Hoje, às 17 horas, abrem-se as portas do XVII Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu que tem como tema aglutinador “Cidades na BD”.A decorrer até 21 de Setembro no Pavilhão Multiusos, em plena Feira de São Mateus, voltando assim às suas origens, o evento conta hoje e amanhã com dois convidados muito especiais, ambos distinguidos com os Prémios Anim’Arte 2010, o português Eugénio Silva, autor de biografias aos quadradinhos de Eusébio e Inês de Castro, e o italiano Fabio Civitelli, hoje em dia o mais destacado desenhador de Tex, o western mais antigo dos quadradinhos. A propósito do seu regresso a Portugal, depois de ter participado nos salões de Moura, Beja e Amadora, Civitelli fez uma belíssima ilustração que mostra Tex Willer emboscado no claustro da Sé de Viseu.
As cidades do velho Oeste calcorreadas pelo ranger, que Civitelli mostrará hoje aos seus admiradores numa visita guiada, antes de uma inevitável sessão de autógrafos, são algumas das que estarão em destaque no salão, a par dos cenários intemporais portugueses desenhados por Luís Diferr em “Portugal”, da Veneza que Pratt tão bem recriou para Corto Maltese, das cidades do passado que Alix conheceu, daquelas onde Hergé levou Tintin e das Cidades Obscuras imaginadas por Schuiten e Peeters.
O salão assinala ainda o 2º Centenário do Nascimento do Historiador e Escritor Alexandre Herculano, através de uma exposição colectiva que mostra diversas adaptações das suas obras para os quadradinhos.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 10 de Setembro de 2011)
10/09/2011
09/09/2011
Como num comic de super-heróis
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de Jornal de Notícias de 18 de Setembro de 2001 )
É óbvio que a maior parte das histórias narradas nos comics de super-heróis só podem ser credíveis , apesar de muitas serem estimulantes, no universo intrínseco em que se desenrolam, criado (e recriado) por autores como Joe Schuster, Jerry Siegel, Bob Kane, Stan Lee, Jack Kirby, Neal Adams, Frank Miller, Joe Madureira e tantos outros.
Nos atentados da passada terça-feira, 11 de Setembro de 2001, a "intriga real" mostrou muitos pontos de contacto com os estereótipos deste género de histórias aos quadradinhos: o ódio aos valores defendidos pelos americanos; a escolha de alvos não só estratégicos mas, sobretudo, simbólicos; a vitimização indiscriminada de milhares de pessoas inocentes, que tiveram o azar de estar no sítio errado, à hora errada.
Mas, ao contrário do que costuma acontecer nos comics de super-heróis, desta vez não houve um Super-Homem a aparecer no último instante para suster os aviões assassinos, um X-Man para abafar as explosões, um Wolverine para derrotar violentamente os terroristas ou um Homem-Aranha para salvar as pessoas desesperadas que se lançavam das torres em chamas.
Por isso, daquela vez, foram os "vilões" a ganhar (pelo menos para já, mas para sempre em muitos aspectos) e as vítimas contam-se aos milhares, de carne e osso, não simples desenhos em coloridas folhas de papel.
Talvez porque a ameaça não vinha de nenhum "super-vilão", mas de simples seres humanos, igualmente de carne e osso, como os americanos - como nós -, embora igualmente desprovidos de sentimentos, de princípios (tal como os definimos no mundo ocidental...), de respeito pelas vidas humanas. Tal como os vilões dos comics de super-heróis igualmente movidos apenas por um ódio irracional e inexplicável.
As histórias de super-heróis estão nas bancas à nossa disposição, em excelentes edições da Devir*, em títulos regulares como "Wolverine", "Homem-Aranha", "Vingadores", "Quarteto Fantástico" ou "X-Men", ou em histórias completos como "Demolidor - O homem sem medo" ou "O regresso dos Heróis".
A realidade de há uma semana continua diante de nós, dos nosso olhares ainda incrédulos. E a destruição vista em "A morte do Super-Homem" ou na saga "Devastação" é tristemente real. E por isso, possivelmente, agora, o olhar sobre estas bandas desenhadas passa a ser diferente. Porque a realidade foi (muito) mais além do que a ficção.
* Em 2001 aqueles títulos estavam disponíveis em excelente edições portuguesas, da Devir, hoje aqueles e/ou outros estão disponíveis em edições brasileiras da Panini Comics.
É óbvio que a maior parte das histórias narradas nos comics de super-heróis só podem ser credíveis , apesar de muitas serem estimulantes, no universo intrínseco em que se desenrolam, criado (e recriado) por autores como Joe Schuster, Jerry Siegel, Bob Kane, Stan Lee, Jack Kirby, Neal Adams, Frank Miller, Joe Madureira e tantos outros.
Nos atentados da passada terça-feira, 11 de Setembro de 2001, a "intriga real" mostrou muitos pontos de contacto com os estereótipos deste género de histórias aos quadradinhos: o ódio aos valores defendidos pelos americanos; a escolha de alvos não só estratégicos mas, sobretudo, simbólicos; a vitimização indiscriminada de milhares de pessoas inocentes, que tiveram o azar de estar no sítio errado, à hora errada.
