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As Leituras do Pedro - Como nasceu a
Mythos?
Dorival
Vítor Lopes - Meu sócio Helcio de Carvalho e eu trabalhamos com BD desde 1972.
Nessa época eu era coordenador de produção da Redação Disney da Editora Abril e
Helcio era colorista das histórias. Desde então nunca paramos de trabalhar com
BD, passando tempos depois para os super-heróis Marvel e DC. Em 1987 saímos da
Abril e cada um abriu seu estúdio de produção de BD para a própria Abril.
Trabalhamos também para a Editora Globo e outras menores. Em 1991 juntamos os
dois estúdios de produção de BD em um só e achamos que deveríamos nos aventurar
no campo da editoria. Assim, fundamos a Mythos Editora Ltda., publicando alguns
personagens super-heróis que a Abril não se interessava em editar. A partir dali
vieram outros personagens, como o famoso mangá Lobo Solitário e vários
personagens da editora americana Dark Horse.
ALP - Qual o seu objectivo?
DVL - O
objectivo era mesmo realizar aquilo que mais nos deliciava, que era fazer BD.
Logo passamos a publicar também livros e revistas de auto-ajuda, esoterismo e
espiritismo; temas que são muitos caros ao Helcio, que é um estudioso dessas
matérias.
ALP - Porquê a opção pelos fumetti Bonelli?
DVL -
Quando eu tinha o estúdio de produção de BD produzia quase todas as revistas da
Editora Globo, entre elas Tex. Assim, quando em 1998 a Globo anunciou que
não se interessava mais em
publicar Tex , foi muito natural que ele viesse para a Mythos.
ALP - Qual a importância do mercado
português para a Mythos? Quanto representa em percentagem?
DVL - O
mercado português é bem pequeno e tem muitos problemas de distribuição. Já
mudamos de distribuidor três vezes e nenhum parece atender o mercado lusitano
como ele merece e como gostaríamos, daí as vendas tão baixas. Tex vende em
Portugal cerca de 4% do que vende no Brasil, cuja venda já é bem pequena se
comparada com a carreira do personagem na Itália. Curiosamente Tex vende no
Brasil cerca de 4% do que vende na Itália.
ALP - Quanto vendem, no Brasil e em
Portugal, os títulos da Mythos?
DVL - Por
contrato não podemos revelar números.
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DVL – Por
ordem: Tex, Almanaque Tex, Tex Anual, Tex Coleção, Tex Gigante, Tex Edição de
Ouro, Tex Edição Histórica, Zagor, Mágico Vento, J. Kendall.
ALP - Nos últimos anos, com as edições
coloridas, a ida de autores Bonelli a festivais e salões em Portugal e no
Brasil, e o crescimento de sites dedicados a HQ, tem havido mais publicidade às
edições da Myhtos. Isso tem-se reflectido nas vendas?
DVL - Não
mudou quase nada. A tendência continua de queda, lenta mas contínua. Nenhuma
publicação teve aumento nas vendas. Já estamos felizes por personagens como
Zagor, Júlia e Mágico Vento estarem estabilizados.
ALP - Como está o mercado de bancas no
Brasil?
DVL - Ruim
e em queda. Nossas bancas parecerem bazares, com milhares de revistas e outros
produtos à mostra. Então fica difícil uma revista de BD se destacar e ser vista
pelo público em meio a revista adultas, que são em formato maior. Se o leitor
não pedir ao jornaleiro por um título específico ele dificilmente encontrará a
revista sozinho.
ALP - Como se divide esse mercado entre as
edições Bonelli, Turma da Mônica, Marvel e DC Comics e Disney?
DVL - Não
sei dizer, pois desconheço quanto vendem as revistas que não são da Mythos, mas
creio que em primeiro lugar está Mauricio de Sousa, depois vem Marvel, DC, Tex,
Disney e demais Bonellis.
ALP - Uma questão que tenho levantado
várias vezes: publicar as revistas mensais no formato original italiano, maior
e com melhor papel, não permitiria ganhar novos leitores?
DVL - Isso
significaria aumentar demais o preço de capa. Nossa coleção Tex em Cores, em
formato italiano, cores e ótimo papel, vendia bem menos da metade de um Tex
normal, tornando difícil a sua continuação - além de outros fatores que nos
obrigaram a parar no nr. 12. Além disso, o material Bonelli é todo em preto e
branco, o que afasta o leitor mais jovem, acostumado desde bebê com Disney,
Mauricio e super-heróis, sempre coloridos.
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DVL - Suas
vendas estavam perigosamente perto do ponto de equilíbrio (custo x vendas) e
também não houve acordo com a Bonelli quanto aos royalties a serem pagos.
ALP - Nunca foi equacionada uma colecção
Tex ou Bonelli com jornais brasileiros ou portugueses?
DVL -
Tentou-se várias vezes, como aquela dos Clássicos da BD que saiu na Itália e
depois em Portugal e em outros países europeus. Aqui, alguns jornais mostraram
interesse em princípio, mas as negociações nunca chegaram a termo.
ALP - Quais as principais novidades da
Mythos previstas para o Brasil, este ano?
DVL -
Renovamos nosso contrato com a Bonelli em janeiro deste ano praticamente com os
mesmos títulos que foram publicados em 2011. A única novidade será o Tex Color, uma
edição única, de 160 páginas, em cores, e dois Tex Gigante inéditos: um em
Março e outro em Outubro.
ALP - E para Portugal?
DVL - Tudo
o que sai aqui vai para meu amado Portugal, que visito todo ano.
ALP - O Zagor Gigante, publicado no Brasil no
ano passado, vai ser distribuído em Portugal? Quando?
DVL - Sim,
acredito que até Maio essa belíssima edição desembarque em terras lusitanas.
DVL - Nossa
querida Julinha vai muito bem. Depois do susto no início do ano passado sua
saúde editorial melhorou e temos esperança de que ela continuará connosco por
muito tempo.
ALP - A Mythos encara a hipótese de editar
os Tex Gigante coloridos que estão a sair na Itália?
DVL - Sim,
se houver acordo com a Bonelli, faremos com certeza.
ALP - E a reedição de Zagor a cores que vai
começar na Itália?
DVL - Seria
interessante para nós, mas vai depender de conseguir fazer contrato com a SBE.