Vários autores
DC Comics (EUA, Julho/Setembro de 2009)
175 x 250 mm, papel jornal, cor
Vai contra os meus princípios, mas confesso-me rendido a estes Wednesday Comics, que aconselho mesmo sem ler, apenas pelo prazer de apreciar a arte exposta em gigantescas pranchas (350 x 500 mm), que se revelam uma vez desdobrada duas vezes a publicação. Porque o princípio que presidiu à sua criação foi evocar a “grande banda desenhada” clássica, que os jornais norte-americanos publicavam aos domingos nos anos 30, 40 e 50 do século passado, nuns imensos 50 x 70 cm. Daí, tabém, a opção pelo papel de jornal.
S(er)ão 12 números, publicados à quarta-feira desde 8 de Julho, com 16 enormes páginas a cores, com a nata dos heróis da DC Comics – Superman, Batman, Mulher Maravilha, Lanterna Verde, Flash, etc. – em histórias autónomas, desligadas de sagas e confusões de universos paralelos, assinados por alguns dos maiores nomes do momento: Brian Azzarello, Eduardo Risso, Paul Pope, Neil Gaiman, Dave Gibbons, Kurt Busiek, Kyle Baker, Adam e Joe Kubert, entre outros.
Voltarei a eles, quando completar a colecção e ler todas as histórias.
15/09/2009
Sugestão de Leitura: Wednesday Comics
Sugestão de Leitura: Romance da Raposa
Artur Correia (argumento e desenho)
a partir da obra de Aquilino Ribeiro
Bertrand Editora (Portugal, Setembro de 2009)
166 x 245 mm, 220 p., cor, capa cartonada
Uma deliciosa adaptação do clássico de Aquilino, transformado numa sequência gráfica narrativa desenvolta, ritmada pela planificação e pelos diálogos por Artur Correia, um dos poucos cultores de banda desenhada humorística em Portugal.
A distinção vale o que vale, mas é forte candidato ao “troféu” de melhor álbum português do ano.
Fica garantida uma análise mais detalhada para breve, que já poder ser lida aqui.
a partir da obra de Aquilino Ribeiro
Bertrand Editora (Portugal, Setembro de 2009)
166 x 245 mm, 220 p., cor, capa cartonada
Uma deliciosa adaptação do clássico de Aquilino, transformado numa sequência gráfica narrativa desenvolta, ritmada pela planificação e pelos diálogos por Artur Correia, um dos poucos cultores de banda desenhada humorística em Portugal.
A distinção vale o que vale, mas é forte candidato ao “troféu” de melhor álbum português do ano.
Fica garantida uma análise mais detalhada para breve, que já poder ser lida aqui.
13/09/2009
11/9 – Aquele Onze de Setembro
Nuno Duarte (argumentos)
Jorge Coelho, Patrícia Furtado e Ricardo Venâncio (desenho)
Jornal i, 11 de Setembro de 2009
Confesso que contava terminar esta série de posts com bandas desenhadas sobre o 11 de Setembro com a entrada anterior, mas a descoberta – via portal Central Comics – desta história publicada no jornal i na passada sexta-feira e rapinada no blog Almirante Fujimori, de um dos autores, o Jorge Coelho, levou-me a prolongar o tema.
Se os traços de Jorge Coelho e Ricardo Venâncio são (no mínimo) eficientes – o de Patrícia Furtado é menos espontâneo, mais estático - e as histórias bem legíveis, se a opção por diferentes tons cromáticos para distinguir as quatro sequências é bastante feliz, elas agradaram-me sobretudo, pela simplicidade com que em quatro conjuntos de quatro vinhetas Nuno Duarte conseguiu mostrar o impacto e a influência que os atentados tiveram, a forma como afectaram, de tantas formas díspares, tantas vidas de tantas pessoas, um pouco por todo o mundo.
Jorge Coelho, Patrícia Furtado e Ricardo Venâncio (desenho)
Jornal i, 11 de Setembro de 2009
Confesso que contava terminar esta série de posts com bandas desenhadas sobre o 11 de Setembro com a entrada anterior, mas a descoberta – via portal Central Comics – desta história publicada no jornal i na passada sexta-feira e rapinada no blog Almirante Fujimori, de um dos autores, o Jorge Coelho, levou-me a prolongar o tema.
Se os traços de Jorge Coelho e Ricardo Venâncio são (no mínimo) eficientes – o de Patrícia Furtado é menos espontâneo, mais estático - e as histórias bem legíveis, se a opção por diferentes tons cromáticos para distinguir as quatro sequências é bastante feliz, elas agradaram-me sobretudo, pela simplicidade com que em quatro conjuntos de quatro vinhetas Nuno Duarte conseguiu mostrar o impacto e a influência que os atentados tiveram, a forma como afectaram, de tantas formas díspares, tantas vidas de tantas pessoas, um pouco por todo o mundo.
Leituras relacionadas
11/9,
Jorge Coelho,
Nuno Duarte,
Patrícia Furtado,
Ricardo Venâncio
11/09/2009
11/9 – Vários títulos
Como era de esperar, a poderosa indústria de "comics" norte-americana não ficou indiferente aos acontecimentos do 11 de Setembro de 2001, multiplicando-se em edições evocativas ou de homenagem, quase todas elas com as receitas a reverterem para os fundos de apoio às vítimas ou aos familiares dos atentados terroristas que destruíram as torres gémeas.
Assinado por alguns dos nomes maiores da Casa das Ideias – Bagley, Bendis, Scott Morse, Quesada, ou Romita Jr. -, A Momento of Silence reúne quatro ilustrações de página inteira e quatro bandas desenhadas curtas, quase completamente mudas, silenciosas, o que torna mais forte o impacto das suas imagens que retratam a tragédia que se abateu sobre a América no 11 de Setembro de 2001. Duas delas focam a forma como as famílias sentiram, sofreram, à distância, a possível (nalguns casos efectiva) morte de alguém, e as outras duas realçam o trabalho desinteressado (em muitos casos fatal) das equipas de salvamento.