Mas, ao contrário do que costuma acontecer nos comics de super-heróis, desta vez não houve um Super-Homem a aparecer no último instante para suster os aviões assassinos, um X-Man para abafar as explosões, um Wolverine para derrotar violentamente os terroristas ou um Homem-Aranha para salvar as pessoas desesperadas que se lançavam das torres em chamas.
Por isso, daquela vez, foram os "vilões" a ganhar (pelo menos para já, mas para sempre em muitos aspectos) e as vítimas contam-se aos milhares, de carne e osso, não simples desenhos em coloridas folhas de papel.
Talvez porque a ameaça não vinha de nenhum "super-vilão", mas de simples seres humanos, igualmente de carne e osso, como os americanos - como nós -, embora igualmente desprovidos de sentimentos, de princípios (tal como os definimos no mundo ocidental...), de respeito pelas vidas humanas. Tal como os vilões dos comics de super-heróis igualmente movidos apenas por um ódio irracional e inexplicável.
As histórias de super-heróis estão nas bancas à nossa disposição, em excelentes edições da Devir*, em títulos regulares como "Wolverine", "Homem-Aranha", "Vingadores", "Quarteto Fantástico" ou "X-Men", ou em histórias completos como "Demolidor - O homem sem medo" ou "O regresso dos Heróis".
A realidade de há uma semana continua diante de nós, dos nosso olhares ainda incrédulos. E a destruição vista em "A morte do Super-Homem" ou na saga "Devastação" é tristemente real. E por isso, possivelmente, agora, o olhar sobre estas bandas desenhadas passa a ser diferente. Porque a realidade foi (muito) mais além do que a ficção.
* Em 2001 aqueles títulos estavam disponíveis em excelente edições portuguesas, da Devir, hoje aqueles e/ou outros estão disponíveis em edições brasileiras da Panini Comics.
08/09/2011
Leituras de Banca
Setembro 2011
Títulos que já estão ou estarão em breve disponíveis nas bancas portuguesas.
Títulos que já estão ou estarão em breve disponíveis nas bancas portuguesas.
Panini
Marvel
Homem-Aranha #109
Os Novos Vingadores #84
Wolverine #73
X-Men #109
Universo Marvel #7
DC Comics
Batman #99
Liga da Justiça #98
Superman #99
Universo DC #8
Turma da Mónica
Almanaque do Louco #1
Almanaque da Mônica #26
Almanaque do Cascão #26
Almanaque do Cebolinha #26
Almanaque Temático Turma da Mônica #17 – Marina Artes
Cascão #51
Cebolinha #51
Chico Bento #51
Magali #51
Mônica #51
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #51
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #51
Turma da Mónica – Saiba mais #42 – Villa Lobos
Turma da Mônica Jovem #32
Turma da Mônica – Colecção Histórica #22
Mythos
TEX ANUAL 12 - A Fera Humana
Texto: Tito Faraci – Desenhos: Roberto Diso
TEX 471 - Sangue no Paraíso
Texto: Claudio Nizzi - Desenhos: Rossano Rossi
TEX COLEÇÃO 263 - O Círculo do Crime
Texto: G. L. Bonelli – Desenhos: G. Letteri
Texto: Mauro Boselli – Desenhos: Carlo Rafaelle Marcello
TEX EDIÇÃO EM CORES 8 - O Filho de Tex
Texto: G. L. Bonelli – Desenhos: Aurelio Galleppini
ZAGOR 120 - Armadilha de Fogo
Texto: Moreno Burattini – Desenhos: Marco Verni
ZAGOR EXTRA 84 - Um Pacto Trágico
Texto: Guido Nolitta – Desenhos: Galieno Ferri
ZAGOR ESPECIAL 31 - A Lua dos Esqueletos
Texto: Jacopo Rauch – Desenhos: Gramaccioni
MÁGICO VENTO 105 - A Face do Mal
Texto: Gianfranco Manfredi – Desenhos: B. Ramella
AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA 76 - A História de Jason
Texto: Giancarlo Berardi & L. Calza – Desenhos: Calcaterra e Marinetti
07/09/2011
Contes Cruels du Japon
Jean David Morvan (argumento)Saito Naoki (desenho)
Delcourt (França, 24 de Agosto de 2011)
240 x 320 mm, 64 p., cor, cartonado
14,95 €
Resumo
Oito contos tradicionais japoneses, quase todos da época medieval, recontados aos quadradinhos por um belga e um japonês.
Desenvolvimento
O interesse crescente no Ocidente pelo manga em particular e pela cultura asiática em geral, tem influenciado a banda desenhada ocidental, não apenas a nível gráfico e narrativo, mas também em termos temáticos, procurando assim (re)conquistar as novas gerações (de leitores) que cresceram com os animes televisivos e – por arrastamento – com os mangas cujo sucesso (editorial) fizeram.
Este álbum, escrito por Morvan, um argumentista de créditos firmados, que conta na sua bibliografia feita de dezenas de tomos, sucessos como Sillage ou Troll e uma passagem (recente) por Spirou – é mais um exemplo disto, na abordagem que faz a um punhado de contos e lendas tradicionais do Japão medieval.
