemplo, com os belos originais dos autores polacos) também tornaram o evento menos chamativo para o grande público. Finalmente, porque o manga e os comics americanos, géneros preferidos pelos mais novos, continuam a primar pela quase total ausência. Compare-se a afluência do Japan Weekend ou do IberAnimé com a do Amadora Bd no primeiro fim-de-semana para perceber o que pretendo dizer.
Aspectos menores – mas lamentáveis – eram a ausência de textos de apoio e de letreiros em alguns dos stands comerciais, no segundo sábado do festival, ou seja 9 dias depois de este se ter iniciado.
É verdade que este ano, tendo por tema aglutinador o Centenário da República, a organização assumidamente quis apostar nos autores portugueses, mas, por muito que isto custe, eles não são, só por si, suficientes para garantir o público.
Isto não invalida que o Amadora BD, não tenha grandes exposições: as dedicadas à República e ao centenário de Fernando Bento (embora esta esteja “escondida num canto” do piso inferior), pela sua diversidade e pela qualidade dos documentos expostos, merecem os maiores encómios. A não perder são também a magnífica instalação dedicada “Às Cidades Obscuras”, de Schuiten e Peeters, o making of do álbum (que será editado quando?) "É de noite que te faço as perguntas" e as mostras de Sean Murphy, Cristina Sampaio ou Korky Paul, capazes de surpreender os visitantes.
Uma referência final para a melhor disposição dos diversos espaços no Fórum Luís de Camões, embora o piso superior esteja algo labiríntico, com especial relevo para o espaço comercial, mais amplo e arejado, apesar de algumas lojas terem pouca visibilidade, e para o bom número de lançamentos de títulos de autores portugueses, resultado da aposta que o festival tem feito na produção nacional.
Neste fim-de-semana, para lá de muitos autores portugueses, o festival contará com a presença do britânico Korky Paul, autor de “A Bruxa Mimi”, Jô Oliveira (Brasil), Lindomar Sousa (Angola), Zorito e Machado da Graça (Moçambique). Quem? Fica mais explícito agora o que escrevi atrás...?
(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 7 de Novembro de 2010)
De qualquer forma a organização terá que tirar ilações de alguns erros cometidos. À cabeça, a divulgação tardia do evento – e a falta de informação sobre o mesmo durante o seu decurso – e a quase total ausência de nomes sonantes, os tais que são capazes de chamar visitantes - Schuiten e Peeters foram as excepções. A par disto, a menor aposta na cenografia das exposições e a ausência de surpresas nas mesmas (como acontecera em 2009, por exemplo, com os belos originais dos autores polacos) também tornaram o evento menos chamativo para o grande público. Finalmente, porque o manga e os comics americanos, géneros preferidos pelos mais novos, continuam a primar pela quase total ausência. Compare-se a afluência do Japan Weekend ou do IberAnimé com a do Amadora Bd no primeiro fim-de-semana para perceber o que pretendo dizer.
Aspectos menores – mas lamentáveis – eram a ausência de textos de apoio e de letreiros em alguns dos stands comerciais, no segundo sábado do festival, ou seja 9 dias depois de este se ter iniciado.
É verdade que este ano, tendo por tema aglutinador o Centenário da República, a organização assumidamente quis apostar nos autores portugueses, mas, por muito que isto custe, eles não são, só por si, suficientes para garantir o público.
Isto não invalida que o Amadora BD, não tenha grandes exposições: as dedicadas à República e ao centenário de Fernando Bento (embora esta esteja “escondida num canto” do piso inferior), pela sua diversidade e pela qualidade dos documentos expostos, merecem os maiores encómios. A não perder são também a magnífica instalação dedicada “Às Cidades Obscuras”, de Schuiten e Peeters, o making of do álbum (que será editado quando?) "É de noite que te faço as perguntas" e as mostras de Sean Murphy, Cristina Sampaio ou Korky Paul, capazes de surpreender os visitantes.
