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23/09/2020

O gourmet solitário

O homem que passeia... vai ao restaurante



Se o título acima me surgiu após poucas páginas da leitura deste livro, ao preparar este texto descobri que já tinha utilizado o artifício noutra ocasião: no museu! 

No entanto, decidi repeti-lo porque ele faz todo o sentido e realça a unidade que existe na obra de Jiro Taniguchi.

15/10/2018

Os Guardiões do Louvre

O homem que passeia... no museu

Entre sonho e realidade…
...vagueio pelo interior do Louvre.”
In Os Guardiões do Louvre

Em Os Guardiões do Louvre, Jirô Taniguchi - ou o protagonista por ele, nele emulado? - é o ‘homem que passeia’ outra vez, agora pelos corredores do célebre museu parisiense, evocando os grandes mestres e visitando os locais onde deram à luz as suas obras… sem esquecer uma nota pessoal (?), com tanto de terna quanto de dolorosa.

12/07/2017

O Homem que Passeia

Sem pressas
“Sabe… já fiz que chegasse. Por isso, agora, faço tudo com calma…”
In O Homem que Passeia


Primeira obra de Taniguchi publicada no Ociente - um dos aspectos (menores) que contribui para lhe conferir a fama que merecidamente ostenta - O Homem que Passeia foi escolhido pela Devir para inaugurar a sua nova colecção Tsuru (grou) dedicada à publicação de manga clássico.
Uma abertura acertada, serena, com um livro sem história(s).

19/06/2017

Leitura Nova: O Homem que Passeia






(nota informativa disponibilizada pela editora)
Um homem contempla os subúrbios da sua cidade. Caminhando devagar, escuta e cheira. Pára e observa.
É impossível não nos sentirmos alheios e indiferentes ao mundo, em contraste com este olhar puro. Passeando por estas páginas reaprendemos a olhar, talvez a viver, mais atentos às pequenas coisas.

23/06/2016

Terra de Sonhos







Talvez este seja - é pelo menos um deles - o livro que melhor se adequa ao título (im)posto a esta colecção - Novela Gráfica - porque, ao contrário do que seria expectável, não apresenta um (único) romance (que bem que soa assim!) gráfico, mas sim cinco contos (novelas?) curtos (para os padrões asiáticos).

30/04/2015

O Diário do Meu Pai










Chega esta semana com o jornal Público, um dos mais interessantes volumes da excelente colecção Novela Gráfica, da Levoir.
É O Diário do Meu Pai, do japonês Jiro Taniguchi, cuja nota de imprensa e algumas pranchas, fornecidos pela editora, se podem ver já a seguir.

21/03/2012

L'Orme du Caucase













Colecção écritures
R. Utsumi (argumento)
Jirô Taniguchi (desenho)
Casterman, França, Junho de 2004)
173 x 240 mm, 224 p., pb, brochada com badanas
13,50 €




Pedaços de vidas.
Pedaços de vidas aos pedaços, feitas assim pelos acasos, pelo destino ou pela vontade de quem as viveu ou compartilhou.
Vidas aparentemente desfeitas, destruídas, sem rumo nem fim. Mas tornadas novas vidas, com sentido e objectivos, reconstruídas do (aparente) nada pelo (re)encontro com (outros) seres humanos. Pela (re)descoberta do amor, da amizade, do companheirismo. Pela percepção do que correu mal e, agora, há-de correr melhor. Porque - quando? - as provações fortalecem e preparam para viver. Outra vez.
É disto que nos fala L'Orme du Caucase, uma recolha de contos de R. Utsumi, magistralmente adaptados a banda desenhada pelo traço suave, fino e delicado de Jirô Taniguchi, um dos autores recorrentes nesta coluna, que em cada nova obra surpreende pela sua capacidade de falar de forma simples, mas chamativa e tocante - gentil, definiu alguém - das coisas simples da vida.
Seja o relato do respeito por um olmo imponente ou o da descoberta do amor na 3ª idade. Ou de reencontros após longas separações, entre irmãos ou pais e filhos ou até entre uma sogra e uma nora que quase não se conheceram.
Pela forma admirável como os rostos das suas personagens, extremamente expressivos, nos transmitem os seus sentimentos e emoções, quantas vezes contidos. Ou ainda pelas suas belas pranchas, composições a preto e branco, que os nossos olhos sonham em mil cores, em especial quando a natureza invade as imagens e nos faz ansiar pela fuga aos espaços (só aparentemente humanos, afinal opressivos) das grandes cidades.


(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 17 de Julho de 2004)

Curiosidade
- Este é mais um tomo da colecção écritures, já diversas vezes presente aqui As Leituras do Pedro, que este mês completa 10 anos de bons serviços. Conto voltar a ela, repetidamente, nas próximas semanas.

