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24/10/2023

Mulher Vida Liberdade

Pelo direito ao cabelo ao vento


Acabado de editar em Portugal pela Iguana, acompanhando o lançamento a nível internacional, um ano após a morte da iraniana Mahsa Amini, espancada pela polícia local por não estar a utilizar correctamente o véu, Mulher Vida Liberdade ganha uma nova actualidade devido à recente atribuição do Prémio Nobel da Paz à activista iraniana de direitos humanos Narges Mhoammadi.

15/07/2019

Frango com Ameixas

Morte e vida de um tocador de tar
(introdução publicada na edição da colecção Novela Gráfica 2019)




Conhecer o desfecho de uma história logo nas primeiras páginas, se não é caso único, consegue sempre surpreender os leitores. Frango com Ameixas (Poulet aux Prunes na edição original de 2004) é mais um exemplo desse artifício narrativo, desta vez assinado pela iraniana Marjane Satrapi, que se estreia assim na colecção Novela Gráfica, que a Levoir e o Público têm alimentado anualmente desde 2015.

06/04/2012

Marjane Satrapi

“A banda desenhada é um meio de narração muito específico e muito especial”










Há cerca de 11 anos, aquando da passagem da iraniana Marjane Satrapi pelo XI Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto, de que foi uma das convidadas e onde os originais de “Persépolis”  estiveram expostos, tive oportunidade de conversar com ela.
A propósito da recém-edição portuguesa, pela Contraponto, daquela obra de referência, aproveito para recordar essa entrevista com Satrapi, originalmente publicada no Jornal de Notícias de 7 de Outubro de 2001.

Jornal de Notícias – Como é que decidiu fazer banda desenhada?
Marjane Satrapi – A banda desenhada é um meio de narração muito específico e muito especial, a meio caminho entre o mundo das imagens e o mundo das palavras. Na literatura tudo funciona ao nível da imaginação e, por exemplo, no cinema, ao nível visual. A banda desenhada fica a meio do caminho entre ambas e funciona a nível visual, mas exige também o uso da imaginação para entender a sequência da narrativa. Gosto de desenhar e de contar histórias e, por isso, a BD é o meio de expressão que me convém.

JN – Não leu BD quando era pequena, pois ela não existia no Irão. Como é que descobriu esta arte?
MS – Descobri a banda desenhada quando cheguei a França há sete anos [1994]. A primeira obra que me marcou, lembro-me bem, foi “L’ascension du haut mal”, de David B., uma obra muito específica, muito gráfica, auto-biográfica, para adultos. Até então, a minha visão da BD limitava-se a Astérix, Tintin, Lucky Luke, muito caricaturais, humorísticas… Com “L’ascension…”, vi que se podiam fazer coisas diferentes, que se podia fazer BD para adultos. Depois encontrei pessoas como [Christophe] Blain, [Joann] Sfar, David B., [Emmanuel] Guibert, e a proximidade com eles e com as suas obras deu-me vontade de fazer BD. Embora inicialmente os achasse malucos. Eu fazia ilustrações para livros infantis e 13 ilustrações eram um livro. Em BD, 13 desenhos são uma ou duas páginas. Não percebia porque tinham tanto trabalho. Depois, descobri as possibilidades narrativas da BD e senti que era aquilo que eu queria fazer.

JN – Normalmente, diz-se que quem não leu banda desenhada em pequeno não sabe como a ler quando é adulto. Isso aconteceu consigo?
MS – Sem dúvida. Quando comecei a ler BD, primeiro, via todas as imagens, depois lia o texto todo, e depois é que olhava para o conjunto! Ler BD é uma coisa que é preciso aprender a fazer. Mas é como tudo.

JN – “Persépolis” é a sua primeira BD?
MS – Sim. Antes tinha sido grafista, tinha feito desenho de imprensa, algumas ilustrações para livros infantis, mas nunca tinha vendido nenhuns, porque tinha pouca autoconfiança e apresentava-me muito mal aos editores, desvalorizava as minhas próprias obras…

JN – “Persépolis” recebeu em Angoulême o “Alph-Art” para o melhor primeiro álbum. Isso foi importante?
MS – Foi muito importante num só aspecto: credibilizou-me aos meus próprios olhos. Fez-me acreditar em mim. Depois dele ganhei confiança e vendi facilmente os trabalhos que tinha feito anteriormente.

JN – Porque é que há tão poucas mulheres a fazer BD?
MS – A BD foi durante muitos anos uma leitura de distracção e era suposto as mulheres aprenderem a tocar piano e a distraírem-se e a cozinhar e não distraírem-se. Por outro lado, as heroínas apresentadas não eram mulheres com quem as leitoras se gostassem de identificar. A primeira heroína francesa, Bécassine, por exemplo, era um pouco pobre de espírito. As outras heroínas tinham grandes seios e pernas longas e também não eram personagens com quem as mulheres se identificassem. Portanto, a BD não era uma leitura que se destinasse a nós. E ainda há outro aspecto: a BD é um trabalho obsessivo e eu acho que os homens têm uma obsessão criativa maior do que as mulheres, que desde sempre tiveram de se preocupar com outras coisas, como tratar das crianças, etc.

JN – As mulheres trazem uma sensibilidade diferente À BD?
MS – Acho que não. A discussão é a mesma que em relação à literatura feminina. Acho que não há razão para fazer essa diferenciação. Alguém disse que a literatura não tem sexo e com a BD passa-se o mesmo.

05/04/2012

Persépolis






  








Marjane Satrapi
Contraponto (Portugal, 5 de Abril de 2012)
150 x 235 mm, 352 p., pb, brochado
19,90 €

13/10/2011

Poulet aux prunes

Marjane Satrapi (argumento e desenho)
L’Association (França, 2004)
165 x 240 mm, 88 p., pb, brochado com badanas
14,00 €

Resumo
Nasser Ali, famoso tocador de tar (instrumento tradicional iraniano) decide deixar-se morrer após diversas tentativas goradas de substituir o instrumento que a sua esposa partiu.
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