10/12/2011

Dia em cheio na Mundo Fantasma

Data: 10 de Dezembro de 2011Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 509/510, Centro Comercial Brasília, Avenida da Boavista, 267, 1º andar, Porto
Horário: das 10h às 22h

A livraria Mundo Fantasma, no Centro Comercial Brasília, no Porto, organiza hoje o seu primeiro 12-Hour Comics Day, das 10h às 22h.
Às 17 horas será inaugurada a exposição Retroexpectativa, com originais de Jorge Mateus, que estará presente, seguindo-se a apresentação dos seguintes álbuns:
"Mahou – Na origem da magia" (ASA) de Ana Vidazinha e Hugo Teixeira

"Mr. Klunk e o Senhor Klaxon" (Livros Espontâneos), de Paulo Azevedo e Jorge Matos,

igualmente com a presença dos respectivos autores para uma sessão de autógrafos.

12-Hour Comics Day
O que é o (24) 12-Hour Comics Day?
É um evento realizado um pouco por todo o Mundo que desafia argumentistas e desenhadores para criarem um comic de 24 páginas em 24 horas consecutivas. A nossa versão é um pouco menos exigente por ser uma primeira experiência e para garantir que o comic é publicado imediatamente: criar uma história de 12 páginas em 12 horas consecutivas.

O que significa criar uma história em 12 horas?
Significa criar tudo: o texto, a arte, a arte final, cor, balonagem, revisão... tudo. Mal a caneta toque no papel ou no computador, o relógio começa a contar. Não é permitida nenhuma preparação prévia que inclui sketches, layouts, resumo de argumento... mas pode-se planear indirectamente, organizando os materiais, referências, música, comida... Cada autor deve trazer todo o material que acha que vai necessitar.

Em que formato?
As folhas não devem ser menores que A4. As folhas devem ser da proporção do A4. O trabalho pode ser a cores ou a preto e branco. Com ou sem balões.

Em que horas?
Das 10h00 às 22h00 do dia 10 de Dezembro de 2011. As horas são contínuas. Pode interromper para almoçar, mas o relógio continua. Se no fim das 12 horas a história não estiver terminada, ou utiliza a variante de Gaiman e termina como está, ou utiliza a variante de Eastman, continuando até estar pronto. São variantes que representam uma falha nobre e dentro do espírito. O importante é que tenha realmente a intenção de terminar nas 12 horas disponíveis.

Onde?
Na livraria Mundo Fantasma. Parte do dia será em mesas no corredor pois haverá também a inauguração de uma exposição (de Jorge Mateus) e lançamento de dois livros ("Mahou" de Hugo Teixeira e "Mr. Klunk e o Senhor Klaxon" de Paulo Azevedo e Jorge Matos.

Para quê?
A intenção é editar uma publicação com as histórias nos dias seguintes ao evento. Para isso cada autor compromete-se a comprar 10 exemplares (eventualmente 3,00€ x 10 = 30,00€), esse é o preço da inscrição. A tiragem será de 200 exemplares e a livraria Mundo Fantasma assegura o restante da edição. Também oferecemos um jantar rápido num dos cafés do Brasília (Brasília 3).

Há letrinhas pequenas?
São do mesmo tamanho... na publicação a capa e a ordem das histórias irá obedecer a critérios de edição subjectivos da livraria. A apresentação dos autores na capa, na contracapa ou no interior será por ordem alfabética do último nome. Histórias incompletas não serão publicadas. Se o custo de impressão for de 3,00€, o preço de venda será 5,99€O evento nestas condições está limitado a 10 autores.

O 24-Hour Comics Day original foi criado por Scott McCloud.
O desenho é do Rudolfo da Silva.

Retroexpectativa
De 10 de Dezembro de 2011 a 22 de Janeiro de 2012
De 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingos e feriados, das 15h às 19h