Esta é, aliás, uma constante nestes títulos, em que os autores, mais do que utilizar os (seus super-heróis, optaram por homenagear o trabalho de polícias, bombeiros e voluntários, cujo anonimato contrasta com a visibilidade que as grandes façanhas dos super-heróis recebem. E por isso, um outro título da Marvel, Heroes, tem como subtítulo "Os maiores criadores de super-heróis do mundo honram os maiores heróis do mundo". Neste caso são apenas ilustrações de página inteira, várias dezenas delas, onde encontramos nomes como Neal Adams ou Kevin Smith. E se a maioria optou por retratar os anónimos heróis das equipas de socorro, na sua missão desesperada, desinteressada, humanitária, é impossível ignorar, logo a abrir um Incrível Hulk que nos habituou a incontroláveis e violentos acessos de raiva, a revelar insuspeitada delicadeza e ternura ao levantar dos escombros o capacete de um bombeiro... Há até uma premonitória gravura que mostra duas brilhantes torres de luz no espaço vazio antes ocupado pelas Twin Towers, antecipando a homenagem real do passado dia 11 de Março...
Assinado por alguns dos nomes maiores da Casa das Ideias – Bagley, Bendis, Scott Morse, Quesada, ou Romita Jr. -, A Momento of Silence reúne quatro ilustrações de página inteira e quatro bandas desenhadas curtas, quase completamente mudas, silenciosas, o que torna mais forte o impacto das suas imagens que retratam a tragédia que se abateu sobre a América no 11 de Setembro de 2001. Duas delas focam a forma como as famílias sentiram, sofreram, à distância, a possível (nalguns casos efectiva) morte de alguém, e as outras duas realçam o trabalho desinteressado (em muitos casos fatal) das equipas de salvamento.
Esta é, aliás, uma constante nestes títulos, em que os autores, mais do que utilizar os (seus super-heróis, optaram por homenagear o trabalho de polícias, bombeiros e voluntários, cujo anonimato contrasta com a visibilidade que as grandes façanhas dos super-heróis recebem. E por isso, um outro título da Marvel, Heroes, tem como subtítulo "Os maiores criadores de super-heróis do mundo honram os maiores heróis do mundo". Neste caso são apenas ilustrações de página inteira, várias dezenas delas, onde encontramos nomes como Neal Adams ou Kevin Smith. E se a maioria optou por retratar os anónimos heróis das equipas de socorro, na sua missão desesperada, desinteressada, humanitária, é impossível ignorar, logo a abrir um Incrível Hulk que nos habituou a incontroláveis e violentos acessos de raiva, a revelar insuspeitada delicadeza e ternura ao levantar dos escombros o capacete de um bombeiro... Há até uma premonitória gravura que mostra duas brilhantes torres de luz no espaço vazio antes ocupado pelas Twin Towers, antecipando a homenagem real do passado dia 11 de Março...
Da DC Comics, tivemos dois volumes - 9-11Artists Respond e 9-11, The world’s finest comic book writers and artists tell stories to remember. Numa das capas, de Eisner, temos um autor de BD a desenhar no topo de um arranha-céus, enquanto que na outra, de Alex Ross, podemos ver um Super-Homem admirativo que contempla a imagem de bombeiros, polícias e outros membros das equipas de salvamento. As histórias curtas ou as ilustrações foram agrupadas tematicamente em capítulos como "Pesadelos", "Heróis" ou "Recordações". Mais uma vez, são os socorristas os novos heróis, o que não impede que também haja espaço para observarmos os super-heróis a reconstruírem torres maiores e mais altas... nos sonhos de uma criança. Uma análise um pouco mais cuidada, revelará - possivelmente sem surpresa - como são quase nenhumas as histórias ou ilustrações que falam do direito à diferença ou da necessidade da convivência harmónica entre os povos, sendo proporcionalmente mais as que falam de vingança. O maior exemplo de chauvinismo é a narrativa do veterano Stan Lee, que metaforicamente transforma os EUA num paraíso de igualdade, justiça e fraternidade, governado imparcialmente por elefantes, que é traiçoeiramente atacado por ratos de esgoto, prontamente esmagados sem piedade...
De todas, a mais interessante, em minha opinião, é, no entanto, 9-11, Emergency Relief, editada pela Alternative Comics, que agrupa clássicos como Will Eisner ou Harvey Pekar, quase desconhecidos da BD alternativa e underground, ou Frank Cho, James Kochalka, Jessica Abel, Peter Kuper, Scott Morse e Jeff Smith, que optaram maioritariamente por passar ao papel os sentimentos e emoções que viveram, contando as histórias na primeira pessoa, o que dá um cunho muito especial à obra.
Globalmente, de todas estas obras, fica a mensagem de que o sonho americano continua vivo. E que assim continuará enquanto houver quem continue a contar as aventuras dos heróis (de papel ou de carne e osso) que o personificam.
De todas, a mais interessante, em minha opinião, é, no entanto, 9-11, Emergency Relief, editada pela Alternative Comics, que agrupa clássicos como Will Eisner ou Harvey Pekar, quase desconhecidos da BD alternativa e underground, ou Frank Cho, James Kochalka, Jessica Abel, Peter Kuper, Scott Morse e Jeff Smith, que optaram maioritariamente por passar ao papel os sentimentos e emoções que viveram, contando as histórias na primeira pessoa, o que dá um cunho muito especial à obra.
Globalmente, de todas estas obras, fica a mensagem de que o sonho americano continua vivo. E que assim continuará enquanto houver quem continue a contar as aventuras dos heróis (de papel ou de carne e osso) que o personificam.