23/08/2010

La Montagne Magique

Jiro Taniguchi (argumento e desenho)
Casterman (França, Outubro de 2007)
226 x 303 mm, 72 p., cor, cartonado


Primeira experiência em formato franco-belga (álbum cartonado, a cores, de “apenas” 72 páginas) de Jiro Taniguchi, o mais europeu dos mangakas, se desilude um pouco pois não ressalta dela qualquer ganho particular com a mudança, é uma continuação dos temas que mais têm marcado a carreira do autor japonês, que mais uma vez revisita a sua infância. Melhor algumas das suas recordações de infância, dotando-as depois de contornos ecológicos e fantásticos, que as transformam num belo conto, humano e sensível, sobre os medos infantis, a força do amor filial, a persistência, a coragem e o muito que se consegue quando acreditamos em nós próprios em prol dos outros.
Tudo começa em Tottori – terra natal do autor - onde vivem Ken’ichi, de 11 anos, e a sua irmã Sakiko, de 7, órfãos de pai e confrontados com a possibilidade de também perderem a mãe, que necessita de ser submetida a uma operação delicada, sujeita a uma longa e difícil recuperação. A dificuldade surgida aprofunda a relação entre os dois irmãos, que se tornam mais unidos e vão viver uma estranha experiência relacionada com a montanha próxima da localidade, considerada morada de seres míticos e dos guardiães daquele local, quando uma salamandra gigante, há muito prisioneira no museu, contacta telepaticamente Ken’ichi e lhe propõe realizar um desejo se ele a devolver à sua origem…

(Texto publicado originalmente no BDJornal #24, de Outubro de 2008)

18/02/2010

Quartier Lontain + Un ciel radieux


















Quartier Lointain - Édition intégrale
Jirô Taniguchi (argumento e desenho)
Casterman (França, Novembro de 2006)
173 x 242 mm, 400 p., cor (6 p.) e pb, cartonado

Colecção écritures
Un ciel radieux
Jirô Taniguchi (argumento e desenho)
Casterman (França, Setembro de 2006)
172 x 240 mm, 300 p., pb, cartonado


