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18/05/2022

O Combate Quotidiano + Don Vega + Little Tulip + Rugas

4 em 1; e todos imperdíveis

Lidos oportunamente aquando das edições originais (francófonas) estas são quatro obras a que edição nacional obriga a voltar, devido à qualidade intrínseca de cada uma delas.
Não fazendo sentido - após cada (re)leitura - voltar a analisá-las, fica em cada um dos casos a ligação para o texto original - que será conseguida clicando nos '(...)' no final de cada introdução, reafirmando assim o interesse de todas.


O Combate Quotidiano (#1 e #2)
Manu Larcenet
Arte de Autor/A Seita
215 x 285 mm, 120 p./136 p., cor, capa dura
24,00 €/28,00 €

Não devia escrevê-lo, mas aqui e ali sai-me um texto bom. Mesmo muito bom. O que dediquei a O Combate Quotidiano #1, é um deles e dificilmente seria capaz de lhe acrescentar mais alguma coisa.

Junto apenas alguns temas que mudam tudo - ou podem mudar: o luto, a paternidade, o fim das coisas, a mutabilidade do sonhos. Com os quais o protagonista - no lugar de Larcenet - se reinventa, se reafirma, mostra como nada muda, sendo a realidade outra. Ou como tudo muda, sendo a realidade a mesma.

Já o escrevi: é a VIDA. (...)


Don Vega
Pierre Allary
Ala dos Livros
215 x 325 mm, 96 p., cor, capa dura
25,00 €

Por vezes, certas escolhas editoriais custam a compreender como, no caso deste Don Vega, que regressa pela enésima vez à história de Zorro.

Mas, uma vez feita a leitura, ela surge plenamente justificada, pelas opções autorais e também pela
intemporalidade da história
. (...)



Little Tulip

Jêrome Charyn (argumento)
François Boucq (desenho)
Ala dos Livros
Portugal, Abril de 2022
235 x 310 mm, 96 p., cor, capa dura
24,00 €

Anterior a New York Cannibals, embora ambas as obras façam sentido isoladas, lidas num díptico dão outras respostas e um retrato mais amplo.

Aqui, começa uma história forte, cruel e chocante, em que acompanhamos a vida de Pavel – aliás, Little Tulip - filho de perseguidos pelo regime estalinista, que acaba detido num goulag siberiano, tal como os seus progenitores.

Narrativa mais forte, mais densa, mais violenta que a sua continuação já referida, neste momento em que a Rússia está no topo da actualidade devido à invasão da Ucrânia, dá-nos um retrato sinistro do que foi a vida de muitos naquele país, na década que se seguiu à II Guerra Mundial. (...)



Rugas
Paco Roca
Levoir
Portugal, Março de 2022
170 x 240 mm, 112 p., cor, capa dura
21,90

Velhos são os trapos, diz o adágio popular. Mas velhos seremos, também, todos nós, um dia, se o tempo nos deixar chegar lá. Em que estado, não sabemos, mas o retrato a um tempo terno e assustador que Paco Roca traça do envelhecimento e da vida nos lares de idosos, não pode deixar ninguém indiferente. (...) (...)


(imagens disponibilizadas pelas respectivas editoras; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos títulos das obras já a seguir para ver mais pranchas de cada uma: Combate Quotidiano #1; O Combate Quotidiano #2; Don Vega; Little Tulip; Rugas)

04/11/2016

Le Rapport de Brodeck










Que escrever quando a leitura de uma obra nos deixa sem palavras?
O mínimo possível, o mais directo possível.

07/06/2010

Bill Baroud

La Little Big Collec’ - Série Or
Manu Larcenet (argumento e desenho)
Fluide Glacial (França, Maio de 2010)
190 x 240 mm, 216 p., pb, cartonado


Resumo
Chama-se Bill Baroud (embora tenha nascido… William Baroudsky) e é espião profissional, ao serviço da sua pátria, os Estados Unidos da América, “cuja segurança não o pode dispensar dois minutos” e em nome de quem se encarrega das mais perigosas e atribuladas missões, desde que algo ponha em perigo a liberdade, a sua terra natal, os valores em que acredita ou o “futuro do mundo civilizado”!

