Resumo
Adrenalina,
a filha do grande chefe gaulês Vercingétorix, é entregue ao
cuidado da aldeia de Astérix, Obélix e dos restantes gauleses, pois
é perseguida pelos romanos que a querem raptar e romanizar e impedir
que o torque - uma espécie de colar - que herdou do pai, seja
utilizado como símbolo pela resistência.
Mas
a tarefa não será fácil, pois a jovem possui a inquietude, a
revolta e a vontade de contrariar própria dos adolescentes.
Contexto
[A
partir daqui são feitas algumas revelações, em meu entender
ligeiras. sobre a história, mas que alguns poderão preferir
evitar.]
Tendo
recebido em 2012 a difícil tarefa de recuperar a herança de
Goscinny e fazer esquecer o período menos feliz em que Uderzo
assumiu sozinho os destinos de Astérix, Ferri e Conrad, ao quarto
álbum, revelam já um grande à-vontade com as personagens e as
situações, conseguindo renovar e modernizar sem renegarem nem
questionarem o passado da personagem.
“A
filha de Vercingétorix”, o 38.º álbum das aventuras de Astérix
lançado no passado dia 24, é mais uma aventura ambientada na aldeia
gaulesa ‘que tão bem conhecemos’, marcada pela chegada da filha
do grande chefe gaulês, perseguida pelos romanos e por um traidor
gaulês.
Parece-me
óbvio - com as naturais excepções - que os álbuns ‘caseiros’,
graças ao decurso da acção num espaço (relativamente) fechado e
bem conhecido dos leitores, permitem uma melhor exploração das
situações e das personagens menos conhecidas, o que lhes confere
uma maior consistência, o que nem sempre acontece nas narrativas ‘em
curso de viagem’ que obrigam a uma mais rápida exploração de
gags e uma vista de olhos contínua
mas mais
apressada pelos diferentes cenários de passagem.
Isto
permite, por exemplo, no
presente álbum, um
protagonismo mais
alargado dos
piratas, a apresentação e participação relevante de dois
adolescentes locais (bem escolhidos como) filhos do ferreiro e do
peixeiro, e um vilão, o traidor Maniacossérix, muito conseguido e
bem caracterizado.
Estes protagonismos inesperados tornam-se mais pertinentes pela (quase) total ausência de Panoramix e do próprio Matasétix e pelo relegar de Astérix e Obélix a papéis (quase) secundários, numa história completamente centrada em Adrenalina e na sua vontade de libertação do peso da responsabilidade que o nome do pai lhe traz.
O ar de modernidade atrás referido é assegurado pelos valores importantes - e ‘da moda’ - que os adolescentes defendem - alimentação saudável, recusa de carne, cuidados com o peso - bem inseridos no contexto da série, surgindo como senão - porque datada e ultrapassada - a discussão vestido/calças entre Adrenalina e a mulher do chefe e, principalmente, a resolução da situação do jovem de uma forma tão tradicional, deslocada de todo o contexto.
Estes protagonismos inesperados tornam-se mais pertinentes pela (quase) total ausência de Panoramix e do próprio Matasétix e pelo relegar de Astérix e Obélix a papéis (quase) secundários, numa história completamente centrada em Adrenalina e na sua vontade de libertação do peso da responsabilidade que o nome do pai lhe traz.
O ar de modernidade atrás referido é assegurado pelos valores importantes - e ‘da moda’ - que os adolescentes defendem - alimentação saudável, recusa de carne, cuidados com o peso - bem inseridos no contexto da série, surgindo como senão - porque datada e ultrapassada - a discussão vestido/calças entre Adrenalina e a mulher do chefe e, principalmente, a resolução da situação do jovem de uma forma tão tradicional, deslocada de todo o contexto.
Embora
penalizadores, estes dois aspectos não questionam uma
história bem ligada, muito
consistente
e ritmada, em
que, se é verdade que poderíamos desejar aqui e ali um
pouco mais de transgressão e/ou
provocação, se
multiplicam os trocadilhos - bem
conseguidos também na versão portuguesa -
as referências culturais - Aznavour,
Lennon… - ou à própria série - veja-se o aproveitamento da
rendição de Vercngetorix, ‘herdada’ de Astérix,
o gaulês
- e
os gags em continuidade antigos
- como a rivalidade entre Ordemalfabetix e Eautomatix
ou a relação dos gauleses com os piratas - ou de ocasião - como o
lema gritado das forças da resistência -
que proporcionam uma primeira
leitura
muito
divertida
e aconselham
uma revisão,
mais atenta aos (muitos) pormenores.
A
reter
-
A consistência da história.
-
A boa
caracterização das
novas personagens.
-
Os diversos níveis de humor que o álbum apresenta.
-
O traço de Conrad, solto, fluído, expressivo, recheado de piscares
de olho nos fundos e nas composições de página, completamente à
vontade com os gauleses e finalmente libertado
do peso da herança de Uderzo, sem nunca a desrespeitar.
-
A boa versão portuguesa.
-
O acompanhamento pela
edição da
ASA
- como aliás é habitual - do lançamento mundial, com uma
respeitável tiragem de 50 mil exemplares.
-
A vinda a Portugal, de novo,
de Ferry e Conrad para promoção do álbum junto da imprensa.
Fica a faltar um regresso para se encontrarem com os leitores…
Menos
conseguido
-
O final forçado, como referido acima.
-
A forma como alguns quiseram forçar semelhanças entre Adrenalina e
Greta Thurnberg - o que até não deixa de ser elogioso para Astérix.
- Pessoalmente não sou grande apreciador da capa, que me parece demasiado vaga, para lá da evidente e justificada presença destacada de Adrenalina, que é tão só a quarta personagem feminina a ter este privilégio em 38 álbuns.
- Pessoalmente não sou grande apreciador da capa, que me parece demasiado vaga, para lá da evidente e justificada presença destacada de Adrenalina, que é tão só a quarta personagem feminina a ter este privilégio em 38 álbuns.
Astérix:
A
filha de Vercingétorix
Jean-Yves
Ferri (argumento)
Didier
Conrad (desenho)
ASA
Portugal,
24 de Outubro de 2019
298
x 226 mm, 48 p., cor, capa dura
10,90
€
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em
toda a sua extensão)
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