Escreve Taniguchi no posfácio de "Un ciel Radieux": "Acredito que, durante toda a nossa existência, alguns acontecimentos, certas experiências, são capazes de nos fazer mudar a nossa forma de viver".
E é isso que ele transmite nestes dois livros, que têm (pelo menos) um ponto em comum: acontecimentos extraordinários, ao nível da memória e da consciência.
Em "Quartier Lontain", o protagonista, Hiroshi, após um desmaio, acorda na sua cidade natal, regressando à sua adolescência, embora com os conhecimentos e a sensibilidade dos seus 40 anos.
Em "Um ciel radieux", na sequência de um acidente de automóvel, um adulto daquela idade, (o espírito de) Kazuhiro Kobota, que guiava uma carrinha, acorda aprisionado no corpo adolescente de Takuya Onodéra, que guiava uma motocicleta.
No primeiro caso, Hiroshi consegue o que muitos, com certeza, ansiamos: voltar ao passado, voltar atrás na vida, seja para viver de novo momentos (mais) alegres, seja para corrigir erros passados. De regresso de uma viagem de negócios, após uma noite bem regada, sem bem saber como, em vez de apanhar o comboio de regresso a casa, em Tóquio, apanha uma composição que o leva à sua cidade natal. Uma vez chegado, para fazer horas, decide visitar a campa da mãe no cemitério. E é lá que, de maneira inexplicável, após um breve desmaio, regressa ao seu passado, reencontrando-se dentro do seu corpo de 14 anos, embora mantenha a capacidade intelectual, a memória e os conhecimentos dos seus quase 50 anos de vida.
Nada de especial, dirão muitos, e é verdade, pois a ideia não é nova. E inicialmente o tratamento dado por Taniguchi também não o parece, pois o seu protagonista, atónito com o que se passa, incapaz de compreender o que lhe aconteceu, surpreso por reencontrar a mãe, falecida há mais de 20 anos, e a irmã mais nova, começa por explorar (mais instintiva que conscientemente) a situação, tornando-se facilmente um bom aluno, brilhando no capítulo desportivo e aproveitando esses dois factores para se aproximar da rapariga mais bonita do liceu. Mas continuando a leitura, vemos que, ao contrário de muitos autores que têm optado por esta via mais simples (e comercial), Taniguchi, com uma narrativa serena e intimista, dá mais uma vez mostras da grande sensibilidade e do sentido poético que já revelara em obras como “L’homme qui marche” ou “Le journal de mon pére” (ambos da Casterman). E, por isso, Hiroshi divide-se entre a felicidade da nova existência e o medo de que as alterações que provoque no seu passado venham a modificar o presente que vivia antes do incidente. Indecisão que desaparece quando se apercebe que se encontra a poucas semanas do dia em que o seu pai abandonou para sempre o lar. E com a sua nova percepção da realidade, capaz de compreender o sentir e as reacções dos adultos, decide tentar evitar que a sua família se desmembre. Mas será possível mudar o curso do tempo que corre?
O relato é lento, para aprofundar os sentimentos das personagens, e nos levar a meditar nas consequências das escolhas que fazemos ao longo da vida. E é também amargo, quando Hiroshi descobre que, afinal, o seu pai abandonou a família porque chegou ao limite, porque quis soltar amarras e perseguir sonhos - o que tão poucas vezes somos capazes de fazer - ou quando compreende que a sua mãe apenas está grata por o inevitável ter demorado tanto a acontecer.
Em "Un ciel radieux", o conflito que era interior no caso de Hiroshi, vive-se a dois quando o espírito de Takuya tenta recuperar o corpo que o espírito de Kubota ocupa. Isto porque após o acidente rodoviário, ambos entraram em coma e, ao fim de algumas semanas, enquanto o corpo de Takuya recomeçava a viver, o de Kubota era dado como morto.
Começa então uma vivência difícil, preso no corpo de outro, no seio de uma família que não conhece - uma família que não o reconhece - enquanto vai progressivamente crescendo o conflito interior pela posse do corpo. Conflito ao nível dessa posse e ao nível de representantes de gerações diferentes - bastante diferentes. Conflito que, a certo ponto se torna cooperação, no encaminhamento para um final feliz - se assim se pode designar a morte - que dá corpo à afirmação de Taniguchi citada no início deste texto.
Antes disso, no entanto, vamos vendo como Kubota, que escondia alguns segredos, se convence que a situação presente é provisória e que a deve aproveitar para mostrar e dizer aquilo que em vida nunca conseguiu: expressar o seu amor pela sua mulher e a sua filha. Ao seu lado estará Kaori, namorada de Takuya, que, aceitando a estranha situação, o ajudará a tirar o máximo partido daquela oportunidade.
Mais uma vez o relato de Taniguchi decorre num ritmo lento, com os pontos de vista a multiplicarem-se durante os muitos diálogos que ele contém, sendo surpreendente como o autor consegue transmitir de forma tão forte as emoções presentes em muitas situações, nomeadamente no abraço de Takuya(/Kobuta) a Kaori ou no (re)encontro (e na despedida) deste último com a sua família.
Ambos os relatos são viagens (fantásticas) pelo mais profundo do ser humano, pelos seus sonhos, medos e ambições, pela forma como nos relacionamos (nos damos) com os outros e pela conflitualidade de sentimentos e desejos que é a vida.

(Versão revista e actualizada do texto originalmente publicado no BDJornal #18 de Abril/Maio de 2007)

06/11/2009

Sky Hawk

Jirô Taniguchi (argumento e desenho)
Casterman/Sakka (França, Outubro de 2009)
150 x 210 mm, 288 p., cor e pb, brochado
com sobrecapa


Resumo
Dois samurais japoneses – Hikosaburô e Manzô – exilados nos EUA após a restauração de Meij (1868) vivem da caça no território dos índios Crow.
Um dia, um acaso faz com que cruzem o caminho de Running Deer, uma índia que acaba de dar à luz e que é perseguida pelos brancos que a escravizaram.
Após alguns confrontos e uma longa fuga, os dois samurais juntam-se aos guerreiros oglagla, chefiados por Crazy Horse, que admiram as suas peculiares técnicas de combate corpo a corpo – ju-jitsu – e as suas estranhas armas – arco e flechas.
Juntos, irão participar na batalha do Little Big Horn, uma das mais célebres que opôs brancos e índios, e contribuirão para que os peles-vermelhas de Crazy Horse, Sitting Bull e outros grandes chefes, consigam vencer (e matar) o famoso General Custer.

