

Pelas mesmas (?) ruas de Lisboa, pelo Bairro Alto em especial, pass(e)ou também Michel Vaillant em 1984, em “O Homem de Lisboa”, em que Jean Graton combina uma história de espionagem com a participação de Steve Warson e Julie Wood no Rali de Portugal, a que as estradas nacionais – e os pouco cívicos espectadores - servem de pano de fundo. As primeiras pranchas mostram um passeio turístico do par enamorado por locais como a Praça do Comércio, o Elevador de Santa Justa ou a Torre de Belém. E, mais uma vez, os típicos eléctricos lisboetas. E tal como em Lady S., os protagonistas utilizam um avião da TAP.

Portugueses, também, são Oliveira de Figueira, o vendedor (de banha da cobra) com quem o Tintin de Hergé

Foi ainda a Portugal, mais concretamente aos Açores, que Jacobs enviou Blake e Mortimer em “O Enigma da Atlântida”, para os dois aventureiros descobrirem no subsolo da ilha de S. Miguel os descendentes daquele continente mítico.


E em “O segredo de Coimbra”, a cidade dos estudantes do século XVIII foi escolhida pelo belga Étienne Schréder como local de acção para uma narrativa sobre a construção de uma ponte sobre o rio Mondego, tendo por base anamorfoses.


No mesmo registo de terror, Dampyr, um caçador de vampiros, esteve em Trás-os-Montes, “na localidade de Riba Preta”, lê-se numa vinheta de “Lo Sposo della Vampira” (Sergio Bonelli Editore), que surgiu inspirada em diversas aldeias reais, visitadas pelo argumentista Mauro Boselli. Desenhada por Alessandro Bocci, permite acompanhar a investigação da lenda do Castelo de Monforte da Estrela, supostamente assombrado por uma vampira, no final da qual o protagonista é salvo in extremis por um pastor luso, Vitorino Rocha.


Para finalizar, referência a três livros sobre Lisboa, ilustrados por autores de banda desenhada: “Lisbonne, voyage imaginaire” (Casterman), em que o traço de De Crécy ilustra uma composição de textos (Camões, Voltaire, Alberto Caeiro ou Almada Negreiros) feita por Raphael Meltz, “Lisboa – cadernos” (Bedeteca de Lisboa),

O país na BD moderna portuguesa
Para além das óbvias utilizações de Portugal como cenário, em bandas desenhadas de temática histórica ou sobre cidades e vilas nacionais, geralmente de encomenda autárquica, são várias as criações da moderna BD portuguesa que têm revisitado, de forma inspirada, o nosso país. Eis alguns (bons) exemplos:

Nuno Artur Silva e António Jorge Gonçalves
ASA
Recentemente reeditadas numa caixa com os três álbuns, as aventuras de Filipe Seems, investigador privado num futuro indefinido, decorrem numa Lisboa retro futurista, semi-submersa e percorrida por gôndolas, que evoca múltiplos imaginários.

Filipe Andrade e Filipe Pina
ASA
História urbana de procura do seu lugar por um adolescente que acaba envolvido com uma organização terrorista, BRK, que se passa maioritariamente em Almada, fica marcado pelos atentados contra o McDonalds da Praça da Liberdade, no Porto, e o Cristo-Rei.
O Menino Triste – A Essência

João Mascarenhas
Qual Albatroz
Embora maioritariamente ambientada na “sereníssima” Veneza, é na sua Coimbra (natal?) que o Menino Triste inicia este percurso iniciático que se cruza com amizades, sociedades secretas, dúvidas existenciais e… muita(s) Arte(s).

