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10/02/2012

Doríval Vítor Lopes, editor da Mythos

Foto de José Carlos Francisco
“O mercado português é pequeno e tem problemas de distribuição”






As Leituras do Pedro - Como nasceu a Mythos?
Dorival Vítor Lopes - Meu sócio Helcio de Carvalho e eu trabalhamos com BD desde 1972. Nessa época eu era coordenador de produção da Redação Disney da Editora Abril e Helcio era colorista das histórias. Desde então nunca paramos de trabalhar com BD, passando tempos depois para os super-heróis Marvel e DC. Em 1987 saímos da Abril e cada um abriu seu estúdio de produção de BD para a própria Abril. Trabalhamos também para a Editora Globo e outras menores. Em 1991 juntamos os dois estúdios de produção de BD em um só e achamos que deveríamos nos aventurar no campo da editoria. Assim, fundamos a Mythos Editora Ltda., publicando alguns personagens super-heróis que a Abril não se interessava em editar. A partir dali vieram outros personagens, como o famoso mangá Lobo Solitário e vários personagens da editora americana Dark Horse. 

ALP - Qual o seu objectivo?
DVL - O objectivo era mesmo realizar aquilo que mais nos deliciava, que era fazer BD. Logo passamos a publicar também livros e revistas de auto-ajuda, esoterismo e espiritismo; temas que são muitos caros ao Helcio, que é um estudioso dessas matérias.
ALP - Porquê a opção pelos fumetti Bonelli?
DVL - Quando eu tinha o estúdio de produção de BD produzia quase todas as revistas da Editora Globo, entre elas Tex. Assim, quando em 1998 a Globo anunciou que não se interessava mais em publicar Tex, foi muito natural que ele viesse para a Mythos. 

ALP - Qual a importância do mercado português para a Mythos? Quanto representa em percentagem?
DVL - O mercado português é bem pequeno e tem muitos problemas de distribuição. Já mudamos de distribuidor três vezes e nenhum parece atender o mercado lusitano como ele merece e como gostaríamos, daí as vendas tão baixas. Tex vende em Portugal cerca de 4% do que vende no Brasil, cuja venda já é bem pequena se comparada com a carreira do personagem na Itália. Curiosamente Tex vende no Brasil cerca de 4% do que vende na Itália. 

ALP - Quanto vendem, no Brasil e em Portugal, os títulos da Mythos?
DVL - Por contrato não podemos revelar números.
Foto de José Carlos Francisco
ALP - Mas quais são os títulos mais vendidos?
DVL – Por ordem: Tex, Almanaque Tex, Tex Anual, Tex Coleção, Tex Gigante, Tex Edição de Ouro, Tex Edição Histórica, Zagor, Mágico Vento, J. Kendall. 

ALP - Nos últimos anos, com as edições coloridas, a ida de autores Bonelli a festivais e salões em Portugal e no Brasil, e o crescimento de sites dedicados a HQ, tem havido mais publicidade às edições da Myhtos. Isso tem-se reflectido nas vendas?
DVL - Não mudou quase nada. A tendência continua de queda, lenta mas contínua. Nenhuma publicação teve aumento nas vendas. Já estamos felizes por personagens como Zagor, Júlia e Mágico Vento estarem estabilizados. 

ALP - Como está o mercado de bancas no Brasil?
DVL - Ruim e em queda. Nossas bancas parecerem bazares, com milhares de revistas e outros produtos à mostra. Então fica difícil uma revista de BD se destacar e ser vista pelo público em meio a revista adultas, que são em formato maior. Se o leitor não pedir ao jornaleiro por um título específico ele dificilmente encontrará a revista sozinho.
ALP - Como se divide esse mercado entre as edições Bonelli, Turma da Mônica, Marvel e DC Comics e Disney?

DVL - Não sei dizer, pois desconheço quanto vendem as revistas que não são da Mythos, mas creio que em primeiro lugar está Mauricio de Sousa, depois vem Marvel, DC, Tex, Disney e demais Bonellis. 

ALP - Uma questão que tenho levantado várias vezes: publicar as revistas mensais no formato original italiano, maior e com melhor papel, não permitiria ganhar novos leitores?
DVL - Isso significaria aumentar demais o preço de capa. Nossa coleção Tex em Cores, em formato italiano, cores e ótimo papel, vendia bem menos da metade de um Tex normal, tornando difícil a sua continuação - além de outros fatores que nos obrigaram a parar no nr. 12. Além disso, o material Bonelli é todo em preto e branco, o que afasta o leitor mais jovem, acostumado desde bebê com Disney, Mauricio e super-heróis, sempre coloridos. 
Foto de José Carlos Francisco
ALP - Porque acabou (no Brasil) o Tex em Cores?
DVL - Suas vendas estavam perigosamente perto do ponto de equilíbrio (custo x vendas) e também não houve acordo com a Bonelli quanto aos royalties a serem pagos. 

ALP - Nunca foi equacionada uma colecção Tex ou Bonelli com jornais brasileiros ou portugueses?
DVL - Tentou-se várias vezes, como aquela dos Clássicos da BD que saiu na Itália e depois em Portugal e em outros países europeus. Aqui, alguns jornais mostraram interesse em princípio, mas as negociações nunca chegaram a termo. 

ALP - Quais as principais novidades da Mythos previstas para o Brasil, este ano?
DVL - Renovamos nosso contrato com a Bonelli em janeiro deste ano praticamente com os mesmos títulos que foram publicados em 2011. A única novidade será o Tex Color, uma edição única, de 160 páginas, em cores, e dois Tex Gigante inéditos: um em Março e outro em Outubro. 

ALP - E para Portugal?
DVL - Tudo o que sai aqui vai para meu amado Portugal, que visito todo ano. 

ALP - O Zagor Gigante, publicado no Brasil no ano passado, vai ser distribuído em Portugal? Quando?
DVL - Sim, acredito que até Maio essa belíssima edição desembarque em terras lusitanas.


ALP - Qual a situação actual de J.Kendall?
DVL - Nossa querida Julinha vai muito bem. Depois do susto no início do ano passado sua saúde editorial melhorou e temos esperança de que ela continuará connosco por muito tempo. 

ALP - A Mythos encara a hipótese de editar os Tex Gigante coloridos que estão a sair na Itália?
DVL - Sim, se houver acordo com a Bonelli, faremos com certeza. 

ALP - E a reedição de Zagor a cores que vai começar na Itália?
DVL - Seria interessante para nós, mas vai depender de conseguir fazer contrato com a SBE.


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