07/10/2021

Pobre Lampil + Petite Nature


Em modo revista

Ao longo das últimas semanas, li estes dois integrais, que o acaso juntou na minha pilha de leituras, (quase que) em ‘modo revista’. Que é como quem diz, ao ritmo errático de umas quantas páginas ou uma ou duas histórias curtas por dia (ou dias), sem obrigações temporais nem pré-determinações horárias, aproveitando momentos mortos quotidianos.
Dessa forma, de algum modo, evoquei os (bons) tempos em que as séries eram (primeiramente) consumidas em revista e evitei a(lguma) repetição que este tipo de compilações (sempre) acarreta.

Em comum aos dois livros - para além do formato integral ou da origem franco-belga - também a entrega do protagonismo aos próprios autores ou, mais acertadamente, aos seus alter-egos, respectivamente Lampil e J.-C., numa visão redutora e humorística, que evoca os tiques e manias de cada um, bem como algumas vicissitudes da sua profissão comum: desenhadores de BD.

No caso de Pobre Lampil, lido no primeiro (de futuramente dois) volume(s) da edição espanhola da Dólmen Editorial, a par dos bloqueios criativos do protagonista Lampil (versão desenhada do próprio Willy Lambil) e das recorrentes disputas com Raoul Cauvin, o seu argumentista, assistimos também às constantes embirrações com o talhante ou o farmacêutico, para já não falar das frequentes tensões com a esposa, da eterna submissão ao seu editor, o senhor Dupuis, e de se considerar um eterno incompreendido por todos.

Com pormenores de fundo alusivos, principalmente ao grande sucesso desta dupla, Os Túnicas Azuis, com um traço humorístico dinâmico e caricatural, as piadas correm ao ritmo de duas páginas (quase sempre), com a exploração recorrente a criar familiaridade com o leitor, sempre expectante do (novo) desfecho proposto.

No final, algumas páginas de esboços e ilustrações, bem como um texto que dá a conhecer a génese da série e a contextualizá-la na época original de publicação, na revista Spirou.


Quanto a Petite Nature, que comporta os três álbuns da série publicados a solo, assume um tom mais adulto e mesmo provocador, ou não tenha nascido nas páginas da revista Fluide Glacial. O protagonista, aqui, é o próprio autor, J.-C. (Chauzy), que se apresenta esguio e desajeitado, volúvel e influenciável, uma espécie de ‘filho espiritual de Gaston Lagaffe’, a meter-se constantemente em situações incómodas e embaraçantes, sejam elas motivadas pela facilidade com que se deixa influenciar, pelos desejos secretos de conquistar as suas fãs nas sessões de autógrafos, pelo conflito geracional sempre patente na relação com os dois filhos (ou com a mãe) ou pelos seus problemas testiculares recorrentes…!

Com o contributo, no argumento de alguns dos relatos, de Zep, Yan Lindingre ou Anne Barrois, a personagem, uma das mais disparatadas da banda desenhada auto-biográfica (se assim posso escrever) é completamente demolida com uma crueza e uma mordacidade, ao mesmo tempo terna e cruel.

Neste caso, o volume encerra com uma entrevistam ao próprio autor e, caso raro nestas edições, inclui também uma série de relatos que não chegaram a ser publicados na revista e até agora permaneciam inéditos.


Pobre Lampil (1973-1982)
Raoul Cauvin (argumento)
Willy Lambil (desenho)
Dólmen Editorial
França, Maio de 2021
210 x 280 mm, 176 p., cor, capa dura
29,95 €


Petite Nature Intégrale
Jean-Christophe Chauzy, Zep, Yan Lindingre e Anne Barrois (argumento)
Jean-Christophe Chauzy (desenho)
Fluide Glacial
França, Agosto de 2021
216 x 288 mm, 192 p., cor, capa dura
24,90 €

(imagens disponibilizadas pela Dólmen editorial e pela Fluide Glacial; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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