Abrirá hoje ao público, pelas 17H00, com a presença do autor, a exposição RETROEXPECTATIVA, de Jorge Mateus
(Apesar de) nascido em Angola, adoptei Lisboa como minha. suguei-lhe o meu quinhão de tágides, Tejo e tudo. Ainda a sua inverosímil luz que espalha de brancos os contornos da cidade. os magníficos recantos e pormenores, tão bem traduzidos por Cardoso Pires.
Lisboa recebeu-me de braços, bares e bairros abertos em suma e, pomposamente, um cidadão do mundo em geral e de Lisboa em particular. Não será censurável ao visitante que se questione por alma de que santa tanta algaraviada (ou mourisca) prosa sobre Lisboa aquando a presente exposição se encontra num outro pólo lusitano e, onde, quiçá poderá haver alguma-t()riv(i) alidade invicta.
A jeito de resposta o autor (eu) argumenta, acreditando como verdadeira e arrebatadora a alegação: se, por um lado tomei Lisboa, o Porto, por sua vez, ofereceu-me tudo – O Amor e um leve cinzento gótico.
Dito isto estão presentes coisas novas, coisas antigas e outras coisas – Qu’est-ce que c’est.
JORGE MATEUS (Angola, 1971) é ilustrador do semanário Expresso, das revistas Visão e Time Out, da editora Leya. Iniciou-se nos anos 1990, na revista LX Comics, tendo participado em diversos projectos colectivos, como José Muñoz: Cidade, Jazz da Solidão (Livros Horizonte/CML, 1994), Noites de Vidro (CML, 1994) ou Para Além dos Olivais (Bedeteca de Lisboa, 2000). Em 1996 encetou uma colaboração com o Diário de Notícias, como cartunista e caricaturista, que durou cerca de uma década e foi sobejamente premiada. Criou, em 2001, a editora Má Criação, da qual é director de arte, onde lançou Noites de Lisboa, mais um título de um conjunto que foi enriquecido, em 2008, com dois outros álbuns de BD: O Futuro Tem 100 Anos (Bizâncio) e Schoenberg (Tugaland). Experimentou também sentar-se na cadeira de realizador com a curta-metragem de animação 10 Contos e, em 2011, criou o atelier de ilustração mural O Meu quarto é…
Participou em diversas exposições em Portugal e no estrangeiro e foi premiado, entre outros, com o 2.º prémio do concurso do XIII Salão Luso-Galaico de Caricatura (2009), o Grande Prémio do Salão Nacional de Ilustração (2005) e o 1.º Prémio do Salão Internacional de BD Comicarte (1991).
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(Textos da responsabilidade da organização)

09/12/2011

Tex Gigante #24

Os Rebeldes de Cuba
Guido Nolitta (argumento)
Mauro Boselli (guião)
Orestes Suarez (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Outubro de 2010)
182 x 277 mm, 242 páginas, pb, capa brochada
9,00 €

Resumo
A pedido de Henri Picard, um amigo de Montales, este último e Tex deslocam-se a Cuba, que vive um agitado período revolucionário, para tentarem encontrar o filho de Picard, raptado por um feiticeiro local.

Desenvolvimento
Nascido por inspiração da participação de Sergio Bonelli num inusitado encontro de banda desenhada que teve lugar em Cuba em 1994, esta aventura, tal como o (excelente) Tex Gigante anterior, Patagônia, leva o ranger para longe do seu local habitual de acção – mas de forma mais credível, saliente-se.
Só que, ao contrário daquele, este livro, para mim, revelou-se uma desilusão. Parcial, pelo menos. Possivelmente porque as expectativas eram altas, em função dos ecos que já me tinham chegado sobre ele mas que a sua leitura não mas confirmou.
Passo a explicar porquê.
Desde logo, pelo argumento, menos conseguido, que começa logo por ser pouco claro quanto às razões do rapto.
E que, de seguida utiliza demasiadas páginas na introdução e para descrever a chegada de Tex e Montales a Cuba e despoletar a sua inimizade com os militares locais, páginas essas que poderiam ter sido melhor utilizadas para explorar o dia-a-dia e as razões dos revolucionários cubanos e, principalmente, no confronto final entre o pragmático Tex e as artes mágicas de Rayado – evocando até os confrontos (míticos e marcantes) daquele com Mefisto.
Porque estes dois aspectos, que deveriam ser maiores e mesmo o cerne da narrativa, acabam por ser de certa forma “despachados“ em menos de um terço do livro.
E ainda pelo fraco desenvolvimento da (trágica) situação final, da forma narrada de todo desnecessária, porque serve apenas para a “conversão” (muito forçada e escusada) do fazendeiro.
Também graficamente, este Tex Gigante do cubano Orestes Suarez está bastante abaixo do virtuosismo demonstrado por Pasquale Frisenda em Patagônia. As personagens de Suarez demonstram, a espaços, alguma rigidez, o trunfo que seria o facto de ele conhecer pessoalmente os locais da acção não é suficientemente explorado, o que não invalida que revele um bom domínio da técnica de narrar em quadradinhos ao longo de todo o álbum, com uma planificação sóbria mas dinâmica que embala e conduz o leitor.
Mas, quero esclarecer, o que atrás fica escrito, no entanto, não significa que estejamos em presença de um mau western ou de uma fraca aventura de Tex, pelo contrário. Os fãs – os mesmos que me induziram em erro?! – ou mesmo alguns leitores ocasionais - encontrarão sem dúvida bons motivos para amar a história, pela temática fora do habitual que a rege. Mas eu, esperava mais, pelas tais expectativas elevadas e porque tem sido isso que me tem sido proporcionado pela maioria das edições gigantes de Tex.

