05/05/2011

Le Masque du Fantôme

Le Château des Ombres
Collection Shampooing
Fabien Grolleau (argumento e desenho)
Delcourt (França, 6 de Abril de 2011)
127 x 180 mm, 192 p., pb, brochada com sobrecapa, 9,40 €


Resumo
Um autor de BD pouco conhecido é contratado para produzir uma banda desenhada que ajude a trazer à razão o maior dos fãs de “Le Fantôme des Everglades”, um dos grandes sucessos dos quadradinhos clássicos dos últimos 60 anos.


Desenvolvimento
Esta é a história de alguém que ficou órfão demasiado cedo (é sempre demasiado cedo para se ficar órfão…) e, ao mesmo tempo, dono de uma colossal fortuna.
A história de alguém que encontrou refúgio e libertação na banda desenhada, em especial em “Le Fantôme des Everglades”, um comic clássico de aventura (que facilmente se percebe ser inspirado no Fantasma, de Lee Falk e Ray Moore), que nos últimos 60 anos foi um enorme sucesso a nível mundial. E a quem o dinheiro permitiu transformar a imensa propriedade numa cópia rigorosa dos cenários das aventuras do herói.
E, por isso, foi a banda desenhada que norteou toda a sua existência de criança, adolescente, jovem, adulto, velho… Primeiro como leitor maravilhado, depois como coleccionador ávido (“dotado de meios infinitos” para “percorrer o mundo inteiro à procura de um exemplar único” ou então “a versão alemã, indiana, turca ou chinesa” do seu comic preferido), mais tarde, mergulhando nela, como que numa realidade paralela, assumindo a pouco e pouco a identidade do seu ídolo, emulando as suas acções, vendo o mundo real deformado pelo olhar proveniente dos comics.
Mais ainda quando, numa tentativa de o chamar à realidade (de que estava cada vez mais ausente) os herdeiros decidiram queimar a sua imensa colecção, provocando exactamente o efeito contrário: roubando-lhe os últimos resquícios de lucidez, fazendo-o mergulhar definitivamente num papel de justiceiro mascarado numa cruzada infinita pela libertação de belas mulheres prisioneiras de horrendos zombies comandados pelo poderoso “Feiticeiro”.
Por isso, esses herdeiros, em especial a bela sobrinha, arrependida do que fez, decidem contratar Sacha, um autor de BD – por acaso pouco famoso e até cultor do género autobiográfico – para criar um comic “pirata” que ajude o novo(/velho) Fantôme a voltar à realidade.
Primeiro surpre-endido e de pé atrás, Sacha aos poucos embarca na estranha aventura, quer porque o perturbado herói o toma pelo seu (fiel…) ajudante, quer porque não fica indiferente à bela sobrinha – principalmente porque em si também vivem, vibram os ecos dos heróis dos quadradinhos.
Hábil combinação de realidade e fantasia, em que a realidade, aos olhos do leitor, é muitas vezes substituída pela ficção que o protagonista imagina real, “Le Masque du Fantôme” é, antes de mais, uma bela homenagem aos autores dos heróis – e aos heróis também - que fizeram – que fazem – sonhar gerações de leitores de quadradinhos. Uma homenagem emotiva, sentida, que se adivinha sincera. O que não implica que o autor não consiga algum distanciamento para mostrar – de forma mordaz - a reacção oposta, as críticas que todos nós, leitores de BD, já ouvimos mais que uma vez: “Com tais leituras, como não há-de a juventude ser perturbada?”, “Se lesses histórias a sério…”, etc…
Apesar de um início um pouco lento e algo confuso, o relato progressivamente ganha ritmo, em boa medida devido à planificação dinâmica, brilha na combinação da realidade com cenas extraídas (ou imaginadas) das páginas de BD e torna-se especialmente estimulante para fãs de banda desenhada, a quem o aconselho vivamente.
Este primeiro volume termina num momento em que o mundo de fantasia se cruza tragicamente com a realidade, partindo os protagonistas – o pretenso herói e o suposto criador das suas histórias – em perseguição de um verdadeiro assassino, deixando os autores em suspenso sobre a forma como o autor vai encaminhar.


A reter
- A homenagem – sentida - aos clássicos – autores e heróis - dos quadradinhos.

Curiosidade
- O blog de Fabien Grolleau, com muita informação sobre a obra.