10/09/2009
11/9 - Septembre en t'attendant
Colecção écritures
Alissa Torres (argumento)
Sungyoon Choi (desenho)
Casterman (França, Setembro de 2009)
170 x 240 mm, 224 p., cor, capa brochada com badanas
Resumo
Segunda-feira, 10 de Setembro de 2001. Após um mês no desemprego, Luís Eduardo Torres, um colombiano naturalizado americano, cumpre o seu primeiro dia de trabalho na Cantor Fitzgerald, uma financeira de Manhattan, cuja sede se encontra numa das Torres Gémeas. Um verdadeiro balão de oxigénio para ele e a sua esposa, Alissa, desempregada e grávida de sete meses e meio, com uma casa recém-adquirida e um empréstimo para pagar.
No seu segundo dia de trabalho, 11 de Setembro, num atentado terrorista, dois aviões comerciais atingem as Torres Gémeas – causando o seu posterior desmoronamento. Luís Eduardo Torres foi um dos que escolheu saltar pela janela e um dos 650 empregados da Cantor Fitzgerald que perderam a vida no atentado.
Avisada por telefone, sem outra hipótese devido ao trânsito cortado, Alissa vai a pé até ao local dos atentados, chegando no exacto momento em que uma das torres se desmorona. Depois de um dia de completo caos, segue-se a ronda pelos hospitais e pelas listas de sobreviventes, na esperança de encontrar o marido, e, mais tarde, a procura de ajuda financeira entre as organizações, governamentais ou não, que criaram fundos para o efeito.
DesenvolvimentoEsta novela gráfica, testemunho pungente e autobiográfico de uma situação que foi vivida por centenas, milhares de outras pessoas após o atentado, narra a vida de Alissa – a argumentista do livro – após a perda do marido, um parto prematuro e uma enorme (e compreensível) depressão , pondo o acento na situação desesperada, na falta de informação, primeiro, depois, na burocracia e desorganização que pautou a ajuda às vítimas. Que esqueceu, muitas vezes, a sua situação de vítimas, transformando-as em números ou em valores estatísticos, complicando o que deveria ser fácil, muitas vezes aproveitando-se delas para se promoverem, entregando-os à curiosidade mórbida da comunicação social... Pelo meio – e talvez seja o aspecto mais interessante, embora tratado no livro de forma acessório – fica a forma como parentes, amigos, conhecidos ou simples anónimos, progressivamente se foram afastando de Alissa – das outras vítimas colaterais também – deixando de perceber (esquecendo…?) as suas razões, o seu sofrimento, a sua necessidade de ajuda.
O relato de Alissa, apesar de se espraiar demasiado nas sequelas do trama vivido, é bastante contido e retrata com uma força invulgar, por vezes capaz de emocionar o leitor, o desespero de quem, de repente, vê a sua vida completamente transformada, devastada, perdendo a hipótese de concretizar tantos sonhos, que nos vão sendo revelados na forma de flashbacks.
Flashbacks que servem também para recordar como Eduardo e Alissa se conheceram e, mais do que isso, para contar como ele chegou aos Estados Unidos, perseguindo o sonho americano, como conseguiu sobreviver e impor-se num mercado de trabalho adverso. Flashbacks que servem à autora para rever momentaneamente o seu marido vivo, e que justificam como ela conseguiu, no final do ano negro da sua existência que o livro cobre, encontrar na força e no exemplo de Eduardo, a força e a inspiração para reencontrar a vontade de viver.
Entregue a Sungyoon Choi, ilustradora e banda-desenhista do New York Times, o desenho, de traço fino e realista, com a base fotográfica bem diluída no todo, apesar de uma planificação variada e de uma boa legibilidade, não deslumbra nem prende especialmente, apesar de um ou outro pormenor mais conseguido. Se o tom azul utilizado em quase todo o livro, juntamente com o preto e branco, não cativa, acima de tudo, falta-lhe a emoção, os sentimentos, que o relato pedia.
A reter
- A força documental do relato, mostrando que este é um campo em que a BD (também) pode ser utilizada.
- Se soa estranha a quase total ausência do filho de Alissa no relato, especialmente como razão para continuar a viver e como (quase) única recordação (palpável) do marido, isso é – interpreto eu – mais um sinal da situação desesperada que ela viveu.
Menos conseguido
- Possivelmente a obra ganhava – em ritmo e capacidade de prender o leitor – se fosse menos extensa.
- O desenho de Sungyoon Choi.
Alissa Torres (argumento)
Sungyoon Choi (desenho)
Casterman (França, Setembro de 2009)
170 x 240 mm, 224 p., cor, capa brochada com badanas
Resumo
Segunda-feira, 10 de Setembro de 2001. Após um mês no desemprego, Luís Eduardo Torres, um colombiano naturalizado americano, cumpre o seu primeiro dia de trabalho na Cantor Fitzgerald, uma financeira de Manhattan, cuja sede se encontra numa das Torres Gémeas. Um verdadeiro balão de oxigénio para ele e a sua esposa, Alissa, desempregada e grávida de sete meses e meio, com uma casa recém-adquirida e um empréstimo para pagar.
No seu segundo dia de trabalho, 11 de Setembro, num atentado terrorista, dois aviões comerciais atingem as Torres Gémeas – causando o seu posterior desmoronamento. Luís Eduardo Torres foi um dos que escolheu saltar pela janela e um dos 650 empregados da Cantor Fitzgerald que perderam a vida no atentado.
Avisada por telefone, sem outra hipótese devido ao trânsito cortado, Alissa vai a pé até ao local dos atentados, chegando no exacto momento em que uma das torres se desmorona. Depois de um dia de completo caos, segue-se a ronda pelos hospitais e pelas listas de sobreviventes, na esperança de encontrar o marido, e, mais tarde, a procura de ajuda financeira entre as organizações, governamentais ou não, que criaram fundos para o efeito.