Rui Lacas
ASA
Com a paisagem serena da Zambujeira como fundo, esta é a história opressiva de um drama rural, que versa sobre as prepotências dos senhores das terras e a destruição dos sonhos de infância.
(Versão revista e aumentada do artigo publicado no Jornal de Notícias de 28 de Dezembro de 2009)
Adenda

O artigo publicado no Jornal de Notícias não pretendeu ser exaustivo, longe disso, mas apenas referir alguns casos, dentro de alguma diversidade.
Como entretanto o Manuel Caldas (quem mais?) e o João Mascarenhas e tiveram a gentileza de me fazer chegar mais dois exemplos, bem díspares e que encaixam na perfeição na tal diversidade

Curiosa e interessante, embora não exaustiva, esta tua "revisão bibliográfica", Pedro. Ao nível nacional gostaria só de acrescentar o trabalho do Luis Louro "O CORVO" e também a "Alice", entre outros trabalhos do Louro, assim como o "ETERNUS 9" do Vitor Mesquita.
ResponderEliminarAo nível internacional e com edição portuguesa também, uma aventura dos patos da Disney - Patinhas, Donald e sobrinhos- passada em várias cidades portuguesas aquando do Euro2004.
Um grande abraço.
Ora cá estão recomendações que valem a pena, tendo em consideração que falamos da fabulosa cidade de Lx. Destaco particularmente as Aventuras de Filipe Seems que coleecionei quando saíram originalmente e que acho valerem muito a pena.
ResponderEliminarCaro João,
ResponderEliminarObrigado pela dica Disney! Acrescentei-a como adenda no texto.
Eu sei que havia mais casos portugueses e os do Louro e do Mesquita, que oportunamente referes, são bem significativos, mas, limitado pelo espaço disponível no jornal, para onde o texto foi inicialmente escrito, optei por edições mais recentes (incluindo aqui a reedição do Filipe Seems).
Caro Sam,
Não falamos apenas de Lisboa, mas de Portugal de Norte (Trás-os-Montes) a Sul (Tavira)!
Abraços!
Agradecia, caso concorde, alguns excertos deste "post" (e de outros com ligação a Portugal) no meu blog
ResponderEliminarhttp://portugal-mundo.blogspot.com/search/label/BD
De seguida irei falar de "Lisbonne: Voyage Immaginaire", Lourenço Muratti ("A soma de tudo 1") e "Reliquia"
Obrigao
errata
ResponderEliminarAgradecia, caso concorde, utilizar alguns excertos deste "post" (e de outros com ligação a Portugal) no meu blog
Agradeço a visita e o interesse. Pode utilizar estes textos, desde que indique o autor e a fonte.
ResponderEliminarAbraço,
Pedro Cleto
Existe mais informação sobre esta obra de Hal Foster. O título, o ano, em que circunstâncias aportou na nossa costa, ...
ResponderEliminarObg
A pergunta do leitor anterior dá-me muito prazer, pois, se ele não sabe nada do episódio do “Príncipe Valente” em causa, significa que não comprou a absolutamente lastimável edição da “Bonecos Rebeldes” e não desperdiçou assim o seu dinheirito.
ResponderEliminarPois bem, a vinheta em causa é da prancha 751, de 1 de Julho de 1951. Val navega de regresso à Bretanha e a embarcação faz uma paragem na costa de Portugal. O nosso herói decide aproveitar para tentar obrigar o seu escudeiro, Arf, deprimido devido a uma deficiência física recentemente sofrida, a sair e a fazer algum exercício. Não chega a consegui-lo e nenhum acaba por pisar o solo lusitano. No entanto, é no mesmo porto que embarca uma personagem feminina que irá mudar a vida do rapaz aleijado. E mais não é conveniente contar.
De qualquer modo, o essencial a reter é: o príncipe Valente quase pisou solo português. Mas convém esclarecer que, atendendo à época em que se passa a acção da série, a segunda metade do século V, não foi correcto Foster falar de Portugal. Devia antes ter escrito Portuscale, o nome do núcleo urbano que no século V já existia na foz do Douro. O território continental que seria séculos depois Portugal era no ano 400 e tantos uma parte do Império Romano que se integrava na Hispaniae.
E tenho dito.
Caro Manuel Caldas,
ResponderEliminarObrigado pelo (sábio) esclarecimento!
Abraço!