04/05/2011

Astérix, 50 anos em Portugal (III)

Maria José Pereira: “Astérix está associado ao nascimento do meu filho”
“Tenho muitas histórias "curiosas" em relação ao Astérix, mas a edição de que guardo maior memória, é a do título “A Rosa e o Gládio”.
Era a primeira novidade que Portugal lançava em simultâneo com todos os outros países da Europa, incluindo a França, e era um privilégio poder trabalhar nela a partir da tradução. Estávamos no Verão de 1991 e tanto eu como a Paula Caetano - há vários anos que traduzimos juntas os livros do Astérix -, estávamos grávidas.
O nervosismo era grande: tínhamos muito pouco tempo para fazer a tradução - o livro tinha lançamento mundial em Outubro - e estávamos no final de Julho quando trabalhámos os textos. Faltava cerca de um mês para ter o livro pronto para ir para a gráfica (e ainda faltava aprovar a tradução e passar o texto ao legendador, para que o legendasse manualmente).
Hoje, quando olho para nós em retrospectiva, vejo-nos amarelas, olheirentas, enjoadas, com as cabeças a tentarem sobressair no meio de imensas nuvens de fumo. Trabalhávamos a três num gabinete, e a nossa colega de espaço acendia o cigarro no cigarro que ia apagar. Circundavam-nos imensos dicionários e livros para consulta.
Enviado o livro para a gráfica, começámos, na editora, a preparar a campanha de comunicação e os contactos com os jornalistas pois tínhamos acordado com a editora francesa que o Sr. Uderzo faria o lançamento da obra em Portugal, um dia ou dois depois do lançamento em França.
Sei que preparámos tudo e que, a poucas horas de sair do escritório para o aeroporto, a minha chefe da altura, a Natália Severino, me chama e me diz: "Senta-te. A notícia que tenho para te dar não é das mais agradáveis. Acabei de receber um telefonema de França e o Sr. Uderzo não pode vir a Portugal fazer o lançamento do álbum. Adiou a viagem".
Estava no sexto mês de uma gravidez de risco e tinha passado os últimos três meses em noitadas de trabalho e em stress contínuo. Olhei para a Natália e disse-lhe: "Telefona por favor ao meu marido, estou a sentir-me mal e tenho de ir ao hospital".
Fui para a maternidade e "ganhei" direito a ficar em repouso absoluto até a criança estar em condições de nascer, o que aconteceu no final de Novembro. E lembro-me de estar em casa a ouvir, na rádio (em Dezembro?) a notícia da presença entre nós do Sr. Uderzo, com quem não pude estar nessa altura.
E assim, o trabalho na minha primeira "novidade mundial" Astérix estará, para sempre, associado ao nascimento de um filho”.


A propósito dos 50 anos de Astérix em Portugal leia também:
- Astérix, 50 anos em Portugal (I)
- Tónius, o Astérix português

Astérix, 50 anos em Portugal (II)

Tónius, o Astérix português
Quando em Abril de 1979 a 2ª série da revista “Spirou” chegou às bancas, apresentava na capa um novo herói português. Ou melhor, lusitano, de nome Tónius. Emulação de Astérix, apesar de distinto do pequeno guerreiro gaulês – na construção dos argumentos, no ritmo, na utilização graficamente interessante de balões e legendas, no aproveitamento da sonoridade das palavras e de alguns anacronismos como fonte de humor… - partilhava com ele alguns pontos de contacto: vivia numa aldeia - o castro de Pedróbriga - que resistia aos invasores… mouros, a quem distribuía castanhadas sempre que a ocasião surgia; era inteligente, audaz e hábil… no manejo da funda; o seu principal amigo era Chicolindus, forte, encorpado e apreciador de… trutas; o seu chefe, Herminius, mandava pouco… mesmo em casa.
Os seus autores eram o argumentista Fernando Tito e o desenhador José André que, depois desta aventura inicial, publicada semanalmente até ao número 22 da revista, fariam Tónius regressar em “Uma aventura nas Astúrias” (Editorial Publica), lançada directamente em álbum no nosso país, em 1981, após ter sido editada na Bélgica, Holanda e Finlândia.
Nestes países foi ainda publicada uma terceira BD, “A invasão dos Alfas”, até hoje inédita em Portugal. As duas primeiras histórias foram reeditadas no “Jornal da BD” (1984/1985), tendo os autores deixado incompletos dois outros projectos, “A Pedra do Norte” (argumento completo, parcialmente desenhado) e “Tónius e as Sete Maravilhas” (apenas com a ideia base esboçada).
Tónius, apesar da carreira breve (ou talvez nem tanto…) com amigos e adversários ainda protagonizou um loto cuja base eram caricas de Sumol!