DesenvolvimentoEsta novela gráfica, testemunho pungente e autobiográfico de uma situação que foi vivida por centenas, milhares de outras pessoas após o atentado, narra a vida de Alissa – a argumentista do livro – após a perda do marido, um parto prematuro e uma enorme (e compreensível) depressão , pondo o acento na situação desesperada, na falta de informação, primeiro, depois, na burocracia e desorganização que pautou a ajuda às vítimas. Que esqueceu, muitas vezes, a sua situação de vítimas, transformando-as em números ou em valores estatísticos, complicando o que deveria ser fácil, muitas vezes aproveitando-se delas para se promoverem, entregando-os à curiosidade mórbida da comunicação social... Pelo meio – e talvez seja o aspecto mais interessante, embora tratado no livro de forma acessório – fica a forma como parentes, amigos, conhecidos ou simples anónimos, progressivamente se foram afastando de Alissa – das outras vítimas colaterais também – deixando de perceber (esquecendo…?) as suas razões, o seu sofrimento, a sua necessidade de ajuda.
O relato de Alissa, apesar de se espraiar demasiado nas sequelas do trama vivido, é bastante contido e retrata com uma força invulgar, por vezes capaz de emocionar o leitor, o desespero de quem, de repente, vê a sua vida completamente transformada, devastada, perdendo a hipótese de concretizar tantos sonhos, que nos vão sendo revelados na forma de flashbacks.
Flashbacks que servem também para recordar como Eduardo e Alissa se conheceram e, mais do que isso, para contar como ele chegou aos Estados Unidos, perseguindo o sonho americano, como conseguiu sobreviver e impor-se num mercado de trabalho adverso. Flashbacks que servem à autora para rever momentaneamente o seu marido vivo, e que justificam como ela conseguiu, no final do ano negro da sua existência que o livro cobre, encontrar na força e no exemplo de Eduardo, a força e a inspiração para reencontrar a vontade de viver.
Entregue a Sungyoon Choi, ilustradora e banda-desenhista do New York Times, o desenho, de traço fino e realista, com a base fotográfica bem diluída no todo, apesar de uma planificação variada e de uma boa legibilidade, não deslumbra nem prende especialmente, apesar de um ou outro pormenor mais conseguido. Se o tom azul utilizado em quase todo o livro, juntamente com o preto e branco, não cativa, acima de tudo, falta-lhe a emoção, os sentimentos, que o relato pedia.
A reter
- A força documental do relato, mostrando que este é um campo em que a BD (também) pode ser utilizada.
- Se soa estranha a quase total ausência do filho de Alissa no relato, especialmente como razão para continuar a viver e como (quase) única recordação (palpável) do marido, isso é – interpreto eu – mais um sinal da situação desesperada que ela viveu.
Menos conseguido
- Possivelmente a obra ganhava – em ritmo e capacidade de prender o leitor – se fosse menos extensa.
- O desenho de Sungyoon Choi.
09/09/2009
11/9 - The 9/11 Report: A Graphic Adaptation
Sid Jacobson (argumento)
Ernie Cólon (desenho)Hill and Wang (EUA, Agosto de 2006)
152 x 229 mm, 128 p., cor, capa cartonada
A Hill and Wang, uma divisão da editora norte-americana Farrar, Straus & Giroux, anunciou para Agosto o lançamento do primeiro título da sua nova colecção "Novel Graphics", que publicará adaptações em banda desenhada de obras de não-ficção. E o primeiro título, cuja repercussão nos media americanos é já relevante, será "The 9/11 Report: A Graphic Adaptation", que recupera aos quadradinhos o relatório da comissão governamental norte-americana que reuniu e analisou todos os dados sobre os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001.
Esta novela gráfica, com 128 páginas a cores, mostra ao pormenor a crise vivida naquele dia nos EUA, devido aos ataques às Torres Gémeas e ao sequestro do voo 93. O resumo das mais de 500 páginas da versão original é da autoria de Sid Jacobson, ex-editor da Harvey Comics e da Marvel, sendo os desenhos da autoria de Ernie Cólon, que tem no seu currículo o desenho de heróis como Lanterna Verde, Mulher Maravilha, Flash ou Homem-Aranha.
Esta novela gráfica, com 128 páginas a cores, mostra ao pormenor a crise vivida naquele dia nos EUA, devido aos ataques às Torres Gémeas e ao sequestro do voo 93. O resumo das mais de 500 páginas da versão original é da autoria de Sid Jacobson, ex-editor da Harvey Comics e da Marvel, sendo os desenhos da autoria de Ernie Cólon, que tem no seu currículo o desenho de heróis como Lanterna Verde, Mulher Maravilha, Flash ou Homem-Aranha.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias 24 de Julho de 2006)
08/09/2009
11/9 - Le 11e jour
Sandrine Revel (argumento e desenho)
Delcourt (França, Julho de 2002)
240 x 240 mm, 48 p., cor, cartonado
9 de Setembro de 2001. Sandrine Revel, jovem francesa, nascida a 3 Outubro de 1969, autora da série infantil de BD “Un drole d’ange gardien”, está no topo de uma das Torres Gémeas. De férias em Nova Iorque com um casal amigo, fá-lo pelo fascínio que sobre si exercia a cidade e também como concretização tardia de um desejo do irmão, falecido alguns meses antes. Dois dias depois, na manhã da tragédia que abalou o mundo, Sandrine acorda após sonhar com o irmão desaparecido. É isto que nos narram as primeiras pranchas de “Le 11e jour”, mais um exemplo de como a banda desenhada pode ser “um instrumento formidável para realização de reportagens ou documentários”, como afirma o também autor Étienne Davodeau. “O acaso colocou Sandrine no centro de um acontecimento histórico e, onde os media nos encheram de imagens espectaculares e de declarações tonitruantes, Sandrine conta-nos de forma íntima e ínfima o seu 11 de Setembro em Nova Iorque”.
