Solidez
Com o renascimento do western a ser hoje uma realidade, Lonesome é mais uma proposta interessante no nosso mercado, que traz consigo a apresentação aos leitores portugueses de Yves Swolfs, um nome de créditos firmados no género, graças a Durango, uma série já com 18 volumes.
Surgida em 1980, directamente em álbum, sem pré-publicação, Durango foi a primeira BD deste belga, nascido em 1955. Mantida como referência na sua bibliografia desde então, com o tomo mais recente a datar de 2021, Swolfs tem-na alternado com outras séries - também de outros géneros - entre as quais este Lonesome, criada em 2017 e já com três álbuns publicados.
Na boa tradição do western mais puro e duro, esta série que a Gradiva acrescenta agora ao seu catálogo tem por protagonista um cowboy solitário, movido por uma vingança, cujas razões e contornos nos vão sendo apresentados aos poucos, em paralelo com a narrativa principal, sabendo-se que os acontecimentos que a desencadearam tiveram lugar há cerca de 15 anos. A perda dos pais, então, levou-o a ser criado com os índios, juntos dos quais descobriu um estranho dom: a capacidade de ver o passado e o destino daqueles em que toca.
A acção decorre em 1861, nuns Estados Unidos ainda fracturados pela recente guerra civil que opôs esclavagistas e abolicionistas, com o protagonista anónimo a perseguir o pregador Markham que, à frente de uma horda de fanáticos, defende o absolutismo e combate o adultério e a vida dissoluta (das mulheres) a tiros e golpes de chicote.
Western duro e violento, com o percurso que os leitores acompanham pejado de cadáveres, embora ainda esteja no início e este seja um volume iniciático, com o esboço - embora já seguro - dos intervenientes e do tom, Lonesome tem tudo para agradar aos apreciadores do género - como eu - e também para seduzir aqueles que apreciam a sólida base histórica que serve de pano de fundo ao relato, a boa reconstrução de época e um argumento consistente, desenvolvido de forma progressiva e bem estruturada.
Graficamente, Swofs revela um grande à-vontade, assentando a sua narrativa num traço fino, realista, personalizado e detalhado, e numa planificação cuja geometria mais tradicional é contrariada com alguma frequência com a inserção de vinhetas dentro de vinhetas ou pela fuga de alguns dos elementos à rigidez dos seus limites, o que confere a A pista do pregador um dinamismo extra, a par do definido pelo desenho, e a possibilidade de destacar momentos fulcrais ou pormenores úteis para o seu avanço.
Lonesome
#1 A pista do pregador
Yves
Swolfs
Gradiva
Portugal,
Fevereiro
de 2022
233
x 313 mm, 56
p., cor,
capa dura
16,50
€
(imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar nesta ligação para ler as primeiras 11 pranchas ou nas aqui reproduzidas para as apreciar em toda a sua extensão)
Acabei de ler. Excelente BD. Excelente crónica
ResponderEliminarObrigado, Jorge.
EliminarBoas leituras!