A reter
- O bom desenvolvimento de algumas personagens: Etienne, Alonso, Serrano.
- Alguns aspectos positivos do argumento: as cenas em que domina a magia, a causa revolucionária, o confronto esclava-gistas/abolicionistas…

Menos conseguido
- … infelizmente insuficientemente exploradas no relato.
- A tragédia que quase encerra o livro, forçada e de todo desnecessária.

(Texto piublicado originalmente no Tex Willer Blog)

07/12/2011

Leituras Novas

Dezembro de 2011
Devir
Blankets
Craig Thompson
Publicada pela primeira vez em 2003, esta obra tornou-se um clássico e uma das referências das novelas gráficas.
É a história do crescimento de um rapaz nascido no Wisconsin, no seio de uma família e comunidade extremamente devotas. Percorre o caminho da infância até à entrada da universidade, e centra-se no relacionamento com os seus pais, o irmão mais novo e a sua primeira namorada, sempre sob o pano de fundo do questionamento religioso.
O que torna esta obra tão profundamente bela é a atenção aos pequenos detalhes dos grandes movimentos da vida. A descoberta do amor, a perda da fé, o amor familiar, as descobertas e as incertezas, o ridículo e o trágico, todos estes grandes temas são tratados com uma intimidade e sensibilidade que nos arrasta para a narrativa e nos deixa a relembrar o nosso próprio processo de crescimento. Só com emoções se tocam emoções.
Prémios
Harvey Award para Melhor Cartoonist, Melhor álbum gráfica de trabalho original (2004)
Eisner Award para Melhor Álbum Gráfico, Melhor Escritor/Desenhador (2004)
Ignatz Award para Melhor Artista e Melhor Novela Gráfica ou Coleção (2004)
Prix de la Critique – Association des Critiques et Journalistes de Bande Dessinée – France (2005)
Lista da Time das 10 melhores Novelas Gráficas de Sempre (2005)

The Walking Dead – Vol. 02, Um Longo Caminho
Robert Kirkman, Charlie Adlard e Cliff Rathburn
Este é o 2º volume da série de grande sucesso que já tem direito a série de televisão.
Neste volume o grupo de Rick aumenta, mas serão estas pessoas de confiança? Lori tem uma grande notícia para partilhar com todos, mas apesar do grupo encontrar um local seguro para viver, nem tudo é o que parece...
A situação passa de má a pior quando um dos elementos do grupo sofre um acidente grave, e a ajuda tem um gosto amargo...

ASA
A Arte das Aventuras de Tintin
Cris Guise
A ARTE DE “AS AVENTURAS DE TINTIN”, que conta com prefácios de Steven Spielberg e Peter Jackson é um livro em capa dura e sobrecapa, profusamente ilustrado, que acompanha o lançamento do novo filme da Paramount Pictures e da Columbia Pictures, o qual tem como ponto de partida os álbuns de Tintin, o célebre repórter criado por Hergé e cujas aventuras a ASA tem vindo a publicar desde 2010.
A animação, efeitos visuais e design deste filme em 3D foram desenvolvidos pela Weta (responsável por filmes de sucesso como “O Senhor dos Anéis” ou “Avatar”), tendo o livro sido criado pelos mesmos artistas que transpuseram a obra de Hergé para o grande ecrã. Desde as primeiras ilustrações conceptuais às cenas tais como as vimos no ecrã, passando pelo material que foi sendo entretanto desenvolvido, este livro oferece uma visão única do processo criativo que envolve a feitura de um filme deste género.