A propósito dos 50 anos de Astérix em Portugal leia também:
- Astérix, 50 anos em Portugal (I)
- Maria José Pereira: “Astérix está associado ao nascimento do meu filho”


(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 4 de Maio de 2011)

Astérix, 50 anos em Portugal (I)

Há exactamente 50 anos, Astérix estreou-se em Portugal que foi o primeiro país não francófono a ler as aventuras da maior criação de Goscinny e Uderzo. Aconteceu no número inicial da revista “O Foguetão” e o seu sucesso entre nós foi crescente, tendo o seu mais recente álbum, “O Aniversário de Astérix e Obélix” (2009), tido uma invejável (a qualquer nível) tiragem de 75 mil exemplares.
“Um jornal crescido para os novos” e “um jornal novo para a gente crescida”, o “Foguetão”, em papel de jornal, tinha 16 páginas de grande formato (35 x 50 cm), e custava 2$50, sendo caro para a época. Oseu director era Adolfo Simões Müller, que depois de Tintin e Lucky Luke apresentava em Portugal Astérix, mais um grande herói da banda desenhada franco-belga, apenas ano e meio após a sua estreia na revista Pilote.
A título de curiosidade, refira-se que o “Foguetão”, o “semanário do ano 2000 que se lê em 1961”, incluía contos, concursos e secções de futebol (por José Águas), cinema, filatelia, actualidade ou passatempos. Em temos de banda desenhada, a par de Dan Dare (rebaptizado Capitão Marte), Sexton Blake, Jean Valhardi, Tanguy e Laverdure, Blake e Mortimer, Gaston Lagaffe (dito Zacarias) e Michel Vaillant (aliás Miguel Gusmão), era “introduzida uma novidade”, a publicação de “Tintin au Tibet”, exactamente assim, na versão original francesa para “agradar aos leitores que estudam francês”, dando-lhes “a conhecer a graça original do texto” e ajudando-os “a compreenderem um dos mais belos idiomas do mundo”!Para os que não liam francês, “no fim de cada página da série” apareciam “as legendas traduzidas e numeradas para melhor identificação”. A presença do original francês, não impediu, claro está, que na versão lusa o repórter fosse Tim-Tim, o seu cão Rom-Rom, e Haddock e Tournesol, respectivamente Rosa e Pintadinho…Apesar do elenco de luxo, “O Foguetão” durou apenas 13 números, tendo publicado as primeiras 14 pranchas (por vezes remontadas) de “Astérix o guerreiro gaulês”, sempre a preto e branco ou apenas com uma cor (verde, vermelho, lilás, castanho…), tendo o herói tido chamadas de capa nos números 9 e 13.
Com o final da revista (disponível integralmente na Hemeroteca Digital), a 27 de Julho do mesmo ano, “apesar das quase três dezenas de milhares de leitores entusiastas que desde a primeira hora nos acompanharam, as melhores histórias e secções passaram para as páginas do “Cavaleiro Andante”, segunda casa portuguesa de Astérix a partir do número 510, de 7 de Outubro de 1961.
Astérix viveria igualmente no “Zorro” (1963), “Flecha 2000” (1979 e 1985), “Jornal da BD” (1982) ou “BDN” (1990). A revista “Tintin”, a partir de 1969, juntá-lo-ia de novo ao herói que lhe dava nome (e também a Lucky Luke), tendo nas suas páginas, onde foram publicadas duas dezenas de histórias, tido pela primeira vez uma impressão à altura da sua qualidade, o que contribuiu sobremaneira para cimentar a sua popularidade no nosso país.
Antes disso, no entanto, o herói estreara-se em álbum, em 1966, quando a Editorial Íbis editou “Astérix o gaulês”. A primeira história de Astérix, ao longo dos anos, viria a conhecer mais três versões da responsabilidade da Livraria Bertrand, Meribérica-Líber e Edições ASA. Esta última faria igualmente uma edição dele em mirandês - “L Goules” -, acontecendo o memo com “O Grande Fosso” - “L Galaton”. A Difusão Verbo, o Círculo de Leitores e a Salvat foram também editores nacionais de Astérix, sendo que todas as edições juntas ultrapassam já a centena. A estas, há que juntar ainda mais de uma dúzia de livros derivados, dedicados a adaptações de filmes, jogos ou gastronomia…
Desde “A Rosa e o Gláudio” (1991), as aventuras de Astérix e dos restantes companheiros têm sido editadas em Portugal em simultâneo com as edições originais francesas, sendo que o secretismo, os prazos curtos e as questões de confidencialidade inerentes ao facto davam para criar uma grande aventura… aos quadradinhos!
Actualmente, a grande criação de Goscinny e Uderzo pertence ao catálogo da ASA, que desde 2005 tem no mercado uma nova tradução em que os nomes das personagens foram “aportuguesadas”, adaptando ao nosso idioma os trocadilhos que muitos deles contêm.
A par da actividade editorial, Astérix apareceu também sob mil e uma formas: vestuário, cromos, decalcomanias, figuras plásticas oferecidas com vitaminas, gelados (Olá) ou doces (Panrico, Phoskitos, Kinder), etc…
Entretanto, a propósito do meio século da presença de Astérix no nosso país, Maria José Pereira, directora do Departamento de BD da ASA, revelou que “as comemorações dos 50 anos de edição do Astérix em Portugal prolongam-se até ao próximo ano”, tendo sido iniciadas com “o lançamento da novidade “Vamos Procurar o Astérix” e a reedição de vários álbuns que se encontram quase esgotados”.
As grandes notícias são a disponibilização da versão portuguesa do site oficial de Astérix “no final de Maio”, quando “serão lançados três livros dedicados a personagens Astérix”, mais concretamente Obélix, Atrevidix Cleópatra, estando previstos mais seis volumes “até ao final do ano”. Esta colecção, “lançada em França pelas Éditions France Loisirs”, ficará completa com a edição “dos restantes nove títulos durante 2012”.