A sua abordagem é directa, simples transposição para os quadradinhos, de forma equilibrada e com grande legibilidade, para o que contribui bastante o texto introdutório a cada um dos contos - destas lendas protagonizadas por seres (nem sempre cruéis, ao contrário daquilo que o título afirma) como a mulher das neves de coração gelado, o homem-tubarão, uma cerejeira especial ou um devorador de cadáveres.
Como base, cada um deles tem sempre uma ou mais características do ser humano – verdade, fidelidade às promessas, coragem, covardia, medo, submissão – abordadas de forma metafórica em contextos irreais, oníricos ou fantásticos, mas sempre com efeitos práticos sobre a vida quotidiana dos seus protagonistas.
Para as ilustrar – possivelmente por razões não inocentes – foi escolhido o japonês Samo Naoki, diplomado em Desenho Gráfico pela Universidade de Belas Artes de Tama.
Com mais experiência na ilustração do que na BD, apesar disso revela um bom domínio da planificação, variada e sem limites pré-fixados, e um traço seguro, de alguma forma próximo da linha clara e herdeiro do anime tradicional, mas que se revela demasiado igual de história para história, apesar da sua diversidade temática, denotando assim dificuldades em adequá-lo ao ambiente e contexto próprios de cada uma.
A reter
- Mais um exemplo da influência nipónica na BD franco-belga.
Menos conseguido
- Algumas limitações gráficas reveladas por Naoki.
Delcourt (França, 24 de Agosto de 2011)
240 x 320 mm, 64 p., cor, cartonado
14,95 €
Resumo
Oito contos tradicionais japoneses, quase todos da época medieval, recontados aos quadradinhos por um belga e um japonês.
Desenvolvimento
O interesse crescente no Ocidente pelo manga em particular e pela cultura asiática em geral, tem influenciado a banda desenhada ocidental, não apenas a nível gráfico e narrativo, mas também em termos temáticos, procurando assim (re)conquistar as novas gerações (de leitores) que cresceram com os animes televisivos e – por arrastamento – com os mangas cujo sucesso (editorial) fizeram.
Este álbum, escrito por Morvan, um argumentista de créditos firmados, que conta na sua bibliografia feita de dezenas de tomos, sucessos como Sillage ou Troll e uma passagem (recente) por Spirou – é mais um exemplo disto, na abordagem que faz a um punhado de contos e lendas tradicionais do Japão medieval.
A sua abordagem é directa, simples transposição para os quadradinhos, de forma equilibrada e com grande legibilidade, para o que contribui bastante o texto introdutório a cada um dos contos - destas lendas protagonizadas por seres (nem sempre cruéis, ao contrário daquilo que o título afirma) como a mulher das neves de coração gelado, o homem-tubarão, uma cerejeira especial ou um devorador de cadáveres.
Como base, cada um deles tem sempre uma ou mais características do ser humano – verdade, fidelidade às promessas, coragem, covardia, medo, submissão – abordadas de forma metafórica em contextos irreais, oníricos ou fantásticos, mas sempre com efeitos práticos sobre a vida quotidiana dos seus protagonistas.
Para as ilustrar – possivelmente por razões não inocentes – foi escolhido o japonês Samo Naoki, diplomado em Desenho Gráfico pela Universidade de Belas Artes de Tama.
Com mais experiência na ilustração do que na BD, apesar disso revela um bom domínio da planificação, variada e sem limites pré-fixados, e um traço seguro, de alguma forma próximo da linha clara e herdeiro do anime tradicional, mas que se revela demasiado igual de história para história, apesar da sua diversidade temática, denotando assim dificuldades em adequá-lo ao ambiente e contexto próprios de cada uma.
A reter
- Mais um exemplo da influência nipónica na BD franco-belga.
Menos conseguido
- Algumas limitações gráficas reveladas por Naoki.
06/09/2011
La Contessa
#1 – Slow PlayCrisse (argumento)
Herval (desenho)
Drugstore (França, 24 de Agosto de 2011)
215 x 293 mm, 48 p., cor, cartonado
11,50 €
Resumo
Uma competição de poker reúne num cruzeiro em alto mar alguns dos melhores jogadores do mundo. E, atrás do prémio prometido de 30 milhões de dólares em dinheiro vivo, alguns dos maiores ladrões do planeta, entre os quais a misteriosa La Contessa, temida pelas seguradoras e pelos especialistas em segurança dos grandes museus mundiais.
Desenvolvimento
Durante anos, uma das imagens de marca que a banda desenhada franco-belga desenvolveu e afirmou (muito bem) foi a da banda desenhada juvenil de aventuras. Sem que daí viesse mal ao mundo, bem pelo contrário, pois muitas foram as obras de eleição que marcaram e deliciaram gerações de leitores.
Nessa fonte – inesgotável – continuam a beber muitos dos criadores actuais, sem que daí venha, também, qualquer mal ao mundo. Ou à banda desenhada.
La Contessa, anunciado (pela editora) como um dos momentos altos da rentrée aos quadradinhos, é um dos exemplos possíveis.