E este é o grande trunfo de “Le 11e jour”, é uma obra muito pessoal: nele não encontramos qualquer análise político-social, qualquer reflexão sobre os motivos que terão levado aos atentados do 11 de Setembro, nem sequer foi escrito na óptica da homenagem à vítimas ou às equipas de socorro; ele conta-nos, apenas, a angústia que Sandrine viveu durante dias numa cidade estranha: “Falo muito mal o inglês, e o americano menos ainda! Quando tudo aconteceu, era verdadeiramente uma estrangeira em todos os sentidos do termo: na língua, em relação a tudo o que se estava a passar. Apercebi-me de alguma coisa, mas não compreendia”. Ou não queria compreender “de tal forma eram fortes as imagens que se viam por toda a parte”. E é este sentimento subjectivo de incompreensão que domina o álbum, servido por belíssimas cores da autora, que utiliza de forma exemplar a planificação para pontuar o ritmo da história – do exercício quase terapêutico de partilha – que nos conta. As páginas, servidas por um desenho agradável, podem ir do mais tradicional, à dispersão de desenhos sobre um mapa do metro nova-iorquino, assistir à multiplicação de pequenas vinhetas que adaptam a leitura ao seu ritmo cardíaco, ou assumir um registo quase fotográfico, que se transforma para nos transmitir a sensação de solidão, isolamento, quase delírio que a autora viveu.
“Le 11e jour” foi algo muito difícil de concretizar “porque não tenho o hábito de falar de mim, das minhas emoções, foi muito duro...” Como duro foi viver a tragédia que não vai esquecer – que não quer que seja esquecida – daí o “ter feito o álbum de BD, algo que me acompanhará, que me ajudará a construir-me, a ajustar algumas contas comigo”. Embora outras fiquem ainda por regular, como o seu medo (pavor?) de andar de avião, exemplarmente ilustrado nas últimas pranchas do álbum que marcam o regresso a casa.
Da experiência, “do grande prazer que senti a concretizar este álbum”, fica a vontade de voltar a entrar “pela porta que agora se abriu”, de voltar a experimentar o registo autobiográfico para adultos. “Achei muito excitante falar de mim, pôr-me em cena, remexer no que me toca. Transmitir emoções que podem ser muito fortes porque fui eu que as vivi...”. Que quis partilhar com os outros, como forma de terapia, porque “foi um dia muito traumatizante para todo o mundo, não apenas para mim”.
(Versão revista e actualizada do texto publicado no Jornal de Notícias de 12 de Setembro de 2002)
Delcourt (França, Julho de 2002)
240 x 240 mm, 48 p., cor, cartonado
9 de Setembro de 2001. Sandrine Revel, jovem francesa, nascida a 3 Outubro de 1969, autora da série infantil de BD “Un drole d’ange gardien”, está no topo de uma das Torres Gémeas. De férias em Nova Iorque com um casal amigo, fá-lo pelo fascínio que sobre si exercia a cidade e também como concretização tardia de um desejo do irmão, falecido alguns meses antes. Dois dias depois, na manhã da tragédia que abalou o mundo, Sandrine acorda após sonhar com o irmão desaparecido. É isto que nos narram as primeiras pranchas de “Le 11e jour”, mais um exemplo de como a banda desenhada pode ser “um instrumento formidável para realização de reportagens ou documentários”, como afirma o também autor Étienne Davodeau. “O acaso colocou Sandrine no centro de um acontecimento histórico e, onde os media nos encheram de imagens espectaculares e de declarações tonitruantes, Sandrine conta-nos de forma íntima e ínfima o seu 11 de Setembro em Nova Iorque”.
E este é o grande trunfo de “Le 11e jour”, é uma obra muito pessoal: nele não encontramos qualquer análise político-social, qualquer reflexão sobre os motivos que terão levado aos atentados do 11 de Setembro, nem sequer foi escrito na óptica da homenagem à vítimas ou às equipas de socorro; ele conta-nos, apenas, a angústia que Sandrine viveu durante dias numa cidade estranha: “Falo muito mal o inglês, e o americano menos ainda! Quando tudo aconteceu, era verdadeiramente uma estrangeira em todos os sentidos do termo: na língua, em relação a tudo o que se estava a passar. Apercebi-me de alguma coisa, mas não compreendia”. Ou não queria compreender “de tal forma eram fortes as imagens que se viam por toda a parte”. E é este sentimento subjectivo de incompreensão que domina o álbum, servido por belíssimas cores da autora, que utiliza de forma exemplar a planificação para pontuar o ritmo da história – do exercício quase terapêutico de partilha – que nos conta. As páginas, servidas por um desenho agradável, podem ir do mais tradicional, à dispersão de desenhos sobre um mapa do metro nova-iorquino, assistir à multiplicação de pequenas vinhetas que adaptam a leitura ao seu ritmo cardíaco, ou assumir um registo quase fotográfico, que se transforma para nos transmitir a sensação de solidão, isolamento, quase delírio que a autora viveu.
“Le 11e jour” foi algo muito difícil de concretizar “porque não tenho o hábito de falar de mim, das minhas emoções, foi muito duro...” Como duro foi viver a tragédia que não vai esquecer – que não quer que seja esquecida – daí o “ter feito o álbum de BD, algo que me acompanhará, que me ajudará a construir-me, a ajustar algumas contas comigo”. Embora outras fiquem ainda por regular, como o seu medo (pavor?) de andar de avião, exemplarmente ilustrado nas últimas pranchas do álbum que marcam o regresso a casa.
Da experiência, “do grande prazer que senti a concretizar este álbum”, fica a vontade de voltar a entrar “pela porta que agora se abriu”, de voltar a experimentar o registo autobiográfico para adultos. “Achei muito excitante falar de mim, pôr-me em cena, remexer no que me toca. Transmitir emoções que podem ser muito fortes porque fui eu que as vivi...”. Que quis partilhar com os outros, como forma de terapia, porque “foi um dia muito traumatizante para todo o mundo, não apenas para mim”.