Livros Espontâneos
Mr. Klunk e o Senhor Klaxon
Jorge Matos e Paulo Azevedo
“Mr. Klunk e o Senhor Klaxon” é o título abrangente dos 5 actos que compõem este livro. São cinco estações frias balançadas entre uma linguagem por vezes crua, por vezes poética, e que dão corpo a duas personagens, um homem e um cão, que se entrelaçam numa vagabunda amizade que na maior parte das vezes é composta por atritos.
Klunk é um orgulhoso diletante com duas paixões na vida, a literatura e a corrida, e que chega à meia-idade consumido pelas suas dúvidas existenciais e por uma vida adiada.
Klaxon é um cão de rua que nas ocasiões de maior introspecção pensa Fernando Pessoa. Um dos momentos centrais deste livro é o despertar da Fé em Klaxon. Em a “Maldita Fé” (4º acto do livro), Klaxon encontra-se dividido entre a sua condição canina e a procura da Humanidade, cujo fim é a sua salvação eterna.

Bizâncio
Baby Blues #28 – Corta!
Rick Kirkman e Jerry Scott
Dirigido por Kirkman e Scott, Corta! é uma filmagem a partir do interior do lar dos MacPherson, uma família perfeitamente normal com vidas perfeitamente caóticas.
Este 28.º volume de Baby Blues continua a ilustrar magistralmente porque é que nunca há pensos rápidos em stock, de que forma as tagarelices e as provocações rapidamente degeneram em castigos e porque é que as visitas ao dentista ou ao mecânico ocorrem sempre em alturas de desequilíbrio orçamental.


Kalandraka
Emigrantes
Shaun Tan
Emigrantes em busca de um futuro melhor, refugiados políticos, deslocados de guerra… esta novela gráfica sem palavras de Shaun Tan é uma magistral homenagem a todos aqueles que empreenderam uma viagem definitiva, física e existencial, nas suas vidas. O protagonista de “Emigrantes” deixa o seu lar e a sua família, uma cidade mergulhada na crise, e é acolhido por um país onde enfrenta uma língua desconhecida, costumes diferentes e incertezas. A obra plasma também a nostalgia pelos entes queridos, as experiências de outros emigrantes, o duro processo de adaptação à nova realidade, a passagem do tempo e a hospitalidade da povoação.

(Textos da responsabilidade das editoras)

06/12/2011

Sous L’Entonnoir

Sibylline (argumento)Natacha Sicaud (desenho)
Delcourt (França, 19 de Outubro de 2011)
194 x 255 mm, 144 p., cor, cartonado
17,50 €

Resumo
Aline ficou órfã de mãe aos 7 anos, quando esta se matou com um tiro de carabina na barriga. Aos 17 tentou suicidar-se ingerindo medicamentos.
Sous l’entonnoir aborda o período de cerca de um mês em que esteve internada numa instituição psiquiátrica.

Desenvolvimento
Mas desengane-se quem imagina aqui uma versão em BD do célebre Voando sobre um ninho de cucos ou uma denúncia desabrida dos métodos e tratamentos infligidos aos doentes por enfermeiros e médicos.
Obra autobiográfica, baseada na experiência real da argumentista, escrita cerca de 15 anos após as situações narradas no livro, Sous l’entonnoir é antes uma obra extremamente pudica e contida, mais uma catarse pessoal do que obra de auto-comiseração, denúncia ou louvor. Apenas um retrato – algo destorcido pela memória de uma paciente (não muito doente)? – do quotidiano e das situações banais – no contexto – da instituição.
Por isso – apesar disso? talvez por isso? – a obra é tocante e emotiva porque Sibylline e natacha Sicaud conseguiram passar para os quadradinhos do papel a angústia, a tensão, a demanda, o sofrimento, as dúvidas, os receios, as dificuldades de comunicação, a coabitação com o bizarro e o anormal, a solidão partilhada com quem se desconhece, com quem não se comunica, com alguém cujas histórias não se conhecem, experimentados no hospital psiquiátrico ao longo de um mês que – para os leitores e para a protagonista – pareceu muito mais tempo.
Efeito voluntário, acentuado pelo ritmo pausado da narrativa, pela sua estrutura, assente em capítulos curtos mas incisivos, pelo traço despojado mas seguro no retratar de poses e olhares, pelas poucas palavras e os muitos silêncios – incómodos – que percorrem as páginas de Sous l’entonnoir.