Uma referência final para a melhor disposição dos diversos espaços no Fórum Luís de Camões, embora o piso superior esteja algo labiríntico, com especial relevo para o espaço comercial, mais amplo e arejado, apesar de algumas lojas terem pouca visibilidade, e para o bom número de lançamentos de títulos de autores portugueses, resultado da aposta que o festival tem feito na produção nacional.
Neste fim-de-semana, para lá de muitos autores portugueses, o festival contará com a presença do britânico Korky Paul, autor de “A Bruxa Mimi”, Jô Oliveira (Brasil), Lindomar Sousa (Angola), Zorito e Machado da Graça (Moçambique). Quem? Fica mais explícito agora o que escrevi atrás...?
(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 7 de Novembro de 2010)
06/11/2010
Leituras em português
Fruto de uma aposta continuada e consistente na promoção da banda desenhada portuguesa, o Festival da Amadora – e consequentemente a época de Outubro/Novembro – tem-se revelado o local ideal para o lançamento de novidades lusas aos quadradinhos.
O que é compreensível porque, no Amadora BD há exposições dos originais e estão presentes os autores o que potencia a sua divulgação junto dos seus potenciais leitores. E esta é uma realidade quer para as editoras de maior dimensão, quer para os pequenos editores independentes, cuja distribuição se limita depois a lojas especializadas e a uma ou outra cadeia nacional de livrarias. Este ano não foi excepção, tendo sido lançados quase uma dezena de novos títulos, sendo de destacar a sua diversidade temática e gráfica.
O de maior impacto talvez seja “A cidade dos espelhos”, que marca o regresso de Eternus 9, nascido nas páginas da mítica revista Visão, que, animada pela revolução de Abril, agitou as águas da BD nacional no verão quente de 1975. “Eternus 9 – Um filho do cosmos”, era um complexo relato de ficção-científica e filosófico, que seria suspenso ao fim de 6 números, surgindo em 1979 em forma de álbum (reeditado em 2009).
Agora, 35 anos depois, a sequela que Victor Mesquita há muita anunciara, está finalmente disponível, e nela “um portal caleidoscópico atravessará um mundo cujo coração será Lisboa, depois da Guerra Nuclear que transfigurou a face do planeta. A placa tectónica deslocada por efeito de subducção ao longo do rio Tejo, fragmentou a Lisboa de hoje até quase não se poder reconhecê-la, mas onde continuam as referências que a distinguem, o espírito de lugar que a possui”. E Mesquita avançou já ao JN com um resumo do tomo seguinte, “Cidadela 6”, no qual, depois de “dois primeiros volumes que respiram de uma certa serenidade contextual”, encontraremos “um universo de grande violência e denúncia dos aspectos mais crus que se vivem nas sociedades de hoje, onde se constatará que até os santos são humanos e como tal muitas vezes saem dos limites da santidade”.
Por outro lado, aquele que tem maior potencial fora do círculo habitual de leitores de BD é “NewBorn – 10 dias no Kosovo” (ASA), de Ricardo Cabral, uma espécia de foto-reportagem desenhada que surge na sequência de “Israel – Sketchbook”. Numa fronteira ténue entre a sequência narrativa e a ilustração, é fruto de uma estadia do autor no Kosovo e traça um retrato mais humano – e, por isso, mais real – do país, para lá dos estereótipos tantas vezes veiculados pelos meios de comunicação social
.
Também de fundo político é “Agentes do C.A.O.S. – A conspiração Ivanov” (Kingpin Comics), de Fernando Dordio, Filipe Teixeira e Mário Freitas, que compila em livro – como nova cor e páginas extras - os 3 comics editados em 2006/2007. Com a acção situada em 1981, e a acção das FP 25 de Abril como pano de fundo, é uma movimentada história de acção, vingança e espionagem, condimentada como muitos tiros, violência e perseguições automóveis, que abarca um período de 12 anos e envolve operacionais da polícia portuguesa e mafiosos russos.