(Versão revista e actualizada do texto publicado no Jornal de Notícias de 12 de Setembro de 2002)
07/09/2009
11/9 - Homem-Aranha
The Amazing Spider Man #36
Marvel Comics (EUA, Dezembro 2001)
168 x 250 mm, 32 p., cor, mensal
Peter Parker Homem-Aranha #27
Devir (Portugal, Abril de 2002)
168 x 255 (mm), 48 p., cor, mensal
J. Michael Straczynski (argumento)
John Romita Jr. (desenho)
Scott Hanna (arte-final)
Dan Kemp (cor)
Marvel Comics (EUA, Dezembro 2001)
168 x 250 mm, 32 p., cor, mensal
Peter Parker Homem-Aranha #27
Devir (Portugal, Abril de 2002)
168 x 255 (mm), 48 p., cor, mensal
J. Michael Straczynski (argumento)
John Romita Jr. (desenho)
Scott Hanna (arte-final)
Dan Kemp (cor)
"Há coisas que estão para além das palavras. Para além da compreensão. Para além do perdão." Se pedir ao leitor para associar estas palavras a um acontecimento recente, talvez ele não tenha grande dificuldade em ligá-las ao que se passou em Nova Iorque, no passado dia 11 de Setembro, tal o impacto dos acontecimentos em causa na memória colectiva mundial.
Mas se pedir ao leitor para identificar quem as proferiu, talvez a tarefa seja mais difícil e, entre as muitas hipóteses que seriam adiantadas, duvido que alguma fosse a correcta. Até porque a minha pergunta era enganosa, já que aquelas palavras não saíram da boca de nenhum político, dirigente mundial ou protagonista da tragédia. Foram proferidas, isso sim, por uma personagem de ficção, mais concretamente de histórias aos quadradinhos, no caso o Homem-Aranha, cujas aventuras são seguidas mensalmente por milhares de leitores um pouco por todo o mundo.
Por isso, imaginemos a surpresa dos leitores quando, pouco menos de dois meses depois, a 14 de Novembro, abriam o nº 36 da revista "The Amazing Spider Man" e encontravam uma página a negro, com uma legenda que dizia: "Interrompemos a nossa emissão para transmitir uma notícia de última hora.". Voltada a página, encontravam o seu super-herói favorito, no topo de um edifício, com as mãos na cabeça, perante o espaço antes ocupado pelas torres gémeas do World Trade Center, agora vazio, coberto apenas por gigantescas nuvens de poeira originadas pela queda dos edifícios. E a imagem pontuada pelas linhas que abrem este artigo.
Para isto ser possível, num tão curto espaço de tempo, foi preciso uma formidável corrida contra o relógio.
Primeiro, de J. Michael Straczynski, responsável por um argumento, que se afasta completamente dos padrões das tradicionais aventuras de super-heróis, embora eles lá estejam, de forma anónima, a tentar remover uma viga, a afastar os escombros ou a chorar perante as ruínas, ainda que sejam os piores vilões que os heróis já enfrentaram, "porque até os mais reles, por muito marcados que estejam, ainda são humanos. Ainda sentem. Ainda choram a morte fortuita dos inocentes". É este aliás o tom geral de um relato que é uma reflexão sentida, emocional (e emocionada), sobre os acontecimentos e as tentativas de resgate das vítimas, em que somos guiados por um Homem-Aranha habitualmente vitorioso e gabarolas, agora derrotado, pela dimensão do drama, e impotente face às suas consequências. Por isso na página final, os (ex-)heróis são remetidos para a obscuridade das últimas filas de uma foto de conjunto em que o destaque vai para os (agora) heróis: os bombeiros, os polícias, os soldados, os marinheiros, os anónimos que se transfiguraram na luta contra o tempo para tentar salvar o maior número possível, "unidos na dor, na determinação. Unidos na recuperação. Unidos na reconstrução".
Corrida contra o relógio, depois, de John Romita Jr., um dos mais apreciados autores de comics norte-americanos, apesar da sua veterania, que desenhou 24 páginas em tempo recorde, sem abdicar dos padrões de qualidade a que habituou os seus fãs, e de Scott Hanna, responsável pela arte-final das pranchas.
Corrida contra o relógio, finalmente, da Marvel, que conseguiu alterar o plano editorial estabelecido e encaixar esta história na sequência normal da revista, de tal forma que a tiragem deste número foi a habitual, esgotando rapidamente e transformando-o num objecto ambicionado pelos coleccionadores.
Agora, chega a edição portuguesa, pela mão da Devir, integrada na linha habitual da editora, com o nº 27 da revista "Peter Parker Homem-Aranha", já distribuída em quiosques e lojas especializadas. Este número, muito especial pela história que inclui, é especial também porque marca o fim desta revista, que será em breve substituída por uma outra, intitulada simplesmente "Homem-Aranha", que incluirá as histórias mais recentes do herói criadas pela equipa responsável por este episódio especial e histórico.
(Versão revista e actualizada do texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 11 de Abril de 2002)
(Versão revista e actualizada do texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 11 de Abril de 2002)
04/09/2009
Zits #13 - Pierced
Jerry Scott (argumento) e Jim Borgman (desenho)
Gradiva (Portugal, Junho de 2009)
210 x 220 mmm, 128 p., pb e cor, capa brochada
Menosprezados por alguns que as consideram “leitura menor”, as tiras humorísticas contam entre elas verdadeiras obras-primas como “The Peanuts”, “Calvin e Hobbes” e “Mutts”… Ou “Zits” (que o Jornal de Notícias publica diariamente, bem como outros 1600 jornais em todo o mundo) literalmente “borbulhas”, ou não seja ela sobre a adolescência e a sempre complicada convivência com o acne e com (as) outras gerações, no caso Jeremy, o adolescente que a protagoniza, e os seus pais, pertencentes a um outro (e mui distante) tempo, sem computadores nem telemóveis, mas com músicas estranhas e rituais (levantar cedo, arrumar o quarto, chegar cedo a casa…) incompreensíveis.