A reter
- O pudor da narrativa, completamente despido de qualquer pretensão sensacionalista.
- A forma como as autoras conseguiram materializar nos quadradinhos o ambiente opressivo e tenso da clínica.

Curiosidade
- A argumentista chama-se Sibyline porque o seu pai, grande leitor de banda desenhada, admirava bastante a pequena ratinha criada por Raymond Macherot.



05/12/2011

As Águias de Roma

Livro III
Marini (argumento e desenho)
ASA (Portugal, Novembro de 2011)
240 x 320 mm, 60 p., cor, cartonado
16,50 €

Resumo
Em território Germano, Armínio (ou Armanamer) hesita (?) entre manter a sua posição como cidadão romano ou aceitar a chamada do seu povo para o comandar numa rebelião contra o invasor, enquanto Marco chega com a missão de espiar ao serviço do imperador o que há de verdade numa eventual rebelião dos germanos.

Desenvolvimento
Apesar do que escrevi a propósito do Livro I desta série – opinião que mantenho inalterada e estendo ao segundo volume – confesso que a chegada de um novo tomo levou-me a lê-lo rapidamente.
Porque a época do Império Romano exerce sobre mim um grande fascínio, é uma das razões; outra é porque admiro o traço atraente de Marini, realista na reconstrução credível da época retratada, à vontade na representação de animais selvagens ou de seres humanos, quer se trate de másculos atletas, belas e sensuais mulheres ou seres a caminho da decadência física, muito dinâmico e e variado na planificação das páginas, magnífico no tratamento dos cenários, servidos por um colorido soberbo, assente numa diversificada paleta cromática, de tom global sombrio, mas adequada quer às gélidas florestas da Germânia, quer aos abafados salões das orgias romanas.
Essa leitura acabou por me revelar um Marini mais seguro como argumen-tista, a explorar novos caminhos que, embora conduzam ao inevitável confronto entre Armínio e Marco, prendem o leitor, enredado na teia que Marini vai tecendo, onde conspirações, traições, ambição, ódio, paixão, desejo e luxúria se vão cruzando e sendo alimentados por quem por eles se rege ou os utiliza para chegar aos seus fins.
Desta trama de ritmo acelerado, que por vezes leva o leitor de arrasto, impedindo-o de atentar aos pormenores que suportam e são mais valia para o enredo geral, fica como principal imagem um retrato cru e violento da fase final do Império Romano, sobrando à saciedade as razões que levaram à sua decadência.

A reter
- O belíssimo trabalho gráfico de Marini.
- A maior consistência e originalidade do argumento, em relação aos dois tomos iniciais.
- O bom ritmo a que a ASA está a editar esta série…

Menos conseguido
- … lamentando-se apenas que Marini não trabalhe mais depressa, pois esta é uma obra que dá vontade de ler de um só fôlego - quem sabe, no futuro não muito distante, num apetecível integral…

04/12/2011

BD ao som da guitarra

Do tempo dos lusitanos até à actualidade, o fado, canção nacional por excelência, agora tornado património da humanidade, tem sido abordado de várias formas pelos quadradinhos nacionais.

Cronologicamente, se assim se pode escrever, a referência mais antiga ao fado surge nas aventuras de Tónius, herói lusitano empenhado em expulsar os mouros da Península Ibérica. Criação de Tito e André, o émulo nacional de Astérix, em “Uma Aventura nas Astúrias” (Pública), datada de 1981, numa passagem por Aeminium (Coimbra), brinda companheiros e leitores com uma anacrónica mas animada noite de fados!

Uma década mais tarde, a Câmara Municipal de Lisboa lançava “Noites de Vidro”, um roteiro sobre a noite lisboeta, em que dúzia e meia de autores nacionais retratavam, em ilustração ou banda desenhada, alguns dos mais conhecidos bares, discotecas e casas de fado da capital, neste último caso a Severa, desenhada por Alice Geirinhas.

Em 1994, a adaptação em BD, por Jorge Magalhães e Rui Lacas, do musical de Filipe la Féria “Maldita Cocaína” (Página a Página), encerra o seu último e trágico capítulo ao som do fado, na voz de um dos meliantes que a protagoniza.