Bem mais intimista é a proposta de Paulo Monteiro em “O amor infinito que te tenho e outras histórias”, colectânea de bandas desenhadas curtas, algumas das quais inéditas, de cariz autobiográfico, onde o traço fino e os tons cinzentos salientam os sentimentos.
Projecto colectivo que tem como “objectivo principal o desenvolvimento e divulgação
da banda desenhada e ilustração em Portugal”, a Zona, apresentou na Amadora o seu sexto tomo em ano e meio, “Zona Negra 2”, que tem o terror como tema aglutinador, daí a aposta no preto e branco, para fortalecer “o ambiente obscuro do seu conteúdo”.
Também colectiva, da autoria de Álvaro Áspera e Marta Portela (argumento) e António Brandão, João Martins, Pedro Alves, Pedro Colaço, Pedro Serpa e Ricardo Cabrita (desenhos), mas de carácter institucional é “Sete histórias em busca de uma alternativa”, uma edição do Grupo de para a Resolução Alternativa de Litígios (GRAL) do Ministério da Justiça, que reúne uma série de histórias em torno dos serviços públicos de resolução alternativa de litígios, ao mesmo tempo que homenageia personagens e autores da banda desenhada portuguesa, como o Corvo, de Luís Louro,oue A Pior Banda do Mundo, de José Carlos Fernandes.
Diferente, no propósito e na forma, é o “BDJornal” #26 (pedranocharco), uma publicação semestral que alia à publicação de BD, artigos de crítica e análise, que neste número destacam Dinis Conefrey e Fernando Relvas.
Apresentados no festival, onde têm exposição, mas ainda não disponíveis emboram as suas edições estejam anunciadas para este mês, estão dois outros títulos.
O primeiro é “É de noite que faço as perguntas” (Gradiva), uma narrativa ficcionada dos acontecimentos que levaram à implantação da República, escrita por David Soares e desenhada por Richard Câmara, Jorge Coelho, João Maio Pinto, André Coelho e Daniel Silvestre Silva.
Finalmente, temos “O Menino Triste – Punk Redux” (Qual Albatroz), um passeio semi-autobiográfico pelas origens, valores e ideias por detrás do movimento Punk, em Londres, em 1976.
São, sem dúvida, um lote de propostas diversificadas que mostram que a BD portuguesa existe e está à procura do seu público.
(Versão revista e expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 3 de Novembro de 2010)
O que é compreensível porque, no Amadora BD há exposições dos originais e estão presentes os autores o que potencia a sua divulgação junto dos seus potenciais leitores. E esta é uma realidade quer para as editoras de maior dimensão, quer para os pequenos editores independentes, cuja distribuição se limita depois a lojas especializadas e a uma ou outra cadeia nacional de livrarias. Este ano não foi excepção, tendo sido lançados quase uma dezena de novos títulos, sendo de destacar a sua diversidade temática e gráfica.
O de maior impacto talvez seja “A cidade dos espelhos”, que marca o regresso de Eternus 9, nascido nas páginas da mítica revista Visão, que, animada pela revolução de Abril, agitou as águas da BD nacional no verão quente de 1975. “Eternus 9 – Um filho do cosmos”, era um complexo relato de ficção-científica e filosófico, que seria suspenso ao fim de 6 números, surgindo em 1979 em forma de álbum (reeditado em 2009).
Agora, 35 anos depois, a sequela que Victor Mesquita há muita anunciara, está finalmente disponível, e nela “um portal caleidoscópico atravessará um mundo cujo coração será Lisboa, depois da Guerra Nuclear que transfigurou a face do planeta. A placa tectónica deslocada por efeito de subducção ao longo do rio Tejo, fragmentou a Lisboa de hoje até quase não se poder reconhecê-la, mas onde continuam as referências que a distinguem, o espírito de lugar que a possui”. E Mesquita avançou já ao JN com um resumo do tomo seguinte, “Cidadela 6”, no qual, depois de “dois primeiros volumes que respiram de uma certa serenidade contextual”, encontraremos “um universo de grande violência e denúncia dos aspectos mais crus que se vivem nas sociedades de hoje, onde se constatará que até os santos são humanos e como tal muitas vezes saem dos limites da santidade”.
