Capas
Uma
capa pode dizer tanto ou tão pouco - mas ser igualmente
(des)interessante.
Esta
reflexão, surgida a propósito dos dois últimos inquéritos de
Dylan Dog que li - este e O
número 200,
que A Seita editou entre nós há pouco - pode não passar de uma
verdade de
La Palisse,
mas a verdade é que a capa de um livro é a sua primeira porta de
entrada e tanto pode seduzir o leitor como afastá-lo de imediato.
Independentemente
disso, esta edição confirmou a genialidade permanente (ou quase)
que sempre rodeia Dylan Dog.
Em comum, ambas as histórias - para além do óbvio protagonista - têm os autores, a escritora Paola Barbatto e o desenhador Bruno Brindisi. Com mais de 130 relatos -mais de dez anos! - entre as duas narrativas - esta corresponde ao Dylan Dog #338 original - em ambas o Detective do Impossível apaixona-se pela cliente 'do dia', como é seu timbre.
Reflexão sobre a morte - sobre o tempo final(?) que a antecede, quando o ser humano já está predisposto (alguma vez está?) para ela - A Despedida é também um tratado de humor negro.
Como tantas vezes, preocupado com o que está à sua frente - a reforma de Bloch e a cliente que devia estar morta - Dylan não vê o retrato global: uma Londres pejada de gente - atropelada, estropiada, eletrocutada, assassinada... - que devia ter morrido e continua a viver.
A razão - aos seus olhos e aos ditos cujos esbugalhados dos leitores - só será desvendada no final, especialmente terno e comovente, mais a mais por surgir da boca de quem - quem? - menos se espera.
Entre amizade, paixão, ódio e vingança, A Despedida surge como mais uma bela história sobrenatural com muito de humano, numa longa bibliografia de Dylan Dog que exibe tantos pontos altos.
Capas
Mas vamos então às capas que desencadearam este texto. Não sendo as suas escolhas imputáveis à Mythos, no Brasil, nem a A Seita, em Portugal - pois são unicamente da responsabilidade da Sergio Bonelli Editore - nestes dois casos surgem com estilos diametralmente opostos.
A edição portuguesa 'herdou' uma capa comemorativa de 200 edições - infeliz no modo e no estilo, e sem fazer grande sentido fora desse desiderato (e eu sei que a editora lusa lutou para poder usar uma imagem diferente). Já esta edição brasileira, foi 'contemplada' com uma bela realização gráfica. Por um lado, porque evoca a sombra tutelar (e protectora) de Bloch sobre Dylan ao longo da série e espelha o desânimo deste perante a partida - a reforma - do amigo de sempre - como O Número 200 nos revelou. Por outro lado, porque o seu autor - Angelo Stano - decidiu piscar o olhos aos leitores de comics da Marvel, emulando com o seu desenho uma célebre capa de John Romita Sénior para The Amazing Spider-Man #50.
Não sendo opostos nem extremos - apenas géneros diferentes, com uma importante qualidade em comum, o serem eminentemente 'populares' - não deixa de ser importante ver como comics e fumettis se podem tocar.
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