Na linha de filmes como Ocean’s Eleven – citado no álbum – reúne um grupo de seis ladrões de eleição, famosos pelos seus golpes “impossíveis” que pretendem dar o grande golpe e desviar o chorudo prémio para os próprios bolsos. Entre eles está La Contessa, uma ladra italiana, sensual e misteriosa, que terá um papel fundamental no golpe por… razões que deixo aos leitores descobrir porque o ponto forte desta história é o efeito surpresa do seu desfecho que exemplifica – mais uma vez – que nem sempre tudo o que parece é…
Crisse, embora não deslumbre – e não assine, por isso, uma BD ao nível dos melhores clássicos do género, atrás evocados - desenvolve bem a história, de forma sustentada, distribuindo pistas diversas, criando o suspense necessário e guiando (empurrando?) o leitor como, lhe apraz, até à surpresa final.
Para que a obra pudesse estar uns furos mais acima seria necessário que Herval tivesse dado mais do que o que demonstrou nas páginas deste álbum (mas que se consegue adivinhar numa ou noutra sequência, como naquela que abre o álbum). Porque, globalmente, o seu traço revela-se preso, apesar de algum dinamismo provocado pela diversidade de enquadramentos, e não especialmente atraente, faltando um toque de realismo para dar maior autenticidade e credibilidade ao todo que, no entanto, está bem trabalhado ao nível da cor.
Sobra, no final um relato de tom policial, ligeiro e agradável q.b., para ocupar um final de tarde ao pôr-do-sol…
A reter
- O argumento original de Crisse, coroado pelo desfecho surpreendente.
Menos conseguido
- O trabalho gráfico de Herval ao nível do tratamento das personagens.
Herval (desenho)
Drugstore (França, 24 de Agosto de 2011)
215 x 293 mm, 48 p., cor, cartonado
11,50 €
Resumo
Uma competição de poker reúne num cruzeiro em alto mar alguns dos melhores jogadores do mundo. E, atrás do prémio prometido de 30 milhões de dólares em dinheiro vivo, alguns dos maiores ladrões do planeta, entre os quais a misteriosa La Contessa, temida pelas seguradoras e pelos especialistas em segurança dos grandes museus mundiais.
Desenvolvimento
Durante anos, uma das imagens de marca que a banda desenhada franco-belga desenvolveu e afirmou (muito bem) foi a da banda desenhada juvenil de aventuras. Sem que daí viesse mal ao mundo, bem pelo contrário, pois muitas foram as obras de eleição que marcaram e deliciaram gerações de leitores.
Nessa fonte – inesgotável – continuam a beber muitos dos criadores actuais, sem que daí venha, também, qualquer mal ao mundo. Ou à banda desenhada.
La Contessa, anunciado (pela editora) como um dos momentos altos da rentrée aos quadradinhos, é um dos exemplos possíveis.
Na linha de filmes como Ocean’s Eleven – citado no álbum – reúne um grupo de seis ladrões de eleição, famosos pelos seus golpes “impossíveis” que pretendem dar o grande golpe e desviar o chorudo prémio para os próprios bolsos. Entre eles está La Contessa, uma ladra italiana, sensual e misteriosa, que terá um papel fundamental no golpe por… razões que deixo aos leitores descobrir porque o ponto forte desta história é o efeito surpresa do seu desfecho que exemplifica – mais uma vez – que nem sempre tudo o que parece é…
Crisse, embora não deslumbre – e não assine, por isso, uma BD ao nível dos melhores clássicos do género, atrás evocados - desenvolve bem a história, de forma sustentada, distribuindo pistas diversas, criando o suspense necessário e guiando (empurrando?) o leitor como, lhe apraz, até à surpresa final.
Para que a obra pudesse estar uns furos mais acima seria necessário que Herval tivesse dado mais do que o que demonstrou nas páginas deste álbum (mas que se consegue adivinhar numa ou noutra sequência, como naquela que abre o álbum). Porque, globalmente, o seu traço revela-se preso, apesar de algum dinamismo provocado pela diversidade de enquadramentos, e não especialmente atraente, faltando um toque de realismo para dar maior autenticidade e credibilidade ao todo que, no entanto, está bem trabalhado ao nível da cor.
Sobra, no final um relato de tom policial, ligeiro e agradável q.b., para ocupar um final de tarde ao pôr-do-sol…
A reter
- O argumento original de Crisse, coroado pelo desfecho surpreendente.
Menos conseguido
- O trabalho gráfico de Herval ao nível do tratamento das personagens.
05/09/2011
Vieilles canailles
IntégraleCollection Turbulences
Carlos Trillo (argumento)
Domingo Mandrafina (desenho)
Vents d'Ouest (França, 6 de Julho de 2011)
225 x 298mm, 192 p., pb, cartonado
19.00€
Resumo
James Ricci, argumentista de televisão, tem um sonho escrever um grande romance baseado na história da sua família, os cinco irmãos e irmãs Centobucchi, os famosos Spaghetti Brothers: Amerigo, o gansgter cruel, Frank, o padre torturado e dividido quanto à sua vocação, Tony, o (ex-)polícia inflexível, caído em desgraça por uma cilada, Carmela, a assassina contratada transformada em evangelista, e Caterina, a actriz de filmes de terror…
Trata-se de um (longo) epílogo à série Spaghetti Brothers que Trillo e Mandrafina desenvolveram durante a década de 1990.