Desenvolvimento
Como ponto de partida, arrancando-o quase sempre dos lençóis onde está em companhia de uma bela mulher, há um contacto por telefone, fax ou telegrama, uma mensagem nas estrelas (sic) ou presencial, do próprio presidente, do capitão Andrews, chefe dos assuntos estrangeiros do FBI, de um urso polar (sic) ou de alguém que marca um encontro discreto no zoo, dizendo apenas que leva um “chapéu alto e um vestido branco” e que acaba por se revelar não a bela mulher com quem Baroud sonhava mas… o papa!
Se o seu tempo é o actual, há (vestígios – ou evidências? – de) uma anacrónica Guerra-fria, por isso, muitas vezes são soviéticas ou vietnamitas as ameaças que Baroud enfrenta, em missões que o podem levar aos quatro cantos do mundo, ao espaço ou ao passado, mas em cujo decorrer também pode enfrentar uns certos irmãos Dalton, um Calimero gigantesco que se revela um bom – e muito longo – jantar, o último dos Barbapapas (quem se lembra ainda deles?), Hulk, o Ku Klux Klan, os irmãos Metralha ou descobrir – literalmente – Deus. Com custos irreversíveis e eternos (literalmente) para si e (mais) para os outros, pois se Baroud atinge sempre os seus fins, tem o dedo demasiado próximo do gatilho e os meios que utiliza são (quase) sempre muito questionáveis… e definitivos!
Pelo meio, ainda há oportunidade para descobrir a sua infância, onde a vocação (e os métodos) já eram omnipresentes mas em que tudo apontava que seria encarregado de um campo de algodão onde apanharia algodão (quem mais?) o seu melhor amigo… um negro! Uma série de relatos, correspondentes ao quarto tomo da série, onde a par do humor habitual há, no entanto, um tom mais sério e, até, uma ponta de emoção, quando Larcenet descreve a situação dos desfavorecidos e dos negros numa América desequilibrada pelas desigualdades sociais, onde o dinheiro e o Ku Klux Klan imperavam…
Com esta base, em histórias curtas, de apenas meia dúzia de pranchas, Manu Larcenet, aqui e ali ainda hesitante, como é normal numa obra de início de carreira, mas mostrando já o potencial do autor de eleição que viria a ser, subverte os estereótipos das tramas de espionagem, repescados da literatura e do cinema, com muita inteligência (vejam-se os textos curtos, mas bombásticos) e um humor mordaz, por vezes (muito) negro e politicamente incorrecto, mas sempre irresistível e renovado, história após história, achando novas saídas para situações similares, conseguindo surpreender sempre, inventando desfechos inesperados… Fá-lo com um traço “sujo” e “feio”, que por vezes cruza com fotografia, mas sempre dinâmico e eficaz, com utilização de diferentes planos e enquadramentos e extremamente legível.

A reter
- O humor e a inteligência de Larcenet.
- O preço (quase) simbólico desta (bem conseguida) edição integral, que reúne os 4 tomos anteriormente publicados: 14 €. É nestes momentos que a inveja pelos leitores francófonos de quadradinhos vem ao de cima.

Menos conseguido
- Não é culpa do autor nem do álbum objecto, mas a leitura de Bill Baroud avivou-me as saudades do tempo em que havia revistas de BD, onde histórias como estas marcavam presença (e prioridades) e fidelizavam leitores. Por isso, estas histórias devem ser lidas com moderação, uma ou duas de cada vez, ao longo dos dias. Não porque possam provocar cansaço ou saturação, mas para que cada situação possa ser bem digerida e apreciada.

Curiosidades
- Bill Baroud foi publicado originalmente nas páginas da revista Fluide Glacial entre 1998 e 2001.
- Esta edição inclui quatro histórias que não faziam parte da tetralogia original.


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