Desenvolvimento
Taniguchi, a quem nos habituámos a ver como talentoso cronista de histórias quotidianas, em meio citadino, humanas e de uma enorme sensibilidade, surge aqui como encenador de um imenso western, em que transpôs (mais uma vez) para os quadradinhos um confronto épico entre brancos e índios (que conforme a sensibilidade de quem conta, alternam os papéis de bons e maus). Com Taniguchi, outra coisa não seria de esperar que serem os índios a lutar pela causa justa, a defesa das suas tradições e dos seus territórios sagrados e seculares, frente ao invasor branco movido pela ganância do ouro.
Um sinal de que esta incursão (surpreendente) por uma temática tão diferente não impediu Tanguchi de salientar princípios e temáticas que lhe são caros: o valor da vida humana, as relações entre eles, a harmonia com a natureza, o que torna Sky Hawk um western envolvente e fascinante, no qual a batalha ocupa apenas umas poucas páginas finais, enquanto que na maioria delas disserta sobre relações humanas e a proximidade do homem com a natureza. E nos mostra como formas de ser aparentemente distantes – o bushido japonês e o código de honra dos índios – podem afinal ter tantos pontos de contacto.
O retrato que Taniguchi traça dos grandes espaços selvagens do Velho Oeste e da forma de vida dos índios é cativante e, por vezes, até entusiasmado, embora perca pela reduzida dimensão da edição

A reter
- A forma como a história evolui, permitindo à ficção acompanhar a realidade histórica.
- O tratamento gráfico dado por Taniguchi à obra, com o seu traço fino, detalhado, vivo, expressivo, que é dinâmico quando a acção o exige, ou mais contemplativo quando a narrativa precisa de respirar.

Menos conseguido
- Se é verdade que o preto e ranço de Taniguchi é excelente, a amostra de aplicação da cor, patente nas 3 primeiras pranchas do livro, permite sonhar como seria belo o livro, se todas tivessem recebido igual tratamento.

Curiosidade
- Segundo Taniguchi, terão sido os japoneses os responsáveis pela introdução do arco e flecha junto dos peles-vermelhas.
- Um western spaghetti aos quadradinhos, narrado por um mangaka japonês é, sem dúvida, mais um sinal da globalização… e possivelmente um exemplo dos caminhos que a BD trilhará – já trilha…? - num futuro não muito distante.

11/08/2009

Le sauveteur

Jirô Taniguchi
Casterman (França, Abril de 2007)
150 x 210 mm, 336 p., pb, capa brochada com jaqueta

Resumo

Guarda de um refúgio nos Alpes japoneses, Shiga responde a um pedido de ajuda da mulher do seu velho amigo Sakamoto, que antes de falecer, 13 anos antes, o fez prometer que velaria pela sua esposa e filha. Deixa assim o seu “habitat”, para se embrenhar em Tóquio à procura de Megumi, a menor desaparecida.

Desenvolvimento
E embora Shiga não hesite em corresponder ao chamado que lhe é feito, é evidente o seu desconforto no meio citadino, de onde há muito voluntariamente se afastou. Este é um dos pontos de interesse deste manga, cujo tom – e tensão - se vai desenvolvendo num crescendo, à medida que o protagonista se aproxima do seu objectivo, sendo curiosa a comparação estabelecida entre o seu percurso e os passos necessários a uma escalada. Que, numa (longa) cena bem conseguida, acabará mesmo por acontecer, já na ponta final do livro.
Assim, em “Le sauveteur”, mais uma vez uma criação de Taniguchi confronta-se com a cidade, embora aqui o tom seja completamente díspar do de outras narrativas, nomeadamente “L’Homme qui marche”, com a contemplação a dar lugar à acção.
Apesar disso, esta é uma narrativa em que os diálogos têm um lugar preponderante, já que a busca de Megumi, mais do que em lugares, faz-se do questionar pessoas da sua área de conhecimentos ou das zonas (pouco recomendáveis, diga-se) que frequentava. A comunicação de Shiga, maioritariamente com desconhecidos, a maior parte das vezes pouco amigáveis ou pouco dispostos a ajudar, mas também com a mãe e o avô da desaparecida ou com os seus amigos alpinistas, é feita sempre com diálogos no tom justo, credíveis, convincentes, que fazem a história avançar, num ritmo propositadamente lento, sem saltos bruscos ou incoerências, e que permitem ao leitor estar sempre a par do ponto em que está a procura em que o protagonista se empenha.
Ao mesmo tempo, a par desta busca profundamente humana, Taniguchi traça um retrato (desencantado) de uma certa realidade japonesa que, apesar de chocante, não se questiona pela forma quase documental como é apresentada e que contrasta com a imagem sóbria que geralmente passa daquele país. E que faz com que o final, à primeira vista feliz, numa segunda leitura deixe muitas dúvidas quanto às marcas que os acontecimentos daqueles dias deixaram nos seus protagonistas.


A reter
- Os diálogos.

Menos conseguido
- A história ganhava se o leitor fosse mantido na ignorância da identidade do culpado e do destino de Megumi até mais perto do final.
- O contraste entre o ar (quase) semi-caricatural dos rostos das personagens e o traço realista (fotográfico) dos edifícios.

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