Cada
vez mais, as edições integrais são o melhor caminho para quem quer
conhecer obras do passado - mesmo que relativamente recente - ou
recordar aquelas que marcaram a sua infância ou juventude - com
todos os riscos que isso acarreta!
Por
isso, esta será uma semana (quase?) toda dedicada a edições
integrais, aqui em As
Leituras do Pedro.
Escrevo
acima que uma das vantagens dos integrais é conhecer
- ou
seja, descobrir - obras
que por um motivo ou outro nos passaram ao lado ou, por exemplo,
sobre as quais, por
alguma razão,
formulámos uma opinião que agora queremos
fundamentar ou
corrigir.
Descobri
Chevalier
Ardent
em
volumes emprestados da
Tintin
portuguesa e
em várias das suas revistas ‘subsidiárias’ - Anual,
Selecções
Tintin…
- e
no Mundo
de Aventuras
li um bom número das suas histórias aventuras curtas. Que
são tantas que até preenchem o sexto e último volume desta
reedição integral.
Dessas
leituras e,
principalmente, dos (4)
primeiros
álbuns da série, que tiveram
direito a edição portuguesa da Bertrand e da Verbo, formei desta
série uma ideia não especialmente abonatória: uma proposta
pró-adolescente, de aventuras, com os esperados maniqueísmos e o
protagonismo a toda a prova de Ardent. A leitura - quase por acaso -
do segundo integral, veio mostrar-me que estava errado, pelo menos em
boa parte.
Na
verdade, há nesta série de cunho medieval, bem mais do que aquilo
que escrevi
acima, a
começar por um retrato credível - possível? - de uma Idade Média
que se afasta um tanto dos ideais de cavalaria.
Protagonizada por um adolescente/jovem - a evolução é rápida -
que facilmente se exalta e descontrola, avança entre os seus feitos
- que correm a par das suas reacções intempestivas e consequentes
disparates - a sua paixão por Gwendoline, filha do Rei Arthus
e a relação de quase admiração/ódio que este último e Ardent
nutrem devido à jovem.
Na
verdade, se por um lado Arthus
se revê no jovem intempestivo e não hesita mesmo em lutar ao seu
lado em ocasiões determinadas, por outro, revolta-se pela falta de
sentido de estado que ele revela e não lhe reconhece mérito de
nascimento para lhe conceder a mão da filha, pese embora o amor que
os jovens nutrem. E que - surpresa das surpresas numa série da
Tintin
(mesmo) dos anos 1980 - tudo indica, chegam mesmo a consumar no
episódio Le
Passage,
que abre este quarto integral cuja - pouca - acção se centra tanto
no romance dos dois jovens quanto na reconstrução do castelo de
Rougecogne, entre uma e outra intriga.
O
tom de animosidade entre Ardent e Arthus,
aparentemente apaziguado em Le
Champion du Roi,
recrudesce em Le
Piége
- que, curiosamente, quando estreou em revista tinha por títilo
Piége
à
Kiev…
- e
marca
assim todo este tomo e contribui para as sucessivas mudanças de
ânimo do protagonista, muito pouco normais em
heróis deste
género de banda desenhada. Ou no género de banda desenhada em que
eu, de forma precipitada, reconheço agora, classificava Chevalier
Ardent, que na
verdade apresenta uma espessuar e um lado humano que me surpreendeu.
Graficamente,
se há alguns desequilíbrios no tratamento da figura humana e as
cores, reflexo de uma determinada época, são por vezes demasiado
berrantes, há também algumas soluções de composição de página
interessantes, com influências da pintura expressionista,
nomeadamente quando os desequilíbrios de Ardent o aproximam
perigosamente de um estado de loucura.
Ao
contrário do que costuma ser norma, o dossier incluído encerra o
volume em vez de o abrir, mas sabe a pouco pois é parcamente
ilustrado e limita-se a uma entrevista com o desenhador Philippe Wurm
que expressa a sua opinião sobre a obra de Craenhals.
Inclui
os álbuns Le Passage, Le Champion du Roi, Le Piége e L’Arc de
Saka
François
Craenhals
Casterman
França,
2015
221
x 288 mm, 216 p., cor , capa dura
ISBN:
9782203079359
25,00
€
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em
toda a sua extensão)
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