Um registo diferente, na continuidade da série, abre mais um
volume – duplo – de J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga, actualmente
distribuído em Portugal.
Mais duas histórias com a participação de Julia Kendall,
numa edição actualmente distribuída em Portugal, que mostram a enorme
capacidade de escrever – e surpreender - que Giancarlo Berardi patenteia.
Quem leu na altura certa – e continua a ler… - banda desenhada
de aventuras, habituou-se a encontrar heróis com adversários eternos como Blake
e Mortimer/Olrik, Lefranc/Borg ou - dando um salto aos super-heróis – Homem-Aranha/Dr.
Octopus – que atingiu extremos inimagináveis no estimulantearco Homem-Aranha Superior.
Da mesma forma, séries houve em que, pelas suas
características intrínsecas, não vemos de todo o protagonista sempre face ao
mesmo opositor.
Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (argumento) Enio (desenho) Mythos Editora (Brasil, Abril de 2011) 135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal 4,00 €
Resumo
Um assalto falhado a um banco, transforma-se num sequestro que a polícia de Garden City, encabeçada pelo procurador Robson e o tenente Webb, com a ajuda da criminóloga Julia Kendall, vai tentar resolver da melhor forma.
Desenvolvimento
Eu sei que Julia tem marcado presença regular (quase mensal) aqui, mas garanto que não tenho qualquer tipo de comissão por parte da Mythos. Isso deve-se apenas à qualidade das histórias, geralmente bem acima da média, às quais não tenho conseguido resistir e cuja leitura me tem inspirado estas reflexões. Não sei se com os meus textos já consegui seduzir algum leitor, mas acredito que quem aceitar o desafio de se embrenhar nos casos de polícia que vão surgindo em Garden City não dará o seu tempo por mal empregue. Partindo de um universo credível e bem estruturado, que em cada episódio vai sendo desenvolvido e aprofundado, Berardi faz de Julia, mais do que uma série policial, uma crónica sobre o quotidiano das grandes cidades, através da introspecção e das reacções de cada um dos seus protagonistas regulares e daqueles que, geralmente criminosos, marcam individualmente cada edição, mas também dos figurantes anónimos que dão corpo e consistência a todas elas. Este número, ia a escrever “não é uma excepção”, mas na verdade é bem mais do que isso. È um exemplo perfeito do que atrás afirmei, pela forma como o quotidiano de cada um dos intervenientes que foi/vai ser afectado pelo roubo e pelo sequestro, se enquadra na narrativa e é afectado pelo acontecimento central que serve de base à história. De base, sim, embora surja quase como menor, porque o enriquecedor do argumento de Berardi e Calza são os pequenos dramas – e alegrias – das várias pessoas – bem reais - que vamos conhecendo – e com as quais encontramos pontos de contacto. Mesmo que nalguns casos a sua participação seja apenas acessória ou passageira, deixando no leitor a vontade de conhecer mais acerca da sua vida ou do momento concreto que a história abordou. O que não retira mérito ou interesse à trama central, de forma alguma, bem narrada e explanada, a dois tempos. Por um lado a acção das autoridades a tentarem gerir da melhor forma o acontecimento, por outro a acção em si, na relação entre o assaltante/sequestrador e as suas vítimas, com vários momentos de suspense em que o frágil equilíbrio criado parece prestes a ser rompido, o que contribui para acentuar a tensão e prender o leitor. Que, no final, uma vez tudo resolvido (?...) ainda tem direito a um surpreendente revelação…
A reter
- A elevada qualidade média dos argumentos de Julia Kendall. - A forma como a trama central se esbate para dar lugar à crónica do quotidiano.