A propósito dos 50 anos de Astérix em Portugal leia também:
- Tónius, o Astérix português
- Maria José Pereira: “Astérix está associado ao nascimento do meu filho”







(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 4 de Maio de 2011)

03/05/2011

Jump Start

Coup de Pouce / Neuer Schwung
A Comissão Europeia anunciou a publicação de “Jump Start”, um livro de banda desenhada que pretende mostrar que qualquer um pode ter uma segunda oportunidade e reorganizar a sua vida através dos programas financiados pelo Fundo Social Europeu (FSE), que o co-edita juntamente com a Direcção-Geral do Emprego, dos Assuntos Sociais e da Igualdade de Oportunidades da Comissão Europeia.
As quatro histórias publicadas neste álbum têm por base testemunhos verídicos recolhidos juntos de habitantes dos vários países que integram a União Europeia, sendo este o ponto forte do projecto, pelos laços emotivos que pode criar pois os casos narrados são semelhantes aqueles que ouvimos diariamente nas notícias e de que todos conhecemos exemplos, tal como já acontecia aliás com as que compunham o primeiro livro desta série, intitulado “Novos Rumos”, lançado no final do ano passado.
Neste último caso, aliás, uma das histórias passava-se em Portugal, mais exactamente no Algarve, e narrava o caso de alguém que, após perder o emprego devido à deslocalização da empresa onde trabalhava, refez a vida reconvertendo a habitação familiar para fins de turismo rural.
Para além do desemprego, por detrás de cada um dos casos recontados aos quadradinhos podem estar situações como uma gravidez inesperada, um acidente automóvel que vitimou um dos pais ou o cônjuge, uma deficiência física, desavenças familiares, más companhias que levaram ao cumprimento de penas de prisão, etc.
Para ilustrar as bandas desenhadas foram escolhidos dois belgas (Christian Durieux e Gihef), um francês (Sylvain Savoia) e uma franco-laociana (Vanyda), já com álbuns publicados profissionalmente que, utilizando técnicas e estilos diversos, passaram ao papel, de forma bastante acessível e legível, as histórias escritas por Rudi Miel.
O álbum (ainda sem título em português, mas cuja tradução será algo como “Recomeço”) terá edição nas 23 línguas oficiais da União Europeia e mas pode desde já ser ser encomendado gratuitamente aqui.
Após a publicação do livro, prevista para as próximas semanas, ficará disponível uma versão online, como já acontece com “Novos Rumos”.


(versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 4 de Abril de 2011)

02/05/2011

La frontière invisible, tome 1

Les Cités Obscures
Benoit Peeters (argumento)
François Schuiten (desenho)
Casterman (França, Abril de 2002)
235 x 305 mm, 64 p., cor, cartonado com sobrecapa, 13,50 €


Foi há já 20 anos que foi colocada a primeira pedra das "Cidades Obscuras". Os seus "artífices" são François Schuiten e Benoit Peeters que, "mais do que uma série”, as preferem definir como “a descrição progressiva de um universo...". Um universo desvendado álbum após álbum, "como se descobre um esqueleto enterrado na areia de que não se conhece a forma completa!".
O mais recente elemento, "La frontière invisible, tome 1" (Casterman, cor, 64 p.) é "uma história que começa com a chegada ao Centro de Cartografia de Sodrovno-Voldachie, de Roland, um jovem brilhante que se empenha nas suas tarefas, subindo rapidamente na hierarquia. Ao mesmo tempo, trava conhecimento com Schkodrá, uma bela e jovem prostituta, que se recusa a despir para não revelar o mapa traçado no seu próprio corpo.
Enquanto assistimos à transição de Roland da adolescência para a idade adulta, sentimos que tudo começa a mudar quando modernos aparelhos são trazidos para substituir os meios artesanais existentes e o Centro é visitado pelo marechal Radisic, o dirigente supremo do país, cuja política expansionista, assente na velha máxima de que o fim justifica todos os meios, o que põe em causa o equilíbrio existente nas Cidades Obscuras.
Mais uma vez, a história contada é simbólica, usando tempos e lugares incertos, para falar de realidades recentes como o nacionalismo ou a utilização política da história e da geografia como instrumentos bélicos.
Lembra Schuiten, que mais uma vez associa ao seu traço fino e pormenorizado, uma belíssima utilização da cor, que "uma fronteira é a linha que separa um território de outro, mas é também o que os divide!"

P.S. - Diz-se que a realização de um homem passa por três aspectos: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Saltando a questão da árvore, escrever, depois (ou a par) de várias experiências, tenho-o feito regularmente aqui, nas páginas do JN, não livros, mas sobre livros que li e tenho a oportunidade de partilhar. O filho, nasceu há dias. E é a ti, Daniel, que dedico este texto. Espero que a leitura dos livros que vou destacando, te venha a dar pelo menos tanto prazer como deu a mim, te faça transpor fronteiras, desbravar horizontes e despertar a imaginação, num tempo em que a leitura é, infelizmente, uma actividade cada vez menos praticada.


(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 7 de Maio de 2002, a propósito do nascimento do meu primeiro filho, Daniel, a 2 de Maio)


Nove anos depois: parabéns Daniel!


Nota
Este álbum, primeiro de um díptico concluído dois anos mais tarde, seria editado em português pela Witloof, em Outubro de 2002, com o título “A Fronteira Invisível – Tomo 1”, existindo também uma edição da Casterman que compila os dois tomos que constituem a história.

01/05/2011

Melhores Leituras

Abril 2011


Batman #93 (Panini Brasil), vvaa


City Stories #6 – Oficina Polaco-Portuguesa de BD (Festival Internacional de BD e Viedojogos de Lodz), de Bartosz Sztybor, Balbina Bruszewska, Rui Lacas e Filipe Pina (argumento) e Filipe Andrade, Ricardo Cabral, Rui Lacas e Michal Sledzinski (desenho)


Far Away (Glénat), de Jean-François e Maryse Charles (argumento) e Gabrielle Gamberini (desenho)


J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #71 – Morrerei à meia-noite (Mythos Editora), de Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (argumento) e Roberto Zaghi (desenho)


L'ombre aux tableaux et autres histoires (Drugstore), de J.-C. Denis


Os Incontornáveis da BD #3 - XIII Mystery (Público + ASA), de Xavier Dorison e Corbeyran (argumento) e Ralph Meyer e Berthet (desenho)