Mas é com eles – e com os seus amigos, com destaque para Sara, Hector e Pierce – que Jeremy tem que (con)viver, embora no caso destes últimos, namorada e companheiros inseparáveis de escola, de banda e dos maravilhosos sonhos (quase sempre inatingíveis…) da juventude, tudo funcione bem melhor. O que não impede que também originem razões para o leitor sorrir ou mesmo gargalhar abertamente, recordando (ou esquecendo…) as situações idênticas por que passou/está a passar…
Para isso contribui a forma como Scott explana as situações quotidianas – aparentemente banais - por vezes em diálogos brilhantes, bem como o traço de Borgman, solto e bem trabalhado, pormenorizado quanto baste, com corpos e rostos hiper-expressivos e capaz de traduzir graficamente (e de forma literal) as emoções e experiências das personagens, seja uma cabeça que explode ou alguém que trepa pelas paredes, a invisibilidade dos progenitores, a deformação voluntária das medidas anatómicas ou a incompreensibilidade de algumas conversas. Se tudo isto está em “Pierced”, 13º álbum da série, este distingue-se por ser uma colectânea dedicada a Pierce, tão valioso como amigo… quanto se vendido a peso no ferro-velho, devido aos inúmeros piercings, brincos e acessórios metálicos que ostenta! Idealista convicto de causas nem sempre defensáveis, nesta compilação de tiras, vê-se a coerência e consistência da personagem, dando razão a Maurice Tillieux (1921-1978), um dos grandes nomes da BD franco-belga, que um dia afirmou: “o herói é uma personagem que dificilmente animamos. São as personagens secundárias que fazem uma série”.
Curiosidade
“Zits” tem uma versão semi-animada, os "Zits Motion Comics", disponíveis gratuitamente em http://www.comicskingdom.com/index.php/zits-motion-comics.
(Versão revista do texto publicado a 8 de Agosto de 2009 no suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Gradiva (Portugal, Junho de 2009)
210 x 220 mmm, 128 p., pb e cor, capa brochada
Menosprezados por alguns que as consideram “leitura menor”, as tiras humorísticas contam entre elas verdadeiras obras-primas como “The Peanuts”, “Calvin e Hobbes” e “Mutts”… Ou “Zits” (que o Jornal de Notícias publica diariamente, bem como outros 1600 jornais em todo o mundo) literalmente “borbulhas”, ou não seja ela sobre a adolescência e a sempre complicada convivência com o acne e com (as) outras gerações, no caso Jeremy, o adolescente que a protagoniza, e os seus pais, pertencentes a um outro (e mui distante) tempo, sem computadores nem telemóveis, mas com músicas estranhas e rituais (levantar cedo, arrumar o quarto, chegar cedo a casa…) incompreensíveis.
Mas é com eles – e com os seus amigos, com destaque para Sara, Hector e Pierce – que Jeremy tem que (con)viver, embora no caso destes últimos, namorada e companheiros inseparáveis de escola, de banda e dos maravilhosos sonhos (quase sempre inatingíveis…) da juventude, tudo funcione bem melhor. O que não impede que também originem razões para o leitor sorrir ou mesmo gargalhar abertamente, recordando (ou esquecendo…) as situações idênticas por que passou/está a passar…
Para isso contribui a forma como Scott explana as situações quotidianas – aparentemente banais - por vezes em diálogos brilhantes, bem como o traço de Borgman, solto e bem trabalhado, pormenorizado quanto baste, com corpos e rostos hiper-expressivos e capaz de traduzir graficamente (e de forma literal) as emoções e experiências das personagens, seja uma cabeça que explode ou alguém que trepa pelas paredes, a invisibilidade dos progenitores, a deformação voluntária das medidas anatómicas ou a incompreensibilidade de algumas conversas. Se tudo isto está em “Pierced”, 13º álbum da série, este distingue-se por ser uma colectânea dedicada a Pierce, tão valioso como amigo… quanto se vendido a peso no ferro-velho, devido aos inúmeros piercings, brincos e acessórios metálicos que ostenta! Idealista convicto de causas nem sempre defensáveis, nesta compilação de tiras, vê-se a coerência e consistência da personagem, dando razão a Maurice Tillieux (1921-1978), um dos grandes nomes da BD franco-belga, que um dia afirmou: “o herói é uma personagem que dificilmente animamos. São as personagens secundárias que fazem uma série”.
Curiosidade
“Zits” tem uma versão semi-animada, os "Zits Motion Comics", disponíveis gratuitamente em http://www.comicskingdom.com/index.php/zits-motion-comics.
(Versão revista do texto publicado a 8 de Agosto de 2009 no suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
03/09/2009
Lançamento – Zona Negra
A revista “Zona Negra” é lançada amanhã, dia 4 de Setembro, sexta-feira, às 19h15 no cinema S. Jorge, em Lisboa, com a presença de alguns dos seus colaboradores, estando a apresentação a cargo de João Maio Pinto.
Depois do inicial “Zona Zero”, esta é a segunda edição do projecto independente Zona, que publica ilustrações e bandas desenhadas de jovens autores portugueses, desta vez dedicado ao terror aos quadradinhos, ou não esteja o seu lançamento integrado na programação do festival de cinema MOTELx 2009, que até ao próximo domingo divulga a mais recente produção internacional de cinema de terror.
Depois do inicial “Zona Zero”, esta é a segunda edição do projecto independente Zona, que publica ilustrações e bandas desenhadas de jovens autores portugueses, desta vez dedicado ao terror aos quadradinhos, ou não esteja o seu lançamento integrado na programação do festival de cinema MOTELx 2009, que até ao próximo domingo divulga a mais recente produção internacional de cinema de terror.
BD para ver – David Rubin na Mundo Fantasma
Até 13 de Setembro está patente na Livraria/Galeria Mundo Fantasma (no Centro Comercial Brasília, no Porto) uma exposição de originais do autor galego David Rubin, incluindo a belíssima ilustração que acompanha este texto, feita para servir de capa a um livro da Polvo que nunca viu a luz do dia, e de que a Mundo Fantasma editou um giclée, em formato A3.
Passem por lá e aproveitem para trazer (pelo menos) um livro do autor porque se a BD se pode ver é, antes de tudo, para ler.
Passem por lá e aproveitem para trazer (pelo menos) um livro do autor porque se a BD se pode ver é, antes de tudo, para ler.