Desenvolvimento
Se a descrição das suas actividades já deixou evidente que esta não é de todo uma família normal, não deixa de ser um pálido intróito a uma família de todo disfuncional, em cujas vidas a violência, a traição, as violações e os abusos, os ódios recalcados e os fantasmas do passado (mal) enterrados são uma constante.
Ao remexer nesse passado, distante já de algumas décadas – os Spaghetti Brothers são hoje pouco mais do que velhos sós e esquecidos - para tentar conhecer as (saborosas) histórias que ele guarda, Ricci vai descobrir muitos dos segredos, podres e esqueletos que a família escondeu, mas também (re)descobrir a sua mãe e tios sob uma óptica diferente, ao mesmo tempo que constata que o tempo não conseguiu amaciá-los, humanizá-los nem apagar os ódios e os desejos de vingança latentes entre eles … apesar do retorcido sentido de família que têm como linha condutora na sua vida.
Entrevistando um após outro, vai conhecendo histórias, comparando versões, alinhavando uma linha condutora para o seu romance – ou para o argumento de uma BD, esta BD… - que nunca conhecerá a luz do dia por razões… que deixo ao leitor descobrir.
Como convido o leitor a conhecer esta narrativa de Trillo, dividida em capítulos sequenciais, mas auto-conclusivos, de 8 pranchas, ideais na sua génese para a publicação regular em revista. Relato duro, por vezes boçal, por vezes chocante, por vezes sórdido, sempre violento mas aligeirado com um assinalável humor negro irresistível, “Vieilles Canailes” lê-se de um fôlego, num tom entre a comédia e o drama. Como retrato de uma época passada – os anos 10, 20 e 30 do século passado, nos Estados Unidos - com a chegada e ascensão dos imigrantes italianos e da Máfia, de que ainda se encontram resquícios hoje em dia.
O trabalho gráfico de Mandrafina é competente, caricatural qb no tratamento das personagens para acompanhar o perfil duro mas risível que Trillo lhes atribuiu, quase sempre assente apenas no traço, já que poucas vezes recorre a tramas ou manchas de negro, um traço duro, personalizado e expressivo, com o qual compõe vinhetas intencionais e muito reveladoras.
A reter
- O tom da narrativa, entre o caricatural e o sórdido, irresistível no todo, próximo de um clássico dos anos 80 que os portugueses conhecem melhor, Torpedo 1936, de Abulli e Bernet.
- A sua construção formal, como um grosso romance dividido em capítulos auto-conclusivos que ajudam a saborear melhor cada momento da vida atribulada dos Centobucchi.
- O preto e branco de Mandrafina, perfeitamente ajustado ao relato e dum expressividade assinalável.
- A edição - mais um integral, é verdade…
Menos conseguido
- …a que falta, no entanto, um texto introdutório que ajude a situar a obra na sua génese, no seu contexto e na época em que foi publicada.
Carlos Trillo (argumento)
Domingo Mandrafina (desenho)
Vents d'Ouest (França, 6 de Julho de 2011)
225 x 298mm, 192 p., pb, cartonado
19.00€
Resumo
James Ricci, argumentista de televisão, tem um sonho escrever um grande romance baseado na história da sua família, os cinco irmãos e irmãs Centobucchi, os famosos Spaghetti Brothers: Amerigo, o gansgter cruel, Frank, o padre torturado e dividido quanto à sua vocação, Tony, o (ex-)polícia inflexível, caído em desgraça por uma cilada, Carmela, a assassina contratada transformada em evangelista, e Caterina, a actriz de filmes de terror…
Trata-se de um (longo) epílogo à série Spaghetti Brothers que Trillo e Mandrafina desenvolveram durante a década de 1990.
Desenvolvimento
Se a descrição das suas actividades já deixou evidente que esta não é de todo uma família normal, não deixa de ser um pálido intróito a uma família de todo disfuncional, em cujas vidas a violência, a traição, as violações e os abusos, os ódios recalcados e os fantasmas do passado (mal) enterrados são uma constante.
Ao remexer nesse passado, distante já de algumas décadas – os Spaghetti Brothers são hoje pouco mais do que velhos sós e esquecidos - para tentar conhecer as (saborosas) histórias que ele guarda, Ricci vai descobrir muitos dos segredos, podres e esqueletos que a família escondeu, mas também (re)descobrir a sua mãe e tios sob uma óptica diferente, ao mesmo tempo que constata que o tempo não conseguiu amaciá-los, humanizá-los nem apagar os ódios e os desejos de vingança latentes entre eles … apesar do retorcido sentido de família que têm como linha condutora na sua vida.
Entrevistando um após outro, vai conhecendo histórias, comparando versões, alinhavando uma linha condutora para o seu romance – ou para o argumento de uma BD, esta BD… - que nunca conhecerá a luz do dia por razões… que deixo ao leitor descobrir.
Como convido o leitor a conhecer esta narrativa de Trillo, dividida em capítulos sequenciais, mas auto-conclusivos, de 8 pranchas, ideais na sua génese para a publicação regular em revista. Relato duro, por vezes boçal, por vezes chocante, por vezes sórdido, sempre violento mas aligeirado com um assinalável humor negro irresistível, “Vieilles Canailes” lê-se de um fôlego, num tom entre a comédia e o drama. Como retrato de uma época passada – os anos 10, 20 e 30 do século passado, nos Estados Unidos - com a chegada e ascensão dos imigrantes italianos e da Máfia, de que ainda se encontram resquícios hoje em dia.
