Há muito
rendido ao catálogo Bonelli - na óptica da BD popular,
fundamentalmente de entretenimento - com (algum) conhecimento de
algumas das suas séries principais, com Tex e Julia à cabeça, mas
passando também por Dylan Dog, Martin Mystère, Dampyr, Nick Raider,
Dragonero, Zagor, Mister No... tenho desde sempre uma lacuna que
alguns julgarão imperdoável: Nathan Never.
(Re)começo aqui, uma descoberta mais profunda de uma série de que até hoje nem
sequer tinha lido uma mão cheia de títulos.
Série de ficção-científica ambientada no século XXII, nela encontramos um mundo em que a tecnologia predomina e em que, após uma série de guerras e de anos de corrupção, a segurança foi entregue a agências privadas, entre as quais a Alpha, para a qual o protagonista trabalha.
Primeira incursão da Sergio Bonelli Editore na ficção-científica, no início da década de 1990, revela, em Agente Especial Alpha, a narrativa de estreia de Never, o tempo que passou desde então, com uma série de elementos então futuristas, que na época seriam com certeza avançados, mas que nos nosso dias, um século mais cedo... - já soam como anacrónicos. Para além disso, há uma nítida procura do carácter do protagonista, aqui ainda muito indefinido - como o futuro irá demonstrar - pouco incisivo e decidido e constantemente sob a alçada do director da agência em que trabalha.
No segundo relato hoje em causa, Las Fieras - o #111 da numeração original, de Agosto de 2000, uma década mais tarde... - a agência Alpha é contratada para ilibar um comando militar acusado de um massacre de civis, contra todos os indícios e provas.
Sem necessidade de reforçar a componente tecnológica e espacial, tem mais de relato policial e de julgamento em tribunal do que propriamente de ficção-científica - não sendo difícil imaginar Las Fieras num outro contexto - como a II Guerra Mundial ou a Guerra do Vietname, por exemplo, sem necessidade de grandes mexidas argumentais [- lembrando o que, décadas antes era comum: os autores reciclarem os seus argumentos para novos heróis...]
Desta forma, Nathan Never vai mergulhar numa situação obscura e pouco recomendável - como existem em todos os conflitos - procurando a verdade que poderes mais altos tentam silenciar, para justificar o que - em qualquer situação - é sempre injustificável: a morte de civis (inocentes).
Numa história bem ritmada, em que se alternam cenas de tribunal, a investigação propriamente dita com interrogatórios e busca de pistas e algumas cenas de acção, o leitor vai senso levado até um final diferente do que parecia evidente, como aliás deve acontecer em qualquer bom relato policial.
Regressando ao pressuposto inicial deste texto, se é verdade que foram duas leituras que retiveram a minha atenção - a primeira pela curiosidade da estreia do herói, a segunda pelo enredo bem construído - e globalmente me satisfizeram, parece-me terem sido pouco representativas (?) da imagem que tinha construído de Nathan Never: um relato de ambientação futurista e espacial com alguma consistência, aspectos pouco evidentes no primeiro livro e (praticamente) irrelevantes para o desenrolar da segunda intriga.
A confirmação destas impressões - ou não - fica a aguardar por novas leituras protagonizadas pelo agente da Alpha.
Nathan
Never: Agente Espacial Alfa
Antonio
Serra (argumento)
Claudio
Castellini (desenho)
Aleta
Ediciones
Espanha,
2016
215
x 290 mm, 112 p., pb, capa dura
Nathan
Never #1 Las Fieras
Michele
Medda (argumento)
Stefano
Casini (desenho)
Aleta
Ediciones
Espanha,
Setembro de 2006
160
x 210 mm, 96 p., pb, capa cartão
(capas das edições espanholas em leitura; pranchas disponibilizadas pela Sergio Bonelli Editore; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
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