Universo Marvel #1 e #2 (Panini Brasil), vvaa

30/04/2011

Poderoso Thor

Corria o ano de 1962. Stan Lee em plena euforia criativa, lançava, sem o saber ainda, as bases do que viria a ser o complexo universo Marvel, explorando o conceito de super-heróis com problemas comuns (de personalidade, financeiros, sentimentais…) iniciado um ano antes com o Quarteto Fantástico. Depois de juntar o Hulk à primeira super-família, decidiu alargar o seu conceito explorando um dos temas mais recorrentes na literatura: o confronto entre pai e filho. Com a introdução de uma variante: ambos eram deuses nórdicos. O pai, Odin, reinava em Asgard, e o filho, caído em desgraça, era obrigado a penar junto dos humanos para aprender a humildade e o auto-controle.
Nascia assim o poderoso Thor, cuja estreia se deu no número 83 (datada de Agosto de 1962) da revista “Journey into Mystery”, que passou a acolher regularmente o deus nórdico, assumindo mesmo, a partir do nº 126, de Março de 1966, o título de “The Mighty Thor”. Ao lado de Lee, na criação de Thor, estava Jack Kirby, possivelmente o maior desenhador de super-heróis de sempre, que ajudou a dar a Thor a credibilidade devida a um deus: longos cabelos loiros, olhos azuis, um corpo musculado, imponente, vigoroso e um ar decidido.
Filho de Odin, rei dos deuses, Thor era o seu herdeiro natural. Apesar dos seus grandes feitos desde a adolescência, e de ter recebido o martelo místico designado como Mjolnir, símbolo do deus do trovão, que lhe conferia força e o poder de voar, o herói era obstinado e impulsivo e por isso o pai decidiu exilá-lo na Terra, com a memória apagada, aprisionando-o no corpo de Donald Blake, um deficiente físico.
Durante uma década, Thor aprendeu a superar os problemas causados pela sua perna defeituosa, formando-se em medicina e tornando-se útil para os seus semelhantes. Induzido por Odin, convencido que ele tinha aprendido a lição, viajou até à Noruega onde, na sequência de um ataque extraterrestre, se refugiou numa caverna onde encontrou um tronco retorcido que utilizou como bengala. Num momento de desespero, bateu com ela no chão, descobrindo que se tratava do seu martelo místico e que esse acto o transformava no poderoso Thor. Só que, ao contrário do que Odin esperava, Thor decidiu continuar entre os humanos, ajudando-os a combater o mal, agora sob a sua forma verdadeira.
Entre os seus principais inimigos – humanos, deuses, extraterrestres - surgiu desde logo Hulk, o único que com ele se consegue comparar em força física, e, principalmente, Loki, o seu meio-irmão adoptivo, invejoso da sua popularidade e desejoso de ocupar o trono em seu lugar. Foi na sequência de um confronto com ele que Thor, involuntariamente, viria a fundar os Vingadores (Avengers), juntamente com o Homem de Ferro, o Homem-Formiga e a Vespa, “um grupo de heróis unidos para combater inimigos que nenhum herói poderia combater sozinho”.
Ao longo de cinco décadas, Thor já experimentou de quase tudo: assumiu várias identidades terrenas, teve vários substitutos – incluindo uma mulher! – e, nos anos 80, numa das suas melhores fases, quando foi escrito e desenhado por Walt Simonson, responsável por recuperar o herói, a sua mística e a sua grandiosidade, e pela inclusão de personagens marcantes, foi até transformado em sapo, combatendo um exército de ratos…; substituiu Odin, tornando-se rei de Asgard – reino várias vezes destruído - e chegou a aniquilar a Terra numa realidade alternativa.
E, claro está, fazendo parte do universo Marvel, em que nada é garantido nem absoluto, nem a própria morte, também ele, vencendo a imortalidade inerente à sua divindade – dom que se transforma em fardo quando o leva a sobreviver à morte de muitos dos seus amigos terrenos – faleceu. Para regressar, mais forte e destemido, como um verdadeiro herói, pois ele é o poderoso Thor.