O trabalho gráfico de Mandrafina é competente, caricatural qb no tratamento das personagens para acompanhar o perfil duro mas risível que Trillo lhes atribuiu, quase sempre assente apenas no traço, já que poucas vezes recorre a tramas ou manchas de negro, um traço duro, personalizado e expressivo, com o qual compõe vinhetas intencionais e muito reveladoras.
A reter
- O tom da narrativa, entre o caricatural e o sórdido, irresistível no todo, próximo de um clássico dos anos 80 que os portugueses conhecem melhor, Torpedo 1936, de Abulli e Bernet.
- A sua construção formal, como um grosso romance dividido em capítulos auto-conclusivos que ajudam a saborear melhor cada momento da vida atribulada dos Centobucchi.
- O preto e branco de Mandrafina, perfeitamente ajustado ao relato e dum expressividade assinalável.
- A edição - mais um integral, é verdade…
Menos conseguido
- …a que falta, no entanto, um texto introdutório que ajude a situar a obra na sua génese, no seu contexto e na época em que foi publicada.
Leituras relacionadas
Carlos Trillo,
Domingos Mandrafina,
integral,
opinião,
Spaghetti_Bros,
Vents d'Ouest
04/09/2011
Selos & Quadradinhos (62)
Stamps & Comics / Timbres & BD (62)
Tema/subject/sujet: Hulk
País/country/pays: São Vicente e Granadinas
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2003
Tema/subject/sujet: Hulk
País/country/pays: São Vicente e Granadinas
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2003
Leituras relacionadas
2003,
Hulk,
Marvel,
São Vicente e Granadinas,
Selos e Quadradinhos
03/09/2011
As Figuras do Pedro (VII)
Tintin
Figuras: Tintin no Tibet sentado
Fabricante/Distribuidor : Moulinsart
Ano : 2010
Altura : 5 cm
Material: PVC
Preço: 5,99 € (FNAC Espanha)
Figuras: Tintin no Tibet sentado
Fabricante/Distribuidor : Moulinsart
Ano : 2010
Altura : 5 cm
Material: PVC
Preço: 5,99 € (FNAC Espanha)
02/09/2011
Outras Leituras (VII)
As tiras do Superman, de 1959 a 1964, para ler online
Alan Gardner no The Daily Cartoonist
O regresso dos Peanuts…
Albert Ching no Newsrama
… e de Flash Gordon
Segundo o HQManiacs
Tudo sobre a reformulação dos títulos da DC Comics… ou não!
Samir Naliato no UniversoHQ
Uma nova colecção de Tex em Itália
Recordando Jean Tabary
Por Sérgio Codespoti no UniversoHQ
Alan Gardner no The Daily Cartoonist
O regresso dos Peanuts…
Albert Ching no Newsrama
… e de Flash Gordon
Segundo o HQManiacs
Tudo sobre a reformulação dos títulos da DC Comics… ou não!
Samir Naliato no UniversoHQ
Uma nova colecção de Tex em Itália
Recordando Jean Tabary
Por Sérgio Codespoti no UniversoHQ
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Outras Leituras,
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Tabary,
Tex
01/09/2011
Loustal – Livre à colorier
Collection Univers d'auteursJacques de Loustal
Casterman (França, 24 de Agosto de 2011)
211 x 281 mm, 11
2 p, pb, brochado
15,00 €
Os (já) muitos anos que levo a escrever sobre banda desenhada têm-me proporcionado com (agradável) frequência boas surpresas quando o carteiro me toca à porta. Este álbum, recebido sem contar, é mais um desses casos.
Impossível de imaginar no contexto da edição de BD em Portugal – e, francamente, em quase todos os outros países, com raras excepções – constituiu quase um piscar de olhos de um autor cuja carreira e percurso aos quadradinhos tem como uma das principais marcas o (bom) uso da cor.
Passo a explicar: este álbum, um livro de arte, não uma banda desenhada, recolhe cerca de uma centena de desenhos a preto e branco de Jacques de Loustal (um dos convidados do último Festival Internacional de BD de Beja).
Desenhos soltos, de temáticas diversificadas, por onde passam paisagens urbanas, marítimas e campestres, vulgares ou exóticas, e personagens, muitas personagens. Escritores, leitores, pintores e modelos (voluntários ou não…), músicos, desocupados e viajantes, polícias e gangsters, casais e solitários, gente apaixonada, gente junta, gente afastada… Desenhos emotivos, apaixonados, sentidos ou apenas retratos fixados num momento de inspiração. Exemplos diversos e heterogéneos da arte de um autor (re)conhecido que, reconheço, mostram que a (sua) opção pela cor serviu, sem dúvida, para os valorizar – muito, em muitos casos.
Não deixando de ser uma proposta curiosa, especialmente recomendável para os fãs de Loustal, que nelas poderão (re)descobrir os universos e temas que mais lhe são próximos, pode também servir de desafio a aspirantes a coloristas, que se atrevam a comparar as suas opções cromáticas com as que aquele autor francês (tão bem) nos tem proporcionado ao longo da carreira.