Leituras relacionadas
BD para ver,
David Rubin,
Mundo Fantasma
02/09/2009
As Melhores Leituras de Agosto
Gen Pés-Descalços – 4 volumes (Uma história de Hiroshima, O dia seguinte, A vida após a bomba, O recomeço) (Conrad), de Keiji Nakazawa
Dilbert – Os incompetentes incomodam muita gente (Editorial Noticias), de Scott Adams
Romance da Raposa (Bertrand Editores), de Artur Correia
Superman & Batman #42 (Panini Comics Brasil), vários autores
Dilbert – Os incompetentes incomodam muita gente (Editorial Noticias), de Scott Adams
Romance da Raposa (Bertrand Editores), de Artur Correia
Superman & Batman #42 (Panini Comics Brasil), vários autores
11/08/2009
Le sauveteur
Jirô Taniguchi
Casterman (França, Abril de 2007)
150 x 210 mm, 336 p., pb, capa brochada com jaqueta
Resumo
Guarda de um refúgio nos Alpes japoneses, Shiga responde a um pedido de ajuda da mulher do seu velho amigo Sakamoto, que antes de falecer, 13 anos antes, o fez prometer que velaria pela sua esposa e filha. Deixa assim o seu “habitat”, para se embrenhar em Tóquio à procura de Megumi, a menor desaparecida.
Desenvolvimento
E embora Shiga não hesite em corresponder ao chamado que lhe é feito, é evidente o seu desconforto no meio citadino, de onde há muito voluntariamente se afastou. Este é um dos pontos de interesse deste manga, cujo tom – e tensão - se vai desenvolvendo num crescendo, à medida que o protagonista se aproxima do seu objectivo, sendo curiosa a comparação estabelecida entre o seu percurso e os passos necessários a uma escalada. Que, numa (longa) cena bem conseguida, acabará mesmo por acontecer, já na ponta final do livro.
Assim, em “Le sauveteur”, mais uma vez uma criação de Taniguchi confronta-se com a cidade, embora aqui o tom seja completamente díspar do de outras narrativas, nomeadamente “L’Homme qui marche”, com a contemplação a dar lugar à acção.
Apesar disso, esta é uma narrativa em que os diálogos têm um lugar preponderante, já que a busca de Megumi, mais do que em lugares, faz-se do questionar pessoas da sua área de conhecimentos ou das zonas (pouco recomendáveis, diga-se) que frequentava. A comunicação de Shiga, maioritariamente com desconhecidos, a maior parte das vezes pouco amigáveis ou pouco dispostos a ajudar, mas também com a mãe e o avô da desaparecida ou com os seus amigos alpinistas, é feita sempre com diálogos no tom justo, credíveis, convincentes, que fazem a história avançar, num ritmo propositadamente lento, sem saltos bruscos ou incoerências, e que permitem ao leitor estar sempre a par do ponto em que está a procura em que o protagonista se empenha.
Ao mesmo tempo, a par desta busca profundamente humana, Taniguchi traça um retrato (desencantado) de uma certa realidade japonesa que, apesar de chocante, não se questiona pela forma quase documental como é apresentada e que contrasta com a imagem sóbria que geralmente passa daquele país. E que faz com que o final, à primeira vista feliz, numa segunda leitura deixe muitas dúvidas quanto às marcas que os acontecimentos daqueles dias deixaram nos seus protagonistas.
Casterman (França, Abril de 2007)
150 x 210 mm, 336 p., pb, capa brochada com jaqueta
Resumo
Guarda de um refúgio nos Alpes japoneses, Shiga responde a um pedido de ajuda da mulher do seu velho amigo Sakamoto, que antes de falecer, 13 anos antes, o fez prometer que velaria pela sua esposa e filha. Deixa assim o seu “habitat”, para se embrenhar em Tóquio à procura de Megumi, a menor desaparecida.
Desenvolvimento
E embora Shiga não hesite em corresponder ao chamado que lhe é feito, é evidente o seu desconforto no meio citadino, de onde há muito voluntariamente se afastou. Este é um dos pontos de interesse deste manga, cujo tom – e tensão - se vai desenvolvendo num crescendo, à medida que o protagonista se aproxima do seu objectivo, sendo curiosa a comparação estabelecida entre o seu percurso e os passos necessários a uma escalada. Que, numa (longa) cena bem conseguida, acabará mesmo por acontecer, já na ponta final do livro.
Assim, em “Le sauveteur”, mais uma vez uma criação de Taniguchi confronta-se com a cidade, embora aqui o tom seja completamente díspar do de outras narrativas, nomeadamente “L’Homme qui marche”, com a contemplação a dar lugar à acção.
Apesar disso, esta é uma narrativa em que os diálogos têm um lugar preponderante, já que a busca de Megumi, mais do que em lugares, faz-se do questionar pessoas da sua área de conhecimentos ou das zonas (pouco recomendáveis, diga-se) que frequentava. A comunicação de Shiga, maioritariamente com desconhecidos, a maior parte das vezes pouco amigáveis ou pouco dispostos a ajudar, mas também com a mãe e o avô da desaparecida ou com os seus amigos alpinistas, é feita sempre com diálogos no tom justo, credíveis, convincentes, que fazem a história avançar, num ritmo propositadamente lento, sem saltos bruscos ou incoerências, e que permitem ao leitor estar sempre a par do ponto em que está a procura em que o protagonista se empenha.
Ao mesmo tempo, a par desta busca profundamente humana, Taniguchi traça um retrato (desencantado) de uma certa realidade japonesa que, apesar de chocante, não se questiona pela forma quase documental como é apresentada e que contrasta com a imagem sóbria que geralmente passa daquele país. E que faz com que o final, à primeira vista feliz, numa segunda leitura deixe muitas dúvidas quanto às marcas que os acontecimentos daqueles dias deixaram nos seus protagonistas.
A reter
- Os diálogos.
Menos conseguido
- A história ganhava se o leitor fosse mantido na ignorância da identidade do culpado e do destino de Megumi até mais perto do final.
- O contraste entre o ar (quase) semi-caricatural dos rostos das personagens e o traço realista (fotográfico) dos edifícios.
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