06/11/2009

Sky Hawk

Jirô Taniguchi (argumento e desenho)
Casterman/Sakka (França, Outubro de 2009)
150 x 210 mm, 288 p., cor e pb, brochado
com sobrecapa


Resumo
Dois samurais japoneses – Hikosaburô e Manzô – exilados nos EUA após a restauração de Meij (1868) vivem da caça no território dos índios Crow.
Um dia, um acaso faz com que cruzem o caminho de Running Deer, uma índia que acaba de dar à luz e que é perseguida pelos brancos que a escravizaram.
Após alguns confrontos e uma longa fuga, os dois samurais juntam-se aos guerreiros oglagla, chefiados por Crazy Horse, que admiram as suas peculiares técnicas de combate corpo a corpo – ju-jitsu – e as suas estranhas armas – arco e flechas.
Juntos, irão participar na batalha do Little Big Horn, uma das mais célebres que opôs brancos e índios, e contribuirão para que os peles-vermelhas de Crazy Horse, Sitting Bull e outros grandes chefes, consigam vencer (e matar) o famoso General Custer.

Desenvolvimento
Taniguchi, a quem nos habituámos a ver como talentoso cronista de histórias quotidianas, em meio citadino, humanas e de uma enorme sensibilidade, surge aqui como encenador de um imenso western, em que transpôs (mais uma vez) para os quadradinhos um confronto épico entre brancos e índios (que conforme a sensibilidade de quem conta, alternam os papéis de bons e maus). Com Taniguchi, outra coisa não seria de esperar que serem os índios a lutar pela causa justa, a defesa das suas tradições e dos seus territórios sagrados e seculares, frente ao invasor branco movido pela ganância do ouro.
Um sinal de que esta incursão (surpreendente) por uma temática tão diferente não impediu Tanguchi de salientar princípios e temáticas que lhe são caros: o valor da vida humana, as relações entre eles, a harmonia com a natureza, o que torna Sky Hawk um western envolvente e fascinante, no qual a batalha ocupa apenas umas poucas páginas finais, enquanto que na maioria delas disserta sobre relações humanas e a proximidade do homem com a natureza. E nos mostra como formas de ser aparentemente distantes – o bushido japonês e o código de honra dos índios – podem afinal ter tantos pontos de contacto.
O retrato que Taniguchi traça dos grandes espaços selvagens do Velho Oeste e da forma de vida dos índios é cativante e, por vezes, até entusiasmado, embora perca pela reduzida dimensão da edição

A reter
- A forma como a história evolui, permitindo à ficção acompanhar a realidade histórica.
- O tratamento gráfico dado por Taniguchi à obra, com o seu traço fino, detalhado, vivo, expressivo, que é dinâmico quando a acção o exige, ou mais contemplativo quando a narrativa precisa de respirar.

Menos conseguido
- Se é verdade que o preto e ranço de Taniguchi é excelente, a amostra de aplicação da cor, patente nas 3 primeiras pranchas do livro, permite sonhar como seria belo o livro, se todas tivessem recebido igual tratamento.

Curiosidade
- Segundo Taniguchi, terão sido os japoneses os responsáveis pela introdução do arco e flecha junto dos peles-vermelhas.
- Um western spaghetti aos quadradinhos, narrado por um mangaka japonês é, sem dúvida, mais um sinal da globalização… e possivelmente um exemplo dos caminhos que a BD trilhará – já trilha…? - num futuro não muito distante.

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