Thor em 3D
A estreia de Thor, o filme, hoje nos cinemas portugueses, uma semana antes dos Estados Unidos, traz uma novidade para quem tem seguido as aventuras cinematográficas dos super-heróis Marvel: a abertura de uma porta para o lado mágico e místico do seu universo e para as suas realidades alternativas, após diversos filmes de tom mais realista, assentes na componente tecnológica e científica.
A par disso, embora seja notória a fidelidade a uma herança aos quadradinhos com quase 50 anos, com a inclusão de quase todas as personagens marcantes e da maior parte dos seus elementos clássicos, há a preocupação em criar uma cronologia cinematográfica própria, que permita que o filme chegue também aos que não são fãs da BD.
Em termos de actores – e há muito que um filme Marvel não reunia nomes tão sonantes – o destaque vai para as prestações de Anthony Hopkins (como Odin), Tom Hiddleston (Loki) e Natalie Portman (Jane Foster), enquanto que o protagonista, um musculado Chris Hemsworth, cumpre o percurso de queda e redenção, de forma competente. A dirigi-los está o veterano Kenneth Branagh, desde logo adepto do projecto pelo lado shakespeariano do enredo.
Se o 3D nada acrescenta ao filme e se é verdade que ele tem algumas cenas menos conseguidas – como a rápida conversão de Thor ao papel de protector da Terra ou a deficiente exploração da sua rivalidade com Loki – elas não chegam para ofuscar os seus pontos fortes: as cenas que decorrem numa Asgard imponente e magnífica, o tom épico das batalhas magistralmente encenadas por Branagh ou o empolgante confronto de Thor com o vilão Destruidor.




(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 28 de Abril de 2011)

29/04/2011

Pop Rock Português em BD

Apresentação
O Jornal de Notícias e o Diário de Notícias vão, a partir de hoje, sexta-feira, dia 29, homenagear em banda desenhada alguns dos maiores nomes da música popular portuguesa. Cada lançamento virá acompanhado de um CD com temas do artista da semana e de um ensaio sobre a sua história, de personalidades consagradas do panorama musical.
Xutos e Pontapés - Alex Gozblau
Os Xutos e Pontapés vão inaugurar esta colecção, com uma banda-desenhada escrita e ilustrada por Alex Gozblau. Juntamente com o livro, virá a edição remasterizada de 'Cerco' (1985), clássico do rock português que contém canções emblemáticas como 'Homem do Leme' ou 'Barcos Gregos'.
Para além da história de 30 páginas de Alex Gozblau, este volume contará com um texto da autoria de António Sérgio, Tozé Brito e Pedro Félix, e 'Adeus Vida Atinada', assinado por Pedro Teixeira.
Convém referir, já agora, que cada um dos quinze volumes desta colecção será escrito e ilustrado por um artista diferente, com um estilo e grafismo distinto para cada um dos músicos escolhidos.
O segundo volume, dedicado aos GNR, sai no dia 6 de Maio e conta com ilustrações de Nuno Saraiva e textos de Pedro Mexia e Pedro Cera.


(Texto da responsabilidade do Diário de Notícias)


Calendarização
UHF - Pedro Brito
Vol. 1 - Xutos e Pontapés (por Alex Gozblau) - 29-04-2011
vol. 2 - GNR (por Nuno Saraiva) - 06-05-2011
Vol. 3 - Jorge Palma (por Susa Monteiro) - 13-05-2011
Vol. 4- UHF (por Pedro Brito) - 20-05-2011
Vol. 5 - Trovante (por Maria João Worm) - 27-05-2011
Vol. 6 - António Variações (por Daniel Lima) - 03-06-2011
Vol. 7 - Sétima Legião (por Rui Lacas) - 10-06-2011
Vol. 8 - Pop dell'arte (por Fernando Martins) - 17-06-2011
Vol. 9 - Rui Veloso (por Vasco Gargalo) - 24-06-2011
Vol. 10 - Rádio Macau (por Luis Lázaro) - 01-07-2011
Vol. 11 - Clã (por Tiago Albuquerque) - 08-07-2011
Vol. 12 - Jafumega (por Afonso Ferreira) - 15-07-2011
Vol. 13 - Trabalhadores do Comércio (por Hugo Jesus, Pedro Pires e André Caetano) - 22-07-2011
Vol. 14 – Delfins (por Adolfo Ana) - 29-07-2011
Vol. 15 - Heróis do Mar (por António Jorge Gonçalves) - 05-08-2011

António Variações - Daniel Lima
Comentário
Esta colecção a partir de hoje à venda, retoma um projecto da Tugaland do final de 2008, anunciado então para venda directa – e alguns dos volumes que agora vão ser distribuídos apareceram pelo menos na FNAC.
Em relação ao alinhamento original, refira-se o desaparecimento dos volumes dedicados aos Da Weasel (desenhado por Tiago Albuquerque), Pedro Abrunhosa (por Rui Ricardo) e Sérgio Godinho (por Miguel Rocha).
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