Casterman (França, 24 de Agosto de 2011)
211 x 281 mm, 11
2 p, pb, brochado
15,00 €
Os (já) muitos anos que levo a escrever sobre banda desenhada têm-me proporcionado com (agradável) frequência boas surpresas quando o carteiro me toca à porta. Este álbum, recebido sem contar, é mais um desses casos.
Impossível de imaginar no contexto da edição de BD em Portugal – e, francamente, em quase todos os outros países, com raras excepções – constituiu quase um piscar de olhos de um autor cuja carreira e percurso aos quadradinhos tem como uma das principais marcas o (bom) uso da cor.
Passo a explicar: este álbum, um livro de arte, não uma banda desenhada, recolhe cerca de uma centena de desenhos a preto e branco de Jacques de Loustal (um dos convidados do último Festival Internacional de BD de Beja).
Desenhos soltos, de temáticas diversificadas, por onde passam paisagens urbanas, marítimas e campestres, vulgares ou exóticas, e personagens, muitas personagens. Escritores, leitores, pintores e modelos (voluntários ou não…), músicos, desocupados e viajantes, polícias e gangsters, casais e solitários, gente apaixonada, gente junta, gente afastada… Desenhos emotivos, apaixonados, sentidos ou apenas retratos fixados num momento de inspiração. Exemplos diversos e heterogéneos da arte de um autor (re)conhecido que, reconheço, mostram que a (sua) opção pela cor serviu, sem dúvida, para os valorizar – muito, em muitos casos.
Não deixando de ser uma proposta curiosa, especialmente recomendável para os fãs de Loustal, que nelas poderão (re)descobrir os universos e temas que mais lhe são próximos, pode também servir de desafio a aspirantes a coloristas, que se atrevam a comparar as suas opções cromáticas com as que aquele autor francês (tão bem) nos tem proporcionado ao longo da carreira.
31/08/2011
As Melhores leituras de Agosto
12 Septembre (Casterman), vários autores
100 balas – volume 1 de 4 (Planeta de Agostini), de Brian Azzarello e Eduardo Risso
Tex #495, #496 e #497 (Mythos Editora), de Mauro Boselli e Alfonso Font
Vieilles Canailles (Vents d'Ouest), de Trillo e Mandrafina
Pop Rock Português em BD - Trabalhadores do Comércio (JN/DN+Tugaland), de Hugo Jesus, Pedro Pires e André Caetano
30/08/2011
Tex #500
Os demónios da noite
Boselli (argumento)
Ticci (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Junho de 2011)
135 x 176 mm, 114 p., cor, brochada, revista mensal
R$ 11,90; 6,00 €
Só quem coleccionou revistas de banda desenhada conhece o sabor, o encanto e a expectativa que provocavam os números especiais. Que podiam ter formato diferente, mais páginas, novos heróis ou páginas a cores (no caso de revistas a preto e branco). Como acontece neste Tex #500.
E que surgiam em datas especiais – aniversário da revista, Natal… - ou em numerações redondas. Como acontece neste Tex #500.
Para quem comprava, lia e coleccionava as revistas, era sempre especial o aproximar da data de publicação do novo número, de que aos poucos se iam conhecendo pormenores quanto ao seu conteúdo, até finalmente o encontrar nas bancas. Mais gordo, maior, como recheio diferente. Geralmente mais caro. Como acontece neste Tex #500. (Aliás, a única excepção a esta regra de que me lembro foi o Falcão #1000, que duplicou as páginas sem alterar o preço, numa verdadeira prenda aos seus leitores…)
Mas deixemos as memórias e passemos adiante, porque o tema desta crónica, afinal, é o Tex #500. Número redondo, sempre assinalável, mais ainda se pensarmos que a revista, ao longo dos anos – foram necessários mais de 41 anos para o atingir! – passou pelo catálogo de várias editoras, que foram dando sempre continuidade à numeração.
Resistindo a tempos, épocas, modas, crises, revoluções, eleições e outras mudanças. Mantendo uma legião de fãs – estável mas renovada – que assegurou – sempre – as vendas necessárias para que o título continuasse mensalmente nas bancas. No Brasil, onde é editada a revista, e em Portugal, onde chega mensalmente.
Como é habitual – em Itália, nas centenas mais recentes também no Brasil – este número prima por ter as páginas coloridas. E com uma vantagem (enorme) em relação à colecção Tex Edição em Cores: tendo sido pensada de origem para a cor, não existem manchas de negro com cor “sobreposta”. Embora, há que escrevê-lo, a cor Bonelli fique uns bons furos abaixo daquilo a que estão habituados os leitores de BD franco-belga ou de comics americanos pelo que, para mim, Tex deve ser fruído a preto e branco, no belo preto e branco com que tantos grandes nomes dos fumetti no-lo têm presenteado…
Para além disso, traz como oferta aos leitores (e coleccionadores) um caderno extra que reproduz, em pequeno formato, ao ritmo de 9 capas por página, todas as capas brasileiras da revista, bem como um editorial do editor brasileiro Dorival Vitor Lopes, e dois artigos de Júlio Schneider, um sobre as capas raras do ranger e outro sobre a sua génese.
