Ao
longo das últimas semanas, li estes dois integrais, que o acaso
juntou na minha pilha
de leituras, (quase que) em ‘modo revista’. Que é como quem diz,
ao ritmo errático de umas quantas páginas ou
uma ou duas histórias curtas por
dia (ou dias), sem obrigações temporais nem pré-determinações
horárias, aproveitando momentos mortos quotidianos.
Dessa
forma, de algum modo, evoquei os (bons) tempos em que as séries eram
(primeiramente) consumidas em revista e evitei a(lguma) repetição
que este tipo de compilações (sempre) acarreta.
Em comum aos dois livros - para além do formato integral ou da origem franco-belga - também a entrega do protagonismo aos próprios autores ou, mais acertadamente, aos seus alter-egos, respectivamente Lampil e J.-C., numa visão redutora e humorística, que evoca os tiques e manias de cada um, bem como algumas vicissitudes da sua profissão comum: desenhadores de BD.
No caso de Pobre Lampil, lido no primeiro (de futuramente dois) volume(s) da edição espanhola da Dólmen Editorial, a par dos bloqueios criativos do protagonista Lampil (versão desenhada do próprio Willy Lambil) e das recorrentes disputas com Raoul Cauvin, o seu argumentista, assistimos também às constantes embirrações com o talhante ou o farmacêutico, para já não falar das frequentes tensões com a esposa, da eterna submissão ao seu editor, o senhor Dupuis, e de se considerar um eterno incompreendido por todos.
Com pormenores de fundo alusivos, principalmente ao grande sucesso desta dupla, Os Túnicas Azuis, com um traço humorístico dinâmico e caricatural, as piadas correm ao ritmo de duas páginas (quase sempre), com a exploração recorrente a criar familiaridade com o leitor, sempre expectante do (novo) desfecho proposto.
No final, algumas páginas de esboços e ilustrações, bem como um texto que dá a conhecer a génese da série e a contextualizá-la na época original de publicação, na revista Spirou.
Quanto a Petite Nature, que comporta os três álbuns da série publicados a solo, assume um tom mais adulto e mesmo provocador, ou não tenha nascido nas páginas da revista Fluide Glacial. O protagonista, aqui, é o próprio autor, J.-C. (Chauzy), que se apresenta esguio e desajeitado, volúvel e influenciável, uma espécie de ‘filho espiritual de Gaston Lagaffe’, a meter-se constantemente em situações incómodas e embaraçantes, sejam elas motivadas pela facilidade com que se deixa influenciar, pelos desejos secretos de conquistar as suas fãs nas sessões de autógrafos, pelo conflito geracional sempre patente na relação com os dois filhos (ou com a mãe) ou pelos seus problemas testiculares recorrentes…!
Com o contributo, no argumento de alguns dos relatos, de Zep, Yan Lindingre ou Anne Barrois, a personagem, uma das mais disparatadas da banda desenhada auto-biográfica (se assim posso escrever) é completamente demolida com uma crueza e uma mordacidade, ao mesmo tempo terna e cruel.
Neste caso, o volume encerra com uma entrevistam ao próprio autor e, caso raro nestas edições, inclui também uma série de relatos que não chegaram a ser publicados na revista e até agora permaneciam inéditos.
Pobre
Lampil (1973-1982)
Raoul
Cauvin (argumento)
Willy
Lambil (desenho)
Dólmen
Editorial
França,
Maio
de
2021
210
x 280
mm,
176
p.,
cor, capa dura
29,95
€
Petite
Nature Intégrale
Jean-Christophe
Chauzy, Zep, Yan Lindingre e Anne Barrois (argumento)
Jean-Christophe
Chauzy (desenho)
Fluide
Glacial
França,
Agosto
de
2021
216
x 288
mm,
192
p.,
cor, capa dura
24,90
€
(imagens disponibilizadas pela Dólmen editorial e pela Fluide Glacial; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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