Por outro lado, aquele que tem maior potencial fora do círculo habitual de leitores de BD é “NewBorn – 10 dias no Kosovo” (ASA), de Ricardo Cabral, uma espécia de foto-reportagem desenhada que surge na sequência de “Israel – Sketchbook”. Numa fronteira ténue entre a sequência narrativa e a ilustração, é fruto de uma estadia do autor no Kosovo e traça um retrato mais humano – e, por isso, mais real – do país, para lá dos estereótipos tantas vezes veiculados pelos meios de comunicação social
.
Também de fundo político é “Agentes do C.A.O.S. – A conspiração Ivanov” (Kingpin Comics), de Fernando Dordio, Filipe Teixeira e Mário Freitas, que compila em livro – como nova cor e páginas extras - os 3 comics editados em 2006/2007. Com a acção situada em 1981, e a acção das FP 25 de Abril como pano de fundo, é uma movimentada história de acção, vingança e espionagem, condimentada como muitos tiros, violência e perseguições automóveis, que abarca um período de 12 anos e envolve operacionais da polícia portuguesa e mafiosos russos.
Bem mais intimista é a proposta de Paulo Monteiro em “O amor infinito que te tenho e outras histórias”, colectânea de bandas desenhadas curtas, algumas das quais inéditas, de cariz autobiográfico, onde o traço fino e os tons cinzentos salientam os sentimentos.
Projecto colectivo que tem como “objectivo principal o desenvolvimento e divulgação
da banda desenhada e ilustração em Portugal”, a Zona, apresentou na Amadora o seu sexto tomo em ano e meio, “Zona Negra 2”, que tem o terror como tema aglutinador, daí a aposta no preto e branco, para fortalecer “o ambiente obscuro do seu conteúdo”.
Também colectiva, da autoria de Álvaro Áspera e Marta Portela (argumento) e António Brandão, João Martins, Pedro Alves, Pedro Colaço, Pedro Serpa e Ricardo Cabrita (desenhos), mas de carácter institucional é “Sete histórias em busca de uma alternativa”, uma edição do Grupo de para a Resolução Alternativa de Litígios (GRAL) do Ministério da Justiça, que reúne uma série de histórias em torno dos serviços públicos de resolução alternativa de litígios, ao mesmo tempo que homenageia personagens e autores da banda desenhada portuguesa, como o Corvo, de Luís Louro,oue A Pior Banda do Mundo, de José Carlos Fernandes.
Diferente, no propósito e na forma, é o “BDJornal” #26 (pedranocharco), uma publicação semestral que alia à publicação de BD, artigos de crítica e análise, que neste número destacam Dinis Conefrey e Fernando Relvas.
Apresentados no festival, onde têm exposição, mas ainda não disponíveis emboram as suas edições estejam anunciadas para este mês, estão dois outros títulos.
O primeiro é “É de noite que faço as perguntas” (Gradiva), uma narrativa ficcionada dos acontecimentos que levaram à implantação da República, escrita por David Soares e desenhada por Richard Câmara, Jorge Coelho, João Maio Pinto, André Coelho e Daniel Silvestre Silva.
Finalmente, temos “O Menino Triste – Punk Redux” (Qual Albatroz), um passeio semi-autobiográfico pelas origens, valores e ideias por detrás do movimento Punk, em Londres, em 1976.
São, sem dúvida, um lote de propostas diversificadas que mostram que a BD portuguesa existe e está à procura do seu público.
(Versão revista e expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 3 de Novembro de 2010)
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