Quanto à história – que, na efeméride em causa, quase é secundária – originalmente publicada no Tex #600 italiano, narra uma ida de Tex ao Canadá, mais uma vez em auxílio do seu amigo Jim Brandon, para investigar (e enfrentar) um estranho bando – composto por seres-humanos, animais, a mistura de ambos ou seres sobrenaturais? – que tem como imagem de marca atacar na lua cheia e devorar as suas vítimas humanas… Desenvolvida de forma competente por Boselli, que mantém a dúvida no leitor durante boa parte da narrativa, conta com o traço dinâmico de Ticci, um dos autores veteranos de Tex.
A reter
- 500 números de Tex. É obra.
Curiosidade
- Para fazer a capa desta revista (invulgar no seu conceito, no conjunto do historial da publicação…), Claudio Villa inspirou-se na pose de John Wayne no poster do filme “The Searchers” (que em Portugal recebeu o título de “A Desaparecida”).
Nota pessoal
- Comecei a coleccionar o Mundo de Aventuras no nº 47, exactamente uma semana depois da publicação de um número especial, comemorativo do 25º aniversário da revista (embora a sua capa anunciasse o 26º aniversário!). Tendo descoberto o facto alguns anos depois, durante algum tempo – pelas razões que referi no início deste texto - cheguei a procurá-lo, mas em vão…
Boselli (argumento)
Ticci (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Junho de 2011)
135 x 176 mm, 114 p., cor, brochada, revista mensal
R$ 11,90; 6,00 €
Só quem coleccionou revistas de banda desenhada conhece o sabor, o encanto e a expectativa que provocavam os números especiais. Que podiam ter formato diferente, mais páginas, novos heróis ou páginas a cores (no caso de revistas a preto e branco). Como acontece neste Tex #500.
E que surgiam em datas especiais – aniversário da revista, Natal… - ou em numerações redondas. Como acontece neste Tex #500.
Para quem comprava, lia e coleccionava as revistas, era sempre especial o aproximar da data de publicação do novo número, de que aos poucos se iam conhecendo pormenores quanto ao seu conteúdo, até finalmente o encontrar nas bancas. Mais gordo, maior, como recheio diferente. Geralmente mais caro. Como acontece neste Tex #500. (Aliás, a única excepção a esta regra de que me lembro foi o Falcão #1000, que duplicou as páginas sem alterar o preço, numa verdadeira prenda aos seus leitores…)
Mas deixemos as memórias e passemos adiante, porque o tema desta crónica, afinal, é o Tex #500. Número redondo, sempre assinalável, mais ainda se pensarmos que a revista, ao longo dos anos – foram necessários mais de 41 anos para o atingir! – passou pelo catálogo de várias editoras, que foram dando sempre continuidade à numeração.
Resistindo a tempos, épocas, modas, crises, revoluções, eleições e outras mudanças. Mantendo uma legião de fãs – estável mas renovada – que assegurou – sempre – as vendas necessárias para que o título continuasse mensalmente nas bancas. No Brasil, onde é editada a revista, e em Portugal, onde chega mensalmente.
Como é habitual – em Itália, nas centenas mais recentes também no Brasil – este número prima por ter as páginas coloridas. E com uma vantagem (enorme) em relação à colecção Tex Edição em Cores: tendo sido pensada de origem para a cor, não existem manchas de negro com cor “sobreposta”. Embora, há que escrevê-lo, a cor Bonelli fique uns bons furos abaixo daquilo a que estão habituados os leitores de BD franco-belga ou de comics americanos pelo que, para mim, Tex deve ser fruído a preto e branco, no belo preto e branco com que tantos grandes nomes dos fumetti no-lo têm presenteado…
Para além disso, traz como oferta aos leitores (e coleccionadores) um caderno extra que reproduz, em pequeno formato, ao ritmo de 9 capas por página, todas as capas brasileiras da revista, bem como um editorial do editor brasileiro Dorival Vitor Lopes, e dois artigos de Júlio Schneider, um sobre as capas raras do ranger e outro sobre a sua génese.
Quanto à história – que, na efeméride em causa, quase é secundária – originalmente publicada no Tex #600 italiano, narra uma ida de Tex ao Canadá, mais uma vez em auxílio do seu amigo Jim Brandon, para investigar (e enfrentar) um estranho bando – composto por seres-humanos, animais, a mistura de ambos ou seres sobrenaturais? – que tem como imagem de marca atacar na lua cheia e devorar as suas vítimas humanas… Desenvolvida de forma competente por Boselli, que mantém a dúvida no leitor durante boa parte da narrativa, conta com o traço dinâmico de Ticci, um dos autores veteranos de Tex.
A reter
- 500 números de Tex. É obra.
Curiosidade
- Para fazer a capa desta revista (invulgar no seu conceito, no conjunto do historial da publicação…), Claudio Villa inspirou-se na pose de John Wayne no poster do filme “The Searchers” (que em Portugal recebeu o título de “A Desaparecida”).
Nota pessoal
- Comecei a coleccionar o Mundo de Aventuras no nº 47, exactamente uma semana depois da publicação de um número especial, comemorativo do 25º aniversário da revista (embora a sua capa anunciasse o 26º aniversário!). Tendo descoberto o facto alguns anos depois, durante algum tempo – pelas razões que referi no início deste texto - cheguei a procurá-lo, mas em vão…
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