31/10/2019

Marcello Quintanilha; “Conto histórias inspiradas em minhas experiências pessoais, no universo que conheci na primeira pessoa, com toda sua peculiar gama de valores.”







Marcello Quintanilha esta de regresso ao Amadora BD, para o lançamento de mais uma obra sua pela Polvo, Folia de Reis, que compila as histórias originalmente publicadas nas edições brasileiras Sábado dos meus amores e Almas Públicas.
Na entrevista que se segue, feita por correio electrónico, o autor dá algumas pistas sobre este livro e sobre a forma como reflecte sobre as suas obras.

As Leituras do Pedro - As histórias de Folia de Reis têm já 10, 12 anos. Como as encara hoje?
Marcello Quintanilha - Exactamente da mesma forma em que as encarava no momento de sua criação, nada mudou, não sinto nenhum tipo de distanciamento, não considero sequer que estas histórias constituam uma etapa anterior da minha trajectória. Elas são o que sempre foram: histórias inspiradas em minhas experiências pessoais, no universo que conheci na primeira pessoa, com toda sua peculiar gama de valores.

As Leituras do Pedro - O que mudou entretanto na sua forma de narrar em quadrinhos?
Marcello Quintanilha - Absolutamente nada. Tanto minha percepção, como minhas motivações, permanecem inalteradas.

As Leituras do Pedro - E como mudou o Brasil neste tempo? Os retratos humanos de pessoas simples que traça nas histórias curtas compiladas neste livro, ainda fazem sentido?
Marcello Quintanilha - A questão só se justificaria se Folia de Reis fosse um álbum pensado para abarcar um período histórico, social e politicamente falando. Minha forma de proceder, no entanto, segue caminho diametralmente oposto a este.
Tenho imensa dificuldade em absorver ideias pré-concebidas, como as que historicamente envolvem a percepção do que você chama “gente simples”, porque elas reproduzem uma série de generalizações com as quais não estou nem nunca estive de acordo, geralmente no sentido de estabelecer uma diferença social/económica/intelectual, entre o autor e o objecto de sua criação, e acho este um procedimento deplorável.
Meus personagens não representam uma interpretação da população brasileira construída de fora para dentro, a partir de padrões derivados da compreensão de momentos históricos específicos, e cuja compreensão final se estabeleça nesses marcos; porque nunca trabalho sob a perspectiva do distanciamento. Eles são desdobramentos de tudo que me constitui como ser humano e o contexto no qual cada história se desenvolve corresponde a um resgate relacionado à ampliação de um arcabouço iconográfico em constante construção no panorama do quadrinho brasileiro. Logo, as diferentes etapas económico-políticas pelas quais o país tenha passado, não afectam em nada minha produção.

As Leituras do Pedro - Estas histórias são baseadas em casos reais ou nasceram da sua imaginação?
Marcello Quintanilha - As duas coisas. Embora todas as histórias sejam ficcionais, elas poderiam ter ocorrido exactamente nos mesmos termos em que estão expressas no álbum.

As Leituras do Pedro - O futebol e a religião - e o futebol como religião - são recorrentes neste livro e na sua obra de uma maneira geral. Porquê esta relação tão forte com estes temas?
Marcello Quintanilha - Porque eles estão na base da edificação do que compreendemos por identidade brasileira. É impossível pensar essa sociedade sem levar em conta esses factores.

As Leituras do Pedro - Como apresenta este livro a um leitor que não conheça ainda a sua obra?
Marcello Quintanilha - Como uma história em quadrinhos (ou banda desenhada, se você prefere) que trata sobretudo das relações humanas, assim como com o entorno; da forma como o ser humano precisa encontrar meios para superar as dificuldades impostas por suas circunstâncias, sejam elas sociais ou afectivas.

As Leituras do Pedro - E àqueles que já são seus leitores?
Marcello Quintanilha - Não há outra forma de definir meu trabalho, pelo que temo que teria de dar a mesma resposta.

Folia de reis terá ainda uma sessão de lançamento, autógrafos e bate-papo com o autor, hoje, dia 1 de Novembro, pelas 18h00, na Casa Pau-Brasil/Livraria da Travessa, em Lisboa.

Folia de reis, de Marcello Quintanilha terá uma apresentação apresentação conjunta com Grande, de André Ducci, no Amadora BD, no dia 2 de Novembro, sábado, pelas 16h00, a cargo do jornalista João Morales.

Marcello Quintanilha estará nas tardes dos dias 01 a 03 de Novembro no Amadora BD, para autógrafos.

(entrevista tornada possível por Rui Brito, da editora Polvo, a quem As Leituras do Pedro agradecem a oportunidade; imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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