E se o fado é o tema de uma das bandas desenhadas curtas inseridas na compilação “A minha vida é um esgoto” (Baleia Azul, 1999), de Ana Cortesão, bem pode dizer-se que alguns dos relatos nele inseridos são verdadeiros fados “aos quadradinhos”, pelo retrato cru de uma certa marginalidade da capital e pelo tom triste, trágico, melancólico e desiludido dessas histórias.

Mas se o que até agora foi citado não passa de apontamentos de maior ou menor dimensão inseridos em obras de maior fôlego, dois álbuns destacam-se por neles o fado surgir como verdadeira banda sonora ou mesmo protagonista maior.
“Fado – Estórias da Noite” (ASA, 2003), uma incursão nos quadradinhos do cartoonista Rui Pimentel, desenvolve uma história de tom policial nos meandros da noite fadista. Nele, na sequência do desaparecimento de Amália (com origem criminosa no livro), começam a surgir assassinadas todas as grandes senhoras do fado, tendo o protagonista, um inspector da PJ, que assumir o papel de fadista para descobrir quem quer ocupar o lugar deixado vago pela rainha do fado. De traço caricatural e muito expressivo, o álbum de cores vivas e fortes, traça um retrato mordaz, mas em muitos aspectos credível, da noite lisboeta.



Já o “O fado Ilustrado” (Plátano), datado de Fevereiro deste ano, orquestra conspirações políticas, atentados bombistas, o fado popular, paixões e vinganças, para traçar uma cronologia das razões que levaram ao derrube da monarquia e à implantação da República, no início do século passado. A trama da autoria de Jorge Miguel, é protagonizada por Adelaide da Facada e Amâncio da Navalha, presentes no quadro “O fado”, que José Malhoa pinta durante a narrativa, na qual o rei D. Carlos, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão também desempenham um papel.




Falar de fado sem falar de Amália não parece possível e os quadradinhos também não esqueceram essa diva da canção.
Não em Portugal, curiosamente, mas em França, onde, em 2008, as Éditions Nocturnes incluíram na sua colecção de BD World uma biografia de Amália, acompanhada de dois CD, gravados entre 1945 e 1955, em Lisboa, no Rio de Janeiro e em Londres.
Aude Samana, aluna da escola de BD de Angoulême, assina essa obra de tom intimista, próxima da pintura expressionista, que foi editada entre nós nesse mesmo ano com o título BDFado.







Há dois anos, no âmbito do projecto “Amália Nossa”, que revisita os primeiros 15 anos de gravações de Amália em 12 CD/livros ilustrados por artistas nacionais, foi anunciada também uma biografia ficcionada em BD da autoria de Nuno Saraiva, que deveria ter três volumes, mas que até hoje continua por editar.

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 30 de Novembro de 2011)

03/12/2011

A revista de BD mais cara do mundo

Um exemplar da revista norte-americana Action Comics #1, com a estreia de Superman, foi vendido por 2,161 milhões de dólares num leilão online, organizado pela Comic Connect, que terminou ontem. A publicação, com a origem do Homem de Aço, uma criação de Joe Schuster e jerry Siegel, datada de Junho de 1938, que originalmente custava apenas 10 cêntimos de dólar, estava em excelente estado de conservação, tendo obtido a classificação de 9.0 segundo o Certified Guaranty Company (CGC), uma tabela utilizada igualmente para moedas e notas, cuja escala varia de 0 a 10 segundo a raridade e o estado de conservação da peça.O valor agora atingido, supera a meta de dois milhões de dólares que tinha sido apontada e pulveriza o anterior máximo, estabelecido em Março de 2010 por um outro exemplar da Action Comics #1, com a classificação de 8.5. Até atingir o valor final, foram feitas 50 licitações, nove das quais nuns últimos loucos 10 minutos, durante os quais o valor de licitação subiu mais de meio milhão de dólares.
Em torno deste exemplar há uma rocambolesca história que daria um bom argumento para uma banda desenhada. Comprada no final da década de 1990 pelo actor Nicholas Cage, reconhecido fã de comics de super-heróis, a revista foi-lhe roubada em 2004, tendo sido recuperada por acaso pela polícia no ano passado. Agora, com a sua venda, o actor que tinha sido indemnizado pelo seguro, vê largamente compensado o investimento então feito, comprovando mais uma vez que este é um segmento de mercado em que vale a pena investir.

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 2 de Dezembro de 2011)
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